Parola escrita por


Capítulo 10
Encantador de serpentes


Notas iniciais do capítulo

Ahooooooy! Muito obrigada a todos que estão lendo, comentando, recomendando, falando comigo ♥♥♥ Dá vontade de pegar cada um no colo, mas como eu sou uma Capitã eu preciso manter a linha de durona u.u Espero que gostem do capítulo, um pouco mais curtinho por conta do Natal. Aliás, FELIZ NATAL ATRASADO, GALERA! A música desse capítulo não é um sea shantie, não se assustem! https://www.youtube.com/watch?v=HgPMcCIrVVs
Vocês verão a palavra "Belay", é um "cala a boca" em piratês.Boa leitura!



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Túlio despertou com um som estrondante de algo se chocando contra o casco do navio. Com um salto ele se levantou de seu beliche, ofegante. Mal havia calçado os sapatos surrados quando o segundo choque veio. O Sangue balançava perigosamente e era difícil se equilibrar. Se apoiando nas demais camas, o garoto caminhou em meio a dezenas de homens desorientados, ele precisava encontrar o seu mestre.

Ao passar pelo convés, perigosamente inundado, Túlio olhou ao seu redor, procurando a fonte de tanto alvoroço. Com um sobressalto ele viu um corpo esguio surgir da água: uma pele verde-acinzentada reluzia com um brilho fantasmagórico, cracas e outros moluscos se prendiam por toda a extensão visível do corpo do animal, que era maior que o próprio navio.

Barbatanas compridas e afiladas pendiam das laterais do gigantesco corpo, em tons transparentes de verde e branco, algas se embrenhavam sobre elas, enquanto poríferos cobriam a parte de cima do tronco.

Mas a cabeça do monstro o paralisou. Enormes fendas nasais se abriam acima de uma boca escancarada, com quatro fileiras de dentes iguais: gigantes e afiados. Prolongamentos negros e pontudos brotavam de sua cabeça como chifres cartilaginosos e dois pares de gigantescos olhos brancos piscavam alternadamente.

Recobrando os sentidos, Túlio se apressou. Ao encontrar Sinojo, que distribuía armas aos homens, Túlio o encarou em silêncio, esperando por ordens. O mestre parecia preocupado, mas não perdia o controle.

— Odeio quando essas coisas resolvem aparecer... — ele murmurou, retirando o seu tapa-olho — Nossos canhões não serão de serventia. O único jeito de espantar esse Anguis — Túlio levantou uma sobrancelha ao ouvir o nome do monstro, surpreso com o uso de "espantar" ao invés de "matar" — é decepando a sua língua. Veja bem, o principal ataque do Anguis é o desenrolar de sua língua negra, dura poucos minutos e é a chance perfeita para um ataque. Túlio quis perguntar mais, porém Sinojo já o empurrava de volta para o convés, colocando uma espada em sua mão. A arma era curva, de aproximadamente quarenta e cinco centímetros, e embora estivesse limpa, desgastes causados pelo tempo começavam a aparecer. Com surpresa Túlio leu o nome esculpido em seu cabo: Sinojo.

Túlio correu para o convés e não avistou a irmã por lá, pensou logo que ela estava escondida. O Anguis não estava a vista, mas o mar se agitava e uma poderosa batida contra o casco foi ouvida outra vez, o sangue se inclinou perigosamente, os homens se agarravam à amurada do navio. Jatos de água salgada inundavam o convés, que se tornava cada vez mais escorregadio e perigoso. A besta emergiu da água escura, os prolongamentos de sua cabeça agora se levantavam formando um capelo, exibindo guelras doentiamente avermelhadas. Sangue negro escorria de um de seus olhos, onde um arpão reluzia graças aos reflexos solares.

O terrível Anguis abriu a boca, um som estridentemente ensurdecedor fez com que todos os homens se ajoelhassem, tampando os ouvidos. Mas, tão subitamente quanto surgiu, o barulho se foi. Agora, uma massa escura e embrenhada era projetada da bocarra, se esticando sobre o convés superior. Conforme a língua negra e viscosa se ampliava, serpentes eram liberadas sobre o navio. Milhares de ofídios, das mais variadas cores, espécies e tamanhos se espalhavam pelo Sangue. Os bucaneiros se entreolharam por um segundo. Sabiam que precisavam chegar até a língua, mas as cobras, provavelmente venenosas, os impediriam.

As víboras despertavam, piscando algumas vezes, abrindo capelos e provando o ar com as línguas. Em poucos segundos os sons do mar foram encobertos pelos seus silvos. Elas avançavam serpenteando em direção aos homens, que não sabiam o que fazer.

Foi quando um som inconfundível de flauta veio da multidão. Benjamin largara sua espada no chão e, ajoelhado, tocava uma melodia em seu instrumento.

O som era enebriante e embora tenha começado de forma tímida e confusa, atingiu um estado ritmado, profundo e agudo, sem deixar de possuir certa constância em suas notas. Os seus companheiros de navio alternavam o olhar entre Benjamin e as serpentes. Uma a uma elas levantaram seus corpos na direção do som, permanecendo imóveis, seus olhares fixos no flautista, hipnotizadas pelo misterioso som proveniente do pífaro.

