The Heir escrita por Ginny


Capítulo 7
Sete


Notas iniciais do capítulo

Oi, queridos :3 Como vão?
Aqui está o capítulo sete. É o meu número da sorte, sabiam? Na verdade, eu tenho três números da sorte (3, 7 e 13). Mas, antes que eu comece a tagarelar sobre números e sorte aqui: boa leitura!



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Alec

— Você não tem honra, Eadlyn Schreave.

Eady revirou os olhos, não pela primeira vez naquela noite, e certamente não pela última. Eu a havia abordado no corredor enquanto ela caminhava até seu quarto (ser filho do chefe dos guardas tem lá suas vantagens, como poder aparecer no corredor da realeza ocasionalmente), e essa foi a primeira coisa que disse a ela. Não era bem um "Olá, como você vai?", mas era o melhor que eu conseguia considerando o humor em que estava.

— Eu não tenho honra? — ela repetiu em tom interrogativo. — O que eu fiz de errado, exatamente?

— Você não esperou uma hora sequer para burlar o nosso trato — acusei, cruzando os braços.

Burlar — ela riu. — Você anda aprendendo palavras novas, Alexander? Deixe-me te ensinar outra: "não te interessa".

Levantei um dedo.

— Primeiro: são três palavras — levantei outro dedo. — Segundo: me interessa, sim. Fizemos um trato, que aparentemente você já esqueceu, não é mesmo? Pois deixe-me te lembrar, senhorita realeza, que o trato em questão não envolve marcar encontros cafonas com David Newsome!

Eady franziu a testa por um momento, surpresa por algum motivo. Ela ficou parada, me encarando com uma expressão estranha.

— Você me chamou de "senhorita realeza"? — Ela perguntou. Com hesitação, balancei a cabeça afirmativamente. — Você não me chama desse jeito já faz anos.

Era verdade. Velhos costumes. Me lembravam de uma época mais simples. Bons tempos.

— Não importa — repreendi, suspirando pesadamente. — Eady, você não pode sair por aí burlando tratos a torto e a direito, não é assim que funciona.

Eadlyn riu. Por algum motivo, ela não parecia irritada comigo, o que era um episódio bastante inédito, considerando que eu provavelmente estava sendo o Alec irritante de sempre. Mas ela estava surpreendentemente bem-humorada.

Eu não tinha certeza de como lidar com essa situação.

— Me desculpe, é só que você está falando como um verdadeiro idiota agora — ela falou, por fim. De repente, o sorriso cansado sumiu de sua expressão, e seu rosto corou de leve. — Alec, eu... Hum... Acho que eu sinto muito.

Franzi a testa. Aquilo não estava nos meus planos. Eadlyn não é exatamente do tipo que pede desculpas com muita facilidade, especialmente quando se trata de mim. Mas lá estava ela, achando que sentia muito, e eu não sabia o que fazer.

— Eu não sei o que pensar sobre isso — falei, num tom acusatório. — Vim preparado para uma discussão. Droga, Eady, você estragou o roteiro da conversa. Podemos começar de novo?

Ela sorriu.

— Não burlei o nosso trato, Alexander — disse. — Eu convidei David antes de combinar tudo com você. E então, porque eu tenho sim muita honra, eu tive que ir com ele.

Estreitei os olhos.

— Ah, certo, você teve que ir — bufei. — Vai me dizer que você não adorou? Eu conheço você melhor do que ninguém, Eadlyn Schreave, não minta para mim.

— Você não me conhece, Alec — ela protestou, revirando os olhos, parecendo começar a ficar irritada de verdade. Aquela sim era a Eady que eu conhecia. — Pelo menos, não mais. Eu não tenho mais treze anos de idade.

— Bem, isso está bem óbvio — concordei —, porque a Eadlyn de treze anos era infinitamente mais legal do que a Eadlyn de dezoito.

Eu esperava uma reação negativa — gritos, tapas, esse tipo de coisa. Mas, contradizendo todas as minhas expectativas, Eady sorriu maliciosamente.

— É por isso que você era apaixonado por ela, então? — ela sussurrou como se fosse segredo.

E era mesmo.

Geralmente, era eu quem fazia as piadas sobre o assunto, e não estava acostumado com Eadlyn agindo tão casualmente sobre isso. Ela nunca — nunca mesmo — falava sobre nossa paixonite pré-adolescente sem estar gritando comigo.

