Coliseu escrita por Bela Escritora


Capítulo 4
4 - Percy Jackson


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo. Vocabulário fica nas notas finais. Aproveitem e boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569932/chapter/4

Já fazia uma semana que eu não era chamado para nenhum combate e isso me dera tempo para conhecer todo o pessoal das celas ao meu redor e descansar bastante. O garoto logo em frente à minha era Will Solace, um ótimo curandeiros que ajudara a cuidar dos ferimentos de Annabeth depois de ela ter lutado contra três leões, sozinha. Se eu não tivesse visto os animais na arena eu acharia que ela estava brincando comigo.

Do meu lado ficava Charles Beckendorf, com quem eu fiz amizade muito rápido. Ele era carismático e gostava de conversar, o que fazia os dias passarem mais rápido. Além dele tinha Silena Beauregard e Clarisse La Rue, as duas eram bem amigas e ficavam em selas frente a frente, mas a última parecia não ir com a minha cara. Fazer o quê? Não se pode agradar a todos. Ela é só mais uma entre os cinquenta mil romanos que me odiavam. Na cela ao lado da de Annabeth ficava Luke Castellan, um garoto que tinha uma cicatriz sobre o olho esquerdo que ele ganhara ao cruzar espadas¹ com um soldado romano em sua fuga.

— Mas e então, Percy - falou Beckendorf. - O que você fazia antes de fugir para as montanhas?

— Ah, eu criava cavalos com a minha mãe - respondi me lembrando das pastagens verdes à beira da praia onde os cavalos corriam. - Eu tenho um, ele está em casa, a salvo eu espero. O nome dele é Blackjack. E você, Beckendorf? O que fazia?

— Eu trabalhava como aprendiz de ferreiro em Atenas. Fazia espadas, lanças, escudos, tudo o que vocês imaginarem, eu sei fazer. E o resto de vocês?

— Eu trabalhava como tecelã junto com a minha família em Olímpia, mas sempre quis ser arquiteta e ajudar a construir templos - respondeu Annabeth com uma voz sonhadora.

— Desculpe destruir seus sonhos, Annabeth, - falou Clarisse - mas agora você terá que construir igrejas e não templos.

Annabeth revirou os olhos e se recostou na parede.

— Você trabalhava com o que, Silena? - ela perguntou.

— Ajudava meu pai a fazer jóias em uma loja de Atenas - ela respondeu com um sorriso - Foi lá que conheci Charles.

— Eu era curandeiro em Esparta - Will falou com um sorriso orgulhoso - Vocês não tem ideia de como os hospitais viviam lotados por lá.

— E você Clarisse? - Beckendorf perguntou.

— Eu morava em Esparta, ajudava a minha mãe a cuidar dos meus dois irmãos mais novos e pastoreava as cabras do vizinho por alguns dracmas.

— Me parece uma vida legal - falei.

— E era, seu babaca - ela respondeu. - Muito mais legal do que ficar trancada nessa cela minúscula sem ter nada para fazer.

— E você Luke? - perguntei ignorando Clarisse.

— Eu era mensageiro em Olímpia - ele respondeu mudando de posição. - Foi lá que conheci Thalia e Annabeth.

— Calem a boca, seus malditos graecus! — berrou o guarda que trazia a comida.

— Por quê? - perguntei - Estamos atrapalhando a sua soneca?

O soldado grunhiu, mas não respondeu. Ele jogou um pão para cada um e um cantil com água para mim e para Beckendorf, os outros receberem uma caneca. Isso só podia significar uma coisa.

— Vamos para a arena hoje, não é? - perguntei ao guarda.

— Vão - ele respondeu com um sorriso. - E dessa vez, se esforcem para morrer. O inferno já cansou de esperar por vocês.

— E ele pode continuar esperando, por que depois daqui eu vou direto para os campos verdejantes do Elísio.

O guarda resmungou alguma coisa e se afastou. Olhei para Beckendorf.

— Vamos voltar para essas malditas celas juntos, ok? - falei.

— Certo - respondeu Beckendorf sorrindo.

Esperamos por um bom tempo, conversando. Beckendorf parecia nervoso, meu eu o tranquilizei. Não ia deixar nada acontecer com ele. Íamos sobreviver. Silena esticou o braço por entre as grades e deu a mão para ele. Os dois ficaram conversando baixinho, então me virei para Annabeth.

— Pronto para mais uma luta, Cabeça de Alga?

— Pronto - respondi com um sorriso.

— Vê se não desmaia dessa vez. Eu não vou estar lá para te ajudar.

Revirei os olhos e sorri. A verdade era que eu estava com medo. Eu não queria voltar para a arena e cada parte do meu corpo ainda estava dolorida por conta da luta da semana passada. Eu não sabia se conseguiria aguentar mais uma luta. Se não fosse Annabeth, eu já estaria morto.

Quando os barulhos de combate começaram sobre nós os guardas apareceram para nos levar até a arena. Joguei as últimas gotas de água do meu cantil na minha cabeça e saí da cela. Os guardas me olharam de cara feia, mas eu os ignorei. A água me ajudava a recuperar as minhas energias, ou seja, melhorava meu desempenho em uma luta.

