Coliseu escrita por Bela Escritora


Capítulo 3
3 - Annabeth Chase


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo. Vocabulário fica nas notas finais. Aproveitem e boa leitura!



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— Garoto do minotauro? - falei olhando para ele por entre as grades. Será que ainda estava vivo? - Garoto do minotauro!

— Deixe o imbecil dormir, Annabeth - falou alguém da cela em frente a minha.

— Shiu, Clarisse. Quero saber se ele ainda está vivo.

Estiquei o pescoço para olhar o corredor e ter certeza de que nenhum guarda estava vindo antes de enfiar a mão por um dos espaços entre as grades e balançar um dos ombros dele. Ele gemeu e resfolegou. Piscou com força e abriu os olhos. Um par de olhos verdes que contrastavam com seu cabelo preto.

— Bom dia, garoto do minotauro - eu falei sorrindo para ele.

— O quê?... - ele perguntou confuso se sentando, mas sem largar o chifre. A julgar pela cor do sangue em sua mão, o objeto devia estar grudado em sua mão. - Por que você está me chamando assim?

— Garoto do minotauro? - eu perguntei inclinando a cabeça. - Bom... Pelo simples motivo de você ter matado o gladiador Minotauro.

— Isso é sério? - Assenti. - Cara, eu estava torcendo para que tivesse sido um sonho.

— Bom... Se você ainda tem alguma dúvida é só olhar para a sua mão. Seu troféu está aí - falei me recostando contra a parede.

— Troféu? - Ele olhou para a mão e soltou uns vinte palavrões em grego. Eu segurei o riso. Ele tentou abrir os dedos, mas estavam grudados no objeto. - Ah, cara! Não é justo! Eu estou com sede, não quero gastar água com isso aqui! - Ele apontou para a mão, irritado. Depois olhou para mim e me deu um sorriso sem graça. - Desculpe. Eu estou um pouco...

— Confuso? - perguntei.

— É. Isso aí. - Eu ri.

Ficamos em silêncio por um tempo antes de ele perguntar:

— Qual o seu nome?

— Annabeth - eu respondi - Annabeth Chase.

— Sou Percy Jackson. Prazer. - Ele me ofereceu a mão, mas ao perceber que estava coberta de sangue seco fez uma careta e a recolheu.

— Percy, o babão - falei rindo.

— Babão? - ele perguntou - Por que babão?

— Por que você baba enquanto dorme - eu respondi e ele riu.

Ficamos em silêncio de novo.

Graeca¹? - ele perguntou me olhando

Graeca — confirmei.

Observei-o brincar com a corrente dos grilhões que lhe prendiam as mãos.

— Como foi que eles... Descobriram você? - eu perguntei curiosa.

— Ah, eu meio que era conhecido na minha cidade. Eu não gosto de sair por ai me gabando, mas sou filho de Posei... - Tapei a sua boca com a minha mão o mais rápido que consegui. Ele parou de falar e me olhou confuso.

— Se você presa pela sua vida, nunca mais fale isso em voz alta nessas catacumbas ou na arena lá em cima. - Tirei a mão de cima da boca dele lentamente.

— Por quê? - ele perguntou.

Olhei para o corredor para ver se ninguém se aproximava e fiz sinal para ele chegar mais perto. Ele encostou o ouvido na grade e eu coloquei as mãos ao redor da boca para sussurrar.

— A última pessoa que disse que era filha de um dos deuses gregos foi levada daqui e nunca mais foi vista.

Ele me olhou e cochichou em meu ouvido:

— Você a conhecia?

Assenti e sussurrei de volta:

— Thalia Grace, filha de Zeus. Ela chegou aqui comigo e com Luke Castellan na semana passada.

— Você sabe o que aconteceu com ela? - Percy perguntou ainda sussurrando.

— Não. Ninguém sabe. As opções são que, ou ela foi jogada na arena ou... Foi morta pelos soldados.

— Sinto muito - ele murmurou encarando as mãos sujas - Você também é...