Alguns minutos de incredulidade se passaram até que os homens percebessem que era hora de atacar. Correram na direção da língua do Anguis, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Matteloots usavam golpes alternados ao cortar a grossa tramela negra. Sangue viscoso escorria, armas eram perdidas nas entranhas do enorme órgão muscular. O Anguis urrava no fundo de sua garganta, contorcia-se na água e tentava recolher a língua quando o último corte foi feito. A espessa composição de tecidos sucumbiu à força e armas dos bucaneiros. O monstro marinho caiu na água com uma guinada, movimentando seu corpo de forma descontrolada, como se lutasse pela vida. Afastava-se do navio a uma velocidade impressionante, como se fogo vivo emanasse da embarcação. Embora o som da flauta ainda fosse ouvido, todas as serpentes deslizavam para a água espumosa. Quando o último ofídio deixou o navio, os homens empurraram o pedaço de língua de volta para o oceano, tingindo de preto a água verde e atraindo centenas de peixes.

Os homens fizeram fila para cumprimentar o flautista, que agradecia de forma modesta e desconfortável. Um mutirão foi organizado para limpar os conveses, após o trabalho ser feito, sentaram-se para beber e jogar. Os navegantes mais experientes admitiam que uma viagem a Tortuga nunca havia sido tão longa enquanto os mais novos se queixavam da sua sorte. Trad animava a discussão apontando seus atos de bravura e coragem durante o saque e o ataque do monstro.

Belay, Trindad, todos sabemos que você se escondeu na cozinha o tempo todo.— zombou o irmão.

— Ei, não me chame de Trindad, Ponce!— O mais novo respondeu, socando o ombro do irmão.

— Parem com isso!— grunhiu Casto, após um longo gole de cerveja preta— Um brinde ao rapaz da flauta!— ele disse, levantando seu caneco de latão, sendo seguido por todos os outros tripulantes, mas nenhum deles avistou Benjamin. Túlio viu pelo canto do olho o rapaz se retirando em direção à escada e o seguiu.

— Ei Ben,— ele disse, casualmente— você viu o Diego por aí?— A ausência da irmã começava a o preocupar.

— Eu o vi agora a pouco...— respondeu Benjamin, tentando por um fim rápido à perigosa conversa, mas Túlio não percebeu a sua rispidez.

— Legal o que você fez, onde aprendeu aquilo?— Continuou Túlio, coçando a nuca.

— Hm, na Índia, se não me engano... Ouça Túlio, eu preciso pegar uma coisa, depois conversamos.— E no momento seguinte Benjamin havia ido embora, antes que o seu companheiro pudesse perguntar qualquer coisa sobre a Índia. Túlio deu de ombros e voltou a se sentar à roda com seus companheiros. Trad e Po expunham sua teoria, afirmando que Casto perdera o olho tentando ver pela fechadura da porta de um prostíbulo. O capitão, mais bêbado do que nunca, apenas ria e distribuía socos entre os seus subordinados.

☠☠☠

Embora sua ferida recente doesse, Maya andava de um lado para o outro do porão. Ela estava preocupada com o que poderia acontecer ao seu irmão e, mesmo odiando admitir isso, a Benjamin.

Owen parecia não se importar com os acontecimentos acima de suas cabeças. Ele havia cochilado por algumas horas e, quando acordou, se assustou com o par de olhos verdes profundos que o encaravam da escuridão.

— Qual o seu problema?— Ele perguntou, arfando.

— Qual o seu problema, como consegue dormir em uma situação dessas?— Maya parecia indignada. Estava sentada sobre um barril, observando meticulosamente o loiro enquanto dormia. Havia notado pequenas sardas na região do seu nariz e diversas cicatrizes pálidas na pele de seus braços.

— Bem, milady, eu passei a noite consertando esse seu — ele sorriu maliciosamente— lindo corpinho.

Maya revirou os olhos, enojada. Benjamin surgiu pela porta, seu rosto ilegível. Ele havia encontrado uma nova camisa, não menos encardida que a primeira.

— Maya, eu acho melhor você encontrar o seu irmão.— o moreno falou, inconscientemente brincando com os pingentes de sua orelha.— Consegue fazer isso?

Ela assentiu com a cabeça, se levantando com um pouco de dificuldade. Subitamente, ela viu um pequeno baú empoeirado, próximo ao estoque de velas. Caminhou até lá e tentou abrir, sem sucesso.

— Está emperrado!— Ela concluiu em voz alta. Benjamin soltou uma risada e se abaixou, abrindo o baú com facilidade, Owen riu também.

Belay...— ela disse, revirando os olhos e se abaixando para examinar o baú. No seu interior havia um vestido pomposo, roído por traças, um chapéu tricórnio e uma espada curva. Ao analisar o chapéu, a garota descobriu um velho pedaço de papel no seu interior.

— O que é isso?— disse Benjamin, tomando-o da mão dela— Pelo David Jones, Maya, você encontrou um mapa!— ele exclamou, seus olhos arregalados. A garota roubou o mapa outra vez, colocando-o junto aos seus seios e sorrindo desafiadoramente.

— Exato, eu encontrei um mapa.


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Notas finais do capítulo

Obrigaaaaaaada pra quem leu tudo, sintam-se a vontade para comentar, discutir, perguntar, criticar, dançar ragatanga e comer rabanada!