Sete dias para o Amor escrita por Mililika


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Feliz aniversário, feliz aniversário! Muitos aaaaaaaaaaaaanos de vida! Gatinho, tomara que goste, é simples, é bobo, mas te dou esse presente de coração. Parabéns e tudo de bom para ti, Alê. ♥



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SETE DIAS PARA O AMOR

Primeiro Dia

Felipe levou o copo de bebida aos lábios e olhou para o amigo. Depois apoiou os cotovelos no balcão da cozinha de Talles e ergueu as sobrancelhas.

"Então, o que você disse que queria me falar de tão urgente?" Perguntou, estranhando a seriedade no rosto do outro.

"Eu lhe chamei aqui porque preciso lhe contar uma coisa." Respondeu Talles, com extrema compenetração, sem tirar os olhos de Felipe.

"Vá em frente." Disse Felipe, fazendo um gesto amplo com a mão. "Sinta-se em casa." Brincou.

Talles suspirou.

"Eu te amo."

Felipe arregalou os olhos.

"O quê...?" Perguntou, tentando articular uma frase coerente. "Você me..."

Felipe começou a rir, como se Talles houvesse lhe contado a melhor piada do século. Porém ao ver que a expressão do amigo continuava completamente séria, sem nenhum traço de brincadeira, seu riso esmoreceu até que lhe sobrasse apenas um olhar incrédulo nos orbes castanhos.

Aprumou-se na cadeira.

"Ah, Talles, nós somos amigos há vários anos. Eu também te amo, você sabe, mas é constrangedor dois homens ficarem-"

"Não! Eu não estou dizendo que te amo dessa maneira." Disse o moreno, de maneira incisiva e ainda muito séria.

Felipe tamborilou os dedos na mesa. Do que diabos Talles estava falando?

"De que maneira, então?"

Talles revirou os olhos e contornou o balcão, parando ao lado de Felipe.

"Dessa maneira." Falou, segurando o queixo do Felipe e beijando-o antes que ele pudesse se afastar.

O que aconteceu segundos depois.

Felipe colocou a mão sobre os lábios e olhou horrorizado para Talles.

"Você está louco?" Gritou com a voz abafada. "Chamou-me para vir até sua casa para isso? Eu estou noivo, Talles!"

"Justamente por isso." Replicou Talles, extremamente calmo, em contraste com a agitação do amigo. "Eu te amo e não quero que você se case."

Felipe, já de pé, abriu e fechou a boca inúmeras vezes, tentando conceber que Talles Lago, seu amigo de infância, depois de vinte e três anos de amizade (a idade de Felipe), declarava-se apaixonado. Era... surreal demais.

"Olha, Talles, eu não sei que tipo de brincadeira é essa, mas-"

"Não é brincadeira nenhuma!" Talles enfim demonstrou-se exasperado. "É a verdade! Eu guardei isso por anos porque... eu sabia que você não entenderia e não queria perder sua amizade." Talles passou uma mão pelos cabelos, bagunçando-os.

"E o que lhe fez pensar que agora eu entenderia?" Felipe praticamente gritou. Talles não se surpreendeu. Sempre que o amigo era pego de surpresa ou estava confuso, ficava mais agressivo.

"Eu precisava dizer porque... Felipe, eu não vou suportar ver você casado com outra pessoa. Antes de você se casar, eu vou me mudar para os Estados Unidos."

"O... o quê?" Felipe sentiu-se ainda mais desorientado. Talles era seu melhor amigo, ele não podia simplesmente ir embora.

"Você consegue imaginar o quanto foi difícil para mim todos esses anos, te amar e não poder fazer nada?" Talles se aproximou de Felipe e segurou-o pelos pulsos. "Querer te tocar, mas não ter coragem? Vê-lo com outras garotas ou ter que ouvir sobre as suas conquistas amorosas?"

"Eu não sabia. Me desculpe."

"Não é sua culpa." Talles o soltou. "Só que eu já não aguento mais, Felipe. Eu tenho certeza que te amo desde os meus vinte anos."

"Você não precisa se mudar para os Estados Unidos." Soltou Felipe, que ainda estava insatisfeito com a informação. "Você vai deixar toda a sua vida aqui, seus amigos, sua família, por minha causa? Você está sendo ridículo."

"Eu recebi uma proposta de emprego nos Estados Unidos, pouco antes de você anunciar o seu casamento para daqui um mês. Eu não planejava aceitar, mesmo a oferta sendo muito boa."

