Marinwaal escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 7
Uma nova Mona




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Nos desprendemos e ficamos caladas por um longo tempo, com os olhos direcionados ao teto. Meus braços estavam junto ao meu corpo e eu não precisava olhar para Mona para saber que ela permanecia na mesma posição.

– Eu quero mudar – disse ela, quebrando o silêncio, ainda de olhos pregados no teto.

– Do que está falando? – virei o rosto em sua direção. Mona fez o mesmo.

– Não quero mais ser Mona, a Perdedora.

– Já conversamos sobre isso, não conversamos? Você não é uma perdedora.

– Você pode pensar assim, mas o resto daquela escola discorda de você.

– Tenho certeza que Aria, Emily e Spencer concordam comigo – sorri.

– Certo. Quatro contra, bem, muitos.

Fez-se uma pausa. Suspirei.

– Você não deveria se importar com o que as pessoas pensam de você – disse por experiência própria.

– Eu sei que não devo – Mona replicou, a voz pesada dizia que ela de fato sabia. – Mas me importo. E não sei como parar de fazer isso.

– Você precisa aceitar que as pessoas possam gostar de você do jeitinho que você é – agarrei a mão esquerda de Mona. – Como eu gosto.

Ela suspirou, como se dissesse que eu era impossível.

– E você precisa entender que não existe uma Hanna Marin em cada esquina.

Sorri, depois de pensar um pouco, levantando da cama.

– Vem comigo – disse a Mona, pescando apenas a carteira da bolsa no caminho.

Ela me obedeceu, também sorrindo.

– Aonde estamos indo? – perguntou, enquanto me seguia pelas escadas, eufórica.

– É surpresa – justifiquei enquanto passávamos pela porta da frente, tentando conter minha própria animação.

Tentei desconversar enquanto caminhávamos em uma velocidade ritmada, porém Mona acabava sempre por indagar novamente sobre aonde estávamos indo. E era divertido vê-la feito criança, girando a cabeça em cento e oitenta graus, observando tudo que pudesse vir a ser nosso destino.

Paramos em frente ao salão de beleza que eu e minha mãe costumávamos frequentar quase todo o fim-de-semana.

– Uau – disse ela, de olho na fachada do lugar, parecendo impressionada. – É bastante chique, não é? Não sei se vou poder...

– Ei – a interrompi, com um toque em seu ombro esquerdo –, deixe isso comigo.

Ia puxando-a pela mão estabelecimento adentro quando foi a vez de ela me interromper.

– Não, Hanna. Você já fez tanto por mim em tão pouco tempo. Não posso deixar que faça isso também.

– Você disse que isso te faria feliz – rebati, numa voz doce. – Por favor. Me deixe te fazer feliz.

Mona refletia sobre a possibilidade, apreensiva, mas a excitação em seu olhar era inegável; era algo que me dizia que ela adoraria experimentar um pouco daquele glamour pela primeira vez.

– Caso ainda tenha dúvidas – continuei. – Eu não estou fazendo isso devido à culpa ou algo parecido. Eu só quero te ver confiante, e se mudar desse jeito é do que você precisa para ser assim, então isso é o que eu quero te dar.

– Tem certeza? – ela mordeu o lábio inferior.

Assenti, feliz por ela ter cedido.

Já na recepção, perguntei se seria possível encaixar Mona Vanderwaal entre os clientes daquela tarde. Virei o rosto e sorri para ela assim que pronunciei seu nome completo. A recepcionista nos fez um sinal de positivo com a cabeça e logo depois pediu para que aguardássemos um pouco. Sentamos nas cadeiras enfileiradas perto da porta.

Mona tinha as mãos juntas entre os joelhos. Estava nervosa como se, ao invés de estar em um salão de beleza, estivesse esperando para arrancar um dente. Eu não sabia o motivo daquilo, afinal ela mesma havia dito que isso era o que ela queria, mas achava fofo de qualquer jeito.

Ao notar que estava sendo observada, Mona riu nervosamente para mim e eu fiz o mesmo. Não trocamos muitas palavras até que Heather chamou por Mona, como se realmente fosse para uma consulta médica e não para uma série de embelezamentos.

