Ron percebeu que toda vez que perdia a consciência, uma lembrança de um algum momento de sua vida voltava a sua mente. Era um bom jeito de esquecer a dor, o lugar que estava e o medo de morrer ali.

Vários momentos se passaram na cabeça do jovem Tenente, sua infância na tranquila cidade de Bracknell brincando com os irmãos no quintal de casa. Seus primeiros anos na escola, as várias vezes que seus pais foram chamados pela professora devido seu mau comportamento e falta de dedicação nos estudos. Esse garoto irresponsável mudou muito desde que Hermione entrou em sua vida, porém um momento realmente o vez crescer.

–Você precisa estudar, Ron! –Hermione chamava sua atenção. –As provas finais são semana que vem!

–Não preciso disso. –o garoto deu de ombros deitando folgadamente na cama da namorada. –Só preciso esperar até a formatura e estarei livre para começar meu treinamento no exército!

–Então é isso que você pensa? –ela perguntou brava. –Daqui uma semana você estará livre?

–Exatamente. –respondeu ele com sorriso orgulho no rosto.

–Você estará livre de mim também. –a garota murmurou triste.

–Não, nós já conversamos sobre isso, Hermione. –Ron a abraçou, passando as mãos em seus cabelos. –Você vai para Cambridge estudar para ser a melhor advogada desse país e eu para o exército, depois iremos nos casar e ter uma família.

–Promete?

–Esses três anos irão passar mais rápido do que você imagina. –ele a beijou. –Mas não vamos falar sobre isso agora...

–É o nosso futuro, devemos conversar sobre isso e traçar planos... –Hermione foi calada por beijos. –Ron, nós...

–Desculpe, eu sei que não está pronta para isso. –o garoto se desculpou por apresa-la. –É só que... Eu te amo, muito. Em poucos dias iremos cada um para um lugar. E nós estamos sozinhos e eu pensei que...

–Eu te amo, Ron. –ela o beijou e fez com que o namorado deitasse novamente na cama.

–Tem certeza? –perguntou Ron, queria ter certeza de que ela estava pronta.

–Sim, eu te amo e iremos ficar praticamente três anos sem nos ver...

–Chega de falar, Hermione. –Ron a calou com um caloroso e prolongado beijo.

A primeira vez deles finalmente aconteceu, depois de quase um ano namorando. Hermione só tinha medo de decepciona-lo ou alguma coisa sem sentindo como essa, era isso que Ron disse quando Hermione contou suas inseguranças. Ron a amava e não teria modo algum que Hermione pudesse decepciona-la.

Os três anos não passaram tão rápido como gostariam, o namoro foi sustentado através de cartas, muitas vezes acharam que o relacionamento a distância não iria sobreviver. Ron tinha poucas folgas e ficava concentrado no centro de treinamento ao norte do país, quilômetros de distância de Hermione em Cambridge ou da sua família. Hermione focou todas as suas energias e atenção no curso de direito, assim como o namorado, estava correndo atrás do seu sonho e não iria desistir tão fácil.

–Estamos orgulhosos de você, filha. –o senhor Granger abraçou a filha após a cerimonia de formatura.

–Meus parabéns, querida. –sua mãe não segurava mais as lágrimas.

–Obrigada. –ela agradeceu feliz por ver os pais orgulhosos, sabia o quanto eles se sacrificaram para que ela fosse para universidade.

O momento só ficaria melhor se Ron estivesse ali, mas infelizmente o rapaz não conseguiu a liberação para viajar até Cambridge.

–Parabéns, Hermione! –os amigos Harry e Ginny a parabenizaram.

–Fico feliz em vê-los. –Hermione voltou a sorrir ao ver que os melhores amigos estavam com ela nesse importante dia.

–Eu sei que você preferia outro Weasley, mas como irmã dele e sua melhor amiga, não poderia deixar de ver a brilhante Hermione Granger se formar! –Ginny brincou.

–Ron não veio porque não quis, eu entendo, é o sonho dele. –Hermione tentou usar a razão para explicar. –E eu o apoio, assim como ele me apoiou para que eu me formasse essa noite.