"Olha... Talles, nós podemos continuar sendo amigos, você disse que tinha medo de perder a minha amizade, bem, você não perdeu." Tentou novamente, por mais que soubesse o quão egoísta estava sendo. Mas, esse era o problema, Felipe sempre fora egoísta.

"Você não entende?" Perguntou Talles, balançando a cabeça. "Eu não quero ter mais apenas a sua amizade. Não é mais o suficiente."

Felipe sentiu a garganta fechar e um gosto amargo subir-lhe à boca.

"Eu não sou gay, Talles." Falou, justificando-se. O outro sorriu de leve.

"Me desculpe. Eu não deveria, mas eu precisava lhe contar." Talles se virou e começou a andar para fora da cozinha. "Eu vou para o trabalho, preciso acertar os detalhes sobre a minha transferência."

Antes que Talles saísse, Felipe o segurou pelo pulso.

"Você... quando você parte?"

"Em uma semana."

"Você vai se despedir antes de partir?"

Talles sorriu de canto, mas havia certa melancolia em seu olhar. Ele bagunçou o cabelo acobreado de Felipe, como costumava fazer quando eram mais novos, e saiu sem responder.

Segundo Dia

Felipe tentou concentrar-se no trabalho, mas era impossível. Como escrever algo para o jornal quando sua mente não parava de pensar no que acontecera no dia anterior?

Ainda não conseguia acreditar que Talles era apaixonado por ele há cinco anos. Como não percebera? Bem, talvez ele soubesse como disfarçar, não deixar que ninguém descobrisse.

Será que mais alguém sabia?

Ele poderia ter-lhe contado antes. Sentia-se idiota agora ao lembrar-se das várias vezes em que contara ao amigo sobre as mulheres com as quais namorava, saía ou passava a noite.

Esfregou o rosto, irritado com os próprios pensamentos.

Talles estava sendo injusto, dando-lhe um ultimato daqueles. Okay, não fora exatamente um ultimato, ele não pedira para que terminasse seu noivado, apesar de deixar bem claro que não queria que este acontecesse. Porém, mudar-se para os Estados Unidos por causa do casamento não era fazer com que escolhesse entre ele ou Isabelle?

Felipe tinha certeza que amava Isabelle. Tudo bem, todos diziam que estava sendo precipitado, que a conhecia há apenas seis meses, mas, ele estava apaixonado. Sim, tinha absoluta certeza.

E não era gay!

Talles queria mais do que amizade. E Felipe não poderia oferecer-lhe isso.

Mas por que o idiota precisava se mudar?

Era algo que não conseguia conceber. O que faria sem Talles? Simplesmente se sentiria perdido sem o amigo. Agora, por exemplo, precisava de alguém com quem conversar, mas não poderia conversar com Talles sobre o assunto, obviamente.

"Tudo bem aí, Felipe? Você parece preocupado."

Felipe olhou para a prima, que também trabalhava no jornal. Ele era um cronista e tinha uma coluna própria. Os leitores adoravam seu humor ácido e sua irreverência frente a qualquer assunto: política, lazer, relacionamentos, etc. Já Nina trabalhava na coluna política, com matérias sempre sérias e bastante críticas.

"Você sabia que Talles está se mudando para os Estados Unidos?" Foi direto ao assunto.

"Ah, sobre isso..." Ela soltou, num tom mais compenetrado. "Então ele já deve..."

Felipe ergueu uma sobrancelha, olhando-a por um momento.

"Você sabia!" Acusou, fazendo-a morder os lábios. "Você sabia que ele..." Continuou, mas então se lembrou de onde estavam e se interrompeu.

"Que ele te ama há anos e nunca teve coragem de se declarar, e só se declarou agora porque você anunciou que vai se casar com aquela loira azeda. Sim, eu já sabia." Ela falou, mordendo os lábios.

Felipe sentiu-se duplamente traído.

"E como você sabia? Por que nunca me contou?" Indignou-se. Nina suspirou como se Felipe fosse uma ameba sem sentimentos.

"Felipe, para quem você acha que o Talles descarregava toda a frustração dele? Vocês são melhores amigos, mas ele não poderia conversar sobre isso com você."

Felipe percebeu que era exatamente isso que ele pensara segundos antes.

