Parola escrita por


Capítulo 12
Promessas que o seu coração fez


Notas iniciais do capítulo

Ahoy marujada! Muito obrigada a tooooooodos que leram, comentaram, favoritaram, recomendaram (e mais um tanto de aram) até aqui! O nosso navio continua e esse capítulo é pra quem adora uma sereia! Sobre a música de hoje: sim, é de um desenho haha https://www.youtube.com/watch?v=5zKKOl0riqA Mas eu achei que combinou bastante! Enfim, é isso espero que gostem do capítulo!



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Coloridas e escamosas, com filamentos ou tentáculos, as mais diversas caudas brilhavam refletindo a luz emanada pela lua. Finas membranas conectavam os seus dedos e finos arabescos estampavam os seus corpos. Os seus adornos preciosos tilintavam conforme elas se moviam lentamente no ritmo enebriante de suas vozes. Pequenas escamas transparentes, quase imperceptíveis, cobriam os braços e o tronco das belas criaturas. Essas escamas assumiam tonalidades variadas próximas às costelas e seios. Seus cabelos possuíam pequenas tranças ou penteados discretos, adornados com elementos tais como conchas e dentes. Seus olhos não brilhavam, mas o som que fluía de suas bocas era vivo. As sereias dançavam suavemente, fechavam seus olhos como se experimentassem de um êxtase profundo. Sua canção se intensificava. As pequenas formas que flutuavam abaixo giravam na água. O mar se acalmava progressivamente, embora os enormes rochedos ainda representassem um perigo em potencial.

O Sangue serpenteava por entre os enormes montes de pedra, as mulheres esticavam seus braços como se pretendessem tocar o casco do navio. Olhando mais atentamente, Maya percebeu, reprimindo um grito de horror, que as bases dos rochedos estavam cobertas de ossos e carne apodrecida. Uma mulher-peixe chamou sua atenção. Seus longos fios loiros cascateavam em um aglomerado de cachos e tranças finas, sua cauda era de um tom azul-acinzentado, longa e escamosa. Ela não cantava, parecia mais interessada em revirar uma massa constituída de restos mortais e roupas. Maya viu, atônita, quando a sereia singular encontrou uma adaga. Observando o seu reflexo, a loira deixou que lágrimas escorressem por sua face. Atirou a adaga longe, em algum lugar do oceano, e se juntou às irmãs para a canção mortal.

Maya se assustou quando uma mão pousou em seu ombro. Se virou com um pulo, desembainhando a adaga que trazia sempre junto a si. Mas seu uso não foi necessário. Benjamin estendeu para ela duas bolinhas de algodão e cera, que formavam tampões grudentos para os ouvidos. Ele já usava os seus. Fazendo uma cara de nojo, Maya colocou os tais tampões, decidindo não argumentar que não precisava deles. O encanto das sereias só parecia funcionar com os homens. Pouco a pouco, os marujos que acordavam eram atraídos ao convés do navio. Se debruçavam sobre a amurada, fascinados pelas maravilhosas mulheres que clamavam logo abaixo. Eles queriam se jogar, nadar até elas, receber o seu amor. Mas logo um companheiro lhes estendia as bolas de algodão e o encanto estava quebrado.

Túlio foi acordado de seu sono com a sensação de familiaridade. Sem vestir sua camisa ou calçar os seus sapatos ele avançou escada a cima, o sentimento se tornando cada vez mais forte. A madeira velha rangia sob seus pés, mas o único som que ele parecia ouvir era a voz de sua mãe. Não era como ele se lembrava, apagada pelo tempo. Era nítida, viva. Ele tinha certeza de que a encontraria.

— Eu sabia que você conseguiria, filho, estou tão orgulhosa!— A voz transbordava felicidade, mas Túlio ainda não havia encontrado sua mãe. Estaria ela lá em baixo, na água? Ele andou em direção à amurada.

— Finalmente encontrou o seu caminho, o seu lar. Você será grande, Túlio. Você terá o seu próprio navio, será o pirata mais temido que já existiu.— Ela insistia, à medida que Túlio se aproximava.

— Nunca mais passará fome, você terá a riqueza de um rei, sem ter que dividi-la com ninguém.— O mundo parecia ter parado, nada acontecia ao seu redor. Eram só eles dois, Túlio e sua mãe.

— Mas, e Maya?— Ele perguntou, por impulso.

