The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 9
Ruby necklace, jumps and the color of the house is not the only difference


Notas iniciais do capítulo

*Colar de rubis, saltos e a cor da casa não é a única diferença. (Eita Giovanna que título enorme)
Música: Lost Stars - Adam Levine
OE MEU POVO. Tecnicamente esses são os últimos minutos do dia, então ainda é meu aniversário, e eu tinha combinado de postar no meu aniversário. Estou cumprindo a promessa bonitinho.
Bem, hoje não posso ficar falando altas coisas nas notas porque Deus meu, é tarde e eu tenho mil coisas pra fazer incluindo uma coisa chamada colégio amanhã de manhã que me obrigada a acordar cedo.
Eu alterei a sinopse nesse meio tempo aí, então podem me dizer o que acham? Fiquei meio insegura sobre isso, mas gosto mais que a antiga. Então, por favor, comentem aí a opinião de vocês amores.
Esse capítulo todo é só uma carta, e estou com um auto orgulho porque foi a maior carta que eu escrevi até hoje, e as vezes eu tenho uma certa dificuldade com isso. Enfim, fala um pouco da Hannah e do passado do Chris, então vocês vão compreender bastante os traumas familiares que ele tem.
Ah, e nesse eu falo o nome do hospital do Chris, que no caso foi sugestão de um leitor aí, então obrigada, moço. No caso, é Hatter Hospital, por causa do Chapeleiro Maluco da Alice e tudo mais.
Capítulo pra Mrs Fiction, que foi uma fofa deixando reviews em todos os capítulos. Obrigada♥
AH E UM SUPER HIPER MEGA OBRIGADA A TODO MUNDO QUE ESTÁ ACOMPANHANDO E TALS VIU? VOCÊS, 116 PESSOAS, SÃO MARAVILINDAS ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/567443/chapter/9

Querida Hannah,

Estou tentando te escrever uma vez por semana. Se eu pudesse, escreveria todo dia, só para constar. Mas não quero que você se sinta incomodada com as minhas cartas, nem pense que sou um maníaco que está te perseguindo, porque como já falei, os casos mais graves ficam no terceiro prédio, e eu estou no segundo.

Hoje é domingo, e foi o casamento do meu tio Jasper. Explicando melhor: ele é irmão da minha mãe, e tecnicamente meu responsável. O fato é que ele não me visita a quase três meses, a 78 dias, para ser exato. Eu poderia te dizer exatamente a quantas horas ele esteve aqui, sentado nessa mesma cadeira de onde eu estou te escrevendo, mas acho que isso te franzir a testa para mim.

Infelizmente, eu não posso criticar de verdade ele. Jasper possivelmente ainda é o parente que mais se preocupa comigo, com uma exceção a Steve. Ele pelo menos se certifica de que a conta do hospital está paga para que o pobre sobrinho esquizofrênico fique bem. Lembro-me de passar várias noites na casa dele quando meus pais discutiam. Ele quase sempre buscava eu e Steve antes de eles começarem a de fato a brigar. Quando estávamos de volta, sempre havia alguma coisa quebrada em casa, normalmente com estilhaços de vidro no chão, e minha mãe sempre tinha algum novo hematoma, como marcas avermelhadas de dedos em volta do pescoço, tão chamativas quanto um colar de rubis.

Steve me falou do casamento dele na terça, e acrescentou que queria muito que eu pudesse estar lá também. Acho que em toda a minha vida nunca fui num casamento sem estar com Steve. Sempre tinha aquilo de um tentar fazer o outro rir dentro da igreja, e querer que a noiva diga “não” na última hora. Lembro-me de um em especial de alguma prima. Acho que eu tinha uns sete anos. A droga do casamento era de tarde, e fomos obrigados a ficar na festa logo após. Nosso pai começou a beber um pouco a mais, e como sempre, foi só questão de tempo até ele e minha mãe começarem a brigar feio. Em pouco tempo, eu, Steve e nossa mãe estávamos na rodovia a caminho de casa; ela não tinha se despedido de ninguém, apenas nos agarrou pelo braço com força e nos jogou no branco de trás do carro. Eu não faço a mínima ideia do que pode ter acontecido naquela noite, mas o carro aumentava cada vez mais a velocidade.

