Parola escrita por


Capítulo 15
A Rainha das Condenadas


Notas iniciais do capítulo

AHOOOOOOOY GENTE! Como é bom estar de volta! Então, cof cof, eu sei que era proibido postar o capítulo de avisos, mas pior seria deixar vocês no escuro, né? Resolvi postar hoje, na sexta, pra diminuir a saudade que eu senti! Então é isso, obrigada pelo carinho



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Os joelhos de Maya tremiam e suas pernas fraquejavam. Levantou-se, primeiro sobre os joelhos e só então completamente. Ela não se daria por vencida tão facilmente, se render não fazia parte de sua natureza. Durante toda sua vida ela lutara pela sobrevivência e dessa vez não seria diferente.

Ergueu sua cabeça e olhou fundo nos olhos duros do capitão. Travou o seu maxilar e forçou os seus ombros para trás. Sua postura ereta poderia ter pertencido a um soldado ou a uma rainha, mas era a rata de rua quem ostentava tamanha altivez.

Rostos perplexos a encaravam, olhares a julgavam, mas nenhuma palavra era dita. Zaki aproximou-se cautelosamente, pegando-a pelos braços. Suas fortes mãos calejadas apertavam os braços da menina, que se pôs a andar, assinalando que conhecia muito bem o caminho.

Ela não pensou no que aconteceria a seguir, não se importou com a expressão contrariada de Casto, não ligou para a tensão palpável no ar. Naquele momento, caminhando para o seu pior pesadelo, Maya só conseguia pensar em seu irmão. O que aconteceria com ele agora que ela havia sido descoberta? Um sentimento doentio de satisfação egoísta a acometeu: se algo acontecesse a ela, ele provavelmente seria punido igualmente. Ele, ela ponderou, finalmente entenderia que eles estavam juntos nessa.

Mas, tão subitamente quanto veio, esse sentimento se foi, dando lugar a uma culpa profunda. Túlio corria perigo e a culpa era toda dela. Maya não havia apenas colocado sua vida em risco, mas também a da pessoa que ela mais amava em todo o mundo, sua única família. A moça estremeceu com esse pensamento, mas tentou se conter para não demonstrar fraqueza. Correu os olhos pelo cômodo uma última vez, em busca de um par de olhos dourados, mas se decepcionou. Estacionou o olhar em Trad e Po uma última vez, surpreendendo-se ao notar a pena escancarada em seus rostos.

Marchou em direção à cabine. Zaki a segurava pelos cotovelos, impondo sua presença, mas o capitão tentava ser o mais silencioso possível, embora hora ou outra sua tosse lembrasse a todos de que ele ainda estava ali.

A mente de Maya trabalhava freneticamente, buscando uma solução, um plano ou uma fórmula para evitar seja lá o que viesse pela frente. A porta que levava à cabine estava entreaberta e mostrava parte de um interior diferente de tudo aquilo que o resto do navio exibia.

Um papel de parede desgastado recobria a madeira e trazia arabescos brancos sobre um fundo vermelho desbotado. Quadros e tapeçarias cobriam as paredes, exibindo versões mais novas do capitão cercado por suas posses: dobrões ou objetos em geral feitos de ouro, tapetes, esculturas, pássaros exóticos, armas rebuscadas e mulheres nuas. Uma escrivaninha trazia pilhas de papéis, mapas e instrumentos náuticos, enquanto uma mesa de madeira lustrosa tinha cálices e pratos vazios. Um bar era composto por dezenas de garrafas com líquidos variados.

Maya se assustou com o som da porta fechando atrás de si. Zaki a havia conduzido até a mesa de jantar, ordenou que ela se sentasse e saiu, deixando-a na companhia do temido capitão.

Casto pegou uma garrafa que continha um líquido castanho, retirou a sua tampa e despejou a bebida em dois dos cálices sobre a mesa.

– Beba– disse ele, antes de tomar um longo gole e sentar-se à cabeceira. Maya permaneceu imóvel.

O capitão tirou uma de suas pistolas do coldre e a colocou em cima da mesa.

– Foi uma ordem.– Grunhiu ele, impaciente. Maya levou seu cálice à boca e bebericou a bebida. Sentiu o álcool queimar sua garganta seca, mas seu rosto permaneceu imóvel. Alguns minutos se passaram e tudo o que o capitão fazia era observar, hora ou outra ele bebia um longo gole da bebida, sempre em silêncio. Até mesmo a sua tosse característica havia parado.

– Levante-se.– Casto ordenou, em uma voz profunda, quase gutural. Maya tremeu, exitando. Alguns segundos se passaram até que o próprio Capitão se levantou e a puxou de sua cadeira.

