Coliseu escrita por Bela Escritora


Capítulo 6
6 - Clarisse La Rue


Notas iniciais do capítulo

OLOU pessoal!

Pelo amor dos deuses, faz muito tempo que eu não posto nada! Mil e uma desculpas por isso! A minha escola vem ocupando vinte e nove horas do meu dia e, somado a isso, ainda estava com um bloqueio criativo do caramba. Prometo que vou tentar postar com mais frequência, mas não é nada garantido, ok?

Sobre o capítulo de hoje: COTÉM SPOILER PARA QUEM NÃO LEU O ÚLTIMO OLIMPIANO! Espero que gostem. Esse capítulo eu chuto que é um pouco mais violento do que os outros e este também está um pouquinho mais longo. mas mesmo assim, aproveitem a leitura.



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Já fazia uma semana. Uma semana desde que Luke fora levado embora, para ser gladiador. Uma semana desde que Annabeth entrara em estado catatônico e não fazia mais nada além de olhar para o fundo da cela de Will. Uma semana e três dias desde que Beckendorf e Percy tinham morrido na arena. E quase dois meses que eu não via a luz do sol.

Olhei para o teto, observando a dança que as sombras faziam ao serem iluminadas pelas tochas presas aos archotes no corredor a nossa frente. Estava tão absorta no movimento que, quando o guarda passou batendo nas grades com uma vara de madeira para nos acordar, dei um pulo dentro da cela.

— Cretino - xinguei me recostando de novo na parede.

— Calada, graeca - ele falou.

— Ou o quê? - perguntei me levantando. Estava irritada. Cansada de ficar trancada naquela merda de lugar. Queria comprar uma briga com qualquer um, até com os ratos. - Vai me bater? Você não tem as chaves, idiota!

Ele me olhou com cara feia e se afastou. Grunhi e tornei a me sentar no chão, esfregando o rosto com as mãos para afastar o sono. Tinha passado boa parte da noite acordada, tendo pesadelos com o bosta do meu pai. Ele tinha raiva de mim por eu ter sido capturada, mas o que eu podia fazer?! Os caras me desarmaram e apontaram vinte espadas para o mim! Até uma filha Ares sabe quando perdeu uma batalha.

Passaram mais de duas horas, que mais me pareceram dois séculos, antes que o próximo guarda trouxesse a comida. Meu estômago estava contorcido de fome e doía e demorei a perceber que eu tinha recebido um cantil com água. Xinguei mil palavrões em grego e latim. Aquele soldado de merda devia ter mexido uns pauzinhos para conseguir me mandar para a arena.

Rosnei baixinho e mordisquei o pão. Estava tão duro que parecia uma pedra. Pensei pelo lado positivo. Eu tinha muito mais chances de sobreviver. Era filha de Ares, o que já me dava uma vantagem natural sobre qualquer um dos prisioneiros ali. Além disso, eu era de Esparta, o que significava que eu tinha treinado com vários tipos de armas. Se eu conseguisse botar as mãos em uma lança...

— Clarisse - ouvi Silena sussurrar e saí dos meus devaneios.

— Qual o problema? - perguntei olhando para ela.

— Você também vai para a arena? - ela perguntou assustada.

— O quê você quer dizer com “também”? - Olhei para a mão dela, com a qual ela segurava um cantil de couro. - Merda.

— Vai dar tudo certo - ela falou. - Eu sei lutar... Um pouco.

— Eu vou estar lá, Silena - falei sentindo a raiva crescer dentro de mim. - Vou te proteger desses babacas.

Ela sorriu. O sorriso mais doce que eu já vira desde que eu fora capturada. Eu não tinha a menor ideia de como Silena conseguia sorrir em um lugar como aquele. Eu só conseguia pensar nas diferentes maneiras de matar os guardas que ficavam vigiando as celas.

— Obrigada - ela sussurrou e se recostou na parede, olhando para o teto com olhos tristonhos. Era óbvio que ela estava pensando em Beckendorf.

Estava prestes a começar a dar dicas de defesa quando o guarda que me acordou apareceu na porta e sorriu para mim com malícia.

— Gostou do presentinho, graeca?

— Babaca - cuspi.

— Controle a língua, garota. - Ele colocou uma das mãos no punhal que levava na cintura. - Ou vou cortá-la para você.

