The Heir escrita por Ginny


Capítulo 10
Dez


Notas iniciais do capítulo

Oi, bebês do meu core o/ Aqui vai mais um capítulo pra vocês. Muitas leitoras pediram participação do David nesse capítulo (fiquei um tanto surpresa ao ver quantas pessoas gostavam do meu fofinho), então eu resolvi fazer um POV só dele. Não tem muita “ação” (até porque isso daqui não é Velozes e Furiosos, se alguém ainda tinha dúvida), mas é bem importante pra história. Ah, e também não tem nem conflito Eadlyn/ Alec, previamente avisando :v Deixei isso pra depois, só pra torturar vocês mais um pouquinho com a curiosidade.
Agora vocês podem ir. Sei que falo muito nas notas. Boa leitura :)



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David

— Essa é a quarta-feira mais entediante da minha vida — Harvey resmungou.

Eu estava sentado com Cooper, Harvey e alguns outros garotos cujos nomes eu não sabia — a menos que olhasse em seus broches — no salão. Já fazia pelo menos três horas que estávamos ali sem fazer nada além de olhar para cara uns dos outros e esperar pela hora do jantar. O príncipe Ahren, que algumas vezes se juntava a nós, não estava por ali, e muito menos o rei Maxon.

Eadlyn não havia comparecido no café da manhã daquele dia, e nem dos dias anteriores desde o sábado. Para falar a verdade, eu só a vira duas ou três vezes desde o final de semana, e muito mal trocara alguns comprimentos com ela. Eu sabia que ela tivera alguns encontros com os outros garotos, como Winter, Cooper, Harvey e Julian, mas, fora isso, Eadlyn parecia ter sumido.

— Por que não jogamos baralho de novo? — Julian sugeriu, encolhendo os ombros.

— Já tentamos, e foi um desastre. O Harvey não sabe perder — disse um garoto estupidamente pálido, cujo broche dizia que ele se chamava Erwin. Eu me lembrava dele muito vagamente. Erwin Kramer, escritor ou algo assim. — Fico me perguntando por que Eadlyn anda tão fechada ultimamente. Ela nem mesmo comparece nas refeições. Quando nós fomos a um passeio no jardim ela estava distraída. Quase tropeçou num canteiro de plantas algumas vezes.

Alguns garotos concordaram com um aceno da cabeça ou um grunhido, mas eu fiquei em silêncio — embora concordasse com Erwin, de qualquer modo. Olhei em volta. Os outros garotos estavam reunidos em grupos: alguns perto da televisão assistindo a uma reprise de um jogo de futebol, outros nas janelas jogando conversa fora, alguns simplesmente jogados sobre o sofá tirando uma soneca. O único que não estava num dos grupos era Alec.

Ele estava sentado sozinho num dos cantos, perto das prateleiras de livros aonde nenhum dos outros garotos ia. Alec não parecia exatamente do tipo que apreciava literatura, mas lá estava ele, lendo — e parecia um livro bem velho, por sinal. Eu não falara com ele desde a noite de sexta-feira, e nem pretendia, embora não estivesse mais tão irritado com ele.

Alec era outro que estivera estranhamente quieto durante os últimos dias, assim como Eadlyn. Eu me perguntava se essas duas coisas tinham alguma relação, se havia um motivo além da nossa briga para Alec estar afastado.

Provavelmente sim. Mas eu preferia não pensar muito sobre o assunto.

— Ei, Dave — Cooper me deu um empurrão de leve com o cotovelo para chamar minha atenção. Ele falava baixo, para que apenas eu escutasse. Os outros garotos discutiam algo sobre baralho. — O que acha que o Alec tem de errado?

Apertei os lábios. Eu não havia contado para ninguém sobre a “pequena” discussão com Alec no outro dia.

— Não sei — menti, encolhendo os ombros e fingindo não me importar. — Sabe como ele é. Alec não é mentalmente estável. Aposto como ele vai estar de volta em breve.

Cooper sorriu sem maldade, balançando a cabeça.

— É, acho que sim — ele falou. — Espero que sim. Alec é um saco às vezes, mas é nosso amigo.

Baixei os olhos para minhas próprias mãos. Senti-me culpado de repente, embora a culpa não fosse minha, não mesmo.

