Marinwaal escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 9
A ascensão de uma perdedora




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— Eu tenho uma ideia – disse a Mona,  após subirmos para meu quarto no intuito de nos aprontarmos para a escola.

Mona sentou-se na extremidade esquerda de minha cama, de frente para mim, atenta.

— Há um tempo atrás, eu comprei uma saia de couro preta – expliquei. – Desde aquela época, ela já ficava apertada em mim, mas acho que servirá em você direitinho. É bastante simples, mas já que você está com humor para mudanças... que tal experimentar?

Mona hesitou, parecendo estar apreensiva novamente.

— Sua mãe não vai ficar brava?

— Ei – agachei-me e encaixei minhas palmas aos joelhos dela. – Ela só não me fez devolver a coisa porque eu já havia arrancado a etiqueta. Além do mais, minha mãe acha que você é um doce. Por que ela ficaria brava?

Mona apertou os dedos contra o colchão, voltando a ficar animada.

— Certo, não saia daí – instruí, indo em seguida vasculhar o closet de minha mãe também, à procura de uma regata vermelha que pensava combinar perfeitamente com aquela saia.

Voltei ao meu quarto com as duas peças em mãos. A regata vermelha com detalhes em branco de minha mãe era parcialmente aberta nas costas e inacreditavelmente ousada para a Mona de dois dias atrás, mas... quem sabe?

Apontei com a cabeça para minha suíte, animada.

— Vá lá, experimente!

Mona ainda estava insegura, mas concordou. Sentei no lugar de onde ela havia saído, para esperar.

Após mais ou menos dois minutos, já vestida, Mona saiu do banheiro e foi direto ao espelho comprido que ficava na outra ponta do quarto.

Ela se olhava de cima a baixo, calada, apertando os dedos uns contra os outros. A saia era comprida o suficiente para cobrir suas coxas, mas justa o suficiente para que ela conseguisse atrair alguns olhares. A regata deixava parte das costas de Mona à mostra e o preto do sutiã contracenava quase que sensualmente com o vermelho e o tom bronzeado da pele dela.

— Eu acho que você está ótima – opinei honestamente, olhando junto dela para sua imagem no espelho.

Mona suspirou e me fitou em seguida.

— Tem certeza de que essa sou eu?

— Não... – respondi cautelosamente, colocando uma mecha de seu cabelo para trás da orelha. – Mas pode vir a ser se você der a essa nova garota uma chance.

Mona sorriu, terna, em agradecimento.

— Ah, e mais uma coisa – passei por trás dela e dirigi o braço à prateleira mais baixa de meu closet, pegando um par de sapatos pretos de salto fino. Olhando para os pés de Mona, ainda descalços, eu sabia que calçávamos o mesmo número. Por sorte eu também tinha pés pequenos.

Mona achou graça.

— Não consigo andar com estas coisas.

— É claro que consegue – coloquei os sapatos no chão. – É questão de prática.

— Mas... e se eu quebrar um dos saltos?

— Com o seu peso? – brinquei. – Eu acho que não.

A fiz rir, e isso bastou para que ela se sentasse novamente na cama e calçasse os sapatos. Se levantou em seguida, parecendo estar com vertigem.

— Certo – ela agarrou meu braço. – Agora como eu me movo?

— É só caminhar – gargalhei. – Um pé na frente do outro. 

A soltei devegar, para que ela caminhasse em linha reta até onde conseguisse.

Mona soltou um gritinho entredentes enquanto dava um meio passo a cada dois segundos. Observei-a andar de um lado para o outro, dezenas de vezes, e a cada vez ela parecia adquirir mais confiança. Em uma das últimas vezes, arriscou colocar uma mão na cintura e soltar os quadris. Bati palmas, rindo.

— Acho que posso fazer isso! – disse ela, parando de caminhar, os olhinhos brilhando.