— Duvido que consiga - retorqui girando o pequeno pão mordido nas mãos. Estava tão duro que nem soltava farelo. - No momento em que você entrar nessa cela, será um homem morto. Vou te desarmar e cortar a sua garganta e você nem vai saber o que te atingiu.

O soldado riu.

— Pois então fique com a sua língua. Mas saiba que a sua amiga só está indo para a arena por sua causa.

Juntei uma bola de saliva na boca e cuspi nos pés dele. Ele apenas me olhou com desgosto e se afastou.

— Ele está mentindo, Clarisse - Silena falou me olhando. - Ele só está dizendo isso para te desestabilizar.

Neguei com a cabeça.

— Eu xinguei ele - falei cheia de ódio.

— E daí? - Ela se virou para mim. - Você realmente acha que um pé rapado como ele teria alguma autoridade para decidir quem vai para a arena? Clarisse, quem faz isso é o carcereiro-chefe. Foi só uma coincidência.

— Eu não acredito em coincidências - murmurei abaixando a cabeça.

Esperei pelo que pareceram séculos. Estava ansiosa para botar os pés fora daquele cubículo que chamavam e cela. Cada centímetro de mim pedia por um combate. Minhas mãos coçavam por segurar uma arma, qualquer que fosse. Quando finalmente vieram me tirar das profundezas da terra, eu segui de boa vontade.

Silena mordeu os lábios por todo o percurso, de forma que, quando chegamos aos portões que davam para a arena, eles estavam sangrando. Eu me mantive ao lado dela, me mexendo de forma inquieta, o que não ajudou em nada para acalmá-la.

— Ares, senhor da guerra, por favor, nos abençoes nessa batalha e permita que saiamos dela com vida. Niké, por favor, garanta-nos a vitória dessa luta, para que possamos viver mais um dia - Silena sussurrou em grego assim que ouviu o rugido que atravessava os enormes portões a nossa frente.

— Rezar não vai adiantar, graeca - falou um soldado que devia ter por volta dos quarenta e que, de vez em quando, patrulhava as catacumbas. Ele encarava Silena com olhos famintos, seus olhos parando em todos os lugares com pele exposta ou inapropriados. - Mas, se você tivesse aceitado a minha oferta, não estaria aqui.

Semicerrei os olhos para ele e rosnei de ódio.

— Controle a sua amiga, meretrix¹. - Os outros soldados ao nosso redor riram e, se não fosse pela voz do apresentador do lado de fora, que acabava de nos sentenciar a morte, eu teria quebrado a cara idiota dele.

Os portões tremeram e se abriram lentamente. Os soldados formaram um semi-circulo atrás de nós e, apontando suas espadas para as nossas costas, nos forçando para dentro da arena. O dia estava incrivelmente nublado, mas isso não tornava mais fácil encarar as paredes brancas do Coliseu. Com os olhos semicerrados por causa da luz analisei os arredores. Havia restos de cenário ali que faziam a arena parecer com os terrenos rochosos da Grécia. Quase podia me sentir em casa... Quase.

A platéia aplaudia alguém, mas eu não consegui encontrar a figura. Os portões do outro lado estavam se fechando e, em frente a eles, haviam dois gladiadores com armadura completa, elmos com penacho azul e espadas. Pareciam gêmeos visto de longe.

— Fique fora do alcance deles - falei para Silena. - Deixe que eu cuido disso. Assim que eu me engajar com ambos você se esconde. - Ela assentiu, mordendo a parte interna da bochecha.

Os gladiadores se aproximaram girando as espadas nas mãos, com certeza total de que iam sair dali com vida. Faria de tudo para que eles estivessem errados.

— Hey, panacas! - chamei, pegando toda a atenção deles para mim. - Vocês devem estar se achando muito com esses elmos ridículos! Onde foi que vocês acharam? Dentro de uma pilha de estrume?

— Foi o nosso pai - falou o primeiro.

— Que fez para nós! - rugiu o segundo.

— Sério isso? Vocês realmente tem que ficar completando as frases um do outro? - perguntei com um sorriso de escárnio nos lábios. - O que vocês são, pombinhos apaixonados?

Eles grunhiram em uníssono.

— Somos.

— Gêmeos.