Olhei para a cela de Beckendorf. O soldado estava tendo problemas para achar a chave certa e, enquanto isso, o garoto aproveitava para se despedir de Silena. Vi quando ele deu um selinho nela pouco antes do guarda conseguir abrir a porta.

— Boa sorte, Charlie - ela sussurrou com a voz embargada e com os olhos cheios de lágrimas enquanto o soldado arrastava Beckendorf para fora da cela pelo braço.

Caminhamos em silêncio pelas catacumbas. Achei que estávamos indo para os portões, até que passamos reto pela passagem que levava até lá. Olhei para os soldados, nervoso. O que, por Zeus, estava acontecendo?

— Eu acho que vocês pegaram o caminho errado - falei olhando para o guarda mais próximo.

— Cala a boca e anda, graecus — ele retrucou, me empurrando.

— Não, é sério! Eu já fiz esse caminho quatro vezes, Os portões ficam pro outro lado.

— E quem disse que estamos indo para os portões? - me perguntou um soldado mais a frente. - Agora continue andando!

Engoli em seco e olhei para Beckendorf. Ele me encarava confuso. Eu suspirei e dei de ombros. Continuamos andando por mais alguns minutos. Em pouco tempo as paredes de pedra foram substituídas por jaulas de animais com tigres e leões que nos olhavam com cara de esfomeados. Eu não podia culpá-los. Um pão e uma caneca de água não alimentava ninguém.

Fomos colocados em um dos elevadores, nossos grilhões substituídos por uma corrente presa a um dos tornozelos em uma extremidade e a outra presa a um anel no chão do elevador. Engoli em seco.

— Vocês vão soltar isso na arena, não vão?

O soldado mais próximo me deu um sorriso maligno que me tirou qualquer esperança. Seríamos entregues para o que quer que estivesse lá em cima como duas oferendas.

— Vão nos dar armas pelo menos? - perguntou Beckendorf. O soldado o ignorou. - Hey! Isso não é justo! Todos tem o direito de lutar!

— Ele tem razão! - eu falei. - Se vocês nos jogarem lá em cima amarrados os espectadores não vão gostar. Qual a emoção que dois garotos acorrentados ao chão podem trazer?

— Ah! Mas eles já se divertiram bastante por hoje - falou o soldado mantendo o sorriso de dar arrepio na espinha. - Está na hora do intervalo e vocês serão o gran finale dessa tarde.

— Vai ser um gran finale sem o gran. Por que eu duvido que seja legal assistir dois garotos acorrentado serem destroçados pelo que quer que esteja lá em cima - falei. - Se eu estivesse lá fora, eu não assistiria.

— Bom, mas você não está, graecus. Então vai seguir as nossas regras. - Ele se virou para Beckendorf. - E sobre as armas, vocês não vão receber. O motivo? O imperador cansou de ver vocês sobreviverem. - Ele nos deu as costas. - PODE SUBIR!

Olhei para Beckendorf e mordi o lábio inferior. Estávamos ferrados. Ele me deu um sorriso triste e passou a olhar para cima. Pude ver uma lágrima escorrer por sua bochecha, brilhante como um diamante, deixando um rastro limpo sobre sua pele coberta de poeira.

O elevador começou a subir com os escravos puxando as cordas para nos erguer no ar até a arena. Senti um arrepio percorrer a minha espinha. Aquilo estava errado, estava muito errado. No começo pensei que fosse um sonho, mas as vaias da multidão lá em cima me diziam o contrário. Era verdade. E era pior do que qualquer pesadelo.

Procurei por Contracorrente entre as dobras da minha toga. Não poderia usá-la hoje. Não poderia usar nada. Duvidava que o gladiador com quem eu iria lutar teria um elmo de vaca. Se é que eu lutaria contra gladiadores. Podia ser que a arena estivesse cheia de animais famintos. Engoli em seco. Aquele dia estava realmente pior do que um pesadelo. Se eu sobrevivesse hoje seria a maior prova de que os deuses estavam do meu lado.

Em meio aos meus devaneios eu percebi que não havia me despedido de Annabeth. Senti meu estômago gelar. Se eu morresse, será que ela ficaria sabendo? “Obvio que sim” eu pensei “Você não vai voltar para a sua cela e isso já é suficiente para ela saber que você morreu.”

Mal o elevador parou, eu já ouvi um gritou grutal. Ainda estava cego pelo sol e zonzo por causa da gritaria, mas identifiquei que ele vinha de detrás de mim. Joguei-me para o lado na hora certa. Um machado com a lâmina do tamanho da minha cabeça atingiu o chão exatamente onde eu estava segundos antes. O gladiador me olhou e rosnou como um lobo esfomeado. Eu me ergui. Não tinha mais para onde correr, a minha corrente já estava completamente esticada.