— É — murmurei, suspirando. — Tem razão.

Olhei novamente para Alec. Quase levantei para falar com ele, mas desisti. Eu não precisava me desculpar, afinal. Não era eu quem havia agido como um idiota... Certo?

Quando a hora do jantar finalmente chegou, fiquei surpreso ao ver que Eadlyn estava lá ao lado de Ahren, que parecia infinitamente entediado, como sempre. Meu coração deu alguns saltos, e eu pouco consegui evitar um sorriso de alívio. O rei e a rainha não haviam comparecido, mas isso não era surpresa alguma.

Assim que nos sentamos, Eadlyn se levantou com uma expressão impessoal.

— Tenho um aviso a dar — ela anunciou, com as mãos juntas na frente do corpo.

Imediatamente os garotos se mexeram de modo desconfortável, evidentemente tensos. Baseando-se em nossa pouca experiência no castelo, avisos significavam que alguém teria a bunda chutada de volta para sua província em breve.

— Não, não precisam ficar nervosos — Eadlyn se apressou em concertar, oferecendo um sorriso sem-graça. — É algo bom, na verdade. Muito bom. Pelo menos, eu acho que seja... — Ela balançou a cabeça como que para afastar a distração, o rosto corado de leve. — De qualquer modo. Na próxima terça-feira, os membros restantes da família real estarão de volta ao palácio. Meus irmãos mais novos, Osten e Kaden, minha avó e meus tios voltarão de suas estadas nas ilhas sulistas. Obviamente, haverá uma comemoração no castelo. E nós decidimos que vamos deixar vocês encarregados por isso.

Estava demorando, pensei com uma careta. Os outros garotos pareciam se esforçar muito para não resmungar. Fiquei satisfeito por saber que eu não era o único que não estava nem um pouco animado para lidar com aquelas responsabilidades. Quero dizer, éramos garotos. Sei que é falta de educação se deixar levar por estereótipos, mas há um fato de reconhecimento público sobre o sexo masculinos: nós não sabíamos lidar com responsabilidades, e tínhamos uma habilidade comum, porém muito complexa, de fazer tudo do pior modo possível.

Era por isso que as pessoas não contratavam empregados homens para limpar suas casas. Era por isso que mulheres se davam muito melhor no mercado de trabalho estético. Simplesmente porque elas faziam tudo aquilo melhor do que nós.

— Minha família chegará por volta das três da tarde — Eadlyn continuou, parecendo ou fingindo não notar a expressão dos garotos. — Haverá um banquete no fim da tarde. Nada muito complexo, mas elegante. Este é o evento que precisamos que vocês administrem. Serão separados quatro grupos, e cada um ficará responsável por uma etapa do banquete: entrada, pratos principais, sobremesa e decoração. Sendo que um dos grupos, obviamente o da decoração, ficará com um membro a mais do que os outros.

Ela fez uma pausa para se assegurar de que todos nós havíamos entendido, e então retornou a falar:

— Haverá um orçamento estipulado para cada um dos grupos, e um ajudante para guiá-los. Vocês também estarão responsáveis por escolher o tema do banquete. Amelia entregará a tabela com a relação dos grupos para vocês depois do jantar. As preparações começarão amanhã. Eu pessoalmente espero que todos façam um bom trabalho. Boa sorte.

Então ela lançou um sorriso encorajador para nós — um sorriso muito bonito, aliás — e sentou-se novamente. Ahren comentou alguma coisa em voz baixa com um sorriso, e Eadlyn disfarçadamente deu um tapa em seu ombro. A relação de irmão e irmã deles era tão verdadeira que chegava a ser esquisito.

— Por que estou sentindo que isso vai ser um desastre? — Perguntou Erwin, que havia se sentado ao meu lado.

Fiz uma careta.

— O sentimento é mútuo — respondi.

***

Após o jantar, todos nós estávamos reunidos no grande cômodo que usávamos como sala de aula, todos obedientemente sentados em suas respectivas carteiras enquanto Amelia passava os detalhes do banquete. Ela estava sorridente, animada com a expectativa. Ficaria responsável pelo grupo da decoração.

— Certo, crianças — ela falou, depois de explicar o esquema de como deveríamos nos organizar para receber os integrantes da família real. — Alguma dúvida? Espero que não. Não tenho fôlego suficiente para explicar de novo.