Revirei os olhos.

— Explicado por que os dois tem a mesma cara de bosta.

Eles rugiram e atacaram juntos, em movimentos sincronizados. A platéia gritava um nome, e eu demorei para entender qual era. Hidra. Fazia sentido. Duas cabeças gêmeas, irracionais e muito, mais muito feias.

— Suma Silena! - eu berrei agarrando o punho de um dos gladiadores e me desviando da espada do outro.

Meu sangue esquentou com a perspectiva da luta e nem senti quando um deles cravou uma adaga em meu braço. Na verdade, eu estava mais concentrada quebrar o pulso do gladiador ao qual eu agarrara o punho. Tomei-lhe a espada assim que o estalo do osso se tornou um grito grutal que lhe escapou de forma involuntária da garganta.

Enquanto o primeiro rolava para longe de mim, escapando de ser empalado, o segundo tentou abrir a minha cabeça com a espada. Tentou, porque eu desviei a lâmina dele com a minha recém adquirida.

— Vamos testar suas habilidades com espada, monstrengo - falei por entre um sorriso perverso. - Vou te mostrar do que uma cria de Ares é capaz.

Ele atacou primeiro e eu o enfrentei. Podia ter desviado, mas filhos do deus da guerra nunca desviam de uma luta. Gostamos do sangue de nosso inimigo na nossa pele e não no chão. Deslizei a minha lâmina pela dele, fazendo faíscas pularem para os dois lados. Travamos espada com espada, cara a cara. Ele grunhiu como um javali enfurecido e eu, para jogar um pouco sujo para deixar a luta um pouco mais divertida, se não para a platéia, para mim, reuni um bolo de saliva na boca e cuspi em seus olhos.

O gladiador gritou e se afastou, cambaleante, esfregando os olhos. Assim que ele tirou a mão do rosto, chutei um punhado de areia na cara dele, fazendo-o soltar uma caralhada do que eu supunha serem palavrões em latim. O rosto dele parecia ter sido pintado por uma criança, o que significava que estava mais feio do que antes. Quase me arrependi do que eu tinha feito. Não por ele, mas por mim, que teria que ficar olhando para a cara dele enquanto lutava.

Ouvi passos vindos por trás e, por instinto, girei o corpo em velocidade com a espada em riste. Foi muito rápido para que eu pudesse aproveitar. A lâmina penetrou a carne do pescoço pelo lado esquerdo e o cortou até chegar do outro lado, decapitando o gêmeo. Um borrifo quente de sangue atingiu meu rosto e minha mão enquanto o corpo sem cabeça do gladiador caia de joelhos no chão e sua cabeça rolava pela arena. O sangue de seu pescoço logo formou uma poça enorme e pegajosa sob meus pés. Foi através dela que eu vi quando o irmão do homem morto se aproximou de mim e me agarrou por trás, me levando para longe da cena.

“Corte uma cabeça da Hidra e outras duas nascerão em seu lugar” foi a frase que veio na minha mente quando senti os braços daquele homem me envolverem como num abraço de urso. Não nasceriam outras cabeças, disso eu tinha certeza. Mas o irmão dele devia estar com um ódio duplo de mim agora.

— Você matou o meu irmão! - ele berrou me jogando no chão. Parecia uma criança que tinha perdido o brinquedo favorito.

— Vai chorar? - perguntei sorrindo de forma maliciosa.

— EU VOU TE MATAR! - ele urrou partindo para cima.

Rolamos no chão em uma confusão de socos, sangue, cabelo e trapos. A areia voava ao redor de nós e entre nós tornando difícil de respirar e enxergar o que estava acontecendo. Sei que, depois do que pareceu uma hora inteira no chão eu consegui imobilizá-lo. Vi-me sobre ele, socando-o como se ele fosse o responsável por tudo o que estava acontecendo de ruim na minha vida. Por eu ter sido capturada e separada de meu namorado, por Charles Beckendorf ter morrido, por Silena ter sido enviada a arena comigo. Soquei. Cada soco tinha um motivo diferente, um sentimento diferente. Eu estava totalmente fora de controle.

