Estilhaços escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Arrow não me pertence, nem seus personagens infelizmente. Contém alguns spoilers dos últimos episódios.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/567694/chapter/1

Chega um momento na vida de todo herói, em que ele precisa parar para pensar: o que realmente é importante para mim?

Não achei que no meu caso isso fosse acontecer e nem que seria tão cedo assim. Eu escolhi isso pra minha vida, escolhi ser quem sou. Deixei de lado a minha existência como um bilionário filantropo que gostava de festas e vivia para beber para vestir o capuz. Para me tornar o Arqueiro Verde.

Não é fácil chegar a essa decisão. Não é fácil deixar tudo para trás para ser um herói. Mas é muito fácil cair na tentação de voltar a ter uma vida normal, sem ter que se preocupar se na noite seguinte voltará para casa depois da ação, podendo ter ao seu lado a pessoa que ama.

E isso, meus amigos, é o que me leva à minha questão pessoal. À minha fuga.

X

Se não posso viver uma vida feliz, qual o propósito em viver como Oliver Queen? Não havia um. Seria muito fácil forjar um acidente de carro ou talvez de moto. Fingir que morri e nunca mais voltar. Deixar de ser o Arqueiro Verde em Starling City e ir para uma cidade distante. Talvez até mesmo outro país.

Poderia mudar de roupa, poderia deixar o arco para trás e tentar, talvez, com uma faca. Ou somente os punhos nus como o antigo vigilante da cidade costumava fazer.

Estava decidido sobre isso. Me tornaria outra pessoa, sem outra identidade que não fosse a de herói. O que eu tinha a perder? Tudo havia sido tirado de mim. Minha mãe estava morta. Thea estava encaminhada com o bar e com Roy e tinha os olhos protetores de Malcolm Merlyn sobre ela, e mesmo que eu não gostasse do cara, tinha que reconhecer que ele realmente queria proteger minha irmã. Dig estava com a pequena Sara, era um homem de família. E Felicity... bem, Felicity já tinha outra pessoa. Ela não precisava mais de mim.

Eu havia chegado tarde demais novamente.

E então, como toda pessoa covarde que se preze, depois disso, eu fugi.

Claro que não era tolo o suficiente para acreditar que Felicity me esperaria pela vida toda – e nem queria. Mas vê-la com outra pessoa era mais doloroso do que achei que seria, sobretudo se essa pessoa era Ray Palmer.

Primeiro, minha empresa. Depois, minha felicidade.

Minha Felicity.

Hah, como sou estúpido. Arrogante e egoísta, como todo bom bilionário deve ser mesmo quando se está falido. Ela não era minha. Sequer era uma propriedade para ser tratada assim. Mas eu não conseguia suportar a ideia de ter que todos os dias vê-la sorrindo para outro homem que não fosse eu. Não podia.

Por isso vaguei por muitos lugares, por muitas cidades em muitos países diferentes. Sei que fiz a diferença do meu jeito, combatendo pessoas corruptas, deixando minha marca onde quer que fosse, mesmo que não tivesse a mesma eficácia sem Felicity e minha equipe ao meu lado.

Eu já não tinha mais preocupações. A empresa já carregava um novo nome, um novo logotipo. Eu não devia explicações a ninguém que não fosse Thea, e mesmo assim não tinha certeza se faria tanta falta assim na vida dela.

Sinceramente, eu só queria sumir e fiz isso muito bem. Eu havia deixado de lado meus e-mails, o celular, computador e tudo o mais que pudesse ser usado para me localizar. Não havia falhas no meu plano. Ao menos eu achava que não.

Devia ter se passado uns três meses desde que eu tinha partido, mas eu não tinha certeza. O lugar onde eu estava era uma vila muito pobre da China, sem nome algum que eu pudesse me recordar agora.

Então um dia que não era especial eu ouvi alguém bater à porta da casa onde eu estava hospedado. Despreocupado com quem poderia ser, eu a abri. E me arrependi no segundo seguinte.