Olhando para minha mãe, percebia de leve seus ombros trêmulos e uns leves soluços que lhe escapavam dos lábios tingidos de batom vermelho. Ela se debruçava sobre o painel um pouco, as mãos tão apertadas junto ao volante que as juntas estavam começando a embranquecer; o cabelo, que a horas atrás estava preso num coque bem arrumado, agora caia em mechas pelas costas, meio que combinando pelas linhas pretas desenhadas nas bochechas por uma mistura fantástica de maquiagem com lágrimas. Num dado momento, eu só via borrões pela janela. Steve gritou para que ela, pelo amor de Deus, diminuísse a velocidade, mas um segundo antes do carro perder o controle, ela mandou que ele se calasse. Nós derrapamos na estrada, o som agudo do atrito entre os pneus e o asfalto enchendo meus ouvidos. O automóvel parou atravessado na pista, minha mãe nos arrancou de dentro dele, e em menos de dois minutos já estava com o celular em mãos, a voz de Jasper do outro lado da linha. Minha mãe soluçou intensamente contra seu paletó durante vários minutos quando ele chegou. Naquele dia, eu ouvi tantas vezes a palavra “divórcio” que perdi as contas.

No dia seguinte, quando finalmente voltamos para casa, meu pai estava inconsciente no chão da cozinha.

Acho que você nunca teve que escutar a palavra “divórcio” ser dita aos berros dentro da sua casa, não é, Hannah? Acho que a cor da fachada não era a única coisa que diferenciava nossos lares.

Tenho que ressaltar o fato de que eu e Steve sempre fomos bons filhos, apesar de tudo. Provavelmente era só um jeito de não piorar ainda mais as coisas, mas é claro que nunca era nem perto do suficiente. De forma nenhuma eu deixaria meu pai apodrecendo num maldito hospital psiquiátrico como o Sr. Hughes. Ele ainda era meu pai, certo? Era parte da minha família. Por favor, diga que me entende, Hannah. Porque eu mesmo não entendo como posso amá-lo e odiá-lo ao mesmo tempo.

Os filhos do Sr. Hughes são uns desgraçados, todos os três. Não sei como posso odiá-los sem nem mesmo ter trocado uma única palavra com qualquer um, mas os odeio. Primeiro que o cara nem mesmo deveria estar aqui mesmo, quer dizer, o que de ruim ele pode fazer? Ele só tem doença de Pick, Santo Deus! Quando uma vez perguntei a uma enfermeira porque raios ele estava aqui, ela me disse que se a família paga, dificilmente eles recusam. É uma realidade do Hatter Hospital. E o velho só está no mesmo prédio que eu por ser o que tem menos escadas. Mesmo eu não sendo um desgraçado (tá, talvez eu seja, mas não sou um desgraçado aqui dentro), o Sr. Hughes me confundiu com um dos seus filhos. Nem preciso dizer o quanto foi embaraçoso e desconfortável, não é? E eu não neguei em momento nenhum isso, porque simplesmente não conseguia acabar com aquela pequena felicidade do velho.

Na última carta, eu disse que aquele não era um Dia Ruim. Só não foi porque minha crise começou de noite e eles me sedaram para que eu pudesse dormir e para que as vozes saíssem da minha mente. Mas acho que o sedativo também foi para elas, já que nesse exato momento, ainda as sinto dentro da minha cabeça. Só estão adormecidas, uma hora ou outra tornam a despertar e me atormentar, é mais uma questão de tempo.