Heather era nossa cabeleireira de cabeceira. Uma moça alta, entre seus trinta e poucos anos, de longos cabelos ruivos tingidos. A conhecia desde os meus dez anos, ou simplesmente desde que resolvera adquirir um pouco da vaidade de minha mãe.

Em um primeiro momento, Heather não pareceu me notar junto de Mona, mas assim que deu pela minha presença, olhou-me curiosa e confusamente.

– Hanna, oi. Você marcou algo para hoje? Se sim, desculpe, mas eu não me lembro.

– Para falar a verdade, não. – esclareci, puxando Mona para perto – Heather, esta é minha amiga Mona. Ela quer...

Deixei as reticências no ar, pois Mona não havia me informado especificamente sobre o que queria fazer para mudar.

– Ficar bonita – ela completou, sorrindo, o que me deixou um pouco sem graça, afinal, beleza tinha um conceito relativo, não tinha? E para mim, Mona era encantadora de seu próprio jeitinho inusual.

Heather e eu trocamos olhares no curto silêncio que se fez.

– Tudo bem, então, Mona – disse Heather, dando alguns passos até uma das cadeiras onde trabalhava. – Sente-se aqui e me diga o que quer que eu faça em você.

– Pode me dar um minuto, por favor? – Mona levantou um indicador, em expectativa.

– É claro – Heather sorriu e Mona se virou para mim.

– Acha que pode me esperar na sua casa? Eu prometo que assim que terminar aqui, vou para lá. E prometo também que te pago tudo o mais breve possível.

– Ei – segurei o rosto dela delicadamente, falando em um tom de voz mais baixo –, eu vou considerar uma ofensa se você continuar insistindo nisso, ouviu?

– Mas...

– Nada de "mas", Mona. Escute, considere isso como um presente. Por essa nova amizade. Pode fazer isso?

Ela não respondeu, mas sorriu timidamente, o que eu entendi por "tudo bem".

– Agora, por que quer que eu vá? – voltei a questioná-la.

– Porque... eu também quero ser capaz de te surpreender.

Mona me confessou aquilo em uma maturidade extrema, e de repente estava calma e me olhava nos olhos. Disse como se “me surpreender” fosse parte importante na elevação de sua autoestima. Sorri, percebendo como aquele tom de voz diferenciado mexera comigo, e entreguei a carteira nas mãos de Mona.

– Não faça cerimônias – beijei-a na testa. – Sei que você é capaz de sair daqui parecendo a Beyoncé.

Ela riu e eu me dirigi para fora dali.

Era entendível o porquê de Mona não se sentir confortável com a idea de gastar o dinheiro dos outros; ela tinha uma alma verdadeiramente humilde e eu admirava muito isso nela. Mas o que eu podia fazer? Minha mãe ganhava bem onde trabalhava e eu definitivamente não podia reclamar da mesada que ela me dava. Meu pai também sempre tivera uma boa condição financeira. Ele fugira para Anápolis e casara com uma mulher rica e viciada em bronzeamento artificial chamada Isabel, então a pensão que eu e minha mãe recebíamos dele era igualmente generosa.

Eu comprava com o dinheiro que era meu por direito tudo o que uma adolescente que tem Alison DiLaurentis em seu círculo social precisa, e se alguma coisa, por ventura, não tivesse a assinatura de um estilista francês, não contava – segundo Ali, é claro. Ainda assim, uma boa parte de tal dinheiro sobrava e, agora que eu tinha a chance de realmente ajudar alguém com isso, por que eu não aproveitaria?

Passei o entardecer assistindo Atividade Paranormal no sofá da sala com um pacote de Oreos entre as pernas cruzadas. Me sentia sozinha e de certa forma carente ali no andar de baixo então desliguei a tv e decidi matar o tempo em meu quarto.

Fazia mais ou menos uma hora e meia que havia deixado Mona nas mãos de Heather, e estava entediada. Minha mãe provavelmente iria trabalhar até mais tarde. O silêncio que dominava aquela casa era perturbador.

Talvez ligar para as garotas não fosse má ideia. Peguei o celular e deitei em minha cama. Havia uma chamada perdida de Emily e quatro de Spencer, sem contar uma mensagem de texto dela que dizia: Espanhol, Hanna. Você não esqueceu, esqueceu?

Praguejei mentalmente. Sim, havia esquecido. Aliás, quem é que se importava com uma língua estrangeira estando no ensino médio?