–Mas meu sonho é estar ao seu lado também. –Ron apareceu para a surpresa de todos. –Talvez um pouco atrasado...

Ele foi calado por Hermione que se jogou em seus braços e o beijou.

–Se soubesse que seria recebido desse jeito, talvez tivesse feito mais visitas. –ele brincou após o longo beijo, depois cumprimentou os sogros, Harry e Ginny. –É bom vê-los também.

–Seja bem vindo a festa, Ron. –Robert cumprimentou o genro, feliz pelo encontro do casal.

–É você mesmo? –a garota ainda não acreditava que o namorado estava ao seu lado depois de três anos longe.

–Sou eu, Hermione. –Ron a abraçou, precisava sentir o perfume e o corpo dela perto do seu. –Quem mais apareceria na sua formatura de farda e coturno na sua formatura? Desculpe pelos trajes, não consegui arrumar um terno e...

–Não me importa. –Hermione o calou novamente com um beijo. –Eu o acho lindo de farda, não me importaria se aparecesse sem roupas, o importante é que você está aqui.

–Vamos deixar essa parte de sem roupas para mais tarde, ok? –eles riram e Ron a puxou para a pista de dança. –Agora vamos comemorar a sua formatura!

Agora a festa estava completa, só restava a eles aproveitarem. Hermione passou os últimos três anos apenas estudando, hoje a jovem queria relaxar e se divertir como há muito tempo não fazia. Seus pais estavam orgulhosos dela, seus melhores amigos estavam se divertindo e seu namorado apareceu a surpreendendo, o que mais precisava para se divertir?

–Meus pés estão doendo. –Hermione por fim admitiu o cansaço, depois de passar a noite dançando. –Onde estão todos?

–Foram embora. –Ron a tirou da pista de dança, assim poderiam conversar sem a necessidade de falar mais alto que a música. –Seus pais foram embora cedo e Harry e Ginny foram embora não faz muito tempo.

–Mas ainda é cedo, a pista está cheia! –ela percebeu que não estava assim tão cheia, a música parou, terminando a festa. –Que horas são?

–Cinco da manhã. –ele riu do susto que a namorada levou, também não achava que fosse tão tarde.

–Então, acho melhor irmos embora também.

A cidade estava tranquila, os moradores estavam em suas casas ainda dormindo. O jovem casal andou abraçado, em silêncio, até o apartamento em que Hermione morava. O melhor modo de matar a saudades do tempo que ficaram longe um do outro foi se amarem enquanto o dia amanhecia.

O verão estava começando e Ron poderia aproveitar suas merecidas férias, seu treinamento havia acabado e agora ele era oficialmente um soldado do exército Britânico. Não via a hora de rever sua família, amigos e Hermione. O casal não se via desde a formatura dela, há pouco mais de dois meses.

–Seja bem vindo, soldado Weasley! –o patriarca da família recebeu o filho.

–Sentimos sua falta, meu filho! –Molly não escondia mais as lágrimas de felicidade.

–Obrigado, é bom estar de volta. –Ron agradeceu ao ser abraçado por todos os familiares.

Uma grade festa estava acontecendo no quintal da casa da família Weasley, a comemoração não era apenas pela volta de Ron, mas também por Arthur que havia servido ao exército pela última vez em uma zona de guerra, a partir de agora o Tenente-General iria usar a experiência adquirida ao longo da carreira para formar novos militares.

–Você está estranha. –Ron notou um comportamento distante da namorada. –Aconteceu alguma coisa, Hermione?

–Não, está tudo bem. –respondeu ela forçando um sorriso. –Só preocupada com o futuro.

–Pelo que soube tem várias propostas de emprego, uma delas é em Londres para uma grande empresa. –ele comentou e Hermione o olhou assustada por ele estar sabendo. –Sua mãe e Ginny me contaram.

–Parece que as pessoas não sabem mais guardar segredo.

–Você vai aceitar?

–Não.

–Mas é o seu sonho, Hermione. –Ron não entendeu. –Você sempre quis isso e...

–Ron, eu estou grávida. –por fim ela relevou o que a afligia.