— Me desculpe, mas você era apaixonada por mim, senhorita — repliquei, apontando um dedo para ela.

— Sinto muito, mas eu discordo bastante com você — ela riu, e eu fiquei me perguntando o que havia acontecido com a Eadlyn mal-humorada com a qual eu estava acostumado. — Eu me lembro muito bem, Leger. Muito bem.

Dei de ombros com um sorriso presunçoso.

— Eu sei que sou memorável, não precisava dizer — falei. — Mas obrigado mesmo assim.

Eady bufou e revirou os olhos.

— Não, não é nada disso — ela negou. — São essas lembranças que me mantém ciente dos motivos pelos quais preciso me manter a certa distância de você.

Aproximei-me um passo de Eady, deixando pouco mais de vinte centímetros entre nós. Não que eu realmente achasse que poderia fazê-la se sentir ameaçada ou algo do gênero. Apesar de, geralmente, as pessoas comuns se afastarem quando eu faço isso. Mas é claro que a princesa herdeira de Illéa não era uma pessoa comum. Na verdade, Eadlyn Schreave era a criatura mais inigualável e terrivelmente complexa da face da Terra.

Não que eu não gostasse disso. Porque eu gostava.

— E quais seriam esses motivos, Eady? — perguntei, baixo o suficiente para que apenas ela ouvisse, já que havia guardas no corredor (embora eles nos ignorassem completamente). — Tem medo de se apaixonar de novo?

Eadlyn ficou imóvel. Por um breve e feliz momento, achei que houvesse ganhado. Não que houvesse alguma espécie de discussão ou briga ali. Mas, quando se tratava de Eady e eu, geralmente alguém saía ganhando (e sinto em admitir que, na maior parte das vezes, era ela).

Mas, para destruir minhas ilusórias ideias de vitória, Eadlyn riu novamente. Riu de verdade. Ela balançou a cabeça como quem diz “Eu sinto pena de você” e me empurrou pelos ombros, tirando-me do caminho da porta de seu quarto.

— Na verdade, Alexander, eu temo mais por você do que por mim — ela disse, enquanto fechava lentamente a porta do quarto. — Até amanhã, Lábios de Mel. — E então fechou a porta totalmente.

Lábios de Mel.

Sim, ela havia ganhado de novo. E como havia.

***

— Garotos, como todos sabem, hoje à noite teremos o Jornal Oficial. E vocês serão os convidados de honra, é claro.

Eu não me lembrava de nada sobre aquele negócio de Jornal Oficial. Mas, quando olhei em volta para os garotos reunidos no que todos chamavam de "salão masculino" (o que, se quer saber, é bastante ridículo), percebi por suas reações que eles também estavam despreparados.

Amelia, nossa preparadora, pareceu perceber que nenhum de nós esperava aquilo. Ela deu um tapa na própria testa.

— Por favor, não me digam que eu me esqueci de colocar o Jornal Oficial de hoje na agenda de vocês — ela pediu.

— Na verdade, Amelia, você esqueceu — disse Julian Dyer, um garoto ruivo que eu me lembrava de ter visto na televisão. Ele havia atuado num filme sobre a Quarta Guerra Mundial. Tudo o que eu sabia era que ele morria logo no começo e fazia o papel de um jovem militar russo. Na verdade, esse filme havia me ajudado muito a decidir que eu não estava nem um pouco a fim de ir para o exército. — Na nossa agenda, a única coisa que devemos fazer hoje é comparecer nas refeições.

Amelia balançou a cabeça, revirando vários papéis. Quando finalmente pareceu achar o que queria, soltou um grito assustado.

— Meu Deus, toda essa agenda está errada — ela suspirou. — Preciso reescrever e imprimir outras. Isso vai ser tão cansativo. — Ela virou-se para nós novamente, parecendo ainda mais cansada que o normal. — Então, garotos, vocês tem um dia muito cheio, na verdade. Um verdadeiro dia de princesa — ela riu. Deveria ser muito engraçado para quem via de fora. — O brunch será servido daqui duas horas, mas, ainda antes disso, a princesa Eadlyn anunciará pessoalmente aqueles que serão mandados para casa.

