Recuperando os sentidos, Ron despertou de suas lembranças sem deixar de sorrir ao lembrar-se do dia que Hermione entrou em sua vida. Aos poucos a dor em sua perna o trazia para a realidade, o tenente estava preso há uns dez metros a baixo da terra em uma escola que havia sido bombardeada e com uma criança que havia salvado a sua vida.

Ao lembrar-se da criança, Ron não a viu no que sobrou da sala. Não tinha como a garotinha ter saído dali, a porta estava bloqueada por pedaços do teto que haviam caído e os buracos no teto ela não alcançaria, nem mesmo Ron ficando de pé alcançava. Preocupado ele tentava escutar qualquer barulho vindo da superfície, talvez seus soldados tenham resgatado a criança e agora estavam voltando para busca-lo. Mas nada indicava essa hipótese, estava tudo muito tranquilo lá em cima, Ron não escutava ou sentia qualquer movimentação.

Sem que pudesse evitar, a dor o fazia querer fechar os olhos, mesmo que ele tentasse ao máximo permanecer acordado e pensar em um modo de sair daquele lugar antes de tudo cair sob ele. Sem sucesso, as lembranças tomaram conta novamente dele.

Ron nunca havia se apaixonado antes, já gostara de algumas garotas e namorado algumas também, mas nunca havia sentido o mesmo que sentia por Hermione. Só de pensar na amiga, seu coração acelerava, suas mãos suavam e sua boca secava. Algo estava acontecendo e precisava fazer alguma coisa para parar ou iria enlouquecer.

–Ron? –Harry tentava chamar a atenção do melhor amigo. –Será que você pode me escutar?

–Hein? Claro, pode falar. –o garoto saiu dos seus pensamentos e voltou para a realidade. –O que foi?

–Tem certeza que está tudo bem para você, eu e Ginny namorarmos?

–Claro, é só um namoro. –Ron deu de ombros ao escutar a preocupação do amigo. –Isso não quer dizer que vocês vão casar e ter filhos, certo?

–Hermione chegou! –Ginny entrou no quarto do irmão interrompendo a conversa, para a sorte do namorado.

–Nós terminamos essa conversa depois, senhor Potter. –ele olhou sério para o melhor amigo.

O namoro recém-engatado entre seu melhor amigo e sua irmã, era estranho para Ron, porém sempre soube que Ginny sentia algo por Harry e ele o mesmo por ela. Então se alguém tivesse que namorar ou quem sabe no futuro, bem no futuro, casar com a sua irmãzinha que seja Harry, seu melhor amigo.

–Olá, estranha! –Harry abraçou a amiga seguido por Ginny. –Como foi a viagem?

–Ótima, consegui descansar um pouco... –Hermione parou de falar ao ver que Ron havia chego à sala e o abraçou. –Oi, senti sua falta.

–Também senti sua falta. –respondeu o garoto feliz por vê-la e sentir seu doce perfume e toque novamente.

O abraço talvez tenha durado mais do que o normal, eles só perceberam isso quando se afastaram e Harry e Ginny os olhavam com olhares apaixonados. Ron ficou mais vermelho que a cor do seu cabelo e Hermione rapidamente buscou em sua bolsa os presentes de natal dos amigos.

–São apenas algumas lembranças de Paris. –ela entregou os embrulhos e os amigos correram a abrir com a mesma animação de crianças de cinco anos.

Hermione foi passar as festas de final de ano com os pais em Paris, onde a maioria da sua família morava. Foi ótimo rever os parentes, mas sentiu falta dos amigos e principalmente de Ron.

–Obrigada pelo presente, Hermione. –Ginny agradeceu. –Adorei o perfume!

–E eu o livro! –Harry era o único dos amigos que tinha o mesmo gosto por leitura como Hermione.

–Fico feliz que gostaram. –Hermione sorriu satisfeita por ter acertado na escolha dos presentes, porém o presente mais difícil foi o de Ron e ele ainda não havia falado nada sobre o presente. –E você, Ron, gostou?

–É muito linda, Hermione, obrigado pelo presente. –Ron não sabia como agradecer, a amiga havia lhe dado uma linda camisa azul. –É muito elegante, na verdade, eu estava pensando onde poderia usar uma camisa como essa.

–Bem, você pode usar hoje à noite! –ela não escondeu a felicidade ao ver que o amigo havia gostado do presente. –Meu primo está na cidade e gostaria que vocês se conhecessem, pois falei a viagem inteira sobre vocês.

Os amigos aceitaram o convite e combinaram de se encontrar no restaurante escolhido por Hermione às 19 horas. Tempo suficiente para Ron ir até o centro e procurar um presente melhor do que o estupido globo de neve que havia comprado.

