Coliseu escrita por Bela Escritora


Capítulo 9
9 - Percy Jackson


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo, pessoal!

Olha só quem voltou? Euzinha! E trazendo um novo capítulo para vocês! o/
Esse é o capítulo que marca o final da história baseada em Percy Jackson e os Olimpianos. Portanto posso dizer que já estamos, mais ou menos, na metade da história.
Espero que gostem desse capítulo! Boa leitura!



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Não importava quantas vezes eu tivesse ido para aquela arena. Ficar parado diante dos portões ainda me angustiava. Odiava a cegueira provocada pelo sol e a surdez provocada pela gritaria da platéia. A diferença era que agora, as pessoas me recebiam com aplausos e vivas e eu usava armadura completa e estava sempre armado.

Fazia dois meses desde a chegada de Nico. Eu já tinha estado em outras dez batalhas nesse período. Em uma delas, o meu nome mudou de Caríbidis para Netuno e agora eu era um dos mais adorados gladiadores de Roma.

Outra mudança que tinha acontecido, o Imperador inventara um novo modo de jogo. Um gladiador tinha que proteger um pagão enquanto enfrentava outros gladiadores e feras, cujo objetivo era matar o protetor e seu protegido. Divertido, não? Eu tinha passado por dois desses. Em um deles, eu perdi o meu protegido, o que me fez ficar em choque por uma semana. Agora eu aguardava para mais um desses jogos estúpidos, torcendo para que meu protegido não fosse alguém que eu conhecesse.

Um guarda me cutucou com a ponta da lança e eu lhe lancei um olhar assassino, o que só fez com que ele sorrisse com escárnio. Eu e ele sabíamos que, dentro das catacumbas, eu era um cão que ladrava, mas não mordia.

— Coloque o capacete, Netuno - ele falou com uma voz pastosa. - E lembre-se de não tirá-lo durante o jogo.

Resmunguei e enfiei o elmo na cabeça. Ele era muito largo e ocultava completamente meus olhos nas sombras. Ele ganhara um penacho azul depois que eu mudara de nome, o que me deixava mais alto.

Ouvi os passos da escolta se aproximando, mas não ousei me virar para trás. Não queria que os guardas soubessem que eu estava morrendo de curiosidade para descobrir quem era meu protegido. Na verdade, eu queria que eles achassem que eu estava pouco me lixando para isso.

— Pronto, graeca - falou um dos guardas da escolta. - Aqui estamos nós. Este é Netuno. Ele vai tentar proteger você. - As gargalhadas ecoaram dentro do meu elmo. Parecia que alguém tinha dado uma martelada nele.

— Sabia que o último protegido dele morreu? - falou outro guarda. - Provavelmente você vai morrer também.

Mais risadas, tão altas quanto às da primeira leva.

— Não me importo de morrer. Ao menos, me reencontrarei com aqueles que amo - a garota murmurou e mal pude ouvi-la.

Meu sangue gelou. Não. Não podia ser. Eles não podiam ter feito isso. Eu não consegui acreditar em meus ouvidos, por isso arrumei um jeito de me virar na direção da garota sem parecer suspeito. Era ela. Estava mais magra. O rosto encovado por conta da má alimentação. A túnica que usava estava larga de mais para ela. Sua pele estava coberta por uma camada de sujeira. O único lugar limpo eram duas linhas tortuosas em suas bochechas. O cabelo estava desgrenhado e sujo. Parecia tão frágil, quase como se fosse feita de cristal. Annabeth... O que tinham feito com você?

Senti a raiva fervilhar dentro de mim. Tive vontade de matar todos os guardas que estavam ali, de tirar o capacete e de envolvê-la em meus braços pedindo desculpas. E eu até teria feito, se o apresentador não tivesse decidido que aquele era o momento perfeito para iniciar nossos jogos.

Os portões se abriram e Annie abaixou a cabeça e fechou os olhos para se proteger da luz. Sem tempo a perder, peguei-a pelo pulso e a guiei para dentro da arena. Assim que se viu cercada pela platéia, ela se empertigou e ergueu a cabeça, varrendo para longe todo e qualquer sinal de fraqueza que pudesse ter demonstrado antes. Estava tão fascinado por sua transformação, que mal reparei no que ela falou.