"Aconteceu que um dia eu o encontrei num barzinho, depois do meu expediente. Meu ex me deu um bolo e então eu resolvi encher a cara junto com Talles. Ele ficou bêbado e acabou falando demais. Isso há quatro anos. Ele tinha bastante coisa para desabafar, você pode imaginar." Ela balançou a cabeça. "E eu não lhe contei por motivos óbvios, não? Primeiro, ele me pediu para não lhe contar. Segundo, isso era algo que só ele poderia lhe dizer."

"Mas eu sou seu primo! E você me deve uma por ter conseguido aquele encontro com seu atual namorado." Lembrou-a, fazendo Nina rir divertida.

"Felipe, imagine se eu lhe dissesse que Talles lhe amava antes de ele lhe contar, o que você diria?"Perguntou a ruiva, olhando-o com astúcia.

Felipe torceu os lábios.

"Eu diria que você estava ficando louca."

"Exato." Ela estufou o peito, com um ar superior.

"E o que eu faço agora?" Perguntou Felipe, desesperado por algum conselho.

"Simples: se você o ama também, fica com ele e larga a loira azeda. Se não, você tem que deixá-lo ir, Felipe, deixar que ele encontre uma nova vida, uma nova pessoa. Ele já sofreu o suficiente durante esses anos."

"Que conselho você deu para ele, quando ele lhe contou sobre isso?"

Nina sorriu maliciosa.

"Lembrei-o que você é péssimo quando o assunto é reconhecer seus próprios sentimentos."

Felipe piscou repetidas vezes.

"Você está dizendo que eu amo o Talles e ainda não percebi isso?" Exclamou um pouco alto demais, porém sem dar a mínima para os olhares que recebeu.

Nina fez-se de desentendida.

"Não foi isso que eu falei, Fê. Você que chegou a essa conclusão sozinho." Ela falou, inocente.

Felipe ainda tentou negar, mas Nina já não prestava atenção ao que ele dizia. Resignado, o ruivo voltou a olhar para a tela do computador e teve uma ideia sobre o que escrever.

XxxX

Felipe tentou continuar, mas simplesmente não deu certo. Pela primeira vez na vida, ele não conseguiu ir até o final. Afastou-se de Isabelle, caindo deitado ao lado da garota.

Respirou fundo, frustrado.

"O que aconteceu, Felipe?" Ela perguntou, claramente insatisfeita por ele ter parado de repente.

"Não estou me sentindo bem." Falou, levantando-se. "Preciso de um banho."

"Eu posso tomar com você-" Ela sugeriu, sentando-se na cama.

"Não." Disse Felipe, um pouco mais áspero do que gostaria. "Não, eu preciso de um momento sozinho". Falou, seguindo para o banheiro e chaveando a porta às suas costas.

Entrou no chuveiro e deixou a água fria arrepiar-lhe o corpo. O que diabos acontecera? Acabara de dispensar o sexo com a noiva? Não sentira absolutamente nenhuma atração sexual por ela àquela noite.

"Acontece." Disse, mesmo ciente de que nunca havia dispensado uma garota desde que perdera a virgindade aos quinze anos. "Isso não tem absolutamente nada a ver com Talles!"

"Amorzinho! Tem certeza que não quer que eu entre aí com você?" Isabelle gritou do quarto.

Felipe bateu a cabeça no azulejo, pois sentiu sua cabeça de baixo negar veementemente a proposta.

Terceiro Dia

O trabalho estava relativamente tranquilo. Felipe tentava escrever uma matéria sobre os problemas sexuais de um casal, utilizando-se de muito humor e recente conhecimento próprio, quando seu celular tocou.

Era Talles.

Mordeu os lábios, já nervoso, e atendeu.

"Olá, Talles."

"Oi." Respondeu Talles. "Tudo bem?"

"Tudo! Tudo ótimo!" Respondeu, talvez com ênfase demais no ótimo.

"Hum. Que bom."

Ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Talles voltou a falar.

"Sobre a crônica que você escreveu para o jornal de hoje..."

Felipe sentiu-se afundar na cadeira.

"Hum?"

"Você escreveu para alguém em particular?" Havia uma nota de expectativa no tom de Talles.

Felipe amaldiçoou-se por escrever uma crônica sobre amigos que se apaixonam depois de vários anos de amizade. Nela, deixara claro que era possível de acontecer e que até tinha suas vantagens, pois já se conheciam todos os defeitos do outro, muita das qualidades – exceto as da cama –, além de que a base de qualquer relacionamento duradouro envolvia uma boa dose de amizade e cumplicidade.