— Felicity? — não pude esconder a surpresa em minha voz. Era difícil, na verdade, saber o que estava pensando naquele momento. Acho que em nada além do choque de vê-la ali.

— Você... — ela apontou o dedo no centro do meu peito, talvez pensando de que deveria me xingar primeiro, mas então notou que eu estava sem camisa e ficou sem jeito como sempre costumava acontecer. — .... está sem camisa.

— Ah... não é como se fosse a primeira vez, Felicity. — respondi, vendo-a entrar na casa e se sentar.

— Nunca mais, Oliver. Nunca mais faça isso.

Olhei para ela ali, sentada e com a cabeça baixa. Com os cabelos loiros presos e alguns fios rebeldes insistindo em cair sobre seus olhos. Ela era linda.

Quis me aproximar e abraça-la. Quis beijá-la. Mas ao invés disso, apenas suspirei.

— Não há mais lugar para mim em Starling, Felicity. Essa é a vida que eu escolhi. E com ela... não posso ter nada. Não posso mais ser Oliver Queen.

— Droga, Oliver! Eu estou aqui, não estou? Eu vim aqui por você! Eu vim aqui porque quero você de volta! Porque eu preciso... preciso de você do meu lado.

Mesmo que eu quisesse correr dali, mesmo que eu quisesse fugir, não pude resistir ao ímpeto de abraça-la naquele momento. Por mais que não fosse o desejo de minha mente, era o desejo de meu coração.

— Eu não quero te colocar em risco outra vez, Felicity. Você ficará muito melhor... muito melhor com alguém como Ray Palmer. — murmurei baixo, descrente de minhas próprias palavras. Felicity era minha. Ela não deveria ser de mais ninguém.

— Não existe eu e Ray Palmer. Nunca existiu, Oliver. O que aconteceu entre mim e ele.... na verdade não foi nada além de um erro. Um erro dele. Você sabe disso, Diggory sabe, por Deus, todo mundo sabe... então por que você continua fugindo? Por que não me deixa tomar minhas próprias decisões?

Engoli em seco diante das acusações dela. Eu sabia que meus sentimentos eram translúcidos como os dela a respeito de mim, e era verdade que não tinha o direito de tomar as decisões por ela, mas tinha o direito de toma-las por mim mesmo. E ainda que isso me corroesse por dentro, eu acreditava estar fazendo a coisa certa.

— Você vai voltar comigo, Oliver, e vamos tentar outra vez. Seremos atacados pelos vilões loucos que vivem em Starling City, provavelmente explodidos em outro jantar romântico onde você vai terminar de me contar as coisas que não sei sobre você e um dia... um dia você vai me levar pra casa e eu vou descobrir alguma tatuagem embaraçosa que você tem na virilha feita em uma noite louca em Vegas, e vamos rir disso, Oliver, vamos rir disso... mas pelo menos estaremos vivendo. E ninguém pode nos negar isso.

Percebi o sacrifício que ela havia feito para me dizer essas palavras, mas sobretudo, percebi a dor em seus olhos. Eu não tinha esse direito. Não tinha o direito de deixa-la naquele estado, tão miserável, tão infeliz. Ela não merecia isso. Eu não merecia.

— Felicity... — estendi a mão para lhe tocar o rosto e limpei as lágrimas que corriam por suas bochechas.

— Não ouse... a dizer não, Oliver.

— Eu não vou. — a calei com um beijo antes que pudesse dizer algo mais.

Quem disse que a felicidade nunca bate à sua porta quando menos se espera?

X

A cidade estava um inferno. Minha irmã passou horas e horas perguntando pelo meu paradeiro e tive que dar a ela uma desculpa qualquer. Ela me chamou de irresponsável, disse que eu não era diferente dela e me fez prometer que não o faria novamente. Claro que eu prometi, mas ela não sabia da metade das coisas que haviam acontecido e nem do motivo da minha promessa. Mas bem, eu não a culpava. Afinal, parecia que três meses era tempo demais para ficar desaparecido.