Maya se viu encarando o seu pior medo. Ao olhar fundo nos olhos do homem, Maya se sentia envolta em morte. Era como se afogar no oceano gelado, o sal cegando seus olhos, seus pulmões queimando, implorando pelo ar da superfície. Sentia o medo penetrar sua pele como milhares de agulhas envenenadas, centenas de vermes roendo suas entranhas. Mas então tudo isso passou, pois atrás de si, da direção da porta, vinha uma voz familiar.

– Tudo pronto, Capitão.– Era Túlio. Maya virou-se para encará-lo, a esperança clara em seu olhar. Mas o irmão não a encarava de volta, em vez disso, fitava o chão. Ele trazia o baú do porão, o mesmo de onde a irmã tirara o mapa. Depositou-o no chão.

– Aye, já estamos indo.– Casto respondeu, dispensando Túlio com um gesto. E ele se foi, batendo a porta atrás de si. Maya estava chocada. Como Túlio pôde vê-la naquela situação e omitir-se? O garoto estava mesmo mudado. Agora, nem a própria irmã o reconhecia. Casto voltou a fitá-la.

– Tire suas roupas.– Ele disse, atravessando a cabine na direção do baú. Maya começou a chorar, balançando a cabeça negativamente. Ela não faria isso, preferiria morrer a se entregar assim. Mas o Capitão tirou a segunda pistola do coldre e a apontou para a moça. Ela não tinha escolha.

Lentamente e aos prantos, Maya tirou a camisa de Benjamin. Perguntou-se onde estaria ele. Será que ele se importava com o que estava acontecendo? Depois, Maya tirou suas botas e em seguida as calças, nunca havia se sentido tão humilhada. Por último, começou a desenrolar as suas faixas quando algo caiu. O mapa.

O homem marcado por cicatrizes pegou o objeto, analisando-o por alguns segundos, o reconhecimento estampado em seu rosto. Era como se o mapa fosse algo muito importante, esquecido com o tempo. Ele caminhou até sua escrivaninha e trancou o mapa em uma gaveta. Voltou para onde estava e abriu o baú, tirando do mesmo o vestido empoeirado.

Era uma peça bonita, finamente bordada, rendada e tecida. O tecido verde brilhava apesar de toda a poeira e um grande decote contornado por pérolas exibia as costas. Mas toda a beleza era esquecida ao notar-se as manchas de sangue seco que espalhavam-se por toda parte.

– Vista-se, minha querida, tenho uma surpresa para você.– O homem sussurrou no ouvido da menina.

☠☠☠

A lua cheia prateava o convés e a brisa marítima soprava com cheiro de maresia. Observando da penumbra, dezenas de homens imaginavam qual seria o fim da maruja recém-descoberta. Entre eles estava Túlio.

Ele sentia-se forte, poderoso, mas ao mesmo tempo o remorso fustigava-lhe a alma. Ele sabia o que teria de fazer, mas seria capaz disso? Não havia lugar para traidores naquela tripulação, ele precisava ir até o fim. Em breve Túlio precisaria provar que merecia fazer parte da tripulação, mas isso significaria trair a própria irmã.

Benjamin soubera do ocorrido depois que Maya havia sido levada para a cabine do capitão. Desde então ele tentara maquinar um plano para salvá-la, mas não conseguira. Não adiantaria usar a força. Um homem nunca conseguiria ir contra uma tripulação. Mesmo Owen, que nada podia fazer acorrentado, tentava pensar em uma solução.

A porta da cabine se abriu e o capitão Casto saiu de lá, arrastando Maya pelo braço. O coração de Ben deu um salto. Em parte pelo alívio de vê-la viva, mas também pela beleza que ela exibia. Usava o vestido verde e um colar de pérolas, seus olhos brilhavam como esmeraldas, embora estivessem inchados graças ao choro, lembrando que ela era a rainha das condenadas. O olhar da garota vasculhava a multidão, em busca de um rosto amigo, e se demoraram ao encontrar Benjamin. Maya pareceu mais relaxada, mas não durou muito.

A onda de murmúrios que enchia o convés deu lugar a um silêncio mortal, quebrado apenas pelos sons do mar agitado se chocando contra o casco.

– Preparem um canhão, nossa Maya está pronta para beijá-lo.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu achei t-e-r-r-í-v-e-l ficar sem comunicação com vocês, até tive que fazer aquele post de avisos. O que vocês acham de um grupo no whatsapp? Deixem as suas opiniões nos reviews e eu vou pensar no caso, ok?