— Sim - sussurrei. - Filha de Atena.

— Ah, legal - ele falou. - Sua mãe já me chamou de delinquente.

Ri. Percy era o único que conseguia me fazer rir naquelas catacumbas.

— Quando foi que isso aconteceu? - perguntei.

— Foi...

— O que os dois estão aí cochichando? - perguntou um guarda que trazia comida.

— Nada, barbaroi — Percy falou sorrindo. - Só estou ensinando minha nova amiga aqui a matar gladiadores com cabeça de vaca.

— Aproveite a sua sorte enquanto ela dura, seu graecus de merda - o guarda falou abrindo a cela de Percy e jogando um pão e um cantil de couro com água no colo dele e depositando uma vasilha fumegante no chão. - Você e a sua nova amiga vão parar na arena com leões famintos, e hoje não é brincadeira. - Percy faz cara de incrédulo e suspirou exasperado. - Por enquanto... - o guarda continuou, satisfeito ao perceber que tinha irritado Percy, fechando a porta da cela dele e abrindo a da minha - aproveite seu prêmio, graecus. Sopa de peixe.

— Não tem como trocar, não? - Percy perguntou fazendo uma careta de desgosto. - Sabe, eu era sacerdote de Poseidon e não como peixe.

— Uma pena - o guarda respondeu jogando pão e água no meu colo - Eu não trocaria nem se tivesse outra opção. - Ele trancou a porta e seguiu para as outras celas.

Com um suspiro, Percy pegou o cantil e molhou a mão que estava grudada ao chifre. Após algumas gotas e puxões, ele se livrou do osso e o jogou do outro lado da cela. Depois esfregou as mãos até que elas estivessem recobertas por um líquido pegajoso e vermelho escuro.

— Tem alguém vindo? - ele perguntou sem desgrudar os olhos das mãos.

— Não - respondi sem entender o porquê da pergunta.

— Ótimo. - Ele passou os dedos da mão direita no ar acima da palma da mão esquerda, como se puxasse algo dali. O mais incrível foi que o líquido vermelho deslizou de sua mão para o chão. Ele fez o mesmo com a outra mão, até que todo o líquido tivesse deixado sua pele.

— Uau - sussurrei. As mãos dele continuavam com uma coloração avermelhada, mas pareciam limpas comparadas com o estado anterior. Percy sorriu.

— Quer a sopa? - ele perguntou me olhando.

— É sua. Você parece mais esfomeado do que eu - respondi pegando o meu cantil no meu colo.

— Eu não vou tomar - ele falou. - Não como nada com que eu consiga conversar.

— Tudo bem - respondi rindo e aceitando a oferta.

Percy pegou a vasilha e me entregou. Experimentei. Estava muito salgada, mas o gosto me lembrava das sopas que meu pai fazia para mim quando eu estava em casa. A lembrança me fez sorrir.

— Está boa? - ele perguntou mordiscando o pão.

— Nem tanto - falei. - Mas me lembrou de casa.

Ele sorriu e passou a devorar o pão. Peguei o meu e passei pela grade.

— Tome. Essa sopa vai me manter em pé, você precisa comer mais alguma coisa se quiser ter forças para lutar.

— Não precisa - ele respondeu bebendo um pouco de água.

— É sério, eu insisto, Percy - falei.

Ele me olhou nos olhos e suspirou, pegou metade do pão na minha mão e o mordiscou com um sorriso brincalhão nos lábios.

— Percy! - reclamei.

— A comida é sua - ele falou.

— Bom, mas eu estou comendo a sua sopa - falei.

— Não é minha sopa por que eu não como peixe - ele rebateu.

— Bom, mas ela foi feita para você.

— Assim como o seu pão foi feito para você.

— Argh! - Joguei a metade do pão na cabeça dele.

— Ai! - ele reclamou pegando a outra metade do pão. - Você conseguiu transformar essa coisa em uma arma! Melhor guardar para usar na arena, não acha?

— Engraçadinho - falei com um sorriso na cara. - Agora come.