Ron passou a tarde inteira andando entre lojas no centro de Bracknell, a pequena cidade a oeste de Londres onde moravam, a procura do presente perfeito. Nada que encontrava parecia estar à altura do que Hermione merecia receber ou quando achava algo que gostava era caro demais e não tinha dinheiro o suficiente para comprar. Frustrado Ron voltou para casa correndo, pois precisava se arrumar e ir para o restaurante.

–Anda, Ron! –Ginny foi apressar o irmão. –Harry está chegando!

–Só mais um minuto! –Ron se olhava no espelho, inseguro se estava vestido adequadamente para o restaurante, e nem percebeu que sua irmã havia entrado em seu quarto. –O que está fazendo aqui? Eu poderia estar pelado e...

–Como se eu nunca tivesse lhe visto sem roupas. –ela riu e ignorou o fato de ter deixado o irmão com o rosto vermelho de vergonha. –Você está muito bonito, Ron. Tipo, eu nunca te vi tão elegante assim.

–Sério? –ele se olhou novamente no espelho, agora um pouco mais seguro da escolha que havia feito. Estava vestindo uma calça jeans escura, seu melhor sapato, a camisa azul que havia ganhado, um blazer preto que usava apenas para ocasiões importantes e para se proteger do inverno um casaco novinho que ganhou de natal do seu irmão mais velho, Bill.

–Sim, Ron. –Ginny arrumou a camisa do irmão, fechando o botão que faltava. –Hermione acertou na cor, azul fica muito bem com você, combina com seus lindos olhos azul.

–Obrigado. –os irmãos se abraçaram, mas Ron não deixaria de pegar no pé da irmã mais nova. –Esse seu vestido não está muito curto? O que seu namorado acha disso?

–Não acredito que você acabou de dizer isso, Ron. –ela não conseguiu segurar o riso, era sempre engraçado quando Ron incorporava o papel de irmão mais velho com ciúme. –Meu vestido não é curto e pare de implicar com o meu namoro, Harry é seu melhor amigo.

Como combinado, às 19 horas, Hermione e seu primo os esperavam no restaurante. Ron não pode deixar de notar como Hermione estava linda, vestia um vestido xadrez que ia até a altura dos joelhos com uma meia-calça preta devido ao frio, um sapato com um salto não tão alto e um casaco preto.

–Boa noite. –Hermione cumprimentou os amigos e os apresentou ao primo. –Ron, Harry e Ginny esse é meu primo Louis Henry. Louis, esses são meus melhores amigos.

–É um prazer finalmente conhecer os amigos da minha querida Mione. –Louis os cumprimentou educadamente. –Já que estamos todos aqui, vou avisar para prepararem nossa mesa.

Harry e Ginny sutilmente se afastaram, apenas para dar mais espaço para que Ron e Hermione conversassem sozinhos por um momento. Os amigos já perceberam o que estava acontecendo entre os dois e faziam de tudo para ajuda-los.

–Você está muito linda, Hermione. –Ron falou de repente, não planejava dizer isso naquele momento, estava apenas ensaiando em sua mente. –Quer dizer, você está sempre linda, mas hoje, bem...

–Obrigada, Ron. –agradeceu ela, um pouco corada pelo elogio. –Você também está muito bonito.

–Créditos ao seu presente, obrigado.

–Deveria usar mais azul, combina com seus olhos. –Hermione não pode deixar de sorrir ao elogia-lo.

–Seu amigo tem razão, você está excepcionalmente linda hoje, Mione. –Louis quebrou o momento. –Ainda mais com esse belo colar, a pessoa que lhe deu tem um refinado gosto. –ele piscou e sorriu, orgulhoso do presente que havia dado. –De nada.

Louis voltou acompanhado do garçom que iria leva-los até a mesa. Acomodados a mesa, o grupo fez o pedido. Ron olhava para aquele lugar e não se sentia confortável, era muito diferente do que estava acostumado, pratos diferentes, comidas que não sabia do que se tratava e caras demais.

Tudo estava indo muito bem, tirando o fato de Louis monopolizar a conversa e o assunto girar em torno dele, o que deixava todos entediados, principalmente Ron que não estava gostando nem um pouco do jeito que Louis sempre falava segurando na mão de Hermione, ou como ele dizia, minha queria Mione.

–Então como foi o ano novo de vocês? –Hermione fez mais uma tentativa de mudar de assunto.

–Ótimo, todos foram lá para casa e nos divertimos bastante. –Ginny respondeu antes que Louis a interrompesse.

