Ao voltar para casa, depois de muito nadar e tentar colocar a cabeça e os pensamentos no lugar, Ron não encontrou ninguém, apenas um breve bilhete deixado pela esposa informando que ela e as crianças iriam ficar na casa dos pais dela. Já era tarde, as crianças deveriam estar dormindo, então Ron achou melhor deixar que essa noite ele e Hermione dormissem e pensassem, no dia seguinte iria procura-la.

A conversa que Ron havia ensaiado em sua cabeça não aconteceu, em vez disso quase brigaram mais, piorando a situação. Tudo que Ron conseguiu foi convencer Hermione a voltar para casa com os filhos e ele iria sair.

–Você vai embora, papai? –perguntou Rose ao vê-lo colocando suas roupas dentro de uma pequena mala.

–Vou, querida. –respondeu Ron tentando não magoa-la. –Eu vou ficar morando no quartel, assim eu posso treinar mais.

–E você vai ganhar a medalha de ouro e depois vai voltar para casa. –completou a menina sorrindo.

–Eu irei fazer o meu máximo para ganhar a medalha de ouro. –falou ele a abraçando o mais forte que conseguia. –E você me prometa que irá se comportar, ajudar sua mãe e fazer vários desenhos para mim.

–Tudo bem, papai. –Rose o beijou antes de sorrir. –Eu estou ensinando Hugo a desenhar, ele ainda não sabe muito, mas eu ajudo.

–Muito bem. –Ron se despediu da filha. –Prometo que venho todos os dias ver você e seu irmão.

Na sala, Hermione alimentava Hugo com uma papinha de frutas. Ron não pode deixar de sorrir ao ver o filho todo sujo por tentar comer sozinho, Hugo havia crescido tanto desde que ele voltara que não conseguia acreditar que logo o filho completaria dois anos.

–Eu prometi a Rose que viria todos os dias para vê-los, tudo bem? –disse ele meio receoso.

–Tudo bem. –murmurou Hermione dando atenção ao filho.

–Qualquer coisa me liga e eu venho ajudar.

–Por que eu deveria te ligar? –rebateu ela sem esconder a tristeza que suas palavras carregavam. –Afinal você não poderá fazer muita coisa, não é? Talvez se eu precise de alguém para me levar ao hospital?

Ron sentiu como aquelas palavras haviam o machucado e lembrou quando disse algo muito parecido a ela noite passada. Ao ver Ron sair de casa, apenas como uma mochila com algumas roupas, Hermione sentiu-se mais sozinha e triste do que quando o marido saia em missão por longos períodos.

Logo, todos estavam sabendo da gravidez de Hermione e da saída de Ron de casa. Harry ficou preocupado com o melhor amigo e tentava ajuda-lo, assim como Ginny tentava ajudar Hermione.

–Vocês conversaram? –quis saber Ginny enquanto ela e a amiga preparam o jantar.

–Conversar sobre o que, Ginny? –falou Hermione cansada desse assunto. –Seu irmão deixou bem claro que não quer esse filho.

–Tecnicamente, ele apenas disse que não conseguia ser responsável por outro filho. –corrigiu Harry que escutava a conversa delas enquanto brincava com as crianças na sala.

–O que quer dizer a mesma coisa, Harry James Potter. –rebateu Hermione olhando para o amigo seriamente. –Não venha querer defender seu melhor amigo, porque eu não vou aguentar.

–Desculpa, eu só não quero vê-los tristes e separados quando vocês deveriam estar comemorando a chegada de mais um bebê.

–Quem vai ter um bebê, papai? –perguntou James curioso.

–A tia Hermione e o tio Ron. –respondeu Harry sem pensar, fazendo com que a amiga lhe lançasse um olhar mortal.

–Mamãe, você vai ter um bebê? –foi a vez de Rose perguntar.

–Vou, querida. –disse Hermione sem ter mais como esconder.

Ao contrario do que Hermione esperava, Rose ficou realmente feliz com a novidade. Correu e abraçou a barriga ainda inexistente de Hermione, dizendo o quanto estava feliz por ter outro irmão ou irmã a caminho. O gesto tocou Hermione que não pode deixar de se emocionar, talvez fosse, depois que descobriu essa gravidez, a única vez que se sentiu feliz pela chegada do bebê.

E foi nesse momento, em que Rose falava e distribuía vários beijos na barriga de sua mãe que Ron entrou pela porta.

–Pai, você sabia que a mamãe tem um bebê na barriga? –Rose queria contar a novidade para todo mundo.

–Sei, filha. –disse ele um pouco desconfortável.

–Não é legal? –continuou a menina feliz com a novidade. –Eu vou ser irmã mais velha de novo!

–É, você vai. –Ron não pode deixar de esboçar um sorriso ao ver a felicidade da filha.

Durante todo o jantar o assunto não pode ser outro, a chegada do terceiro bebê. Hermione tentava se comportar o mais natural possível, conversava normalmente como se Ron não estivesse comendo ao lado oposto ao seu a mesa.