Percebi que todos os garotos espalhados pelo salão suspiraram e prenderam a respiração. Alguns deles, como Winter, que estava sentado ao meu lado, pareciam especialmente nervosos, tamborilando os dedos e batendo os pés ritmadamente no chão.

— Ei, cara — falei, começando a ficar irritado com o barulho do sapato dele batendo no assoalho liso de madeira. — Relaxa. Ela não vai te chutar. Pelo menos, não hoje, a menos que você tente agarrá-la ou alguma coisa do gênero.

Winter estreitou os olhos para mim, fazendo com que eu sequer enxergasse-os realmente.

— Como você pode saber disso? — Ele perguntou, soando um pouco mais hostil do que o normal, o que não é muita coisa, porque Winter é o cara mais tranquilo que eu já havia conhecido. — Você já tem sua vaga garantida aqui, Leger, mas eu não.

Fiz uma careta, fingindo estar ofendido.

— Olha, eu vou ignorar essa sua última declaração e simplesmente responder sua pergunta — falei. Já estava exausto com as pessoas que achavam que a minha estadia na Seleção era só fachada. Quero dizer, era mesmo. Mas o que eles tinham a ver com isso? — Eu sei que você não vai para casa hoje porque... você é asiático.

Winter me olhou como se eu fosse o maior idiota do mundo. Não que eu não seja. Mas as pessoas geralmente disfarçam que sabem disso.

— Qual é o seu problema, Alec? Fala sério — ele bufou.

— Eu estou falando sério! — Falei, revirando os olhos. — Olha, como eu disse, você é asiático, certo? Então, vamos supor que você seja mandado embora na primeira rodada de perdedores. O que as revistas falariam sobre isso? Seria racismo, certeza. Winter, meu caro, você acha que a família real precisa de mais publicidade ruim nos países afora depois do que o Ahren fez naquela festa com a princesa da França mês passado? Deixe-me responder: não, não precisam!

Winter ficou um tempo me encarando antes de soltar uma risada baixa.

— Você fala pelos cotovelos, Leger — ele falou. — Mas vamos apenas fingir que você está certo. Ser asiático é um péssimo motivo para permanecer na Seleção, não acha?

Dei de ombros.

— Cada um utiliza dos meios que lhe estão disponíveis — falei. — Eu sou estupidamente bonito. Você é asiático. É assim que a vida funciona.

***

— Mas que diabos é isso? — perguntei, examinando com olhos estreitos aquela coisa com doce amarelo dentro. — Parece um pão doce que deu errado.

Eadlyn suspirou.

— Se chama croissant, Lábios de Mel — ela bufou.

— Ainda acho que seja um pão doce que deu muito, mas muito errado — contestei. — Aliás, eu odiei esse apelido.

— Só uma vingança por todos esses anos sendo chamada de Eady, sabe? — Ela deu de ombros casualmente enquanto mastigava seu próprio pão que deu errado. — Estou pensando num apelido pro Ahren também. Só consegui pensar em coisas como Ferrugem e Tomate até agora, mas acho que são muito baixos. Preciso de algo inteligente.

Balancei a cabeça. Nós, os Selecionados (que, depois do anúncio pessoal de Eady fôramos diminuídos para vinte e nove caras muito aliviados), Eadlyn e Ahren, estávamos sentados ao redor de uma mesa redonda. O rei Maxon e a rainha America não puderam comparecer por conta de alguma reunião supersecreta. Nada fora do cotidiano.

Para a minha sorte (ou azar) eu havia arrumado o lugar entre Eadlyn e Winter (que não havia sido mandado embora, como eu sabiamente previra).

— Então, eu estive pensando sobre a sua parte do trato — Eady falou.

— Sempre arrumando motivos para pensar em mim, não? — sorri. — Mas conte-me sobre o que se passa na sua cabecinha cheia de sapatos, coroas, vestidos e David Newsome, realeza.

— Eu vou ignorar a sua idiotice normal — ela falou, parecendo se conter para não revirar os olhos — e dizer logo. Você não me disse o que os outros garotos estão falando. O que eles acham e o que querem, tudo o mais.

— Certo, certo — falei, olhando em volta. — O Winter acha que você tem cheiro de lavanda, o que deve ser um bom sinal, né? O Cooper parece realmente gostar de você, mas ele nunca admitiria isso porque ele costumava jogar basquete.