Quando finalmente voltei a mim, o Coliseu estava em total silêncio e minhas mãos estavam cobertas de sangue até os pulsos. O rosto do gêmeo não passava de uma maçaroca indistinta de carne, ossos, músculos e sangue, muito sangue. Levantei-me e cuspi o sangue que se acumulara em minha boca, errando por pouco o corpo. Olhei ao redor, respirando fundo para me acalmar enquanto, lentamente, a platéia se punha a vaiar.

Silena saiu de seu esconderijo e veio na minha direção, sorrindo como se estivesse diante do próprio Elísio. Parecia a pessoa mais feliz do mundo. Um sorriso também brotou no canto do meu rosto e pude sentir a crosta de sangue seco rachar. Estávamos vivas e poderíamos finalmente voltar para nossas selas. Tudo ia, pela primeira vez em meses, dar certo para nós duas. Estava tão concentrada no meu alívio, que só vi a flecha tarde de mais.

Silena tombou. Uma haste brotava entre as suas costelas, enfeitadas ao final por penas negras e reluzentes como piche. Senti que gritava enquanto meus pés me levavam cada vez mais para perto do corpo da minha amiga. Meus joelhos tocaram o chão e minhas mãos agarraram o corpo dela. Aquilo não podia estar acontecendo. Por que Silena? O que ela tinha feito para o mundo para morrer ali, de forma tão súbita?

— Silena! - Afastei-lhe o cabelo da face, minhas mãos deixaram listras rubras em sua pele alva - Silena, vocês está me ouvindo?!

— Clarisse... - ela sussurrou e teve um acesso de tosse que lhe trouxe sangue aos lábios.

— Não fale - pedi com lágrimas nos olhos vendo a toga dela ganhar um circulo vermelho escuro ao redor da flecha. - Poupe suas energias.

Ela agitou a cabeça, negando de forma veemente.

— Não - ela sussurrou com voz rouca. Quase não podia ouvi-la. - Eu tenho que te contar uma coisa. - Ela gemeu de dor quando seu braço esquerdo, sem forças, esbarrou na haste da flecha. Tomei sua mão na minha, ciente de que havia mais um par de olhos na arena, pronto para me matar - Fui eu que... Fui eu que te entreguei para a legião.

— O quê? - perguntei mais confusa do que com raiva.

— Eu não sabia. Eles queriam apenas saber onde você estava. Não tinha... Não tinha a menor ideia de que iam... iam... - Um novo acesso de tosse que, dessa vez, quase a sufocou - Eu sinto muito... É... É minha... Culpa. - Ela começou a chorar. Lágrimas escorriam por sua pele empoeirada, deixando uma trilha de diamantes em suas bochechas - Me perdoe.

— Não é sua culpa, Silena. - Mordi o lábio inferior tentando segurar as lágrimas - Está... Está tudo bem. Não estou brava com você. - Mas ela não respondeu. Seus olhos estavam focados a quilômetros de distância de mim - Silena? Silena! - Senti as lágrimas rolarem por meu rosto, quentes, lavando toda a sujeira que cobria a minha pele

Escondi o rosto contra seu pescoço e chorei. Chorei como nunca havia chorado antes. Podia ouvir as pessoas vaiando, rindo e comemorando, tinha certeza que meu pai me xingava do topo do trono dele no Olimpo por ser tão fraca. Mas eu não ligava. Não ligava para nada disso. Tinha acabado de perder a minha melhor amiga depois de meses só tendo ela para com quem contar. Eu tinha todo o direito do Império Romano de ver as ruínas do que um dia fora o meu mundo cederem de vez.

Ainda soluçando, ergui a cabeça e, pelo canto do olho, pude captar um movimento. Trinquei os dentes. Era ele. Aquele maldito gladiador que passara o tempo todo escondido, esperando o momento certo para atacar, como uma cobra. Minha respiração se acalmou de repente e eu senti o meu sangue esquentar. Aquilo não ia ficar assim. Silena não morreria em vão. Eu ia sair daquela arena. Por ela.

Ergui-me no exato momento em que o gladiador soltou a flecha. Ela se enterrou no meu braço, pinçando a pele entre as costelas e eu grunhi. A platéia explodiu em vivas e comemorações e eu pude finalmente entender o nome do homem que eu enfrentava: Drakon. Rangi os dentes e olhei ao redor em busca da espada. Ainda não conseguia ver o homem, mas sabia que ele estava escondido atrás de uma das pilastras.