Como um raio, a pergunta de quais seriam as qualidades de Talles na cama passou-lhe pela mente, mas, assombrado, afastou-a com ainda mais rapidez.

"Não, para ninguém em particular. Não, acredito que não."

Estava negando demais. Merda.

"Ah, tudo bem. Mas, você sabe, se fosse alguma mensagem subliminar para mim, de que você pensou sobre o assunto e chegou a conclusão de que me ama também, eu gostaria de saber."

"É claro que não!" Exasperou-se Felipe, corando e desviando o olhar ao ver Nina observando-o atentamente. "Não aja como se tudo fosse sobre você."

"Me ligue se resolver se declarar."

Dito isso, Talles desligou.

Felipe olhou indignado para o celular, como se Talles estivesse dentro do aparelho. Ouviu uma risadinha vinda de Nina.

"O que foi?" Perguntou irritado. Ela deu de ombros, voltando a se concentrar no trabalho. Bufando, tentou fazer o mesmo. Deveria começar a escrever sobre política. Um tema mais seguro.

XxxX

Assim que o expediente terminou, Felipe espreguiçou-se e sentiu vontade de ir a algum pub. Ainda era solteiro – ou assim se considerava, mesmo estando noivo – e deveria aproveitar. Não traindo, nunca traía. Mas conhecer gente nova lhe faria bem.

Chegou a pegar o celular para ligar para Talles, quando se lembrou de que essa não era uma boa ideia. Suspirou chateado. Com quem sairia agora? Tudo bem, tinha outros amigos além de Talles, mas nenhum era Talles. Na impossibilidade de chamar o melhor amigo para sair, Felipe sentiu saudades.

"Oras, estou virando uma mulherzinha sentimental."

"O que você está resmungando aí, hein?" Perguntou Nina, arrumando suas coisas para também ir embora. Felipe olhou-a como se a visse pela primeira vez.

"Nina!" Exclamou animado, abrindo os braços e assustando a ruiva.

"O que foi agora?" Ela perguntou, desconfiada.

"O que acha de ir a algum pub comigo hoje, huh?" Sugeriu, balançando as sobrancelhas.

"Por que eu?" Ela perguntou como se houvesse sido escolhida para a forca.

"Porque você é minha prima linda, encantadora e uma companhia muitíssimo agradável." Falou Felipe, galanteador. Nina olhou-o como quem encara uma pedra no sapato.

"Okay, Felipe, eu vou fingir que não é porque você não pode ligar para o Talles e pedir para ele ir com você. Agora vamos, antes que eu me arrependa." Ela falou, colocando as mãos nas costas do primo e empurrando-o para a saída.

"Oras, pois é melhor fingir mesmo, porque você está redondamente enganada."

XxxX

"Talvez eu devesse ligar para o Talles." Falou Felipe, já meio alto pela bebida, tirando o celular do bolso.

Nina chamara também o namorado e os três estavam conversando, bebendo e rindo junto há mais de uma hora.

"Eu me surpreendi por não ver vocês dois juntos hoje, Felipe." Falou Luca, que já era amigo de Felipe antes de começar a namorar Nina. "Vocês estão sempre juntos! Se eu não soubesse que você já namorou um terço da população feminina dessa cidade, acharia que vocês dois eram mais do que amigos, se entende o que eu quero dizer." Ele completou sugestivamente.

Felipe olhou estupefato para Luca, que acabara de receber um beliscão da namorada.

"Você acharia? Por quê? Por que você acharia uma coisa dessas?" Quando Felipe percebeu estava de pé, inclinado sobre a mesa segurando Luca pela camiseta. "Não há nada entre eu e Talles, ouviu bem? Nada!"

"Tudo bem, cara. Calma, foi só uma brincadeira." Disse Luca, assustado com o comportamento do amigo. Nina olhava-o analiticamente.

Felipe largou-o e caiu pesadamente na cadeira. Por Deus, estava entrando em parafuso.

Quarto Dia

"Não, de novo não!" Indignou-se, assim que não conseguiu completar o serviço com a noiva. Ela se sentou indignada na cama.

"Que droga, Felipe! O que está acontecendo? Não me deseja mais?"

Oh, Céus! E o dia estava recém começando.

Isabelle era linda, tinha um corpo escultural, peitos grandes, qualquer homem que colocava os olhos nela caía de quatro com tanta beleza. E, além disso, ela não era burra. Trabalhava no setor de marketing de uma empresa de artigos de luxo e atingia ótimos resultados no trabalho.