Olhei para Beckendorf, ele lutava com outro gladiador pela posse do machado que o outro empunhava. Por que gladiadores gostavam tanto de machados? Espadas eram muito melhores! O gladiador investiu de novo e eu, novamente, desviei para o lado, escapando por um triz da lâmina assassina sedenta por sangue.

— Você não tem para onde fugir, graecus - ele falou com uma voz grossa e seca.

— Meu nome é Perseu e não graecus, seu barbaroi de merda - eu falei.

O homem rugiu e partiu para cima de mim. Eu corri para o lado, esquecendo que tinha uma corrente no meu pé. Ela esticou completamente e puxou o meu pé para trás. Caí de cara no chão e a platéia começou a gargalhar.

Cuspindo areia, rolei para o lado e acabei por desviar de uma machadada que eu nem sabia que estava vindo. Pude ver minha expressão de espanto refletida no metal da lâmina. Não fiquei muito tempo me apreciando, minha cara de susto nem era tão bonita. Levantei-me o mais rápido possível e corri de volta para a plataforma do elevador.

No meio do caminho senti a minha corrente enganchar em algo. Não olhei para trás. Apenas puxei o pé com força para frente. Ouvi um grito de susto e um baque molhado de lâmina atingindo carne. Engolindo em seco, olhei para trás. O gladiador jazia deitado no chão, com a garganta enterrada na parte de trás do machado, ainda preso ao chão. Sangue escorria pela lâmina e pelo cabo e se empoçava na areia. Ok. Isso realmente fora um golpe de sorte.

Minha alegria se transformou em terror quando eu percebi que a platéia não estava vaiando. Virei-me para ver Beckendorf e o encontrei ajoelhado no momento em que o machado do gladiador descia sobre a sua cabeça, partindo-a em duas.

Caí de joelhos no chão, observando o corpo de meu amigo cair para o lado, morto. Os olhos abertos cheios de pânico. As mãos dele cobriam uma ferida enorme em sua barriga que eu evitei olhar diretamente. Na realidade meu olhar se fixou sobre o gladiador que o matara. Senti a raiva invadir meu sangue quando ele retirou a arma do crânio rachado de Beckendorf e a brandiu no ar, recebendo os aplausos e gritos delirantes da platéia.

— Não... - murmurei ofegante, as lágrimas turvando a minha visão. - NÃO!

Tenho que admitir que eu não sei o que aconteceu naquele momento. Não tenho a menor ideia. Simplesmente não consigo me lembrar. Só sei que em um momento todos aplaudiam o gladiador e no minuto seguinte essas mesmas pessoas gritavam e fugiam, desesperadas, das arquibancadas do Coliseu. Uma barreira se ergueu a minha frente e bloqueou a minha visão da arquibancada, uma barreira translúcida que cresceu até atingir a altura das paredes do coliseu.

Gotas de água do tamanho do meu punho começaram a cair na arena. Estava chovendo? Não. O sol estava brilhante de mais para estar chovendo. Gritei. Liberando todo o meu ódio, raiva e frustração. Ouvi o som de ondas quebrando e logo em seguida eu desmaiei, exausto.

~X~

O som de espadas sendo cruzadas me acordou. Onde eu estava? Será que aquilo tudo tinha sido um sonho? Abri os olhos. Aquela não era a minha cela. Era bem iluminada de mais para ser a minha cela. O que estava acontecendo? Sentei-me e esfreguei o cabelo, eu estava deitado em uma pilha de feno em algum tipo de depósito. Olhei ao redor enquanto massageava a parte de trás do meu pescoço. Aquele não era o calabouço onde eu ficava preso. Eu nem sequer estava preso ali! Tentei me levantar, mas ainda estava fraco de mais. Alguém me agarrou pro trás, impedindo que eu caísse.

— Calma aí, camarada - falou uma voz feminina que eu desconhecia - Você precisa descansar um pouco.

A garota me forçou a sentar de novo na pilha de feno e se pôs a minha frente. Tinha cabelos pretos curtos e olhos azuis elétricos. Algumas sardas pontilhavam sua pele clara e sua toga preta estava puída na barra.

— Onde estou? - perguntei com uma voz estranha por causa da minha garganta seca.

— Na área para treinamento de esquisitões politeístas capturados pelo exército romano - ela falou me entregando uma caneca com água e um pão pequeno. Onde quer que aquele lugar fosse, a dieta continuava a mesma.

Olhei para ela com cara de confuso. A garota suspirou.

— Você está na parte de treinamento de gladiadores semideuses - ela explicou com um volume de voz mais baixo após ver se nenhum guarda estava prestando atenção na nossa conversa. - Se você realmente foi o responsável por alagar a arena dois dias atrás... Bom... Você está no lugar certo.

Alagar a arena? Como eu podia ter feito isso se não tinha água por perto? O que estava acontecendo?

— Você só pode estar de brincadeira - murmurei depois de um gole de água. - Quem é você afinal de contas?

— Eu sou Thalia Grace, filha de Zeus.

~X~

Notas de Rodapé:

¹ É o mesmo que dizer lutou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Deixe sua opinião nos comentários.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coliseu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.