Parola escrita por


Capítulo 9
Canción de Cuna


Notas iniciais do capítulo

Ahoy, marujos! Espero que estejam gostando da história até aqui, muito obrigada pelos comentários, mps, favoritos e etc! Nosso navio está cada vez mais tripulado e eu devo tudo a vocês! A música de hoje é https://www.youtube.com/watch?v=wY1fUAPYH3M em homenagem aos shipmates Ben e Owen! Ah, a tradução do título é "canção de ninar", mas com um sentido mais profundo: a palavra cuna, além de berço, pode ser traduzida como família ou lar.



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As mãos de Owen tremiam, ele não as usava havia um longo tempo. Os pequenos gemidos de Maya ecoavam fantasmagoricamente pelo porão, mesmo após Benjamin suplicar por silêncio: se alguém os descobrisse coisas terríveis aconteceriam. O ferimento parecia simples para Owen, nada que ele nunca havia feito antes, mesmo se tratando de uma região delicada. O maior risco era uma infecção.

Durante anos de sua vida, Owen havia vivido com seu pai, o cirurgião da pequena vila inglesa onde moravam. Enquanto crescia, o garoto aprendeu o ofício de seu pai, implementando técnicas mais modernas. Naquela época, seu pai indignou-se quando ele trocou o método de cauterização pelas suturas de pele de viado, mas ali, no Sangue, Owen agradecia pela experiência que acumulou com tais técnicas. Os únicos recursos de primeiros socorros que Benjamin pôde encontrar foram algumas linhas de seda, uma grossa agulha metálica e ópio.

Maya protestou contra o uso do ópio por uma hora inteira, mas o ferimento piorava e ela perdia muito sangue, depois de mais alguns minutos ela cedeu ao uso da droga como anestesia. Benjamin segurava os braços da moça contra o chão, enquanto Owen se preparava para limpar o ferimento. Com cuidado, retirou a blusa que a jovem vestia, empapada de sangue, Benjamin desviou o olhar, corando, quando Owen começou a desenrolar as faixas que ela trazia enroladas sobre si. O médico sorriu brevemente, mas então recobrou a sua postura séria. Derramou uma bebida transparente, encontrada nos aposentos do capitão, sobre o corte. Secou com um pedaço de pano e uniu as duas extremidades da ferida. Um tremor percorreu o corpo da paciente, mesmo sob efeito do ópio aquilo era doloroso. O loiro deslizou uma agulha pela primeira vez em anos. Alguns minutos depois a sutura estava pronta.

Os rapazes deixaram a moça descansar pelo resto da madrugada. Com pesar, Benjamin algemou o companheiro novamente. Tirou a sua camisa branca, encardida pelos anos no mar, e vestiu a garota. Sacou a sua flauta e subiu para o convés, dando de cara com um Túlio desesperado.

— Por onde você esteve? Onde está Diego? — Ele falava alto, quase gritando. Seu rosto estava coberto de pólvora e o seu cabelo desgrenhado. Uma barba por fazer cobria seu maxilar e gotas de suor escorriam por sua têmpora. Ele parecia atordoado.

— Eu o vi faz pouco tempo. — Disse Benjamin, não era bem uma mentira.— Ele disse que queria ficar sozinho e que iria beber para comemorar a vitória.

Túlio pareceu acalmar-se um pouco, mas ainda queria saber onde estava a irmã. Essa atitude não se parecia com Maya. Porém, ele havia mudado durante os dias que passara no navio, quem garantia que o mesmo não havia acontecido com a irmã? Túlio foi se deitar, a morte do prisioneiro não pesava mais em suas costas e isso começava a o preocupar. Estaria ele se tornando um pirata genuíno? Talvez isso fosse uma coisa boa, mas ele não poderia se dar ao luxo de criar raízes. Sua irmã não estava segura e ele jamais poderia abandoná-la.

O balanço do navio pirata e o som do mar soavam como uma canção de ninar nunca antes ouvida, os olhos de Túlio começavam a pesar e nada mais parecia incomodá-lo. O cheiro da maresia acariciava suas narinas e o calor do aposento lhe parecia reconfortante. Ele havia nascido para essa vida.

