Marinwaal escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 3
Estou com você




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Acordei, no dia seguinte, com a mesma grande sensação de felicidade que havia me dominado no dia anterior. Ajudar alguém nunca fora tão gratificante! Se bem que eu não me lembrava de já ter ajudado alguém realmente antes. Mona era meu divisor de águas.

Sentia que estava principiando com ela uma amizade diferente da que eu tinha com as outras meninas. Eu as adorava, sim, mas talvez elas nunca fossem me entender realmente. Elas eram todas lindas e desejáveis. Eu não. E Mona se parecia comigo nesse aspecto em particular. Ela era imperfeita; e sabia, como eu, perfeitamente como era ser julgada erroneamente por conta disso.

Sentia que acolhera e fora acolhida por uma renegada.

Mona e eu não tivemos aulas juntas antes do almoço, porém eu a havia visto transitar pelos corredores da escola algumas vezes naquela manhã. Ela estava sempre abraçada a dois ou três livros, alguns didáticos e outros próprios para leitura, e toda vez que me via, mostrava os dentes em um sorriso. Ela parecia tão feliz que eu não conseguia evitar e acabava sorrindo também. Eram sorrisos tão verdadeiros e contagiantes que faziam eu me perguntar por que diabos eu não havia feito algo antes para merece-los.

Em tais momentos, eu estava sempre colada a Aria, Emily ou Spencer – quando não as três juntas –, que assistiam à cena peculiar com os cantos dos olhos. Não perguntavam nada, apenas se entreolhavam com as sobrancelhas arqueadas, talvez tentando decifrar desde quando aquilo acontecia e por que começara a acontecer. Eu não sentia a necessidade de explicar.

Não havia cruzado com Alison até antes do almoço. Dei graças aos céus por isso. Sabia que não conseguiria olhá-la nos olhos devido à tamanha repulsa que ela andava me provocando nesses últimos tempos, e não era como se eu pudesse dizer a ela algo como “de uma vez por todas, pare de pegar no pé de quem é desprovido de uma beleza como a sua, e isso é uma ordem!”. Ela riria de mim, em primeiro lugar, e esse não seria o maior problema que eu arranjaria com ela. Na verdade, eu tinha medo do que ela poderia ser capaz de fazer comigo se eu ousasse desafiá-la daquela maneira.

Eu fiz você, e posso te destruir num estalar de dedos. Eu não me lembrava de qual filme era tal frase, porém não parava de mentalizar Alison proferindo-a, com um olhar cheio de fúria que, certamente, me causaria pesadelos.

Preciso fazer alguma coisa, dizia a mim mesma, remexendo tristemente a comida com um garfo. Isso não pode ficar do jeito que está. Quem ela pensa que é?

Estava sozinha à mesa até o momento. As garfadas não tinham gosto algum. Meu estômago estava embrulhado. Buscava Mona com os olhos pelo refeitório sem sucesso. Estava começando a ficar preocupada, ainda que sem uma razão aparente para isso.

Aria, Emily e Spencer se juntaram a mim simultaneamente. Olhei para as três.

– Onde está Alison? – indaguei, nervosa.

– Ora, você a conhece – disse Aria em tom despreocupado, ajeitando-se em um dos bancos.

– Ela acha chique chegar atrasada – completou Spencer.

E, de fato, dez minutos depois, quando já estávamos com nossos pratos praticamente vazios, Ali resolveu dar as caras. Cumprimentou-nos e justificou o atraso alegando que havia uma fila supostamente quilométrica no banheiro feminino. Revirei os olhos. Ela sempre tinha uma justificativa na ponta da língua e conseguia dramatizar sobre aquilo de uma forma irritante.

Senti meus ombros relaxarem quando avistei Mona caminhando com sua bandeja em mãos, à procura de uma mesa. Sorri involuntariamente e, assim que ela me viu fazendo-o, veio em direção à nossa mesa.