Ron ficou calado, não era isso que esperava escutar como resposta. Hermione grávida? Então ele seria pai? Várias dúvidas surgiram em sua mente, mas o choro de sua namorada o trouxe para a realidade.

–Tem certeza? –ele perguntou sem saber como reagir.

–Um mês depois da minha formatura eu passei muito mal, minha mãe me levou ao médico e eu descobri. –explicou Hermione limpando as lágrimas. –Desculpe demorar tanto para te contar, mas queria fazer isso pessoalmente.

–Mais alguém sabe? –Ron tentava entender tudo que estava acontecendo.

–Minha mãe, Ginny e sua mãe. Queria contar primeiro a você e depois contar aos outros.

–Foi naquela noite, não foi? –ele sorriu.

–Sim. –recordou ela da noite com um sorriso. –Uma das raras que tivemos nós últimos anos.

–Se arrependeu por eu ter aparecido de surpresa?

–Não. –respondeu a garota sorrindo. –E você?

–Não, na verdade, aquela noite não sai da minha cabeça. Você usando aquela beca...

–Ronald! –Hermione o reprendeu com um tapa em seu braço, o que não adiantou nada, pois Ron ria de como o rosto dela havia ficado vermelho tão rápido. –É sério!

–Só estou pensando em como iremos contar ao nosso filho a noite em que ele foi concebido. –isso lhe rendeu outro tapa, desta vez mais forte. –Quer parar de me bater, já estou machucado o suficiente pelo treinamento.

–O que iremos fazer? –ela perguntou depois que pararam de rir, voltando para a situação delicada em que se encontravam.

–Vamos aproveitar o dia com nossa família e depois pensamos, tudo bem? –Ron propôs como se fosse o cara que tomasse as decisões e Hermione concordou aliviada por ter contado a pessoa que mais precisava saber.

A comemoração começou com um delicioso almoço feito por Molly e terminou após um igualmente delicioso jantar feito pela matriarca. Ron sentiu falta da comida da sua mãe, era a melhor que já comera, assim como sentiu falta de estar com sua família. O jovem não aguentou e contou a novidade para toda família, eles primeiramente ficaram chocados e preocupados, afinal o casal era jovem demais para terem um bebê. Mas era o papel da família apoia-los e eles não iriam virar as costas agora que Ron e Hermione precisavam de todo apoio possível.

–Pai, posso falar com você? –Ron precisava de alguns conselhos paternos.

–Claro. –Arthur deixou o jornal de lado e pediu que o filho sentasse ao seu lado no sofá. –Estou orgulhoso de você, Ron. Escutei muitos elogios sobre sua dedicação. E, é claro, pela chegada do bebê.

–Fico feliz em deixa-lo orgulhoso, pai. –o jovem murmurou enquanto olhava fixamente para o movimento dos pés que não paravam de se mover pelo nervosismo. –É sobre o bebê que eu preciso conversar.

–Está com medo? –ele perguntou apenas para ter certeza, pois já estivera na mesma situação do filho. –Iria chama-lo de tolo se não estivesse com medo.

–Mas irá passar, não é? Eu só fui pego de surpresa.

–Aqui vai o meu primeiro conselho paterno, esse medo não passa. Ele só aumenta ao passar dos anos.

–Obrigado, pai. –Ron riu nervosamente, não era isso que esperava escutar do seu pai.

–Eu tinha a sua idade quando sua mãe ficou grávida de Bill. –Arthur começou a contar a sua experiência. –Estava começando no exército e sua mãe começando a dar aulas. Foi um susto, não estávamos prontos para cuidar de um bebê.

–E o que você fez? –perguntou o filho, sentia-se na mesma situação. –Estou pensando em deixar o exército e trabalhar em uma das empresas da cidade, posso falar com Harry ou o senhor Granger e talvez eles consigam qualquer emprego nas empresas em que trabalham.

–Filho, eu pensei exatamente a mesma coisa. Precisava de um emprego que pagasse melhor, assim poderia sustentar minha família. Entretanto, sua mãe não deixou que eu cometesse essa loucura.