Mas alguém lá na frente levantou a mão (apenas alguns dias atrás, nós apenas gritávamos a pergunta para Amelia, mas ela nos instruíra a educadamente levantar a mão antes de simplesmente falar). Amelia suspirou.

— Sim, Roland? — Ela falou.

— Nós vamos ter que servir de garçons? — questionou Roland, um garoto meio latino que raramente se pronunciava em qualquer ocasião. — Porque eu não estou nem um pouco afim, sinceramente.

Alguns garotos murmuram em concordância, inclusive eu.

— Não, claro não! — Amelia exclamou, surpresa. — De modo algum vamos obrigar nossos Selecionados a servirem canapés para a família real. Os criados concordaram em serem guiados por vocês. Eles são pessoas muito boas. Amo os criados desse castelo.

Sorri, aliviado. Assim como Roland, eu não estava exatamente ansioso para servir comida, nem mesmo que fosse para deixar o estômago da realeza cheio. Eu muito mal alimentava meus animais de estimação quando estava em casa. Desconfiava que era por isso que meu peixe dourado aparecera boiando no aquário certa vez.

— Continuando — Amelia falou, pegando pilhas de papéis em sua mesa. — Aqui estão as pastas. Eu as digitalizei pessoalmente. Aqui estão todas as tabelas, todos os saldos, todas as regras e mais algumas coisinhas adicionais que vocês precisam ter consciência.

Ela atravessava a sala enquanto falava, entregando as pastas. Percebi que cada uma delas tinha na capa o nome de um Selecionado e o grupo em que ele estava. Quando ela passou por mim e me entregou, vi que a minha dizia “David Newsome: Grupo 2 — Refeição Principal”.

Bem, aquilo deveria ser melhor do que ficar responsável pela decoração, certo? Pelo menos eu esperava que sim.

Não ousei abrir a pasta como os outros garotos fizeram. Eu temia um pouco o que encontraria ali dentro. Quando terminou de distribuir tudo, Amelia parou na frente da sala e suspirou.

— Não é por nada, garotos — ela falou. — Mas vocês precisam fazer isso direito. Eu provavelmente não deveria dizer isso, mas haverá uma avaliação. A própria Eadlyn avaliará o trabalho de vocês, e, aqueles que não se saírem bem ou tiverem algum deslize, serão mandados direto para casa.

Aquilo deixou os garotos inquietos, mas Amelia apressou-se em emendar:

— Mas não há nada a temer, meninos. Se forem responsáveis e realmente se comprometerem com isso, tudo vai ficar ótimo. Disciplina, principalmente, e muito trabalho em grupo são o que vocês precisam. Quero que os grupos se reúnam amanhã bem cedo. O café da manhã será servido no salão masculino, e lá vocês poderão discutir tudo.

Nós assentimos, concordando. Seria um dia realmente cheio. Depois disso, Amelia nos dispensou. Fomos encaminhados para nossos quartos, e a maioria estava tensa, pouco conversando.

Assim que cheguei ao quarto, dispensei as criadas, Dona, Clara e Patty, que já haviam ajeitado a cama. Joguei-me entre os cobertores depois de tirar os sapatos e finalmente abri aquela pasta.

O Grupo 2 tinha sete pessoas. Os que eu conhecia eram Erwin, Harvey, Julian e Alec. Os outros dois eram Jamie Cavion e Roland Salazar, o garoto que falara na explicação alguns minutos antes.

Fiquei um pouco nervoso por estar trabalhando ao lado de Alec, mas decidi que aquilo não importava. Eu me sairia bem independente dos meus companheiros. Teria que sair. Eu não podia correr o risco de ser chutado.

Não agora que eu realmente queria ficar.

***

O salão estava um caos. O grupo 1, da decoração, estava levando uma bronca de Amelia por algum motivo que eu ainda não entendera direito (o que me fez agradecer muito por não ter ficado no grupo da nossa preparadora).

Eu era o único do meu grupo que já havia chegado, então fiquei apenas observando. Os outros não estavam exatamente atrasados, já que apenas o grupo A, eu e um ou dois outros caras haviam chegado. Mas, mesmo assim, eu desejei que eles chegassem logo para que então pudéssemos começar logo com aquilo.