Ele suspirou e se rendeu, comendo a metade do pão sem me olhar na cara.

— Você está agindo como criança - falei.

— Não fui eu que taquei o pão na minha cabeça - ele retrucou.

— Bobo.

— Chata.

— Cabeçudo.

— Irritante.

— Cabeça de Alga.

— Sabidinha.

Rimos como se fossemos velhos amigos. Afastei uma mecha loira de cabelo da minha cara enquanto colocava a vasilha da sopa no chão da cela.

— Então... - falei me recostando na parede enquanto tomava um gole de água - Você não ia me explicar por que Atena te chamou de delinquente?

— Ah é, certo. Foi quando eu estava na cidade, esperando para ser trazido para cá. Atena e Héstia aparecerem lá, fingindo ser mãe e filha. Durante a atuação de Atena, ela falou que eu provavelmente era um delinquente que tinha roubado alguma coisa. Depois disso, Héstia me deu isso. - Ele tirou um estilete de osso de dentro das dobras da roupa.

— Um estilete? Pra quê? - perguntei pegando o objeto e o observando. Percebi que tinha algo entalhado nele, uma palavra, mas não consegui ler, por que as celas eram muito escuras.

—Ah, eu não sei. Deve ser alguma coisa disfarçada. Tipo uma espada - ele respondeu girando o objeto entre o polegar e o indicador. - Eu não testei ainda. Ontem, durante o combate, eu simplesmente esqueci que isso existia.

— E como faz para essa espada aparecer? - perguntei. Adorava essas magias dos deuses, que criavam armas que se disfarçavam em objetos mundanos.

— Eu não tenho certeza ainda. Héstia disse que eu tinha que chamar por ela, pela espada.

— Tem algo a ver com o entalhe nela?

— Talvez - ele deu de ombros.

Ouvi passos no corredor.

— Esconda isso. Rápido! - sussurrei. Percy obedeceu, enfiando objeto entre as dobras de sua toga.

Uma escolta de soldados, armados com gládios romanos e vestidos com armaduras completas, se posicionaram na frente da minha cela e da de Percy. Eles abriram as portas e desembainharam as espadas, prontos para o combate caso fosse necessário. Como se fôssemos idiotas de tentar lutar com eles. Bom... Talvez Percy fosse.

— Saiam. Os dois.

Suspirando, me levantei e espanei o pó das roupas com as mãos. Segui para o lado de fora sem medo. Percy jogou o resto da água de seu cantil na cabeça e saiu. Olhei para ele e percebi que seus olhos brilhavam cheios de energia.

Seguimos pelo corredor em silêncio. Os passos ecoavam nas paredes de pedra do corredor estreito e me lembravam o rufar de um tambor, o que me deixava nervosa. Aquelas catacumbas me sufocavam, queria sair dali o mais rápido possível, mas ao mesmo tempo não queria ser obrigada a enfrentar leões famintos em uma arena lotada de gente que torcia pela minha morte.

Quando chegamos à frente dos portões, os soldados que haviam nos guiado se colocaram em semi-circulo atrás de nós, com as espadas em punho. Percy olhou para mim com um sorriso solidário. Será que eu estava parecendo tão assustada quando me sentia?

— Pronta pra matar alguns leões de fome, Sabidinha? - ele me perguntou enquanto os guardas retiravam suas algemas.

Sorri.

— Prontíssima.

Girei os pulsos enquanto os portões eram levantados. Aqueles grilhões machucavam e eram pesados. Já haviam deixado um par de marcas vermelhas pelo uso contínuo durante uma semana. Eu não entendia por que eles tinham demorado tanto pra me jogar na arena com leões, mas acho que estava feliz pela demora. O fato de Percy estar confiante de que íamos sair dessa já me deixava mais tranquila.

Começamos a caminhar na direção da arena, mas Percy segurou meu braço e me parou. Olhei para ele confusa, consciente dos guardas mandando-nos prosseguir.