–Mas como vocês fizeram? –Ron buscava por ajuda. –Hermione desistiu do emprego que sempre sonhou devido à gravidez e eu não posso deixa-los e bancar o herói pelo mundo. Parece injusto da minha parte, ela largar seu sonho e eu não.

–Não foi fácil, Ron. Nossos pais ficaram bravos e preocupados, mas nos apoiaram e ajudaram bastante, assim como iremos fazer com você e Hermione. Sua mãe e eu nos casamos, eu me dediquei e foi promovido no exército, conseguindo comprar uma casa destinada a famílias de militares. –contou Arthur relembrando o começo complicado e difícil que ele e a esposa tiveram. –Mas no final deu tudo certo, talvez se eu tivesse deixado o exército, nós não estaríamos bem como estamos.

–Obrigado, pai. –o jovem entendeu o conselho que o pai tentou lhe passar. –Vou conversar com Hermione.

As semanas foram passando e o susto inicial foi dando lugar à empolgação pela chegada do novo membro na família. Ron estava buscando através da ajuda militar que tinha direito, uma casa para a sua nova família. Todos os sacrifícios que Hermione e Ron teriam que fazer valeria a pena quando vissem o filho pela primeira vez.

Então tudo aconteceu muito rápido, como um borrão em sua mente. Ron havia levado Hermione para jantar, queria dizer que havia conseguido uma casa, porém não conseguiu contar a novidade. Hermione começou a passar mal e logo um sangramento teve inicio, o que deixou a situação ainda mais preocupante.

De repente eles estavam dentro de uma ambulância e logo em seguida Hermione estava sendo levada para dentro do hospital desacordada. Ron ficou sozinho na sala de esperada e só conseguia pensar que não conseguiria viver sem Hermione, nada de ruim poderia acontecer com ela ou com seu filho.

–Sinto muito, senhor Weasley. –um médico que Ron reconheceu ser o mesmo que levou sua namorada para dentro, começou a falar. –Nós fizemos o possível, mas infelizmente seu filho não sobreviveu.

–Hermione? –perguntou ele, as lágrimas deixavam sua visão embaçada. –Ela já sabe?

–Sim, ela está no quarto recebendo o devido tratamento e também chama pelo senhor. –o médico tentou consolar o jovem. –Abortos espontâneos são comuns acontecer no primeiro trimestre, não foi nada que você ou sua namorada fizeram ou deixaram de fazer. Não se culpem, ainda são jovens e...

Ron não se lembra de ter escutado mais nada, só lembra-se de chorar, chorou como nunca havia chorado em seus vinte anos de vida. Sabia que não era a hora certa, estava assustado e com medo de ser responsável por alguém que não fosse si mesmo, mas queria muito ser pai daquele bebê. Segura-lo em seu colo, ensinar tudo que seu pai havia lhe ensinado, ver no bebê seus cabelos ruivos e os lindos olhos castanhos de Hermione. Desolado na sala de espera, Ron deixou todas as lágrimas escorrerem pelo seu rosto, pois quando entrasse no quarto para ver Hermione precisava ser forte e apoia-la.

–Eu sinto muito, Ron. –Hermione falou assim que viu o namorando entrar.

–Eu também. –ele a abraçou, lágrimas voltaram aos seus olhos.

–Nossa pequena semente será sempre a primeira e única. –os efeitos da medicação estavam fazendo efeito e Hermione falou sonolenta nos braços dele.

–Nossa primeira e única pequena semente está nos olhando do céu agora, como uma estrela. –Ron concordou, ainda não sabiam o que seria o bebê então chamavam de pequena semente. –Tudo ficará bem, prometo.

Naquele quarto de hospital eles souberam que estavam dispostos a deixar tudo para trás, qualquer sacrifício valeria a pena se estivessem juntos. Não era o momento, entretanto Ron não pode deixar de se imaginar cuidando de um filho ou filha com Hermione. Hermione nunca havia pensando em ter filhos ou se casar, até conhecer Ron e perceber que sua vida não seria feliz apenas com um bom emprego, precisava dele e de uma família.