— Tenho que ser forte. Por Percy, Luke, Silena e Beckendorf. - Engoli em seco ao ouvir a lista de nomes. Então Luke e Silena também estavam mortos? Ao perceber que eu a encarava ela fechou a cara. - O quê? Você os conhece? - neguei com a cabeça contra a minha vontade. - Foi o que eu pensei. - O olhar de nojo que ela me lançou fez com que eu me sentisse a pior pessoa do mundo.

— E agora... - continuou o apresentador, que tinha feito um monólogo enorme que eu tinha simplesmente ignorado. - Com vocês, Cronos!

Os portões do outro lado se abriram, e uma figura em armadura dourada e brilhante entrou na arena. A platéia delirou e algumas pessoas chegaram até a jogar flores para ele. O gladiador simplesmente ignorou tudo isso. Seus olhos estavam focados em mim e em Annabeth. Desembainhei a minha espada, Contracorrente. Queria que Annabeth olhasse para ela, que a reconhecesse. Que ME reconhecesse. Mas ela não o fez. Seus olhos estavam focados na figura que caminhava lentamente em nossa direção com um brilho de horror.

— Oh não... - Eu a ouvi sussurrar. - Luke?

Voltei a olhar a figura, que agora estava mais perto. Sem as ondas de calor que emanavam do chão da arena, percebi que Annie falava a verdade. O rosto estava mais magro do que eu me lembrava, o cabelo tinha crescido e os olhos tinham adquirido um doentio tom de amarelo, mas a cicatriz ainda estava lá, branca e pálida.

Annabeth deu um passo na direção dele, mas eu segurei seu braço, impedindo-a. Ela me olhou com tanto ódio que tive vontade de bater em mim mesmo. Mas algo estava errado ali. Algo nos olhos de Luke. Ele não tinha reconhecido Annie, ou sua expressão teria deixado de ser a de um cão selvagem faminto, certo?

Do meio do nada, ele ergueu a espada e atacou. Annabeth gritou de susto e eu tive que empurrá-la para trás para protegê-la. Ouvi quando ela caiu no chão expulsando todo o ar dos pulmões, mas não pude parar para ajudá-la. Minha espada era a única coisa entre a de Luke, uma estranha lâmina feita de bronze e aço, e o meu pescoço. Busquei seus olhos com os meus.

— Luke! - sussurrei entredentes por conta do esforço. - O que você acha que está fazendo?!

Os olhos dele eram frios como pedaços de ouro. Era quase como se outra pessoa estivesse controlando seu corpo. O garoto risonho que eu conhecera nas catacumbas não estava ali. Pelo menos, não naquele momento.

Ele começou a me lançar uma chuva de golpes, dos quais eu mal conseguia me defender. Ele também não deixava nenhuma brecha para contra-ataques, por isso eu tive que recuar cada vez mais na direção da parede da arena. Sentindo o pânico me dominar. Nunca tinha lutado com alguém tão bom quanto ele. Comecei a temer que eu não sairia dali com vida.

Senti a parede aquecida pelo sol contra as minhas costas e soltei um gemido involuntário de pânico. Continuei a me defender dos golpes, mas com a menor mobilidade, eu tinha me tornado mais lento. Era uma questão de tempo até que um dos golpes me atingisse.

A ponta da espada dele fez um corte no meu antebraço. Grunhi e fiz uma careta de dor. O sangue encharcou meu braço em segundos. A mão que segurava a espada ficou pegajosa e, em cinco golpes, Luke me desarmou. Observei minha espada voar para longe e se fincar no chão, uns bons cinco metros de mim. O pânico me dominou quando o vi erguer a espada para o golpe final. Olhei-o nos olhos, mas não vi medo, receio, remorso ou hesitação. Apenas o olhar selvagem de alguém que precisa de violência para sobreviver. Meu único arrependimento era que não poderia proteger Annabeth. Ela teria a minha espada, pelo menos. Poderia lutar mais um pouco. Quem sabe até ganhar. Eu nunca a vira lutando com nenhuma arma. Será que ela iria tentar descobrir quem estava por baixo do elmo de Netuno? Ou será que ela continuaria achando que eu tinha morrido na inundação?

A espada de Luke começou a descer para o meu peito, mas parou de repente. Eu me perguntei o porquê até que ouvi o som de algo se chocando contra um objeto metálico. Ele abaixou a arma e se virou lentamente para trás. Por cima do seu ombro, vi Annabeth de pé jogando alguma coisa pequena para o alto. “Pedras” eu pensei “Ela deve ter encontrado pedras!”