☠☠☠

Maya despertou esfregando os olhos. Ao invés da camisa negra de Túlio, ela vestia uma branca muito maior do que ela, as faixas que a escondiam não estavam mais tão apertadas como da última vez, por um instante ela teve medo do que poderia ter acontecido. Tentou se levantar, mas sentiu uma fisgada de dor em sua barriga. Ela havia se esquecido do maldito corte.

— Vai com calma, milady. — A voz de Owen vinha do seu lugar habitual.— Você acabou de ser costurada, não estrague o meu trabalho.

A garota revirou os olhos. Com muito esforço conseguiu se sentar, com as costas apoiadas em um barril. Encarou o prisioneiro por um momento. Ele parecia cansado, mas sorria.

— Onde você aprendeu a fazer isso? — Maya perguntou, hesitante. Ela não sabia se deveria puxar assunto com Owen, mas o silêncio a incomodava.

— Isso o quê?— Ele levantou uma sobrancelha ao perceber que o interesse era genuíno.

— Cuidar das pessoas... como um... cirurgião? — Ela perguntou, fazendo algumas caretas. O efeito do ópio passava e ela começava a sentir as dores do ferimento.

— Sim, eu era cirurgião no meu antigo navio. — Seus olhos brilhavam ao responder.— Eu era um corsário, milady. You know, as coisas podiam ficar feias quando homens e mosquetes se encontravam.

— Foi assim que você foi parar no Holandês? — A moça indagou casualmente. Claro que ela estava curiosa, mas não queria que ele soubesse.

— Nosso navio foi interceptado pelo Holandês ao atravessarmos o Cabo de Sheppard. Nós não sabíamos a respeito do sacrifício obrigatório, não éramos piratas de verdade, só alguns idiotas com um barco.— Ele riu secamente.— Não deveríamos estar falando sobre isso, milady. O que a traz a um navio pirata?

— Oportunidade.— Sua voz era firme e amargurada, Maya começava a se arrepender por suas escolhas.— Eu estava cansada de ser uma ladra, rata de rua, engañosa. Se tudo correr bem, eu e Túlio, o meu irmão, começaremos uma vida nova.— Ela se agarrava a essa ideia com esperança.

— E se não correr bem?— Owen perguntou, inclinando a cabeça para vê-la melhor. Ela parecia frágil, como uma delicada peça de porcelana. Maya poderia ser facilmente subestimada, ninguém imaginaria a grande ambição escondida atrás de seus profundos olhos verdes. Ela pensou por um momento, antes de responder.

— Eu só espero que Túlio fique bem. Ele não merece morrer pelos meus atos, seja o que for que aconteça comigo, não quero que ele seja afetado. Eu escolhi esse destino e o arrastei comigo, nada mais justo do que eu afundar enquanto ele se salva.

Owen assentiu com a cabeça, momentos depois Benjamin chegou, trazendo água e comida. O saque ao navio português havia rendido aos bucaneiros mais suprimentos, além de uma variedade maior no cardápio. Maya mordeu um pedaço de pão preto, enquanto sardinhas eram oferecidas a Owen.

— Como se sente?— O rapaz moreno perguntou, parecendo preocupado.

— Uma porcaria, mas vou sobreviver.— Ela respondeu, sorrindo.— Pelo menos agora eu estou um pouquinho mais rica. Quanto cada um vai receber, dez libras?— Maya disse ironicamente, provavelmente o saque seria muito menor que o estimado.

— Cento e cinquenta libras.— Benjamin a corrigiu, Owen assobiou e então riu da expressão embasbacada da moça. Isso era muito mais do que ela já havia ganhado em toda a sua vida.

Começou a entender o porquê de tantos homens se juntarem àquela vida bucaneira. Preparava-se para dizer isso quando ouviu algo se chocando contra o navio, que balançou perigosamente. O som se repetiu novamente, vindo do lado oposto. Algo estava errado. A madeira velha do porão parecia prestes a ceder, a água começava a se infiltrar por pequenas frestas. Benjamin subiu ao convés e voltou, minutos mais tarde.

— Espero que vocês não tenham medo de serpentes.


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Notas finais do capítulo

Aye, marujos, espero que tenham gostado! Aparentemente, teremos muitas emoções no próximo capítulo... Comentem, perguntem, discutam, estou aberta para diálogos! ☠