— Lá fora é muito barulho. Assim que botarmos o pé na arena, os cinquenta mil romanos vão começar a nos vaiar. Além disso, o sol é muito forte e não vamos conseguir enxergar por um tempo. Acho que na primeira vez é pior.

— Ok... Obrigada pelo aviso. - falei com um sorriso. - Mas acho melhor irmos, antes que esses mal-humorados aqui atrás nos empalem.

Percy sorriu.

— Ok, certo. Vamos lá.

Respirei fundo e saímos do túnel. A porta foi trancada pouco depois. Era muito difícil enxergar alguma coisa com tanta luz depois de passar uma semana no escuro e as vaias eram tão altas que eu mal conseguia ouvir meus próprios pensamentos. Acho que se Percy não tivesse me avisado, eu estaria bem desnorteada.

Por incrível que pareça, a platéia começou a ficar em silêncio, como se alguém houvesse pedido. “O imperador! É claro, Annabeth!”. Levantei os olhos para o pulvinar² e identifiquei uma figura de pé, com os braços abertos, como se nos convidasse para um abraço. Eu iria se tivesse uma adaga.

— Jovem guerreiro politeísta que derrotou Minotauro, aproxime-se, por favor - o imperador falou, sua voz ecoando pela arena como um trovão.

Percy olhou para mim, receoso, e eu mexi os lábios formando um simples "vá". Ele suspirou e caminhou até ficar um pouco mais próximo da parede do coliseu. Ele olhou para cima, com uma das mãos protegendo os olhos do sol.

— Qual o seu nome, jovem grego - o imperador perguntou sem abaixar o tom de voz.

— Perseu - Percy respondeu.

— Você se mostrou muito destemido, ontem, Perseu. Por isso resolvi dar a você um apoio. Você terá o direito de escolher uma arma, qualquer uma das disponíveis no suporte, para o combate de hoje. Escolha com sabedoria, pois não poderá trocar.

— E quanto a ela? - Percy perguntou apontando para mim. Mordi o interior da bochecha enquanto observava a reação do imperador. - Ela não poderá pegar uma arma também?

— Se ela sobreviver ao combate de hoje, talvez possa pegar uma em seu próximo.

Percy olhou para mim e eu dei um sorriso sem graça enquanto o incentivava a escolher alguma arma. Eu sentia o meu rosto corar, Percy estava preocupado comigo ou era só imaginação minha. Balancei a cabeça. “Pare com essas besteiras, Annabeth!” pensei “Concentre-se!”

— Boa escolha, meu jovem - falou o Imperador observando Percy testar o balanceamento de uma espada cor de bronze - Comecem o combate! Soltem as feras!

Percy voltou correndo para perto de mim enquanto o imperador se sentava em seu trono. Os elevadores³ que traziam as feras para a arena rangeram e se puseram a funcionar enquanto a platéia gritava de alegria. Os guardas retiraram as armas que Percy não havia escolhido do suporte e as levaram para dentro das catacumbas.

— O que achou de Anaklusmos? - ele perguntou girando a espada nas mãos.

— É linda - falei. - mas eles não perceberam?

— Perceberam o quê?

— Que você não escolheu uma espada dentre as do arsenal, Cabeça de Alga!

— Grita mais alto para o imperador ouvir, vai, Sabidinha! - Revirei os olhos. - Não, ele não percebeu. A Névoa de Hecate confundiu os olhos de todos da platéia, incluindo os do imperador e dos guardas.

Abri a boca para falar alguma coisa, mas esqueci imediatamente o que. O motivo? Dois leões pularam para fora de aberturas no chão. Eles tinham correntes presas em seus pescoços, mas eu duvidava que elas fossem ficar ali por muito tempo. Quem quer que estivesse segurando as correntes iria soltá-las logo. Bem logo.

— Annabeth, me diga uma coisa - Percy falou. - Leões não são símbolos de nenhum deus, não é mesmo?

— Não. Leopardos e Tigres são símbolos de Dionísio, mas Leões não simbolizam nenhum deus. Não que eu me lembre, pelo menos.

