A Filha de Hermes - Batlett of Nix escrita por Péricles


Capítulo 1
Capítulo único




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Eu estava acabada.

Minha cabeça pesava, meu corpo doía e tudo o que eu queria era fechar os olhos e dormir. Dormir para sempre. Sair desse mundo infernal e ter minha tão sonhada passagem para o Elísio. Mas meu cérebro não permitia isso. Ele não permitia que eu dormisse ou que eu fraquejasse. Bem, obrigada Cérebro. Ainda não podia acreditar no que havia acontecido na ilha de Nix. Meu ato imprudente me trouxe até aqui, mas salvou meu irmão e Gus – que também é meu irmão.

Uma hora dessas eles deviam estar na segurança do Acampamento Meio Sangue, ou bem, simplesmente lá. Provavelmente ao amanhecer Nix atacará. Tudo o que eu fiz foi adiar a morte de ambos.

Após Gus se jogar de cabeça no portal que dava sabe-se-lá-aonde, sem pensar duas vezes, sem raciocinar, antes que ele pudesse se opor, empurrei Gian para o portal. E foi bem a tempo. Queres já possuirá o corpo feito de névoa de um dos fantasmas que Gus nocauteou e acabará de fechar o portal. Agora eles estavam seguros e protegidos. Lá, a Formiga Gigante não poderá alcança-los.

A Formiga Gigante.

Só tive tempo de me virar e ver aquele pesado corpo, com suas seis patas e suas antenas que cuspiam ácido rumarem rapidamente em minha direção, antes que um jato disparado por uma das antenas atingisse minha barriga.

A dor foi excruciante. Nenhuma outra dor se comparava a essa, e olha que eu já sofri muitas dores ao longo da minha vida. Aquilo parecia afetar diretamente meu sistema nervoso, fazendo todo o meu corpo fraquejar e eu cair de joelhos no chão, ambas as mãos pressionando o local onde o jato me atingiu, o que foi um erro, pois assim que minhas mãos tocaram o local, uma queimação as percorreu.

Minha visão ficou turva. Eu não via e nem escutava nada. Estava totalmente concentrada naquela dor. Apenas eu e ela. Meu cérebro ficou sobrecarregado. Eu não conseguia pensar, eu já não tinha certeza se estava viva.

O enorme vulto da Formiga Gigante ainda pairava sobre mim, me analisando, observando a carne para o jantar. Deuses, como eu gostaria de cortar outra de suas pernas assim como Gus fez.

Percebia minha vida se esvaindo, se soltando de meu corpo que agora não passava de carne podre atingida por ácido de Formiga. Deuses, como eu fui idiota. Eu poderia ter pulado e arrastado Gian pelo braço. Eu poderia me jogar sobre ele e assim nós dois atravessaríamos o portal. Mas meu instinto não permitiu que eu pensasse, que eu analisasse a situação com a rapidez de Hermes e arranjasse uma solução rápida.

Agora eu estava morrendo. Tudo por culpa do meu maldito instinto.

Sentia o ácido corroendo meus ossos. A dor era tão excruciante, tão alarmante que eu já não sentia nada. Estava em uma espécie de vácuo eterno, apenas eu e meu inútil corpo sendo corroído por ácido. Tudo o que eu conseguia pensar era em minha mãe adotiva. Uma hora dessas ela devia estar bebendo a terceira ou quarta garrafa de cerveja do dia, enquanto meu padrasto deixava seu trabalho e estava preso no trânsito com aquele seu ridículo carro cinza acabado. Abominei a ideia de perdê-los. Mesmo que minha mãe me odiasse, mesmo que eu não me sentisse aceita por eles. Não conseguia parar de pensar também em Gus, agora que ele era meu irmão. Como Hefesto e Hermes, ambos, conseguiram se aproveitar de nossa mãe biológica num momento tão delicado da vida dela e então simplesmente, partido, largando-a lá com dois filhos para cuidar? Isso mataria qualquer um.

Hermes.

Eu nem conseguia pensar sobre o idiota do meu pai. Estava com muita raiva pelo o que ele havia feito com minha mãe. Mesmo após saber que Nix retirará sua imortalidade. Aliás, sem a imortalidade dele eu poderia muito bem lhe acerta um chute entre as pernas. Como eu queria fazer isso.

O efeito foi instantâneo. Após esse simples pensamento e essa vontade de agredir meu pai, um pouco da minha visão e da minha audição voltaram, de modo que eu conseguia ouvir Queres gargalhando e os ruídos das presas da formiga raspando umas nas outras, ansiosas para me dilacerarem.