Nina, que nunca mantinha o que pensava para si mesma, dizia, contudo, que Isabelle era mimada e arrogante demais, com o nariz empinado e um olhar de desdém e quase nojo para qualquer um que não fosse tremendamente rico como ela. Felipe era rico por causa dos pais e tinha uma herança graúda. Trabalhava no jornal porque gostava de escrever e era quase uma diversão, seus horários eram bem flexíveis.

O sexo com Isabelle também era ótimo.

Até ele não conseguir mais fazer.

"Eu vou tomar um banho."

"De novo! De novo você me deixa plantada nessa cama e vai se trancar no banheiro!" Ela exclamou, levantando-se da cama e o seguindo, porém Felipe fechou a porta do banheiro na cara da loira. "Felipe! FELIPE! ABRA JÁ ESSA PORTA!"

"Ela só pode estar na TPM." Murmurou Felipe. Odiava quando as mulheres resolviam tentar ensurdecê-lo com gritos estridentes.

"Você vai me dizer o que está acontecendo! E AI DE VOCÊ SE ESTIVER COM UMA AMANTE!" Ela assegurou e logo depois ele ouviu a porta do quarto batendo com um estrondo.

Suspirou, aliviado. Será mesmo que queria casar com um furacão daqueles? Como seria quando ficasse velho e impotente e não pudesse satisfazer o desejo sexual da esposa? Viveria trancado no banheiro.

Foi para baixo do chuveiro e acabou pensando em Talles novamente. Se fosse como antes, ligaria para o amigo e contaria aos risos que estava fugindo da noiva trancando-se no banheiro.

Mas se não fosse por Talles ele não estaria tendo problemas em se sentir excitado com Isabelle.

"E desde quando Talles virou o culpado por isso?" Indignou-se e tomou um susto ao ver que estava se masturbando enquanto pensava no melhor amigo.

Era demais para sua sanidade.

Resolveu passar o resto do dia em casa, escrevendo e lendo, longe de qualquer pessoa que pudesse reparar no estado de nervos no qual se encontrava.

Quinto dia

Andou de um lado para o outro na frente do prédio onde Talles trabalhava. Ok, não fazia ideia do que estava fazendo ali. Ou talvez soubesse, mas fosse mais seguro não refletir muito sobre o assunto.

"Eu estou louco, ele nem deve mais estar trabalhando aqui." Resmungou, desistindo e começando a caminhar para o mais longe possível dali.

"Hei, Felipe!"

O ruivo congelou ao ouvir a voz do amigo. Por que não escapara um minuto mais cedo? Virou-se com um sorriso sem graça, enquanto coçava a parte de trás da cabeça.

"Ah, oi, Talles." Falou, cogitando a ideia de jogar-se no meio da rua e morrer atropelado.

"O que está fazendo aqui?" Perguntou o moreno, encarando-o com curiosidade.

"Eu vim... eu estava passando por aqui e... pensei que poderíamos sair e fazer alguma coisa. Você já almoçou? Podemos almoçar juntos." Falou, um tanto atrapalhado.

Por Deus, era Talles ali, não a Madonna ou a Oprah.

"Hum... tudo bem, se você quer." Talles deu de ombros.

Os dois começaram a caminhar lado a lado pela calçada. Felipe lançava eventuais olhares para Talles, mas quando o outro percebia e olhava-o também, desviava o olhar, sentindo-se corar.

Sentindo-se ridículo, isso sim.

Porém, Felipe relaxou ao ver que, quando chegaram a um pequeno restaurante onde já haviam almoçado juntos algumas outras vezes, a conversa fluiu naturalmente, como se Talles jamais houvesse se declarado.

O moreno contou sobre a mudança para os Estados Unidos. Talles trabalhava com desenvolvimento de jogos e era bastante famoso em seu ramo. Alguns meses antes fora aos Estados Unidos em uma viagem de negócios e entrara em contato com a empresa onde iria começar a trabalhar dali a duas semanas.

Felipe quis implorar para que ele desistisse da ideia, mas acabou mantendo-se quieto.

"Foi o meu último dia na empresa daqui. Eu preciso ir para casa agora, começar a arrumar minhas coisas, deixar tudo pronto para a viagem-"

"Eu não tenho mais trabalho hoje!" Disse Felipe, levantando-se também. "Posso ir com você e ajudá-lo. Se você quiser, claro..."