A família Potter foi embora após o jantar, as crianças estavam cansadas e precisavam dormir. Ron foi colocar os filhos na cama antes de ir embora. Hugo era o mais fácil, apenas embalar ele por alguns minutos no colo e o menino estava dormindo um sono pesado. Rose era um pouco mais complicado, era necessário contar uma história e ficar ao lado da cama dela até que a menina pegasse no sono.

–Eles estão dormindo. –avisou Ron ao descer e encontrar Hermione lendo no escritório.

–Obrigada. –agradeceu ela sem tirar os olhos dos papeis que lia.

–Você já fez a lista de natal?

–Ainda não tive tempo. –respondeu Hermione sem entender o porquê da pergunta.

–Tudo bem, se quiser eu posso comprar os presentes. –falou ele tentando ajudar. –Sei que estará ocupada com o aniversário de Hugo.

–Não se preocupe, não irei fazer uma grande festa para ele. –recusou educadamente a ajuda dele. –Além do mais, sempre cuidei de tudo sozinha, posso me virar muito bem.

–Hermione, eu... –Ron tentou argumentar, mas foi em vão.

–Eu estou realmente ocupada agora, Ronald. –disse ela friamente. –Boa noite.

–Desculpe, boa noite. –ele se despediu e foi embora sentindo-se ainda mais culpado.

Sozinho no alojamento do quartel, Ron não pode deixar de lembrar-se da gestação dos filhos. Toda a gravidez de Rose havia sido planejada por Hermione, o que deveriam comprar, a decoração do quarto, cada mês havia sido planejado até o nascimento. Com Hugo não foi diferente, Ron teria um ano em casa, assim como tivera no tempo em que Rose estava a caminho. A chegada de Hugo foi tão aguardada que Ron lembrava rindo, mesmo que na hora estivesse em pânico total.

As festas de final de ano se aproximavam e Hermione parecia como aqueles fogos de artificio prestes a explodir na virada do ano. Hugo estava três semanas atrasado da data estipulada pela médica e parecia que o bebê não tinha pressa alguma em vir ao mundo.

Mesmo que Hermione tentasse não fazer esforço e aguardar a chegada do filho, ela não conseguia. Tinha Rose com apenas quatro anos que dependia dela, Ron que estava mais nervoso que ela e os presentes de natal para comprar.

–Hermione, faça a lista e eu vou até o centro comprar. –pediu mais uma vez Ron tentando convencer a esposa.

–Eu quero ir junto, não tenho certeza sobre alguns presentes. –falou ela na duvida. –Sabe que eu adoro comprar os presentes de natal, é a minha época favorita do ano.

–Achei que meu aniversário fosse a sua época favorita do ano. –brincou ele a fazendo rir.

–Para o bem da sua autoestima, direi que sim. –concordou Hermione acariciando sua barriga. –Espero que Hugo não tenha herdado essa sua carência.

Ron fez tudo o que pode, mas não conseguiu convencer a esposa a ficar em casa e deixa-lo comprar os presentes sozinho. A família é grande, logo a lista também era extensa, fazendo com que os três passassem a tarde de sábado entrando e saindo das lojas. Hermione achou que aguentaria, queria provar ao marido que estava bem e que ele se preocupada demais, mas depois de algumas lojas, o cansaço aumentava e ela começou a se arrepender de ter sido tão teimosa.

–Ron, acho melhor pararmos por aqui. –pediu Hermione não aguentando mais, seus pés estavam inchados mais do que o normal e estava sentindo uma dor estranha nas costas. –Vamos para casa.

–Estamos no final, Hermione. –disse ele tentando convence-la a continuar, pois não queria voltar outro dia.

–Não vai dar, eu não consigo. –Hermione sentiu um liquido entre suas pernas, sabia o que isso significava. –Minha bolsa estourou.

–Sua bolsa? –perguntou Ron sem muito interesse empurrando o carrinho de Rose carregado de sacolas. –Quer uma nova?

–Ronald Weasley! –gritou ela sentido muita dor e assustando todos ao seu redor. –Minha bolsa estourou, Hugo vai nascer!

Em uma velocidade impressionante, Ron chegou com a esposa ao hospital. Sua família estava a caminho para acompanhar a chegada de mais um membro e cuidar de Rose enquanto Ron acompanhava Hermione.

Não demorou muito para que o pequeno Hugo viesse ao mundo. O menino era uma miniatura do pai, o cabelo ruivo, a tranquilidade e o apetite não deixavam mentir.

Acompanhar o nascimento dos seus filhos e segura-los pela primeira vez eram momentos que Ron nunca iria esquecer. E de repente, ele sentiu-se ansioso por fazer isso pela terceira vez. Talvez não fosse o melhor cenário para a chegada de mais um bebê, porém um sentimento de esperança e felicidade tomou conta de si, deixando de lado o medo e o negativismo. Se tinha algo que Ron amava mais que Hermione, era a família que eles formaram juntos.