Foi então que eu percebi a cura para o ácido. Eu precisava vencer a dor e me concentrar num pensamento. Pensar em um desejo inquieto dentro de mim e permitir que me dominasse, que me preenchesse. Se apenas o desejo de chutar meu pai conseguirá me curar um pouco, o que meus desejos mais profundos poderiam fazer?

Rapidamente pensei em meus amigos do Acampamento. Todos. Julia, Vic, Poliana, Péricles, Fernando, Dora, Pudim, Elo, Ramon, Marta, Lucy e até o novato Gabe. Eu quero reencontra-los. Quero abraça-los. Quero me sentar na praia com eles em uma toalha de piquenique e ficar jogando conversa fora, rindo e se divertindo como sempre fizemos.

Minha audição retornou completamente. Queres se divertia citando várias formas de me matar enquanto as presas da formiga ainda batucavam, ansiosas, esperando o comando da deusa para me trucidar.

Pensei no Acampamento Meio Sangue. Eu quero voltar lá. Quero sentir o aroma dos morangos, quero passear pelos bosques e matar os monstros que conseguiam ultrapassar a fronteira. Quero jogar vôlei na quadra. Quero rever Quíron. Deuses, quero até rever Dioniso.

Minha visão agora retornou e a dor foi deixando lentamente meu corpo. Mas ainda não conseguia me mexer. O que mais eu desejava descontroladamente?

Gus. Eu queria rever Gus. Puxa, como eu quero abraça-lo e compartilhar meus sentimentos de irmã com ele. Como eu quero voltar a provoca-lo e aproveitar melhor o tempo agora que descobri que ele é meu irmão. Quero fazer coisas de irmãos, como trocar presentes de Amigo Secreto no natal, rir das besteiras que nossos pais fazem e imaginar como era minha mãe. Eu quero voltar a rever Gus.

Meus membros foram relaxando. A dor se fora completamente. No local onde o ácido me atingiu, havia apenas um enorme rasgo em minha camiseta já rasgada. Eu conseguia me mover, conseguia pensar. Eu poderia sair daqui.

— Filha de Hermes, você é tão tola – balbuciava Queres – Será um prazer enorme mata-la. Vou cortar sua garganta com um daqueles machados no fundo da sala e depois usarei seu sangue para alimentar meus monstros que cercam essa ilha. Vou entregar sua cabeça a Nix e serei seu braço direito...

Porém eu parei de escuta-la após ouvir a palavra “Machado”. Havia machados no salão. Ainda fingindo que o ácido corroia meus membros, rolei para o lado, de modo que eu conseguia ver todo o salão sem ser perturbada pela formiga gigante e Queres se eu mantivesse meu olhar vago. Realmente, na parede oposta ao altar onde eu estava havia duas armaduras maiores do que eu, segurando machados de lâminas brilhantes. Eles estavam ás costas de mim e de Gus quando fomos trazidos para o salão, por isso não conseguimos enxerga-las.

Só tive tempo de uma silenciosa reza aos deuses me pedindo ajuda, então num rápido impulso me joguei do altar e corri na direção das armaduras.

Queres arquejou, surpresa. A formiga Gigante desembalou atrás de mim, mas eu já havia alcançado um dos machados e antes que ela tivesse tido a intenção de cuspir ácido, decapitei-a com um único golpe.

A pesada cabeça despencou no chão como uma bola de metal, ressonando nos quatro cantos do salão. O enorme corpo da Formiga fez a mesma coisa, fazendo o salão tremer.

— Ora sua... – Começou Queres, mas eu nunca descobri quais xingamentos ela usará contra mim.

Do pescoço da formiga, cuspes e mais cuspes de ácidos foram disparados em todas as direções. A substância gosmenta perfurou paredes, abriu enormes buracos no piso do salão e quando um dos disparos atingiu uma chama acesa de uma tocha que estava pendurada na parede, uma pequena explosão ocorreu.

Foi como se uma luz houvesse se acendido em meu cérebro. Eu sabia o que fazer. Isso provavelmente me mataria, mas de qualquer modo eu já estava morta. Segundo Queres, a ilha estava infestada de monstros. Que chance eu teria contra eles, mesmo estando armada com um machado? Fui enviada aqui para destruir essa fortaleza, e assim farei.