Eady fez uma careta.

— E o que isso tem a ver? — ela perguntou.

— Meu Deus, você não sabe nada sobre nós garotos — balancei a cabeça, incrédulo. — Jogadores de basquete são durões, Eady, querida. Eles nascem com esse escudo natural contra emoções, só que ele pode ser quebrado com o tempo e...

— O que você é, Alexander, uma garotinha sensível? Poupe-me dessa conversinha — ela interrompeu. — Já sei o que posso fazer. Eu vou chamá-lo para um passeio, talvez ele se sinta melhor assim.

Assenti concordando.

— E quanto ao Winter? Ele elogiou o seu cheiro, Eadlyn, sinceramente.

Ela suspirou.

— É, claro, ele também — ela disse, e então me ofereceu um sorriso forçado. — Muito obrigada, Lábios de Mel.

Revirei os olhos enquanto virava para encarar novamente meu cro alguma coisa. Nesse mesmo momento, um aviãozinho de papel (na verdade, era feito de guardanapo rosa) caiu bem no meu prato. Com a testa franzida, eu olhei em volta.

Cooper acenava para mim freneticamente, apontando para o bilhete. Quando chequei para ver se alguém havia notado o arremesso do avião, percebi que ninguém sequer havia reparado.

O aviãozinho dizia:

Sobre o que vocês tão falando?

Cooper era um enxerido. Mas respondi do mesmo jeito, usando a caneta que eu sempre levava no bolso (nunca se sabe quando você vai precisar rabiscar alguma coisa):

Garotos

Só depois de já ter lançado de volta a mensagem que eu percebi o quão ridículo aquilo havia soado. O resto de nossa conversa foi mais ou menos assim (e foi inacreditável que ninguém houvesse reparado em nossa conversa escrita):

Cooper: Se você é tão gay o que tá fazendo aqui, Leger?

Eu: Me expressei mal

Cooper: Seu segredo tá seguro comigo, não se preocupa. Mas sobre o que vocês estavam falando então?

Eu: ... Garotos, mas não é isso que você está pensando

Cooper: Você tem uma técnica de conquista muito esquisita

Eu: Cala a boca (ou as mãos, que seja)

Cooper: Você precisa sair do armário, cara

Fiz uma careta de desgosto para ele, que estava sentado do outro lado da mesa. O meu próximo bilhete foi um desenho não muito sensível e, depois de precisar disfarçar as risadas com uma tosse, Cooper finalmente me deixou em paz. Pelo menos por um tempo.

— Esse era o tal Cooper? — perguntou Eady, de repente.

Soltei um gemido.

— Você leu a conversa toda, não foi? — murmurei.

— Cada pedacinho. — Ela riu.

Ótimo. E sim, esse era o tal Cooper.

— Maravilha — ela bateu palmas silenciosamente, animada. — Isso vai ser divertido.

Decidi ignorá-la e voltar para o meu brunch. Eu odiava brunches, mas não participar daquilo não era exatamente uma opção para nós, Selecionados.

Foi quando outro avião de papel rosa-guardanapo me atingiu na testa. Olhei com raiva para Cooper imediatamente, mas ele conversava com Julian Dyer, e parecia entretido demais para ter mandado aquele bilhete. Foi só então que notei David, apontando para o bilhete com o queixo, uma expressão bastante séria no rosto. Ele falou algo silenciosamente, e eu entendi algo como "Abra logo essa droga".

Então eu abri logo aquela droga.

Havia apenas duas palavras e, mesmo para um bilhete escrito, elas estavam cheias de um tom sério. Tenho que admitir que me deixou nervoso. As palavras eram:

Precisamos conversar

— O que diz esse daí? — perguntou Eadlyn, me assustando.

Olhei para o bilhete, depois para David e então para Eady novamente. Ela parecia o tipo de pessoa ansiosa para fazer uma piada.

— Nada — balancei a cabeça. — Não é nada.


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Notas finais do capítulo

Amo os capítulos narrados pelo Alec :3 São tão legais de escrever. Dos três narradores principais (Eady, Dave e Alec), ele é o meu preferido.
Então, espero que tenham gostado e que mandem reviews. Até o próximo capítulo, beijos!