Luke grunhiu e começou a caminhar na direção dela. Annabeth deu um passo atrás involuntariamente. Percebi que ela não tinha um plano para depois disso. Olhei para Contracorrente, fincada na areia. Não daria tempo de pegá-la para proteger Annie. Se eu quisesse salvá-la, teria que agir agora.

Sem pensar muito, fiz a única coisa que me pareceu funcional no momento, corri na direção de Luke e me joguei em suas costas, derrubando-o no chão e caindo em cima dele. Lado positivo: A espada dele voou para longe. Lado negativo: Luke era bem maior do que eu, portanto era difícil para mim mantê-lo no chão. O primeiro instinto dele foi agarrar o meu cabelo, mas ele estava protegido pelo elmo, portanto ele agarrou o penacho azul deste e o arrancou da minha cabeça. Xinguei em grego. Esperava não ser penalizado por ter meu capacete arrancado durante o combate, fazendo com que eu quebrasse uma das regras do jogo. O garoto jogou o objeto longe e eu o virei de barriga para cima.

— Luke! O que você pensa que está fazendo?! - Eu já não tentava esconder quem eu era. Sem o elmo ficava difícil, então pra quê continuar a encenação? - Annabeth é sua amiga! Eu sou seu amigo!

Ele sorriu com maldade e começou a falar, mas a voz que saiu de sua boca não era a dele, era a de outra pessoa.

— Luke está morto - ele rosnou. - E logo todos os amigos dele também estarão!

Ele me deu um soco no maxilar que me lançou no ar e me fez cair estatelado e expulsar todo o ar do pulmão. Não tinha nem voltado a respirar ainda e já estava me arrastando na direção da minha espada como uma minhoca. Sabia que Luke, ou melhor, Cronos, estava fazendo o mesmo.

Meus dedos envolveram o punho no exato momento em que um grito de fúria encheu a arena. Rolei para ficar de costas e coloquei a espada diante do corpo a tempo de aparar o ataque de Cronos.

— Cara, o que eles fizeram com você?! - perguntei, lutando para manter ambas as espadas longe do meu pescoço. - Luke, eu te conheço! Você não é assim!

Ele ergueu a espada para um golpe racha crânio e eu rolei para o lado a tempo de evitar ser cortado ao meio.

— Você não sabe nada sobre mim! - ele bradou em fúria, as veias do seu pescoço dilatadas, não sabia se pelo esforço da luta ou pela raiva.

Ergui-me do chão meio trôpego. O soco que eu levara no maxilar tinha me deixado levemente tonto.

— Sei que você nasceu em Olímpia. Que seu pai é Hermes e que você trabalhou como mensageiro quando era mais novo. Sei que você fugiu de casa depois que os legionários torturaram sua mãe para descobrir seu paradeiro.

— CALA A BOCA! - ele berrou me atacando. Aparei sua lâmina com dificuldade, já que a raiva, apesar de descontrolá-lo, o tornava mais forte do que antes.

Direita, esquerda, abaixa, contra-ataca. Luke aparou meu golpe e me empurrou para trás, fazendo com que eu me desequilibrasse e quase caísse. Alguém me segurou por trás, impedindo que isso acontecesse. Olhei para o lado enquanto tornava a ficar de pé. Annabeth. Seus olhos cinzentos eram uma mistura de várias emoções. Voltei minha atenção para Luke.

— Sei que você ganhou essa cicatriz enquanto lutava pela sua vida contra dez legionários nas proximidades de Atenas - continuei. - Sei que Thalia quase morreu para que você e Annabeth escapassem.

— EU MANDEI VOCÊ CALAR A BOCA! - ele gritou novamente e partiu para o ataque. Dessa vez eu estava mais preparado, mas isso não impediu que eu fosse, novamente, encurralado contra a parede.

A espada dele me atingiu na coxa e eu mordi a língua para não gritar. Minha visão foi embaçada por lágrimas involuntárias de dor. Ótimo, agora eu estava perdendo sangue por um segundo ponto. Como se não bastasse o do meu braço. Luke agarrou a minha cabeça com ambas as mãos e a bateu contra a parede. Meus pés cederam e o mundo girou vertiginosamente enquanto a dor se espalhava da parte de trás da minha cabeça até as minhas têmporas como rachaduras na casca de um ovo, fazendo com que a minha visão escurecesse por alguns momentos.