Confiei em meus instintos novamente e abri rapidamente um buraco nas costas do corpo da Formiga Gigante. Só tive tempo de me afastar para observar meu trabalho quando aconteceu. Uma súbita erosão de ácido irrompeu pela sala, como um jato de água de uma mangueira, só que para cima, corroendo o teto, o piso, derretendo as armaduras. Aconteceu conforme o planejado. Boa parte do ácido caiu sobre as chamas das tochas espalhadas pelo salão, uma chuva mortal, e logo, pequenas explosões começaram a acontecer, cada vez mais fortes e intensas, até que por todo o salão, explosões tomavam meu campo de vista como se eu estivesse cercada por Fogos de Artifício mortais.

— Não – Queres só teve tempo de gritar.

As explosões se tornaram uma só. Alta, forte e destruidora. Fechei meus olhos no instante em que ela ocorreu e senti meu corpo sendo lançado pelos ares, chamuscando meus cabelos e queimando minhas roupas. A sensação era de estar boiando na água. Água.

Abri meus olhos, desesperada, apenas para confirmar meu temor. Estava sendo lançada em direção à água. Não diziam que cair de uma grande altura diretamente na água era tão mortífero quanto pular de um prédio e cair de cara no asfalto? Infelizmente eu confirmarei essa teoria. Desesperada, olhei ao redor, procurando algo com o qual eu pudesse me segurar. Um pedaço de madeira caía ao lado e eu o segurei, colocando-o sobre minha barriga, como uma armadura. Desconfiava que isso não adiantaria muito, mas não custava nada tentar – Bem, custava minha vida, mas eu estava tão desesperada para me salvar que não questionei isso.

Por sorte – ou azar – os destroços da fortaleza vieram em minha direção e um pesado pedaço de tijolo me atingiu na cabeça. O lado bom é que eu não senti o impacto na água e o lado ruim foi que bem, um tijolo atingiu minha cabeça. Perdi os sentidos, me soltando de minha tábua-armadura e girando pelo ar, chegando cada vez mais perto das ondas cortantes logo abaixo. Antes de perder completamente os sentidos, vi a fortaleza sendo destruída, desabando sobre a ilha, uma chuva de tijolos e concreto caindo sobre os diversos monstros na floresta, derrubando árvores, caindo sobre lagos. De repente, toda a ilha explodiu em bilhões de pedaços de terra, concreto, árvores e pedaços de monstros, todos vindo violentamente sobre mim, mas eu estava perdendo os sentidos então não consegui lutar contra aquilo. A última coisa de que me lembro foi de um tronco de uma árvore vindo rapidamente em minha direção antes de perder os sentidos.

Então eu acordei aqui, agora, boiando sobre o tronco, agarrando-o como se minha vida dependesse disso – o que era verdade – enquanto á minha volta, boiando naquela água salgada, pedaços enormes de concreto iam lentamente afundando. Meu corpo doía como se eu estivesse num mar de brasas, meus dedos estavam carne viva de tanto segurar o tronco e um latejar irritante na minha cabeça dizia que ali onde o tijolo acertará certamente existia um galo.

Eu estava fraca demais para pensar, para resistir, para fazer qualquer coisa que não fosse me atar aquele tronco e evitar afundar. Mas até para isso eu estava sem forças. Sentia meu aperto no tronco ir afrouxando lentamente.

Quantos dias se passaram? Um? Dois? Uma semana? Um mês? Nunca saberei. Tudo o que eu via era a imensidão azul com o sol sobre minha cabeça me cozinhando. Eu não sabia se já estava morta ou se continuava viva, minha mente estava tão silenciosa e nebulosa que pareceu que eu pisquei por um momento e então me encontrei deitada sobre a areia de uma praia.

Estava deitada, encarando o céu vermelho e preto. Tinha certeza de que ele era azul. Será que ele era mesmo ou será que minha mente acabará de criar isso? Ou será que ela estava fazendo eu enxergar o céu vermelho? Não conseguia diferenciar ilusão da realidade. Respirei aquele ar, que não estava fresco e arejado como o do alto mar, e sim pesado e podre e adivinhei que eu estava em Nova Iorque. Sobrevivi. Ou, novamente, isso poderia ser uma peça pregada pela minha mente.

Ia novamente perdendo meus sentidos. Tudo estava confuso, enxergava tudo em borrões. Antes de apagar, vi lentamente o céu azul retornando, dominando aquele céu vermelho e preto, e a sombra de um homem parando ao meu lado, e então desmaiei.

Novamente eu não sabia quanto tempo passará. Anos poderiam ter se passado enquanto eu estava desmaiada. O céu sobre mim estava preto, com algumas estrelas no céu. Uma brisa fresca batia em meu rosto e o ar pesado e podre ainda me cercava enquanto eu percebia que ainda estava atirada na areia. Onde eu estava?