Estou no quarto do Sr. Hughes agora. Ele está sentado na cadeira de balanço como sempre, e há música tocando. Só conheci esse cara por causa da música clássica, para ser sincero. Tenho que passar no corredor do Sr. Hughes para ir ao refeitório, e ouvi a música escapar pela abertura da porta quando uma enfermeira entrou para fazer a checagem. Parei de andar e esperei parado no meio do caminho até que ela saísse, e logo depois da porta ser fechada, me aproximei e recostei-me a ela, a madeira sendo fina o bastante para que eu pudesse ouvir as notas mesmo dali. Obviamente, eu lembrei de você. Me encontraram meia hora depois chorando tanto que mal conseguia respirar. Tenho que dizer que isso foi a vários meses atrás, e que nesse momento toca Vivaldi, “As quatro estações”. Estamos no outono, sua parte preferida, e não consigo parar de lembrar de você pulando entre as folhas alaranjadas que cobriam a grama do parque. Hannah, você estava tão feliz que seria algum tipo de pecado interromper aquele momento, e felizmente não há nenhum pecador a mais no mundo por quebrar aquela cena.

Você ainda é tão saltitante como antes? Por favor, responda silenciosamente que sim enquanto lê. Nos exercícios de grupo, quando a Dra. Lee nos pede para visualizar alguma emoção, e escolhe a felicidade, minha mente falha me leva até você, saltitando. Especialmente num dia que havia chovido por toda a manhã, e estávamos voltando do colégio. Tínhamos nove anos, e finalmente nossas mães tinham estabelecido que poderíamos voltar sozinhos da escola para casa. Eu tinha sugerido dar a volta no parque e fazer o percurso mais longo para não correr o risco de sujar nossas roupas nem nada do tipo, mas você insistiu.

—Não precisa ser o garoto cem por cento perfeito comigo, Chris. E um pouco de lama não faz mal a ninguém, eu garanto. —E tem como dizer “não” a você, Hannah? Me apresente a pessoa que consegue negar algo a você, por favor. Não, não me apresente. Com certeza, deve ser um ser humano horrível e desprezível que consegue resistir ao seu sorriso.

Então, nós fomos pelo maldito parque. Você saiu correndo e pulando entre as poças d’água que se acumulavam nas pequenas depressões no terreno assim que seus sapatos tocaram a grama úmida. Não é preciso dizer que sua alegria toda me contagiou, não é? Bem, dentro de dois minutos estávamos os dois pulando em poças d’água. Quando você pulava, seus cachos castanhos claros flutuavam no ar. Voltamos para casa com as pernas das calças totalmente sujas e com frio. É claro que ninguém iria acreditar que foi apenas um acidente enquanto caminhávamos vagarosamente pelo parque, e quando você disse que levaria uma bronca por sujar a roupa, te convidei para a minha casa, onde tinha certeza que minha mãe não estava, e joguei nossas roupas sujas na máquina de lavar antes de nos enrolarmos nas mantas de lã. Bebemos chocolate quente enquanto assistíamos a tevê, e você segurava a caneca com ambas as mãos, mas ainda sorria entre um gole e outro.

Essa é a imagem que se forma na minha mente sempre que a doutora propõe a atividade sem noção de imaginar a felicidade. Como a Dra. Lee ainda é uma boa pessoa, deixa que só quem queira exponha seus pensamentos, e eu sempre guardo unicamente para mim nossa lembrança feliz.

Naquele mesmo dia, quando sua mãe veio te buscar, houve uma mini discussão na porta dos fundos da minha casa. Nós dois sabíamos que era por conta do corte acompanhado de um hematoma avermelhado logo abaixo do olho da minha mãe. As desculpas de tombos e pequenos acidentes domésticos já não te convenciam, não é, Hannah? E se você, que era uma criança, já não acreditava nisso, sua mãe muito menos. Andrea Campbell, minha mãe, realmente não tinha ideia de quem era na porta, por isso a atendeu sem nem ao menos tentar disfarçar o machucado ou gritar que Steve mesmo atendesse ao chamado.