— Ela é só um atraso, filho. Você é o único que importa.— Ela cantarolou, suavemente. Túlio alcançou a borda do navio. Vasculhou a água abaixo em busca de sua mãe, mas a única pessoa que ele via era uma mulher de pele negra e cabelos cacheados. Nunca em toda a sua vida ele havia visto uma mulher tão bonita. Seu corpo brilhava mais que o normal e, mesmo com a distância, seu cheiro o envolveu como uma névoa. Pesados brincos de ouro cobriam suas orelhas, um colar de diamantes brilhava em seu pescoço e ela o olhava fixamente.

— Venha comigo, Túlio, eu eu lhe farei rei dos bucaneiros.— Não era mais sua mãe falando, mas a nova voz era igualmente atrativa, embora possuísse um toque provocante. Túlio não pensava em nada além das promessas que ela lhe fazia, do seu cheiro de flores, maresia e pimenta. Subiu sobre a amurada, se preparando para pular. As ondas borrifavam água salgada em seu rosto, mas ele não se importava. Tomou um impulso e pulou.

Foi quando Maya o agarrou, ajudada por Benjamin. Ele foi arrastado de volta para o convés principal, enquanto a sua sedutora chamava preguiçosamente pelo seu nome.

— Mate-a, Túlio, ela não quer o seu bem. Ela só se preocupa consigo mesma. Mate-a e venha comigo.— A voz da sereia ecoava em seus ouvidos. Ele se debatia, queria chegar até ela, mas Benjamin não o soltava. Po chegou trazendo cordas e, depois de alguns minutos, eles o amarraram ao navio. Maya colocou os tampões delicadamente nas orelhas do irmão, mesmo que este houvesse tentado impedi-la. Alguns minutos depois, Túlio já havia se aquietado.

Quando a última sereia já havia sido deixada para trás, os homens tiraram suas proteções, mas continuaram calados. O capitão Casto foi o primeiro a quebrar o silêncio, como era de costume, mas o que ele disse fez com que todos os pelos do corpo de Túlio se arrepiassem.

— Demônias,— ele pareceu fungar— elas só nos dizem o que queremos ouvir.

☠☠☠

Maya não voltou para sua cama. A ação daquela noite provavelmente a faria ter pesadelos. Ela, que sempre fora cética, estava revendo os seus conceitos a cada nova intempérie da viagem. Decidiu descer ao porão, mas se arrependeu ao perceber que Owen ainda estava acordado. Sangue escorria de seus braços.

— Você não faz ideia de como é ouvir as promessas que o seu coração fez da boca de outra pessoa.— Ele disse tristemente, quando a viu.

— O que aconteceu com os seus braços?— Ela perguntou, se aproximando dele para analisar os ferimentos.

— Bem, milady, eu não tive muita escolha...— Ele começou, mas Maya já havia entendido. Ele se machucara tentando se soltar para encontrar as sereias. Owen agoniou por horas e ninguém se lembrou dele. Naquele momento, ela se sentiu horrível.

Buscou um pouco de água e tiras de pano, acendeu uma vela e cuidadosamente limpou os cortes nos pulsos do prisioneiro, trabalhava rapidamente e em alguns minutos terminou.

— É tudo o que eu posso fazer.— Ela sussurrou, envergonhada por não poder ajudar.— Não sou médica como você...— acrescentou.

— Está ótimo assim, milady, obrigada.— Ele sorriu agradecido. Maya não sabia mais o que fazer, então sentou-se ao seu lado em silêncio. Owen parecia estar definhando mais. Ele havia emagrecido mais, olheiras coloriam seu rosto pálido e uma barba loira se espalhava por seu queixo. A menina se perguntou quanto tempo mais ele teria de vida, será que ele sobreviveria até chegarem a Tortuga?

— Você poderia cantar para mim?— Ele perguntou, subitamente. Não havia nenhum sinal de zombaria em sua voz.

— Não acha que já tivemos canções demais por hoje?— Ela levantou uma sobrancelha, mas assentiu quando ele balançou a cabeça negativamente. Pensou por alguns minutos, até se lembrar da canción de cuna que seu irmão cantarolava para ela quando eles eram crianças. A canção não possuía letra, mas sua melodia sempre a acalmava. No meio da música Owen já havia dormido, com sua cabeça encostada no ombro dela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, marujada! Comentem, perguntem, tirem dúvidas, mandem pros amigos, imprimam em tijolos e joguem na cara dos inimigos! Ah, se você tá querendo puxar assunto com aquele seu crush e não sabe como começar pode ser tipo "Ah, eu estou lendo uma história sobre piratas e blablabla" kkkkk, ok, viajei, mas enfim, cês entenderam ♥ OBRIGADA POR TUDO, MARUJOS! ♥♥♥