Parola escrita por


Capítulo 16
Hasta el fin de mi vida


Notas iniciais do capítulo

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Os pés descalços da garota tocavam o frio assoalho do convés, abrindo caminho entre os marujos, rumo aos canhões. As batidas do seu coração ecoavam em seus ouvidos, seus olhos estavam cegos pelas lágrimas e seu único guia era Casto, que a puxava grosseiramente pelo braço direito. O vestido comprido se prendia às frestas da madeira, fazendo com que ela tropeçasse a cada cinco passos, mas ela mantinha sua cabeça erguida. Alguns dos homens riam, gritavam ofensas ou falsos galanteios, embora a maioria fizesse silêncio. Pelo canto do olho Maya viu Benjamin acompanhar seus passos, atrás de uma fileira de homens. Sua expressão era tensa e suor descia por sua testa.

Silenciosamente, Maya admirou o fato de que ele, praticamente um desconhecido, era mais leal a ela que o próprio irmão. Ainda não se conformava com tamanha traição, embora uma pequena parte de seu coração tivesse esperanças de que ele a salvaria. Enquanto o capitão a obrigava a se debruçar sobre o canhão do meio, devaneios invadiam sua mente: Túlio sacava uma bela rapieira, lutava contra o capitão e a salvava.

Mas nada disso acontecia de verdade. A corda apertava seus pulsos, o ferro tinha uma sensação gelada ao tocar a sua pele, o cheiro forte da pólvora queimava seu nariz. Suas costas nuas arrepiaram-se ao sentir o toque do capitão, que as acariciava com suas mãos ásperas e secas.

Uma mistura de medo e náusea tomou conta da moça, que não sabia o que aconteceria a seguir. Ela fechou os seus olhos, respirou fundo e esperou.

☠☠☠

Uma chibatada. A dor cortante queimou em suas costas, seguida por uma sensação de latência.

Duas chibatadas. Lágrimas escorriam por seu rosto, seu maxilar estava travado.

Três chibatadas. Apesar da dor física, ela só conseguia pensar na dor emocional. Onde estaria Túlio?

Quatro chibatadas. O sangue escorrendo fazia cócegas em sua pele.

Cinco chibatadas. Abriu seus olhos de esmeralda e contemplou o céu estrelado. A lua sempre havia sido tão bonita?

Trinta e sete chibatas. Esses gritos eram seus?

Quarenta e três chibatadas. A voz de Benjamin soava como um coral de anjos.

– Avast! Casto, você vai matá-la!– O rapaz gritou, se colocando entre Maya e o chicote, que acertou-lhe o braço. Benjamin ignorou a dor, encarando firmemente o capitão. Uma risada de escárnio ecoou, seguida por muitas outras

– Benjamin, você é um pirata, não um herói. Saia daí, ainda temos cento e cinquenta e sete chibatas por vir– ele levou um dedo aos lábios, pensativo– ou seriam cento e cinquenta e oito? Bem, teremos de começar de novo.

Benjamin permaneceu imóvel, Maya gemia de dor, ainda sobre o canhão. A expressão do capitão enrijeceu.

– Ousa me desafiar?– O capitão provocou.– Não seja tolo, rapaz. Não há lugar para heróis nessa tripulação.

Casto deu um passo na direção do jovem que o desafiava e sacou sua espada, apontando-a para o rosto do rapaz.

– Quer terminar como o seu papai?– O capitão riu mais uma vez, acompanhado por alguns dos seus homens. Zaki pegou Benjamin pelos cabelos, colocando uma faca em seu pescoço. Casto voltou-se para Maya, chicoteando-a mais. Agora, as chicotadas eram mais rápidas e cruéis.Ben tentou lutar contra o domínio do imediato, sem sucesso.

Maya urrava de dor, lágrimas e suor se misturavam em sua face, seus cabelos estavam molhados e o suntuoso vestido encharcado de sangue. Alguns minutos se passaram assim, até que a jovem mergulhou na mais profunda escuridão.

☠☠☠

Abriu seus olhos pouco tempo depois. Surpreendeu-se aliviada: suas mãos não mais estavam atadas. Ela estava jogada no chão do convés, seu rosto junto ao chão. A dor em suas costas era fustigante, queimava e latejava. Ela sentia o sangue esvair-se de seu corpo e perguntava-se quanto tempo mais aguentaria. Abriu os olhos lentamente, com medo do que pudesse estar esperando por ela. Ainda era noite, a lua prateada ainda banhava o convés, os homens ainda a observavam. O mar agora agitava-se, borrifos de água salgada atingiam seu corpo e faziam suas feridas ainda piores. Maya rangia os dentes de dor, sua garganta já não aguentava mais gritar.

Um par de botas caminhou em sua direção. Um par de mãos a levantaram para que ela olhasse no fundo de um par de olhos frios. Dourados. Suas pernas bambas a sustentaram precariamente, uma confusão de débeis pensamentos desalinhados pela dor tomava conta da sua mente. Ela deveria se sentir grata ou assustada com a presença do irmão? Era impossível dizer. Maya tentou percorrer as lembranças boas, tentou-se agarrar ao amor que sentia pelo irmão. Ele era o seu Sol, não era? Durante todos os anos de sua vida Túlio havia estado ao seu lado, havia a protegido, sustentado. Em meio a tanta pobreza, o amor dos dois havia bastado. Esse sentimento havia mudado?

Não. Maya amava Túlio com todas as forças que ainda restavam. Ela confiaria nele. Sorriu vacilante, seus olhos verdes encheram-se de esperança.

Mas Túlio era implacável. Tudo o que ele conseguia sentir, olhando nos olhos da irmã, era o cheiro da sereia. Ele delirava ao pensar em todas aquelas promessas. Estava cego pela ambição. Perdia-se no mar dos olhos dela, imaginava-se velejando em seu próprio navio, poderoso, temido. Ele poderia se tornar o rei de todos os piratas, mas sacrifícios precisavam ser feitos.

À luz da lua cheia, perder a irmã parecia pouco em comparação a o que o futuro reservava. Homens haviam perdido muito mais por muito menos. Ele seria grande, o maior. O que ele havia sido com Maya? Um rato, fugitivo, miserável. Ela era um atraso, uma barreira a ser transposta.

Ele a pegou no colo, ela não tirou os olhos dos seus. Pobre Maya, estava cega pela segurança que o irmão a oferecia. Não notou o corpo de Benjamin que debatia-se no chão ao seu lado, com a boca amordaçada. Descansou sem olhar para nada além de Túlio. A brisa oceânica acariciava o seu corpo castigado, o amor remendava o seu coração. Finalmente ele havia recobrado a consciência, finalmente percebeu o quanto a relação que os unia era importante. A emoção era tanta que Maya não percebeu que os braços do irmão eram tudo o que havia entre ela e uma morte terrível.

Te amaré hasta el fin de mi vida, mi Sol.– Ela sussurrou, as lágrimas voltavam a molhar seus olhos.

Mas, para o terror da garota, o que veio em seguida foi a pior resposta possível. Súbita e silenciosamente, Túlio a atirou no mar.


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Notas finais do capítulo

Muuuuuuuuuuuuuito obrigada a todos que chegaram até aqui!