Sem o Arqueiro por perto, tudo ficou uma verdadeira bagunça. Mesmo que o Arsenal estivesse ali para proteger Starling City ao lado de Diggory, ele não era o suficiente para dar conta daquilo.

Claro que Iron Heights havia explodido de novo. Claro que havia ocorrido uma fuga em massa. Claro que eu teria que adiar meu jantar com Felicity. Novamente.

— Felicity, eu...

— Eu sei. Pode ir, herói. — ela abriu um sorriso para mim. Um sorriso que com certeza não seria capaz de parar guerras ou de curar o câncer, mas que com certeza era capaz de encher de alegria o meu coração. E isso bastava para mim.

— Tem certeza? Já adiamos três vezes só nessa semana. — estava realmente inclinado a ficar.

— A cidade precisa de você, mas... que tal o seguinte? Você salva a cidade enquanto eu monitoro as coisas do QG e quando terminarmos tudo por aqui, teremos aquele jantar romântico na minha casa. Óbvio, porque você não tem casa. A não ser que conte a da sua irmã. Bancada pelo seu pior inimigo.

Lancei um olhar para Felicity e ela se calou, mas eu obviamente não estava bravo.

— Tudo bem. O jantar fica por sua conta. — respondi, lhe roubando um beijo rápido.

— Ack, tem mel demais nesse lugar. Vamos logo, Oliver. — ouvi Roy resmungar, já vestido e pronto para a ação.

— Continue pensando assim e posso até mesmo considerar a ideia de te ajudar a reatar com Thea.

Vi um sorriso passar por seus lábios e demorei a me vestir sabendo que Felicity me observava pelo canto dos olhos.

— Felicity.

— Eu não estava olhando nada. Nada, nenhum músculo – tatuagem. Nada. Só os meus números no meu computador.

Não pude evitar sorrir e a abracei por cima dos ombros, lhe beijando de leve o rosto.

— Quem sabe eu não te mostre hoje aquela tatuagem embaraçosa que queria tanto ver? — sussurrei em seu ouvido vendo seu rosto corar e dei uma risada, seguindo Roy escadas acima.

“Oliver?”, ouvi ela chamar pelo ponto.

“Hum?”

“Acho melhor pedirmos pizza para evitar uma indigestão.”

Eu sorri, meneando positivamente com a cabeça, sabendo que ela me via pelas câmeras da cidade.

— O que é tão engraçado, Oliver? — Roy perguntou, enquanto subia na moto.

— Um dia... um dia eu te conto. — limitei-me a responder enquanto ganhávamos as ruas de Starling City com um único desejo em minha mente: dar fim àqueles criminosos e voltar para Felicity.

Meu nome é Oliver Queen e eu já fui um vigilante que assassinou pessoas. Já fui um lobo solitário que agiu como herói na minha cidade. Já fui um fugitivo. E agora, sou ambos, herói e Oliver, mas só posso fazer isso graças a uma única pessoa. O único motivo pelo qual retornei, pelo qual ainda posso sorrir.

A minha Felicidade.

Minha Felicity e de mais ninguém.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fiz essa fanfic para o desafio "Heróis e Vilões" do Nyah seguindo o tema proposto para os heróis.

Gosto muito da série Arrow e embora Olicity não seja o meu casal favorito, era o que se encaixava perfeitamente na minha temática e por isso o usei.

Fora que, claro, é o casal favorito da minha diva né flor?

Enfim, espero que gostem.

Desde já gostaria de agradecer à Taty por revisar e à Lia pela capa maravilhosa. Se eu ganhar, meninas, vocês com certeza terão sua parcela de responsabilidade nisso. E você também, Pel, porque achou a imagem pra mim.

Espero que gostem da fic, eu gostei na verdade.

Comentem o que acharam e torçam por mim!