– Olá, meninas – disse ela, animada. – Hanna.

Senti minhas bochechas esquentarem levemente. Havia uma atenção especial ali para mim. Acenei, porém sem dizer nada.

– Hanna, não a encoraje – Alison cochichou ao meu ouvido, porém depois se dirigiu a todas. – Talvez se ficarmos quietas, a coisa vá embora.

Meus olhos arregalaram-se assim que ouvi aquelas palavras. Estava claro que Alison queria ser ouvida. O sorriso evaporou dos lábios de Mona, mas era como se ela já estivesse esperando tal reação. Porém eu não estava. Uma coisa era Alison falar mal de alguém pelas costas, mas ali, diante dos olhos de Mona, era óbvio que a única coisa que ela queria era machucar a garota, como uma autêntica pessoa . Nunca antes ela havia atingido tal nível. Queria me pronunciar porém as palavras não saíam.

Mona nos dava as costas, calada, quando tropeçou em algo, e o barulho de sua bandeja atingindo o chão foi suficiente para calar aquele refeitório por completo; apenas por alguns segundos, é claro, porque depois, tudo o que conseguíamos ouvir eram risadinhas dispersas, a de Alison inclusa.

Mona permaneceu imóvel por algum tempo, de joelhos no piso frio e com a cabeça baixa, como se o peso de todos aqueles olhares sobre si fosse demais para ela poder levantar o seu próprio. Parecia lutar para conter o choro.

Uma lágrima já descia por meu rosto. Eu entendia perfeitamente aquele tipo de humilhação.

– Isso foi a gota d’água, Alison! – gritei, espalmando as mãos sobre a mesa antes de ir ao encontro de Mona.

– Não olhe para mim assim! – Alison defendeu-se. – Não tive nada a ver com isso. Não tenho culpa se ela é assim tão desajeitada.

Mas eu não estava mais ouvindo-a. Ajoelhei-me à frente de Mona e ofereci a ela minhas mãos.

– Está tudo bem – sussurrei para ela, ajudando-a a ficar de pé. – Está tudo bem, eu estou com você. Não olhe para eles.

Com um braço percorrendo as costas da moreninha, caminhei junto dela para pegarmos outra bandeja.

Muitos dos olhares ainda continuavam em nós, porém eu não me importava nem um pouco. Meu pensamento estava focado unicamente em Mona e em como eu ansiava fazê-la se sentir melhor.

– Não olhe para eles – repeti, beijando-lhe a testa.

Ela não olhava, porém seu lábio inferior tremia, como se ela fosse começar a soluçar a qualquer momento. Parecia perguntar-se internamente “por que comigo?”.

Sentamos em uma mesa vazia, apenas Mona e eu, depois de termos saído da fila para pegar o almoço outra vez. Ela não tocou na comida, apenas manteve a cabeça em meu ombro, o olhar vago, porém sereno. Meu braço direito acariciava delicadamente suas costas.

Depois de um tempo, avistei Aria, Emily e Spencer caminhando em nossa direção. Elas haviam deixado Alison sozinha. Fiquei feliz com aquilo. Era sinal de que elas eram minhas amigas de verdade.

– Viemos saber como você está – Aria fitava Mona um tanto sem jeito, porém com sua expressão usual, doce.

– E te devolver isso – completou Emily, estendendo para Mona a mochila que ela havia deixado no chão.

Mona murmurou um “obrigada”, colocando a mochila em seu colo.

– E eu estou bem, graças a Hanna – ela foi de encontro aos meus olhos e sorriu, parecendo cansada.

Eu retribui o gesto antes de pronunciar, feliz:

– Pessoal, Mona é uma nova amiga minha. E gostaria muito que fosse de vocês também – olhei para as três, que sorriam, e em seguida para Mona, que assentiu. Chequei também a mesa mais ao fundo, a que nós havíamos deixado. – Isso não inclui Alison.


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