Talles olhou-o de maneira estranha, mas assentiu.

XxxX

"Vou vender o apartamento mobiliado, claro, comprei algumas malas, para roupas e objetos dos quais não quero me desfazer." Falou Talles, assim que entraram no apartamento.

"Nem dá para acreditar. Você gosta tanto desse apartamento. Eu estava junto quando você veio olhá-lo pela primeira vez. Assim que entramos eu soube que você iria comprá-lo."

"É? Como?" Perguntou Talles, fitando-o com interesse.

Felipe desviou o olhar, sentindo-se idiota com o que estava prestes a falar. Se não soubesse que Talles lhe amava, não seria nada demais, mas agora tudo parecia ter um sentido diferente.

"Ah, você sabe," Abanou a mão. "seus olhos brilharam e você sorriu daquele jeito..."

"Que jeito?"

Talles olhava-o intensamente e Felipe não soube onde se enfiar. Não deveria ter vindo até ali; suas mãos começaram a suar, como sempre acontecia quando estava nervoso.

"Aquele jeito... de quando está feliz ou deslumbrado com alguma coisa, é diferente de quando você sorri porque está nervoso, ou quando ri de uma piada idiota, ou só está tentando ser simpático, sabe, tem algo a mais, dá para perceber e-"

Felipe se calou quando Talles o segurou pelos ombros, os olhos queimando nos seus.

"Por que está fazendo isso?" Ele perguntou, mas não havia raiva em sua voz.

Felipe abriu e fechou a boca. Andava ficando sem palavras muito seguidamente nos últimos dias.

"Fazendo o quê?" Perguntou.

Talles o abraçou, surpreendendo-o. Um abraço forte que o envolvia por completo. A respiração quente dele arrepiou seu pescoço.

"Você sabe como eu me sinto, sabe o quanto eu lhe quero," Felipe sentiu as bochechas esquentarem. "e mesmo assim me procura, pede para almoçarmos juntos, para vir a minha casa-"

"Somos amigos! Amigos almoçam juntos!" Defendeu-se Felipe, porém Talles continuou, sem se importar com a interrupção.

"Fala sobre os meus olhos e o meu sorriso... O que você está pensando, Felipe?"

Felipe sentiu os lábios de Talles passearem por seu pescoço e prendeu a respiração, segurando-se nas roupas do outro.

"Talles... eu acho melhor... eu ir embora..." Falou, tentando se soltar, contudo Talles abraçou-o com ainda mais força e, antes que pudesse fazer alguma coisa, viu-se deitado no sofá, com o amigo sobre si.

"Você veio aqui por um motivo." Disse Talles, olhando Felipe intensamente.

"Não foi para-"

Não conseguiu terminar. Talles afundou os lábios nos seus, pressionando-os com força. Ele beijava com a urgência de alguém que esperou anos por uma oportunidade, anos para sentir os lábios de quem se ama. Felipe desesperou-se ao perceber que correspondia e que todo seu corpo correspondia.

Sentiu a excitação crescer como não acontecera nas últimas vezes com Isabelle e sentiu uma das mãos de Talles entrar por dentro de sua camisa, tocando e apertando sua pele de maneira quase bruta, como se já não pudesse se controlar. Era diferente de qualquer coisa que já experimentara.

Era intenso e forte e impulsivo.

Um gemido escapou quando Talles se moveu, friccionando seus quadris. Quase não conseguiu respirar devido ao modo possessivo com que ele o beijava, como se a partir daquele momento nunca mais fosse deixá-lo escapar de seus lábios.

Num jorro de sanidade, empurrou-o com todas as forças, quase o fazendo cair no chão, e pulou do sofá, ofegante e desnorteado.

"Você não deveria ter feito isso sem o meu consentimento!" Esbravejou, praticamente correndo até a porta.

"Felipe! Esper-"

Saiu do apartamento e entrou no elevador a tempo de fugir do amigo. Assim que as portas fecharam, escorregou até o chão e tentou normalizar a respiração.

"O que diabos... foi aquilo?" Perguntou, com a mão no peito, seu coração batendo a mil por hora.

Sexto dia

Felipe acordou e viu que Isabelle já não estava na cama. Tomou um banho e foi até a cozinha, encontrando-a com o café da manhã pronto e uma expressão doce no rosto.