Amelie sabia muito bem que nenhuma porta de armário suspenso no ar causaria aquilo, e em menos de três segundos raciocinou o que havia acontecido, ligando o hematoma aos possíveis gritos ouvidos na noite anterior. Não é preciso ser formado nem fazer doutorado para ter essa simples conclusão. Segurei sua mão firme junto a minha, e levei aos lábios antes de pressioná-la contra a minha testa, enquanto permanecia de cabeça baixa. Nós estávamos sentados na escada, próximos dos degraus finais, enquanto Steve escutava a discussão com o olhar perdido mais no topo. Talvez naquele dia Steve tenha feito o primeiro de muitos buracos que enfeitam a parede do seu quarto. Talvez os punhos de Steve não se machucassem de encontro a parede, o atrito esfolando a pele frágil dos nós dos dedos. Talvez ele não intercalasse os murros com soluços que fugiam da sua garganta. Talvez se eu tivesse soltado sua mão e subido alguns degraus, poderia ter tornado as coisas um pouco mais fáceis para Steve. Mas a culpa não é minha se o calor da sua pele contra a minha me tranquilizava.

Sua mãe suplicava para que elas fossem naquele mesmo minuto a uma delegacia, pois as coisas não poderiam ficar assim. Minha mãe ainda insistia de uma forma inútil na história da porta do armário, mas todos que escutavam sabiam que não passavam de puras mentiras que saiam de seus lábios. Ela só desistiu desse argumento estúpido quando Amelie pegou seu pulso rodeado por marcas arroxeadas, mesmo não admitindo que foram as mãos fortes de um certo Sr. Campbell que as causaram. Andrea repetia com cada vez mais urgência que não fora nada, mas sempre um nada significa tudo. Tudo o que estávamos vivendo, todo o inferno resumido aos dois andares da casa.

Uma das duas teve de ceder, antes que terminassem emolduradas ao batente da porta e nós, cravados em total silêncio aos degraus da escada. Por fim, nem todo o dom da persuasão da sua mãe funcionou, e você largou minha mão com relutância antes de descer o restante da escada, pegar o casaco e sair da casa. Steve subiu para o quarto logo em seguida, mas eu continuei petrificado na mesma posição, e só ergui a cabeça para ver com o canto do olho a porta ser fechada, e minha mãe se recostar nela com um soluço.

Não sei como um dia poderia ter sido tão bom e tão ruim. Mas, as partes boas foram certamente por sua causa; e as coisas ruins se tornaram minimamente suportáveis só pelo fato de que você estava lá, de que sua presença me afetava de tal modo que me tornava de alguma forma, mais forte. E agora, o simples fato de que você não está aqui, faz meus dias se resumirem a, no máximo, entediantes. Até tenho sim raros momentos em que me sinto verdadeiramente bem, mas eles são devastados pela ideia de que não te tenho perto de mim. Sinto que sim, estou sem uma parte importante de mim mesmo. E eu não sei viver direito sem essa parte. É ruim acordar e não te ver passar para o colégio da janela do meu quarto, porque a única visão que eu tenho agora do meu dormitório são árvores inúteis. Não é ruim, é devastador. Simplesmente devastador.

Com amor,

Chris.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu não sei fazer as perguntinhas hoje, então temos um sério problema. Ah, e eu não revisei o capítulo com calma nem nada. Ia deixar pra fazer isso hoje, mas não deu tempo mesmo. Vou revisar amanha (01/10) direitinho, prometo. Estou me sentindo meio mal por postar sem revisão, mas espero que não se incomodem muito. E desculpe, não vai mais acontecer, mas nesse caso foi porque PROMESSA É PROMESSA.
—Alguém aí tem uma ideia agora do Objetivo Final?
—Novas opiniões sobre a Hannah?
—E os pais do Chris, acham que foi só isso ou ainda tem mais coisinhas nesse assunto familiar?
—Challie shippers entenderam o Chris nesse ultimo paragrafo e vão parar de me encher sobre isso?
Enfim, até o próximo. Obrigada por lerem, sério. ♥