— Eu sempre soube que podia – confirmei, antes de ir novamente até meu closet, mas desta vez para pegar algo para eu mesma vestir.

Foi a vez de Mona esperar um pouco. Assim que saí do banheiro, a vi sentada de frente à penteadeira, que ficava ao lado da escrivaninha. Ela olhava curiosamente para um tubinho cor-de-rosa de máscara para cílios.

— Posso te ajudar com isso, se você quiser – disse, por trás dela. Mona assentiu.

Maquiei-a com cuidado, como se seu rosto fosse uma delicada peça de porcelana. Ela mantinha os olhos fechados, serena, como se já tivesse se acostumado à toda a ideia de transformação.

— Ainda tem suas presilhas? – perguntei, assim que terminei, vendo que ela apreciava o próprio rosto no espelho da penteadeira.

Mona levantou sem dizer nada e andou em direção ao cabide alto que ficava ao lado esquerdo da cama. Ela tinha perdurado ali a saia jeans antes de dormir. Enfiou a mão em um dos bolsos e tirou dali duas pecinhas prateadas e salpicadas com glitter, que em seguida me estendeu e voltou a se sentar.

Peguei duas mechas das extremidades opostas do cabelo de Mona e as trancei, prendendo-as em seguida com uma das presilhas.

— Em honra aos velhos tempos – sorri e pude vê-la fazer o mesmo através do espelho.

— Vamos? – ela se levantou, pegando do chão sua mochila e encaixando-a em um dos ombros.

— Apenas mais um último detalhe – corri até meu closet outra vez e tirei de lá uma Louis Vuitton preta, estendendo-a para Mona em seguida.

A garota me olhou incrédula.

— Você só pode estar brincando.

Achei graça do jeito como os olhos de Mona se arregalaram. Dei de ombros. Ela tomou a bolsa entre as mãos como se tal fosse um vaso que custasse cinquenta mil dólares.

— O que foi que eu fiz de tão bom para você?  – perguntou, com o olhar indo da bolsa para mim e vice-versa.

Não respondi, apenas dei de ombros mais uma vez e sorri. Você está aqui comigo, pensei, enquanto a observava passar o material da mochila para a bolsa. Agarrei minha própria que ainda estava pendurada no encosto da cadeira da escrivaninha em seguida e descemos.

Minha mãe estava ao pé da escada pronta para dizer que “nos atrasaríamos se não movêssemos nossos traseiros de uma vez” até que me deteve pela alça da bolsa ao ver Mona.

Quem é essa garota e por que ela parece ter dado um mergulho entre o seu e o meu guarda-roupa? – indagou ela ao pé de meu ouvido quase que sem mover os lábios. Ainda que estivesse surpresa, seu semblante não indicava irritabilidade.

Ri e beijei-a na bochecha.

— É por uma boa causa.

Ao descermos os dois degraus de pedra ao pé da porta, o calcanhar direito de Mona escorregou no sapato.

— Vá com calma – disse-lhe, segurando-a pelo antebraço.

À medida que caminhávamos por entre as ruas largas e vazias devido àquela hora da manhã, fui escorregando minha mão pelo braço de Mona até alcançar a dela, sem que realmente percebesse tal coisa. Mona não recuou e nossas mãos permaneceram encaixadas anatomicamente uma na outra. Me sentia tão inconscientemente contente com isso que fazia nossos braços balançarem para frente e para trás. Nada precisava ser dito. Era uma manhã tranquila que cheirava a terra molhada e a outono.

Eu estava eu tão absorta em minha própria felicidade que só fui perceber que estava efetivamente de mãos dadas com Mona quando dobramos uma esquina e chegamos a Rosewood High. Mas nem por isso nos soltamos.

