Parola escrita por


Capítulo 11
Não eram anjos


Notas iniciais do capítulo

Ahoy pessoal! Olha, eu quero começar pedindo 1kg de desculpas pela demora, minha mãe teve que fazer uma cirurgia e agora eu tenho que fazer tanta coisa que não tenho muito tempo para escrever. Mas vou tentar escrever mais e mais rápido para compensar a demora :3 Quero agradecer do fundo do meu coraçãozinho bucaneiro à todos que estão acompanhando a história, vocês são a melhor tripulação que uma capitã poderia querer!
A música desse capítulo é Whispers of a Mermaid, espero que gostem, eu achei um amorzinho, bem relaxante e etc https://www.youtube.com/watch?v=n0sSDGjt2t8



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Ao acordar pela manhã, Maya foi assustada pelo par de olhos amarelos que a observavam. Túlio tinha as sobrancelhas franzidas e um semblante cansado. Maya então se arrependeu por esconder tantos segredos do irmão, precisava compensá-lo de alguma forma. Sem que nenhum dos dois dissesse uma única palavra, Maya calçou suas botas, colocou o seu recém adquirido chapéu tricórnio e seguiu para o convés, acompanhada pelo irmão. Se distanciaram de alguns poucos piratas que estavam por ali, os quais cumprimentaram Túlio cordialmente. A expressão da garota era sóbria e culpada, enquanto Túlio levou as mãos à cabeça, empurrando seus fios negros e ensebados para trás. Encarou a irmã por mais alguns minutos.

— Onde você esteve?— Ele explodiu, quase gritando. Maya sentiu seu coração pesar, mas não podia contar a verdade para o irmão, ele nunca a entenderia.

— Eu precisava pensar, aye?— Ela respondeu, tentando controlar sua voz.— Você acha que sabe o que eu estou sofrendo, mas não sabe!

— Você me deixou preocupado, sabe como é perigoso ficar por aí sozinha!— Túlio suavizou sua expressão, não conseguia ficar zangado com a irmã por muito tempo, mas então a fúria voltou quando ele notou a mudança de camisa da garota.

— Maya— ele disse, sem pensar. Ambos olharam para os lados, certificando-se de que ninguém havia ouvido— De quem é essa camisa?

A garota havia se esquecido de que usava a camisa de Benjamin. Fitou o irmão com uma falsa tranquilidade.

— É de Benjamin, a minha outra se rasgou. Queria que eu andasse por aí seminua?— Ela perguntou, desafiando o irmão, que a analisava com cautela.

— Você se machucou? Eu mato aquele flautista.— Ele disse, sobressaltado. Maya se apressou em negar, alarmada.

— Não, estou bem.— Mentiu, tentando conter suas expressões corporais que a denunciariam.

— Tenho algo para te mostrar— ela disse, decidindo mentir o mínimo possível para o irmão. Tirou o mapa de dentro das faixas que prendiam seus seios. Estendeu-o para o irmão, que analisou o papel desconfiado.

— Onde você achou isso?— Ele olhou o mapa desconfiado, embora não soubesse ler — Maya, você roubou isso?

— Não, eu achei em um baú, junto com o chapéu.— Ela apontou para o chapéu de três pontas em sua cabeça.

— Maya, não arrume mais problemas. Quero que devolva esse mapa antes que alguém note o seu desaparecimento.

A garota revirou os olhos e guardou o mapa em suas roupas outra vez.

— Você deveria relaxar, Túlio. Estamos quase em Tortuga, chegando lá podemos dizer adeus ao Diego.— Ela parecia esperançosa ao dizer as palavras, mas o olhar de Túlio a preocupou.

Túlio não queria deixar o navio. Durante toda sua vida ele havia procurado por um lar e uma família de verdade e, agora que havia encontrado, teria de se despedir tão brevemente graças à sua irmã. No Sangue, Túlio se sentia um homem de verdade, mas agora nada disso importava, ele teria que abdicar de uma vida de aventuras pela segurança de Maya.

— Túlio, me escute— Ela olhava no fundo dos seus olhos dourados— Você não está preso a mim, não é obrigado a fazer nada por mim, quero que escolha o que for mais importante para você.

Trad e Po chegaram nesse instante, convocando Maya para o trabalho. Distribuíram rações aos homens e depois foram para a cabine de Casto.

— Por onde você esteve, Diego?— Trad perguntou casualmente, enfiando os restos da comida do capitão em sua boca.

— Vou te dizer onde ele esteve— Po murmurou, testando diversas chaves em um pequeno baú sobre a mesa do capitão, sem sucesso— Fugindo do perigo, não é mesmo, Diego?— Ele deu uma cotovelada em Maya, a intenção não era machucar, mas a garota soltou um grito agudo quando o seu machucado recente foi atingido. Seus olhos se arregalaram, enquanto os gêmeos a encaravam. Um minuto de silêncio se passou antes de os gêmeos caírem na gargalhada.

— Olha só, Trad— Po debochou— Parece que alguém aqui é meio... como se diz? Afeminado.