Alcancei a minha arma no chão, correndo o risco de ser atingida nas costas, e testei-a com a mão esquerda. Seu uso me vinha tão fácil quanto usar com a direita. Mais uma das vantagens de ser filha de Ares.

— Mostre-se Arqueiro! - berrei. - Pare de ser um covarde e lute como um homem!

— Não posso lutar como um homem quando meu oponente é uma mulher - ele retrucou e me virei na direção de sua voz.

— Fala sério - murmurei entredentes. - Venha para o centro e eu vou te mostrar quem é a mulher aqui, seu idiota!

— Prefiro não me arriscar. Não com você. - A voz dele parecia vir de todos os cantos da arena. - Vi o que fez com a Hidra e não pretendo ter o mesmo fim.

— Pensasse nisso antes de matá-la! Porque agora, quando eu te encontrar, vou fazer você em pedacinhos e vou jogar para os tigres!

— Você é tão petulante. - Ouvi passos atrás de mim e me lancei no chão a tempo de escapar da flecha.

Virei na direção do tiro. Lá estava o gladiador em sua armadura negra com um desenho que lembrava escamas de dragão. Ou ele estava muito pasmo ou era muito estúpido e arrogante para continuar parado na minha frente. De supetão, comecei a correr na direção dele. Drakon mal teve tempo de encaixar uma flecha na corda antes que eu o derrubasse no chão, caindo sobre ele. Ele tentou de desvencilhar, mas eu o mantive no lugar pressionando seu pescoço contra o chão com mais força do que o necessário.

— Você acha que pode me vencer? - ele perguntou com a voz esganiçada. - Vá em frente. Me mate! Você voltará para a arena de novo e terá outro em meu lugar. Outro para matar você ou aos seus amigos. Mesmo que você me mate, você nunca vai sair daqui. Só como um cadáver.

Acertei o punho em seu nariz, sentindo o osso se quebrar sob os meus dedos com o maior prazer da minha vida.

— Essa foi por ter sido covarde - falei arrancando da aljava que ele levava nas costas uma flecha com penas negras. Observei a ponta com um prazer assassino e a enterrei no olho dele com toda a força que eu tinha - Essa é por Silena, seu nojento - murmurei enquanto ele estremecia e ficava imóvel como uma estátua de mármore.

Levantei-me arrancando do cadáver o cinturão feito de couro de uma cobra negra que eu nunca tinha visto e olhei ao redor, para a multidão silenciosa que me cercava. Eles não ousavam me vaiar. Estavam com medo que fossem os próximos cadáveres na arena. Melhor assim.

— Covardes! - gritei em alto e bom som. - Todos vocês!

Os guardas me cercaram antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa para dizer. Eles me arrastaram para o subterrâneo, de volta para a minha cela. Bancavam os poderosos naquelas armaduras, mas eu quase podia sentir o fedor de medo exalando de cada um de seus poros. Quando finalmente me trancaram na minha cela, agarrei o soldado mais próximo e o puxei contra a grade até que o rosto dele ficasse a centímetros do meu.

— Dê um funeral digno para a garota, ouviu bem? - sussurrei ameaçadoramente. - Mortalha e dracmas. Se você não fizer isso, eu vou ficar sabendo. Ela vai vir atrás de você. Mas o pior de tudo é que eu também vou, e vou fazer você se arrepender do dia que vestiu essa armadura, barbaroi. Fui clara?

O homem balbuciou alguma coisa em latim e correu para longe como as almas dos Campos de Punição correm das Fúrias. Fiquei observando ele se afastar só para deixar o soldado com mais medo.

— Clarisse? - Era Will - Você está coberta de sangue, tem um corte profundo e uma flecha no braço. Venha cá para que eu te ajude.

Neguei com a cabeça.

— Estou bem, Will - disse me sentando no chão o mais afastado dele o possível. - Não preciso de ajuda.

Ele ainda insistiu, mas vendo que eu não respondia, se calou e me deixou sozinha na minha própria tristeza.

~X~

Notas de Rodapé:

¹ meretrix: prostituta em latim


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido e espero que tenham gostado. Deixem nos comentários suas opiniões, povo!

Preview do Capítulo 7: O que Percy estará aprontando?



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