Levantei da cama, relutante, e catei entre os cadernos um texto impresso em duas folhas intitulado calentamiendo global: mitos y realidades. Voltei a me deitar, lendo em seguida, em slow motion, as duas primeiras linhas. Comecei a sentir meus olhos pesarem pouco depois, as letras começavam a se embaralhar. Eu não queria ler aquele texto idiota e combater o aquecimento global não era uma de minhas metas de vida.

Queria era que Mona voltasse. Eu não a imaginava transformada. Aliás, para mim não iria fazer diferença. Apenas a queria comigo. Queria também falar com Emily. Queria perguntar-lhe se ela se sentia como eu a respeito de Alison. Queria saber o que ela fazia para não enlouquecer, levando em conta que passávamos, todas nós, quase todos os dias junto de Alison. Queria contar a Emily sobre o momento em que Mona e eu nos beijamos e sobre como aquele ato me deixara plenamente feliz e segura de mim mesma.

Adormeci com o texto de espanhol em mãos, que gradualmente foi escorregando de meus dedos até cair no chão. Acordei suavemente, ainda que com o movimento de alguém sentando-se na beirada de minha cama. Abri os olhos, confusa, apoiando as mãos no colchão para ficar mais ereta, mas em seguida os arregalei e meus lábios curvaram-se em um sorriso largo.

– Mona! – exclamei, ainda em voz baixa. – Como você entrou?

– Sua mãe disse que eu tinha permissão para te acordar – ela respondeu, com a exata voz que tinha quando me dissera, horas atrás, que queria me surpreender.

Ela aparentava estar mais madura, mais confiante, tinha um olhar sereno e um leve sorriso esboçado nos lábios; e eu conseguia sentir que meu corpo reagia positivamente àquilo tudo.

Virei-me para olhar o relógio no criado-mudo, que marcava 7:35.

– Você demorou – murmurei, ainda sonolenta. Ela não tinha demorado, na verdade. Eu apenas... sentira saudade.

– Desculpe – disse ela, tirando minha carteira do bolso da saia jeans e me entregando-a em seguida. – Eu ainda me sinto mal por não te pagar, sabe...

– Ei – eu agarrei a mão esquerda de Mona. – Ofensa, esqueceu?

Ela baixou a cabeça, sorrindo timidamente outra vez.

– Eu não me importo com o quanto você gastou lá – continuei a assegurá-la, deslizando meu polegar pelas costas da mão dela. – Só me importo com como você se sente depois de ter saído de lá.

Mona apertou minha mão delicadamente e eu finalmente comecei a fita-la com mais atenção, sentindo agora também o aroma doce de spray de cabelo. Pude notar que ela havia hidratado e ondulado sutilmente os cabelos, que pareciam mais escuros devido a isso. Ela parecia também estar levemente maquiada, e um batom cor-de-cereja dava um destaque especial aos seus lábios, dos quais não consegui desprender os olhos por alguns segundos. Pisquei, na tentativa de manter os reflexos vivos.

– Uau, você está diferente – xinguei-me de estúpida depois de ter dito tal coisa. – Incrível também.

Mona sorriu, encabulada, porém agradeceu, como se pela primeira vez na vida não acreditasse no contrário.

Ficamos por um momento em silêncio. Ela deu vagarosamente a volta na cama e hesitou um pouco antes de se deitar ao meu lado, como fizera mais cedo naquela tarde.

Eu, de fato, estava diante de uma nova garota; embora ainda usando as mesmas meias brancas um pouco acima dos tornozelos, os mesmos tênis Converse gastos e a mesma saia jeans desbotada, ela estava sedutora. E o que proporcionava isso era a autoconfiança que ela parecia ter adquirido. Eu estava orgulhosa dela.

– Mona, o que acha de dormir aqui hoje? – a proposta escapou literalmente sem permissão. Não sabia o que ela poderia pensar depois de ouvir tal pergunta e me arrependi de tê-la feito segundos depois.

– Não trouxe pijama – ela comunicou-me o óbvio, ainda com um sorriso doce nos lábios avermelhados.

– Eu posso te emprestar um dos meus, se você não ligar para o fato de que todos eles são um pouco mais largos do que você.

Ela fez um sinal de negativo com a cabeça, convicta, querendo dizer que não se importava. Me senti aliviada.


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