Ambos continuaram a rir de Maya, que não se importou. Ela estava aliviada por não ter sido descoberta mais uma vez.

☠☠☠

À sombra das velas do navio, Túlio descansava preguiçosamente. Tinha consigo sua garrafa de rum, suas mãos calejadas pelo trabalho ardiam e sangravam, embora ele não reclamasse. Benjamin ia passando quando foi chamado.

Ahoy, Ben.— Cumprimentou ele, convidando o flautista a se sentar.— Está muito ocupado?

Benjamin juntou-se a Túlio, sentando com as pernas cruzadas.

— Estamos quase em Tortuga...— comentou, desinteressado. Túlio concordou com a cabeça, bebendo um gole de sua garrafa e oferecendo a Benjamin, que aceitou.

— Há quanto tempo você navega?— o menos experiente perguntou.

— Desde muito pequeno, meu pai era capitão de um navio mercante. Cresci em um convés.— Sua voz estava um pouco embargada, mas talvez fosse o rum. Embora tenha ficado curioso, Túlio era cauteloso em suas perguntas. Benjamin não parecia o tipo de pessoa que fala muito sobre si. Conversaram por cerca de uma hora. Ben contou que o seu pai morreu em combate durante um saque pirata e, nessa ocasião, ele se juntou à tripulação do navio Tritão, que não existia mais. Benjamin também contou que viajou por vários países com seu pai, por isso aprendeu a técnica de encantamento de serpentes na Índia.

— Por isso você tem tantos brincos...— Túlio comentou. Os brincos eram muito importantes para os bucaneiros. Alguns acreditavam que os metais preciosos purificavam o corpo, preveniam afogamentos e melhoravam a visão.

— Eu só ganhei os brincos depois que me juntei à pirataria. Mas são muitos, sim. Um brinco para cada vez que passamos pelo Equador. Em breve você terá um.— Túlio balançou a cabeça, sem ânimo. Ele não ficaria tempo suficiente para isso. Então ele lembrou de outra coisa.

— Ben, obrigado por não ter deixado o Diego se machucar. Deve ser difícil carregar um novato por aí...— Agradeceu. Benjamin concordou com a cabeça, uma sombra de culpa atravessando seus olhos. Ele havia arrastado Maya para a luta, ela poderia ter morrido e a culpa era dele.

Com o cair da noite, os irmãos se recolheram às suas camas. Maya não vira Benjamin ou Owen sequer uma vez durante o dia e se sentia bem por isso. Talvez ela conseguisse evitá-los até Tortuga e então não os veria nunca mais.

Túlio, por outro lado, se sentia sufocado pela responsabilidade de cuidar da irmã. Ele queria viver sua própria vida, continuar no Sangue da Rainha do Mar. A irmã lhe disse para escolher o mais importante e, embora dias atrás ele não tivesse dúvidas, ele começava a pensar em qual seria a sua escolha quando a hora chegasse.

Maya acordou em plena madrugada, o navio balançava perigosamente e ela se perguntou o que poderia estar acontecendo. Sem nem mesmo calçar seus sapatos ela subiu as escadas que levavam para o convés iluminado pela lua. Vozes entravam pelas frestas do navio e, com um arrepio fantasmagórico, a garota percebeu que eram vozes femininas. Um cheiro enebriante se espalhava pelo ar.

Casto conduzia habilidosamente o leme do Sangue, suor escorria de sua face. Alguma coisa branca e pegajosa estava enfiada em seus ouvidos, o mesmo se repetia com alguns homens espalhados pelo convés. Grandes rochedos se projetavam da água e era preciso muito esforço para que o navio não se chocasse contra eles. Pequenas coisas flutuavam pela água e Maya se debruçou sobre a amurada para ver melhor.

Eram mulheres. Centenas delas, nadando na escuridão abaixo. A heterogeneidade da massa era evidente, suas peles e características remetiam a diversas etnias diferentes. Seus rostos angulosos tinham traços marcados e beleza incomum. Elas sorriam e cantavam em tantas línguas que a confusão de suas vozes se tornava um turbilhão ritmado e hipnotizante, carência e súplica expressa em cada nota.

Olhando mais de perto, Maya viu que as mulheres se sentavam sobre as rochas. Seus longos cabelos dos mais diversos aspectos cobriam-lhes os troncos nus, adornados por arranjos de ouro e pedras preciosas. Anéis, pulseiras e colares davam ares de rainhas às deslumbrantes criaturas, que sorriam sedutoramente entre uma canção e outra, elas poderiam facilmente se passar por anjos. Mas não eram anjos.

As misteriosas beldades tinham, no lugar de suas pernas, caudas de peixe.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigadão a quem leu tudo, estou de dedos cruzados, esperando que tenham gostado! Sintam-se a vontade pra beber rum, jogar cartas e pilhar navios nos comentários, dúvidas e críticas também são aceitas! :3 Vejo vocês no próximo capítulo. Ah, se você quiser uma sereia em sua homenagem é só me dizer um nome e personalidade nos comentários :3