Esperei por pelo menos uns dez minutos antes que o primeiro deles aparecesse. Era Alec. Minha sorte era mesmo inacreditável.

Ele olhou em volta, procurando pela mesa que fora designada para nosso grupo. Quando me viu lá sentado, suspirou com má vontade, parecendo tão animado quanto eu para trabalhar em conjunto. Ele avançou com passos muito lentos, a cara fechada.

— E aí — ele cumprimentou rapidamente enquanto se sentava na cadeira mais longe possível da minha.

— Oi — repliquei, voltando a olhar para a discussão do grupo 1, embora não estivesse mais prestando atenção.

Passaram-se mais alguns minutos antes que alguém falasse novamente.

— Você estava certo.

Olhei para Alec, surpreso e confuso. Quando notei que ele se referia à discussão na última sexta-feira, me esforcei para não revirar os olhos.

— Sobre qual parte? — questionei. — Sobre você ser um idiota?

Alec fez uma careta, voltando a ser o Alec de sempre por apenas um segundo.

— Isso também, eu suponho — ele admitiu com um suspiro. — Mas não nisso. Certo, vamos abrir o jogo. Talvez eu goste mesmo da Eady.

Levantei uma sobrancelha.

— Talvez? — perguntei.

— Arg, tudo bem — ele revirou os olhos. — Tinha esquecido como você é irritante. Mas, de qualquer modo... bem, é por aí. Eu não sei por que estou te contando isso, para ser franco. Acho que é algum tipo de recompensa por eu ter agido daquele modo no outro dia.

— Recompensa? — repeti. — Esse é o seu modo de pedir desculpas?

Alec arqueou as sobrancelhas por um momento, considerando.

— Não, é muito melhor — ele concluiu por fim, balançando a cabeça. — Agora estamos quites, entende? Eu sei que gosto de ser dramático às vezes...

— O tempo todo — murmurei.

— ... mas eu só não sei como lidar com esse tipo de coisa — ele concluiu, me ignorando.

Assenti, parando um momento para procurar por uma reação. Eu não estava bravo por Alec ter admitido que ele realmente sentia algo por Eadlyn, porque eu já sabia disso. Eu estava feliz por ele finalmente ter dito aquilo, é claro. Alec era meu amigo, apesar de ser muito... muito Alec.

— Então, você fez esse discurso todo — falei, cuidadosamente, com um sorriso — só para me dizer que está apaixonado pela Eadlyn?

Alec suspirou.

— Colocando nessas palavras, você me faz parecer um babaca — ele reclamou. — Mas, falando pelo seu ponto de vista naturalmente afeminado, sim, é isso mesmo. Eu estou apaixonado pela Eadlyn. — Ele fez uma pausa, de repente desfocando o olhar, como se estivesse lembrando-se de algo. Numa voz mais baixa, ele acrescentou: — Desde quando eu tinha doze anos.

Aquilo sim era o que eu chamava de surpresa. Meu queixo caiu um pouco, mas, antes que eu pudesse reagir além disso, Harvey apareceu. Ele carregava uma pasta extra, e começou a explicar que seus pais eram chefes de cozinha e blábláblá. Sinceramente, eu não estava prestando atenção, apenas acenando com a cabeça quando eles nos olhava com uma expressão interrogativa antes de continuar a falar.

Eu permanecia pensando no que Alec dissera. Que ele era apaixonado por Eadlyn desde que ele tinha doze anos de idade. Fiquei imaginando se ela teria sentido o mesmo. Se ainda sentia. Na verdade, fazia sentido. Eles pareciam tão confortáveis quando estavam juntos, tão familiarizados.

E eu não via de que modo poderia competir com aquilo.


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Notas finais do capítulo

Assunto totalmente fora de contexto, mas eu queria pegar o David pra mim e fazer ele de bichinho de pelúcia *u*
Osten e Kaden estão chegando, galera :3 E a May também o Gostaram do capítulo? Eu disse que não ia ter ação :v Só a boa e velha (mais velha do que boa) rotina da Seleção.
Mandem reviews, amores. Pretendo postar o próximo nessa madrugada, se a minha imaginação ajudar, porque sinto um tédio tremendo de madrugada. Beijaços :* (essa palavra nem existe)