— Que bom que acordou – Se eu não estivesse tão cansada, com certeza me assustaria com o homem sentado ao meu lado vestido em uma blusa caqui e uma calça de moletom cinza, porém minha mente estava cansada demais para isso.

Sem pedir permissão, o homem tirou uma pílula do bolso do moletom e me fez engoli-la, goela abaixo. Instantaneamente, senti meus músculos ganhando vida, minha mente reviver e meu corpo começar a reagir.

— Isso é o que eu chamo de Yakult 3000. É uma invenção de Hefesto que ele me entregou para dar algumas a você. Vou esperar até que você tenha controle total de seu corpo.

O que não demorou muito. Logo eu conseguia movimentar meus dedos, flexionar minhas pernas e mover o pescoço. Quase todas as dores em meu corpo se foram, menos o latejar irritante em minha cabeça. Lentamente, me sentei e observei o homem ao meu lado.

— Você é Hermes? – minha garganta estava seca, de forma que minha voz saiu rouca e falhada.

— Sim – ele respondeu, e como se lesse meus pensamentos, conjurou uma garrafinha de água. Tomei-a num gole só. – Que sede, hein? – disse ele, conjurando outra.

— Tente passar dias no oceano – rebati.

— Você não passou dias no oceano. Passou um dia e meio. Você chegou aqui no final da batalha contra Nix, quando Apolo tomava novamente os domínios do céu e o deixava azul de novo.

— A Batalha? O que aconteceu?

— Bem, acho que se nós tivéssemos perdido eu não estaria aqui conversando com você não é?

Apenas essas poucas palavras com Hermes me fizeram ver de quem eu herdará minha ironia.

— O Acampamento está a salvo? – perguntei com a garganta apertada.

— Sim, apenas algumas poucas destruições no pavilhão e metade do bosque foi incendiado, mas nada que eles não dão conta, pode ficar tranquila.

— E... – comecei, temendo minha pergunta. Tomei mais um gola da garrafinha de água antes de continuar – Houve mortes?

— Muitas. Das pessoas que você conhecia e era próxima, apenas uma Filha de Afrodite chamada Marta e uma Filha de Atena chamada Pudim.

— Oh, não... – meus olhos tentaram se encher de lágrimas, porém eu estava tão desidratada que isso era um luxo que eu não podia ter.

— E uma filha de Atena chamada Elo perdeu a mão, mas algo me diz que até amanhã ela já conseguirá outra.

— O que? – minha cabeça doía, então pedi para ele explicar tudo.

Ele me explicou como Hécate e Éter sequestraram Elo e invadiram o acampamento, como os semideuses gregos lutaram contra os monstros no bosque, como Percy e Ramon convocaram ciclopes, Grover, sátiros e os Pôneis de Festa para ajudarem na batalha, e então Ramon foi capturado por Hécate, como Leo chamará os romanos para ajudarem na guerra, como Annabeth, Julia, Vic e Poli retornaram com a novata Filha de Zeus, Thay e como Nix ressurgiu.

— Ela conseguiu ressurgir?

— Sim, mas não por muito tempo. Quando Leo foi pedir ajuda aos romanos, também os encontrou em guerra. O irmão Gêmeo de Nix, Érebo já havia ressurgido no acampamento deles. A questão é que Érebo sempre temeu o fogo porque ele era o único que acabava com a escuridão, então foi fácil para Leo devolver ele ao tártaro, e então os romanos foram para o acampamento. Se eles não fossem, seria bem capaz de nós, deuses, recomeçássemos a ter problemas de esquizofrenia, já que novamente os acampamentos estavam divididos, cada um com suas batalhas. Quando eles se juntaram, os deuses entraram na luta, então Zeus, Poseidon e Hades se juntaram com seus filhos e eles conseguiram destruir Nix.

Passei alguns minutos absorvendo lentamente a informação, dando alguns goles na garrafa de vez em quando. Nix se fora. Vencemos. Eu poderia levantar e comemorar se não estivesse tão desorientada mentalmente.

— E Gus e Gian?

— Ah, Gus lutou bravamente contra Jhonatan, um monstro de Hécate. Já Gian, ficou sobre os cuidados dos membros do Conselho dos Cascos Fendidos durante a batalha, por ordem de Gus.

— Ele ainda está no acampamento?

— Sim, partirá amanhã. Seus pais adotivos já foram informados sobre o que aconteceu.