–O nosso também foi ótimo, não foi, Mione? –ele não deixou nem que Hermione respondesse e completou. –Estávamos no apartamento dos meus pais, no centro de Paris, com a Torre Eiffel atrás de nós. Um lugar perfeito para começar um novo ano e ter o primeiro beijo do ano, não é verdade?

A mesa ficou em silêncio, ninguém respondeu nada. Ginny e Harry olharam para Hermione que estava atônica e Ron vermelho, parecia que ia pular no pescoço de Louis a qualquer momento.

–Vocês tiveram um beijo de ano novo? –perguntou Ron tentando mostrar que não se importava.

–Sim, nós...

–Acho que está tarde, melhor irmos. –ele não aguentou escutar o restante da resposta e levantou-se. –Vamos?

Harry e Ginny permaneceram em seus lugares, sem saber o que fazer. Ron não esperou a resposta deles e saiu do restaurante. Tudo que conseguia pensar era Hermione e aquele egocêntrico se beijando na virada do ano, era para ser eles se beijando.

–A culpa é minha! –ele falava consigo enquanto caminhava sem rumo pelas ruas de Bracknell. –Se eu tivesse falando que a amava, talvez isso não tivesse acontecido e eu e Hermione teríamos nosso beijo de ano novo! Eu sou um idiota e...

–Ron! –Hermione corria para alcança-lo. –Ron, espera!

–O que foi? –talvez tenha falado rude demais e parou para escuta-la. –Desculpa, eu sei que não deveria ter gritado com você agora ou sair daquele jeito, eu só...

–Posso falar ou você vai ser como Louis e falar sem parar? –ela retomava o folego por sair correndo atrás dele e pensava nas palavras certas para dizer ao amigo. –Para começar, não precisa se desculpar. Na verdade, eu devo desculpas a vocês por fazê-los aguentar meu primo, ele não é muito bom em fazer amigos, então meus tios pediram para que o trouxesse e conhecesse vocês.

–Tudo bem, família é família. –Ron usou seu humor para aliviar a tensão.

–Sobre o beijo, eu não queria que acontecesse, ele me surpreendeu. –ela continuou a falar o discurso pronto em sua cabeça. –Eu estava pensando em outra coisa e ele...

–Não precisa me explicar nada, Hermione. –ele a interrompeu, mesmo feliz em saber que o beijo não era algo que ela queria. –Você não me deve satisfação da sua vida ou quem você beija, eu sou só seu amigo.

–Certo, você é só meu amigo. –Hermione mirrou a ponta dos seus sapatos e desanimou totalmente em continuar o que tinha para falar.

Ron estava se xingando mentalmente, acabara de estragar tudo dizendo que eram só amigos. Essa era a grande chance e o Ron idiota havia estragado tudo, como sempre fazia.

–Eu esqueci de te entregar hoje cedo. –ele tirou do seu bolso o embrulho com o presente da amiga. –Não é nada comparado ao seu presente, mas eu vi e achei que fosse gostar.

Hermione abriu o embrulho e viu um globo de neve, dentro o Big Ben e o Palácio de Westminster, um dos pontos turísticos mais visitados de Londres. O presente era tão singelo, Hermione adorou, pois sabia que Ron havia pensando nela quando viu.

–Eu adorei, obrigada. –ela o abraçou e ficou admirando o presente, mexe-lo só fazia com que a suposta neve saísse do fundo e deixa o globo ainda mais encantador.

–Posso fazer uma pergunta? –Ron mexia as mãos nos bolsos nervosamente, Hermione voltou a atenção para o amigo e sinalizou para que ele fosse em frente. –Sobre o que você estava pensando? Sabe, na virada do ano, antes do...

–Em você. –respondeu Hermione. –Em como eu gostaria que você estivesse comigo e talvez um...

–Talvez um beijo de ano novo? –ele completou, aguardando o que ela iria dizer.

–É, talvez.

–Você se importaria se esse beijo acontecesse alguns dias atrasado?

–Não, com tanto que aconteça agora.

–Tudo bem. –sem esperar mais um segundo, Ron a beijou.

O primeiro beijo deles aconteceu no centro da cidade, cercados por pessoas que passavam na rua, mas eles não ligavam. A sensação te der seus lábios nos de Hermione era melhor do que imaginava, Ron soube naquele beijo que aquele era apenas o primeiro, muitos e muitos viriam em seguida.

–Feliz ano novo, Hermione. –ele falou após o beijo, sem esconder um largo sorriso.

–Feliz ano novo, Ron. –ela repetiu com o mesmo sorriso no rosto.