— Então não tem problema se eles acabarem morrendo, não é mesmo?

— Não.

— Ótimo. Você pega o da direita e eu pego o da esquerda?

— Fechado.

As correntes foram soltas e os leões, partiram para o ataque. O da direita parecia cauteloso, se aproximava lentamente, como se tivesse medo que eu fugisse. Eu não tinha nenhuma arma, teria que usar as minhas mãos. Eu podia sufocar o leão, mas precisaria de uma distração que me permitisse pular nas costas dele.

Olhei ao redor. Tinha que pensar rápido. Uma pedra atiçaria o animal e o faria partir para o ataque. Talvez... Olhei para minha mão. O anel de ouro do meu pai! Se eu conseguisse refletir a luz do sol nele, podia mirar no olho do leão e cegá-lo momentaneamente!

Comecei a tentar criar o reflexo, mas ele se recusava a sair do chão quando eu conseguia formá-lo. O leão já estava lambendo os beiços. Eu realmente deveria estar muito apetitosa.

— Vamos lá. Por favor. Eu estou com pressa! - murmurei.

Desisti do objeto, largando meu braço com força a lado do corpo. Tinha que haver mais alguma coisa que podia ser usada para distrair o leão. “Pense Annabeth!” Olhei para Percy, ele estava cercado de poeira levantada durante o combate.

“É isso!” pensei pegando um punhado de areia do chão. O leão grunhiu, como se risse da minha cara. Joguei a areia sobre o rosto do animal. Ele agitou a cabeça e fechou os olhos, dando alguns passos para trás. Era agora ou nunca.

Pulei sobre o corpo do leão e passei os braços ao redor do pescoço dele, fazendo o máximo de pressão que eu conseguia. Ele bufou e se sacudiu, tentando se livrar de mim. Mantive-me firme, mesmo quando ele rolou no chão. Apertei mais ainda o abraço ao redor de seu pescoço e, em pouco tempo, ele começou a ofegar.

Eu não queria matar um animal tão bonito, mas era ele ou eu e se eu quisesse sair viva dali, tinha que, ao menos, nocauteá-lo. O leão finalmente caiu de lado, inconsciente e eu saí de cima dele. Agarrei a corrente que um dia o prendera às catacumbas e a usei para amarrar o focinho e as patas dianteiras dele. Não podia correr riscos de ele acordar e me atacar.

Terminado o trabalho, me levantei e procurei por Percy. Ele estava de pé, do lado do leão que havia matado. Sua toga estava coberta de sangue e ele ofegava, cansado. Anaklusmos ainda estava cravada no cadáver.

Sorri e ele sorriu de volta. Já estava prestes a comemorar quando ouvi um alçapão se abriu do lado de Percy e um terceiro leão pulou sobre ele, fazendo-o bater a cabeça no chão.

— Percy! - chamei. Ele não respondeu.

Sem parar para pensar no que eu estava fazendo, agarrei um elo quebrado de uma corrente e joguei na direção do animal, atingindo seu lombo. O leão parou onde estava, com a boca aberta prestes a morder o pescoço de Percy, e me olhou cheio de fúria.

Ele saiu de cima do garoto e começou a caminhar na minha direção. Eu não tinha arma e estava cansada demais para dar mais uma chave de pescoço em um leão enfurecido. Minha única opção era correr e para trás, por que se eu fosse para os lados, ele ia me alcançar.

Disparei. O leão rugiu e pude ouvir suas patas batendo no chão em uma velocidade incrível. Olhei para a parede da qual eu me aproximava. Talvez eu pudesse fazer a fera dar de cara com ela. Ele tinha que estar a uma velocidade relativamente alta e eu teria que desviar na hora certa, mas valia à pena tentar.

Olhei para trás. O leão estava quase em meus calcanhares e eu estava quase alcançando a parede. 3... 2... 1... Pulei para o lado, rolando no chão e me arranhando toda. Joelhos, cotovelos, queixo... Minha toga ficou em frangalhos, mas eu não tinha outra opção. Ouvi quando a fera se chocou contra a parede e caiu no chão. Levantei o mais rápido que pude para ter certeza de que não ela estava realmente apagada.

