Depois que fizemos o trabalho, o dia seguinte era o dia de entregar, mas o trabalho não era aquele que você tem que ir na frente de todos e apresentar, falar algumas coisas ou algo do tipo, é daqueles que você tem que levar até a mesa da professora e esperar ela examinar pra depois te dar a nota, foi isso que eu e as meninas fizemos, entregamos o trabalho e ficamos esperando ela terminar de examinar tudo.

–Deixa eu ver, ótimas figuras, resumo perfeito, letra bonita e legível... É. Perfeito, parabéns, ganharam um 10.- ela disse, as meninas pularam de alegria e eu sorri, fiquei feliz que o trabalho foi bem feito.

Logo depois de mim, foi a vez do grupo da Bruna e da Emily apresentar o trabalho para a professora, mas antes que ela pudesse chamá-las, enquanto eu ia rumo à minha carteira, as duas lançaram-me um olhar que parecia dizer "parabéns", e eu retribuí.

Quando me sentei, fiquei ali, parado, só vendo a reação da professora quanto ao trabalho delas, no final, acabou que ela teve a mesma reação, deu nota dez pra elas e dessa vez eu lancei o olhar parabenizando as duas, que retribuíram.

No recreio, tudo foi normal, não teve nenhuma confusão, nem briga, nem nada, pelo contrário, daquela vez, Bruna e Emily não sentaram junto com as meninas, se sentaram junto comigo e Neco, Zeca e Joca, não sei se era por medo que o Duda voltasse a implicar comigo ou se elas estavam brigadas com as meninas, mas isso eu vou perguntar depois.

O recreio teria sido até um pouco tedioso e calado se não fosse pelo Neco ter contado umas boas piadas pra nós.

–Vem cá Neco, de onde você tira essas piadas?- perguntei.

–Desse livro aqui ó. Mas tem mais desses lá em casa.- ele disse, me passando o livro.

–Deixa eu contar uma pra vocês então.- eu disse, mexendo nas páginas.

–Fique à vontade.

Então, eu fiquei lendo três piadas pra eles, uma foi a piada da canoa que virou com dois pescadores dentro, a outra foi de um homem sem braço e sem perna chamado Cotoco, que foi confundido com uma tartaruga e a outra eu já não lembro mais qual era porque foi muito sem graça, tanto pra mim quanto pra eles, mas eram as únicas que restavam contar já que o Neco já tinha contado todas as outras.

Por fim, o sinal do fim do recreio tocou, voltamos para a sala e a professora de Física entrou depois de cinco minutos, quando todos já achavam que ela faltaria, mas ao contrário do costume dela, ela colocou o material dela na mesa e depois pegou alguns papéis pequenos e começou a andar na direção das mesas, dizendo:

–Bom dia classe, demorei porque estava na diretoria pegando esses papéis para vocês, já explico o que tem neles. É uma autorização para irem à um passeio escolar, será realizado no Museu das Artes, um dos mais visitados do mundo, então, já sabem, quem quiser ir, entregue para seus pais e pedem pra eles assinarem e entreguem para mim que entregarei para a diretoria, ok? Então, voltemos à aula.- disse ela, calmamente.

Na saída, assim que coloquei tudo na mochila, fui direto até Neco e Joca, que estavam dentro da sala, pois Zeca havia saído pra ir no banheiro pouco antes do sinal tocar.

–E aí? Vocês vão nesse passeio?- perguntei.

–Sim.- eles responderam juntos e depois o Neco perguntou.- E você vai?

–Acho que vou.

–Ah, qual é, vai ser divertido.

–Eu sei, mas não vou se minha irmã ou se a Bruna não quiserem ir.

–Tá, já entendi.

Depois, na saída, tive que esperar Bruna na porta, pois ela havia ido no banheiro, então, quando ela saiu e veio ao meu encontro, perguntei logo:

–Você vai nesse passeio?

–Vou, vocês vão?

–Eu vou.- disse Emily sorrindo, me surpreendendo pela forma rápida que respondeu.

–Se vocês vão eu também vou.- eu disse e ri.

Chegando na saída da escola, como os únicos responsáveis por mim e por Emily eram os pais da Bruna, nós fomos até a casa dela juntos e nós pedimos pra Valentina, que já estava preparando nosso almoço, assinar a autorização e ela assinou enquanto comíamos conversando sobre esse passeio.

O passeio era em dois dias, durante esse tempo, não se falava em nada a não ser o passeio, todo mundo ficava trocando ideias tentando adivinhar como seria o Museu, foram dois longos dias que passaram rápido, Duda foi pra escola nesses dias todos, mas se afastou bastante, pois nem provocações ele têm feito mais, quando dei por mim, estávamos no ônibus, chegando lá, Neco e Zeca estavam sentados um do lado do outro fazendo aquelas brincadeiras de adolescentes, Joca estava ao lado de um outro menino que eu já tinha visto, mas não conhecia direito, quem sabe mais pra frente eu tivesse essa chance, foi aí que me dei conta que só tinham mais quatro lugares disponíveis no ônibus, Bruna se sentou e eu fiquei em dúvida se sentava com ela ou com Emily, olhei para as duas, que estavam sentadas e tentava me decidir, foi quando ouvi alguém me empurrar por trás:

–Anda logo imbecil, vai ficar o dia inteiro aí?- nem precisei olhar pra trás pra ver quem era porque logo reconheci o dono da voz, Duda. Bufei.

–Tá bom, já vou!- eu praticamente gritei me sentei ao lado da Bruna, mas como o único lugar disponível para se sentar era ao lado de Emily, ele teria que se sentar ao lado dela. Paciência, pelo menos é melhor do que vê-lo se sentando ao lado da MINHA namorada enquanto tenta seduzi-la como fez da outra vez, e olha que ele ainda estava com alguns hematomas no rosto, já não eram tão visíveis quanto no segundo dia, mas de perto dava pra ver perfeitamente.

Depois que ele se sentou, pegou seu celular e colocou fones de ouvido nele, talvez ele preferisse ouvir música do que olhar pra cara da Emily já que ele a odeia, enquanto ele colocava os fones no celular, ela me olhou com uma cara de poucos amigos, mas eu fiz uma cara de cachorro que caiu do caminhão da mudança e ela cruzou os braços e ficou olhando pela janela, nisso, o ônibus arrancou, a turma toda foi conversando alto dentro do ônibus, fazia a maior farra que se podia fazer, era diferente dos ônibus normais, pois a maioria das pessoas que pegavam eles eram adultos e era tudo calmo, sem rodeios, eu acho que se não fosse a Bruna ter arrumado assuntos interessantes pra conversar comigo durante todo o trajeto, eu teria dormido de tédio, a viagem, segundo o que eles disseram, duraria três horas, saímos da escola às nove da manhã, almoçaríamos em uma lanchonete que tinha lá no museu e voltaríamos lá pras duas da tarde talvez, mas mesmo assim, eu não parava de pensar se aceitar ir para o passeio foi uma boa ideia, será que vou me arrepender? Espero que não.