Seguimos em linha reta e passamos ao lado do estacionamento dos estudantes. Eu sentia o peso de olhares sobre nós – sobre Mona, melhor dizendo –, muitos deles; escutava o burburinho dos garotos do time de hóquei nas mesas de piquenique. "Uau, cara, olha só pra isso!", eles diziam. Eu não sabia se eles se referiam à nova aparência de Mona ou se ao fato de ela estar de mãos dadas comigo  – sendo que, maliciosos e estúpidos do jeito que eram, já consideravam tal coisa um explícito ato de lesbianismo.

"Essa é a Mona?", as meninas também se manifestavam.

— Devo olhar para eles desta vez? – ela me perguntou.

— Sorria e acene também, se quiser – rimos.

Passamos pelo portão de entrada e dobramos à direita, subindo um lance de escadas para darmos, em seguida, no corredor principal dos armários. Era incrível como ainda permanecíamos de mãos dadas!

Faltava quinze para as nove, então já havia bastante movimentação por ali.

Assim que subimos o último degrau, Mona me fitou com semblante firme, porém ajeitava melhor sua palma na minha. Pude ler perfeitamente suas expressões: somos um time agora.

Uma passarela pareceu se formar para nós entre os alunos que remexiam em seus armários. Mais burburinho. Pela primeira vez desde que chegara àli naquela manhã, tomei coragem para sustentar meu olhar no daquelas pessoas. Todos pareciam examinar Mona de cima a baixo, incrédulos.

Virei o rosto para a esquerda e pude ver uma dupla de garotos olhando para Mona com um sorriso já não tão incrédulo, e sim malicioso.

Mona parecia deliciar-se com todos aqueles olhares, fossem eles de incredulidade ou não, mas nenhum contaria tanto para ela como o de uma pessoa em especial.

Alison estava ao fim do corredor, perto do banheiro feminino, conversando e rindo em meio a um grupinho de garotas que não continha nem Aria, nem Emily, nem Spencer. E tudo em minha cabeça pareceu acontecer em câmera lenta.

À medida que íamos nos aproximando de Ali, as garotas que estavam junto da loira, uma por uma, foram dando pela presença de Mona. Alison parou de rir e virou o rosto por último. Mesmo à distância, pude ver perfeitamente seu semblante dizer “mas que diabos ela está fazendo aqui? Assim?”.

Alison tinha o que parecia ser uma folha de papel entre os dedos e amassou-a, deixando o ar escapar por entre os lábios semicerrados, exatamente como fazia quando estava furiosa e não queria demonstrar. Faíscas pareciam sair de seus olhos azuis. E eu quis gargalhar.

Olhei para Mona, embora ela ainda fitasse Alison como se quisesse guardar na memória o momento em que o queixo da loira caíra. Ela sorria quase que imperceptivelmente, de um jeito que era difícil de interpretar, mas parecia que ela sentia um imenso prazer por ter provocado aquela reação em Alison.

A inocência de Mona, que me encantara completamente pela primeira vez há dois dias e vinha me encantando até menos de um minuto atrás, pareceu, agora, enquanto ela sustentava seu olhar em Alison, praticamente nula e eu por um momento não a reconheci.

Quis colocar minhas duas mãos em seus ombros e sacudi-la, afim de acordá-la daquele transe, mas antes que eu tivesse a chance de fazer isso, pude, quase que por telepatia, decifrar aquele olhar intenso, e tive medo, pois jurava ouvir claramente em minha cabeça o que Mona pensava em dizer se tivesse uma chance de falar com Alison pessoalmente.

Meus dias de perdedora acabaram, vadia.

Mas os seus...

Estão prestes a começar.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoas!

Então, eu não planejava terminar a fic de um jeito tão dark, mas pensei nas "palavras finais" da Mona ainda ontem e senti que PRECISAVA encaixa-las em algum lugar (porque, se Monão não fosse dark em algum momento, não seria Monão, certo?).
Bem, de algum jeito, essas palavras introduzem a segunda temporada, na qual eu já estou trabalhando ^-^
Enfim, agradeço a todos por terem acompanhado, vocês estão no meu éssedois :3