"Queria me desculpar ontem." Falou, apontando para a mesa, onde havia torradinhas, frutas e café quentinho esperando por ele.

Felipe adorava ser mimado.

Sentou-se, sentindo-se culpado por ter fugido da noiva nos últimos dias e por ter beijado um homem no dia anterior. Ele me beijou! Lembrou-se. Tomou um pouco do café e olhou para Isabelle.

"Desculpe por ter me trancado no banheiro e te ignorado."

"Tudo bem, amor, você deve estar estressado com alguma coisa. Quer conversar sobre isso?" Ela perguntou, servindo-se de uma torrada.

Isabelle poderia ser um pouco arrogante com os outros, mas com ele sempre fora uma ótima pessoa. Porém Felipe começava a perguntar-se se a amava realmente. Imaginou-a partindo para os Estados Unidos e não sentiu metade da amargura ao imaginar Talles subindo num avião, como aconteceria no dia seguinte.

Lembrou-se a excitação que sentira quando Talles o beijara.

Precisava tirar a prova.

Levantou-se num rompante, quase assustando a noiva, e puxou-a da cadeira. Beijou-a o mais intensamente que conseguiu, empurrando-a contra o balcão da pia e tocando-a invasivamente. Ela gemeu e retribuiu com o mesmo ardor, mas Felipe não sentiu nada.

Afastou-se e fitou-a diretamente nos olhos. Ela estava sorrindo e acariciou seus cabelos cor de cobre.

"Desculpa, mas não posso mais fazer isso." Falou, sentindo-se mal ao ver o sorriso dela desaparecer.

"Fazer o quê?"

"Isso," Felipe apontou para ela e depois para si próprio. "Nós."

"Felipe..."

"Não podemos nos casar. Eu não te amo, me desculpe."

Era um de seus problemas também: ser direito demais e um tanto insensível. Sempre que terminava com uma garota, falava a verdade. Não conseguia usar as desculpas clássicas como 'não é você, sou eu' ou 'é melhor sermos apenas amigos'.

Isabelle o empurrou e deu-lhe um tapa no rosto.

Ok, estava acostumado com isso também.

"Você é um canalha!" Ela gritou, saindo esbaforida da cozinha. Felipe sentia pena de todo o ser vivo que se colocasse no caminho da loira naquele dia em particular.

XxxX

"Você terminou com ela?" O queixo de Nina caiu e ela bateu palminhas. "E o que fez com que você tomasse essa atitude? Por acaso tem algo a ver com o-"

"Nem ouse pronunciar algo sobre isso." Interrompeu-a Felipe. "Não, eu apenas percebi... que não a amo de verdade."

"E por acaso um certo melhor amigo apaixonado tem algo a ver com essa descoberta?" Ela sorriu inocentemente, ignorando o olhar mortal de Felipe.

Ok, talvez Talles tivesse um pouquinho de culpa.

"Absolutamente nada a ver com ele." Mentiu na cara dura. Será que Nina sabia sobre o que acontecera no sofá da casa de Talles no dia anterior?

"Okay, se você diz... Ah, você ficou sabendo da festa de despedida para o Talles hoje à noite, não?"

"Sim, meu pai me ligou e avisou. Eu não sei se devo ir..." Falou, franzindo os lábios. Não achava uma boa ideia, depois daquele beijo.

Beijara um homem. E gostara.

Era demais para sua sanidade.

"Vai sim, senhor! Talles é seu melhor amigo e, independente do que tenha acontecido ontem entre vocês, ele gostará de lhe ver por lá!" Garantiu Nina, veementemente, sem brechas para discordâncias.

"O que aconteceu ontem... Espera aí um pouco! O que você sabe sobre o que aconteceu ontem?"

Nina virou-se para o computador e voltou a digitar, como se nada houvesse acontecido.

"Preciso terminar essa matéria ainda hoje." Falou, ignorando Felipe, que passou o resto da tarde incomodando-a, querendo saber o que Talles lhe contara.

Em vão, obviamente.

Sétimo Dia

Felipe chegou ao apartamento dos pais bem mais tarde do que deveria. Já passava da meia noite e toda a família já havia ido embora, por causa do serviço no dia seguinte.

"Filho, achei que você não viria se despedir do Talles! Onde estava até agora? Liguei umas cinco vezes para o seu celular!" Falou Antônio, abraçando-o assim que pôs os pés na casa.

"Desculpa, pai." Suspirou. "É uma longa história."