A menção aos meus pais adotivos fez meu peito arder e uma pergunta subir pela minha garganta e escapulir antes que eu pudesse controlar.

— Você abusou realmente da minha mãe?

Hermes subitamente ficou interessado em uma pedrinha que estava coberta de areia. Ele a pegou e a remexeu, tirando toda a areia e depois cobrindo-a novamente. Fez isso três vezes antes de responder.

— O que eu quero que você saiba, Marcela, é que aquela nunca foi minha intenção; Nós, deuses, temos inimigos. Inimigos mais fortes do que nós. Nix é apenas um exemplo deles. Alguns não precisam ameaçar ressurgir para nos fazer temê-los. Tememos mais eles enquanto estão quietos em seus cantos. Um de nossos inimigos é tão antigo, tão poderoso, que apenas a menção de seu nome poderá atrair coisas ruins para você. Tudo o que eu posso dizer, é que ele é pai de Nix e de Gaia.

Tomei mais um gole da garrafa, secando-a e forcei minha mente a pensar. Quem era o pai de Nix? Foi só então que me lembrei das histórias antigas. Que me lembrei que existia uma força tão maligna e tão poderosa, que seria capaz de criar outras criaturas malignas e poderosas como Nix e Gaia. E o nome dele é Caos.

— De qualquer forma – continuou Hermes – Nix já vem querendo ressurgir a tempos. Desde que ele previu que Gaia perderia a guerra, ele vem apostando todas as suas fixas em Nix, de modo que antes mesmo da guerra contra Cronos acontecer ele conseguir controlar a mente dos deuses. Foi isso que ele fez comigo, foi isso que ele fez com Hefesto. Ele nos transformou em monstros e nos fez destruir a mãe de vocês. Nos fez colocar você e o Gus no mundo, apenas para quando crescerem vocês morrerem nas mãos de Nix. Bem, obviamente as Parcas não quiseram isso e então mudaram seus destinos. Mas a questão é que, eu realmente me aproximei de sua mãe com o intuito de ajuda-la, porém ele dominou minha mente e me fez fazer coisas horríveis. Eu sinto muito.

Minha garganta se fechou completamente. Ansiei por uma nova garrafinha de água. Caos tem poder suficiente para controlar os deuses, sem precisar sair do lugar que esteja para fazer isso. Ele é pior do que Gaia e muito pior do que Nix.

— Sim – respondeu Hermes, como se lesse minha mente – Ele é cruel e perigoso. E nunca aceitou que as Parcas mudassem o destino de você e de Gus, mas nem mesmo ele pode decidir o Destino, pode apenas torná-lo o mais caótico possível... Tudo o que eu posso dizer, é que você irá enfrentar o pior destino de toda a sua vida.

Eu definitivamente precisava de água. Me arrastei em direção ao oceano e sem pensar engoli boa parte da água salgada e suja, que queimou minha garganta. Não podia ser. Não podia ser verdade. Caos irá me destruir. Irá destruir Gus. Tudo porque as Parcas mudaram nosso destino. Será que, Eu e Gus estávamos destinados a morrer na guerra contra Nix, ao invés de Marta e Pudim? Isso não era justo, mal acabamos de lutar uma guerra e já teremos outra muito, muito pior. Lutar contra Nix é brincar com um cachorrinho fofinho e peludinho comparado ao que estava por vir.

Me rastejei de volta a Hermes, que estava com lágrimas nos olhos fitando o oceano. Se isso estava difícil para mim, o quão difícil será que estava sendo para ele? Ignorei esse pensamento. Caos quer ver a mim morta, não ele.

— Me desculpe... eu tentei... tentei fazer de tudo para que isso não acontecesse porém... aconteceu.

— Você não tem culpa, Pai – disse com dificuldade, por conta da minha garganta ardendo pela quantidade de água salgada que eu engoli.

— Zeus devolveu minha imortalidade apenas para alerta-la. É seu dever alertar Gus e seus amigos sobre os perigos que virão. O que mais me dá alegria lhe dizer, é que vocês terão um tempinho antes de tudo acontecer e poderão ter paz por enquanto.

Tentei sorrir, mas simplesmente não consegui, de modo que passei a encarar o oceano também.

— O que eu posso fazer, Pai?

Hermes olhou para mim. E em seus olhos lacrimosos eu vi esperança, vi um gosto amargo de justiça e uma chama de medo, pavor e ao mesmo tempo orgulho e fé, e eu soube, antes mesmo dele me dizer o que eu tinha que fazer. O que eu, Gus e meus amigos teríamos que fazer.

— Você terá que lutar.


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