A platéia vaiava cheia de ódio por eu ter sobrevivido de novo. Estava prestes a correr até onde Percy estava para ver se estava bem, quando ouvi um elevador funcionando de novo. Aquilo não podia ser verdade. Eu tinha acabado de derrotar dois leões sozinha! Eles não podiam querer que eu derrotasse um terceiro! “É claro que eles não querem que eu derrote” eu pensei “Eles me querem morta!”

Um alçapão se abriu na frente dos meus pés e um leão pulou sobre mim, me derrubando no chão. Grunhi quando bati a cabeça com força na madeira ao cair. O animal sobre mim rugiu, juntamente com a platéia. Ele abaixou a cabeça para me morder e eu coloquei os dois braços abaixo de seu pescoço, empurrando-o para cima. Ele tentou usar as patas para me arranhar, mas eu desviei. Precisava sair dessa de algum jeito.

Meus pés escorregaram na areia e senti algo duro sob a sola da minha sandália. Fosse uma pedra ou um pedaço de madeira, podia ser usado como arma. Usei o pé direito para trazer para cima e peguei o objeto com a mão, deixando o peso do pescoço todo no braço esquerdo. Posso dizer que, nesse momento, a boca do leão ficou perigosamente próxima do meu nariz.

O objeto era uma flecha quebrada ao meio, o pedaço que eu pegara era o que continha a ponta afiada de metal. Sem pensar muito, enfiei-o entre as costelas do leão. O animal rugiu em desespero e correu para longe de mim pingando sangue.

Sentei-me esfregando a parte de trás da cabeça. Não estava sangrando, o que era menos mal, mas doía bastante. Fiquei de pé com dificuldade, já que cada parte de meu corpo doía. Eu estava imunda, cansada, com fome, com sede e coberta de machucados. Olhei ao redor para ver se havia mais algum elevador com mais alguma fera se aproximando da arena, mas parecia que o estoque havia acabado.

Caminhei meio manca até Percy, que permanecia deitado na areia do mesmo jeito que estivera antes. Ajoelhei-me ao lado dele e encostei a cabeça em seu peito, seu coração batia forte e tranquilo.

— Percy - chamei balançando seu ombro, ele não deu sinal de ter ouvido - Percy, acorde, acabou o combate. - Ele continuava apagado e já começava a babar. - Cabeça de Alga, acorde logo antes que o imperador resolva soltar um gladiador com cabeça de vaca aqui na arena.

— Eles ainda têm desses? - Percy gemeu e eu sorri. - Olá Sabidinha. Ainda estamos vivos ou isso aqui é o Elísio?

— Vivos, para a minha alegria.

Percy riu e se ergueu esfregando a cabeça.

— Você derrotou aquele último leão? - ele perguntou enquanto eu o ajudava a se levantar.

— Teve mais um depois daquele que te nocauteou - respondi observando-o se aproximar do cadáver do leão que ele matara e sussurrar alguma coisa. A espada tornou a ser um estilete, mas ninguém na platéia, que por sinal não havia parado de vaiar desde o momento que eu espetara o leão com a flecha, pareceu reparar.

— Uau - Percy falou sorrindo para mim. - Eu sou o Garoto do Minotauro e você é a Dama dos Leões.

— Engraçadinho - falei revirando os olhos enquanto éramos cercados por guardas que iriam nos levar de volta para as claustrofóbicas catacumbas. Por mim estava tudo bem, desde que a platéia calasse a boca e eu pudesse descansar e tratar dos meus machucados.

~X~

Notas de Rodapé:

¹ Forma feminina de graecus.

² Parte da arquibancada do Coliseu destinada ao Imperador.

³ O Coliseu possuía um sistema de elevadores que davam diretamente na arena e serviam para transporte de feras e gladiadores.


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Notas finais do capítulo

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