Quando voltei a enxergar, percebi que minha visão estava embaçada. Luke e sua espada não passavam de um borrão brilhante contra o sol. Xinguei mentalmente enquanto tentava me levantar. Minhas pernas, porém não queriam me obedecer e a areia não facilitava o trabalho. Senti o toque frio do aço contra a pele do meu pescoço e ergui os olhos para Cronos sem vê-lo realmente.

— Você vai pagar por cada uma das mentiras que você contou aqui - ele falou, dessa vez mais controlado.

— Se eram mentiras, - eu ofeguei. Minha língua estava embolando as palavras, o que me fez questionar se Luke estava entendendo o que eu estava falando - por que você ficou tão descontrolado? - A mordida do aço no meu pescoço foi a confirmação de que ele estava me ouvindo perfeitamente bem.

— Posso fazer você morrer rápida ou lentamente - ele disse num tom sombrio. - A única coisa que determina de qual dos dois vai ser é o quanto você me irrita. E, no momento, eu estou muito interessado em fazer você gritar feito uma garotinha enquanto sangra até a morte. - O filete de sangue começou a escorrer do meu pescoço para a túnica que eu usava por baixo da armadura. - Retire tudo o que você disse e eu posso mudar de ideia rapidamente.

Abri a boca para retrucar, mas minha voz não foi rápida o suficiente. Annabeth pulou nas costas de Luke e o puxou para trás, esfregando as mãos cobertas de areia nos olhos dele. Cronos gritou de ódio e se jogou contra a parede, esmagando o braço dela na pedra. Ela soltou um grunhido de dor enquanto caia como uma boneca de pano no chão arenoso.

Luke a prendeu contra o chão, envolvendo-lhe a cintura com as pernas. Tentei me levantar, mas minhas pernas não me obedeciam. Senti como se estivesse novamente assistindo à morte de Beckendorf, impotente e incapaz de fazer qualquer coisa para salvá-lo. Apenas um expectador. Senti o terror dominar meu peito quando Luke ergueu a espada acima da cabeça, a ponta voltada direta e ameaçadoramente para o coração de Annie.

— Família, Luke - ela murmurou com a voz chorosa. - Você prometeu.

A espada desceu com Luke gritando em fúria, e se enterrou na barriga dele com um ruído molhado. O garoto tombou para o lado com um gemido. Annabeth se ergueu com dificuldade e pude ver lágrimas brilhando em seu rosto.

— Eu... Eu sinto muito - ele murmurou com a voz embargada. - Annie eu... Eu não sei o que dizer. Me desculpe.

— Está tudo bem, Luke. Não tem problema - ela falou chorando. - Estamos todos bem.

— Percy... - A respiração dele estava ofegante. - Percy está bem?

— Eu estou bem - respondi com a melhor voz que consegui fazer. Tentei me arrastar até eles, mas o mundo girava demais.

— Viu? Estamos todos bem. - Ela acariciou o cabelo dele com carinho.

— Eu te amo, Annie - ele murmurou tão baixo que até Annabeth teve que se inclinar para mais perto dele para ouvir.

— Eu também te amo, Luke - ela sussurrou. - Você foi o melhor irmão que eu podia pedir.

— Eu sou um monstro. - a voz dele tornou a ter aquele tom embargado, de quem estava prestes a chorar.

— Você é um herói, Luke - Annabeth o corrigiu. - Você salvou a minha vida.

— Mas eu quase te matei - ele retrucou.

— Mas não matou - ela replicou e lhe beijou na testa. - E é isso que importa.

— Espero que os juízes pensem do mesmo jeito - ele murmurou, sua fala perdendo a força até desaparecer em seus lábios, quase inaudível. Luke ficou imóvel. Annabeth começou a soluçar.

Lutei contra a tontura e me arrastei até o lado dela, envolvendo seu corpo com o meu. Senti suas lágrimas quentes contra o meu pescoço e desejei que aquele abraço nunca se desfizesse. Após vários minutos assim, ela se afastou um pouco de mim, apenas o suficiente para me olhar nos olhos. Parecia determinada a me socar, o que eu entenderia perfeitamente, mas o que ela fez me surpreendeu mais ainda. Ela agarrou a parte da frente da minha armadura e me beijou. Senti toda a tensão da luta se dissolver de repente enquanto minhas mãos envolviam seu rosto. Não sei quanto tempo durou, mas sei que, quando nos separamos, eu me sentia bêbado. Ela tornou a me abraçar.