"Você perdeu toda a festa. Sua mãe fez uns docinhos incríveis. Acho que ainda têm alguns na cozinha." Avisou.

"Talles já foi embora, também?"

"Não, está lá na cobertura. Acho que está admirando a noite da cidade uma última vez antes de ir para os Estados Unidos." Antônio sorriu tristemente, pois considerava Talles como um filho também.

Felipe sorriu sem graça e disse que também iria até a cobertura falar com o amigo. Antes ainda passou na cozinha, abraçou a mãe e comeu um docinho – que ela quase o obrigou a experimentar.

Talles estava apoiado no parapeito, olhando para a cidade como se já sentisse saudades dela antes mesmo de partir. Felipe aproximou-se o mais silenciosamente possível e parou ao lado dele.

"Você veio." Falou Talles, surpreso, virando-se para olhá-lo.

Felipe torceu as mãos.

"Sim, eu... pensei em não vir, mas na última hora... bem, eu não poderia deixar você escapar sem me despedir adequadamente antes. Seu voo é que horas?

"Logo pela manhã, às oito horas."

Os dois se encararam sem saber muito bem o que falar. Aquele constrangimento era algo novo e errado entre eles. Não deveria existir.

"Sobre ontem-"

"Sobre aquele beijo-"

Os dois falaram ao mesmo tempo.

"Você primeiro." Pediu Felipe.

Talles assentiu e, depois de um suspiro, continuou.

"Sobre aquele beijo, eu queria pedir desculpas. Não deveria ter lhe agarrado. Você estava falando e fazendo algo completamente normal e eu interpretei errado."

Felipe assentiu, não desejando realmente as desculpas de Talles. Não sentia que havia algo para desculpar ali.

"Eu vou embora amanhã e você não vai ter mais que se incomodar comigo."

"Você está louco?" Indignou-se Felipe. "Incomodar? Desde quando eu me incomodo com você?"

"Desde que eu me declarei e tentei agarrá-lo a força?" Talles sorriu torto, sem humor, e Felipe bufou.

"Não seja idiota, se dependesse de mim, você não iria embora de jeito nenhum." Resmungou, irritado.

Talles riu.

"Mas, Felipe, depende de você."

"Não faça disso um ultimato!" Exclamou Felipe. "Você chega até mim, se declara, e me dá uma semana para que eu me decida? Para que eu me acostume com a ideia? Você acha que é o suficiente? Você acha que eu quero que você vá embora? Você não pode chegar, falar essas coisas e então simplesmente partir! Você deveria ter me dado mais tempo!"

Talles olhou-o surpreso.

"Se eu lhe desse mais tempo, você me daria uma chance?" Ele perguntou e seus olhos brilharam mais do que em qualquer outro momento de que Felipe se lembrasse.

"Eu..." Felipe suspirou e desviou o olhar. "Desde que você se declarou, eu não consegui mais dormir direito, comer direito ou transar direito com a minha noiva. Todo o meu corpo se arrepiou e eu me senti excitado como o inferno quando você me beijou; depois terminei com a Isabelle e não parei, por um segundo, de pensar em outra coisa que não em você. Tudo isso em uma única semana. Qual você acha que é a resposta?"

No instante seguinte, Felipe era envolvido novamente pelos braços de Talles, em um abraço apertado. Dessa vez retribuiu, escondendo o rosto no peito do amigo.

"Eu vou lhe dar mais tempo." Sussurrou Talles, próximo ao ouvido do ruivo. Felipe arrepiou-se novamente, ciente que não era por culpa do vento noturno.

"Você... vai ficar?" Era uma pergunta tola. Era óbvio que ele ficaria, mas precisava ouvi-lo dizer.

Talles riu de maneira leve, realmente feliz.

"Eu te amo." Ele sussurrou novamente, abraçando Felipe com ainda mais força.

"Sei disso. Por causa disso eu tive uma semana péssima."

Talles voltou a rir e beijou Felipe no pescoço. Começou a subir os lábios e olhou demoradamente para as íris castanhas do amigo, antes de selar seus lábios, segurando-o pela nuca, apertando-o com força contra seu corpo.

Foi tão intenso quanto da primeira vez e Felipe não se arrependeu nem um pouco. Ainda havia algo de estranho em beijar um homem, e esse homem ser seu melhor amigo, mas não era estranho num sentido ruim.

Era bom.

Enlouquecedoramente bom.


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