— Você está vivo - ela murmurou em meu ouvido. - Pensei que tinha morrido na inundação.

— Eu sou filho de Poseidon - sussurrei de volta. - Não posso me afogar. E fui eu que inundei a arena.

Ela riu. Mas foi uma risada vazia.

— Beckendorf...? - ela perguntou.

Suspirei com pesar.

— Ele morreu. Foi por isso que perdi o controle.

“Mas Thalia está viva.” Tentei falar, mas as palavras travaram na minha boca. A guarda pretoriana, seguida dos guardas do calabouço, entrou na arena, muitos deles com ar enfurecido. Fiquei de pé com dificuldade, erguendo Annabeth comigo. Um dos guardas agarrou o meu elmo no chão e o jogou aos meus pés. Eu me abaixei para apanhá-lo.

— Que parte do: “Não tire o elmo durante o jogo em hipótese alguma” você não entendeu? - ele perguntou e eu senti meu peito apertar. Bosta.

— Sinto muito, senhor, mas não foi minha culpa. - argumentei. - Lu... Cronos arrancou da minha cabeça...

O soldado fez um sinal com a mão, dispensando a minha explicação.

— Nos vimos à luta, graeco - ele falou. - E você desrespeitou uma regra. E deve ser punido. - Os olhos dele recaíram sobre Annabeth, parada ao meu lado, enquanto sua língua umedecia lentamente os seus lábios. - Matem a garota.

Várias espadas se desembainharam, inclusive a minha. Empurrei Annabeth para trás de mim de maneira protetora e apontei a espada para os vinte soldados na minha frente.

— Toquem em um fio do cabelo dela e eu inundo esse lugar de novo. - Estreitei os olhos. - E dessa vez vou garantir que não haja nenhum sobrevivente.

Os soldados hesitaram e eu percebi que a gritaria da platéia se reduzira a um burburinho nervoso. O homem que falara antes, que provavelmente era o capitão da guarda, semicerrou os olhos para mim.

— Isso é um ato de insubordinação, Netuno? - ele perguntou com a voz arrastada para garantir que eu entendesse cada palavra.

Fechei os olhos e respirei fundo. Se não fosse cuidadoso, Annie e eu podíamos acabar mortos ali mesmo.

— Não, senhor - falei com uma polidez forçada. - O que eu quis dizer, em outras palavras, foi que não há sentido em puni-la por algo que eu fiz, senhor. - Senti meu estômago dar voltas e meu coração apertar com o que eu disse a seguir - Eu aceito qualquer punição, senhor. Inclusive a morte, se assim o Imperador desejar.

Annabeth arquejou atrás de mim. Eu tinha acabado de colocar a minha vida nas mãos de um homem que se divertia ao mandar crianças lutarem contra gladiadores, mas eu não me importava, desde que ela continuasse viva.

Todos os olhos se voltaram para o imperador, que se levantou de seu assento ao ouvir as minhas palavras. Ele me olhou de alto a baixo antes de responder com frieza:

— Cinquenta chibatadas devem ensinar esse gladiador a respeitas as regras. - Os homens me agarraram, mas o imperador sinalizou que parassem - Quero que seja açoitado agora, mas levem a garota de volta para a cela dela. Ela já passou por suficientes provações por hoje.

Ver Annabeth ser arrastada para longe pelos guardas fez com que cada célula do meu corpo gritasse de dor. Não era justo. Eu tinha tanto a contar para ela... Mas vendo seus olhos repletos de medo e preocupação, eu entendi que seria melhor assim. O peitoral da minha armadura foi retirado e jogado de lado e a minha túnica foi rasgada até a lombar. Senti o sol banhar as minhas costas enquanto eu era colocado de joelhos no chão arenoso. Um soldado trouxe um suporte de madeira em que amarraram meus pulsos. Ouvi os portões se fecharem depois que Annie deixou a arena. Respirei fundo ao ouvir o soldado erguer o braço e mordi o lábio inferior para reprimir o grito de dor quando o chicote estalou nas minhas costas.

Uma já foi. Faltavam quarenta e nove.


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Notas finais do capítulo

E então? Expectativas? Sugestões? Opiniões? Achou algum erro? Deixe um comentário!
Nos vemos no próximo capítulo, que pode sair amanhã ou em três meses!
Até a próxima!



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