The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 5
Holes of abyss and depressive saturdays


Notas iniciais do capítulo

*Buracos de abismo e sábados deprimentes
Música: Demons - Imagine Dragons
(Vou ser tagarela hoje, então coloquei as coisas importantes no começo das notas, ok? Ah, e é a tradução do título do capítulo ali no comecinho.)
OI MEUS AMORES! Tia Alasca tá muito feliz, muito mesmo. A uma semana atrás, quando eu estava postando o 3° capítulo, agradeci pelos meus números (36 acompanhamentos, 9 favoritos e as 750 visualizações até aquele dia) MAS como vocês sãos os leitores mais incríveis desse mundo, a história acabou de alcançar seus 53 acompanhamentos e as mil visualizações. Além das minhas três recomendações lindas, e dos 42 comentários (quando chegou aos 40, eu dei um surtinho ao responder. Devo ter assustado o leitor). GENTE, VOCÊS SÃO INCRÍVEIS. MUITO OBRIGADA, MUITO MESMO. E sim, sou meio chorona então rolou umas lágrimas por ai.
Capítulo dedicado as minhas lindas que recomendaram, Elizabeth, Mari e Sarah. Girls, vocês divam demais.
Sobre o capítulo: semana passada eu fui ler, e não gostei. Resultado: apaguei quase a metade e reescrevi. Confesso que estou meio insegura sobre o que vocês vão achar, pois é uma cena tensa e que realmente foi um desafio pra mim. Então sério, preciso muito da opinião de vocês nesse capítulo.
Essa semana, eu li o livro "Garota, interrompida". Se passa nos anos 60, e a personagem tem o mesmo transtorno que a Callie e a Emma, e também está num hospital psiquiátrico. Pra quem curte The Mistake Of Chris, é um prato cheio. O livro é bem curtinho, e vale super a pena.
Bem, é isso. Aproveitem a leitura.



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Já passa das oito da noite quando termino de escrever para Hannah. É estranho eu demorar tanto, mas tenho que pensar e encontrar as palavras certas. Tenho que manipular tudo com muito cuidado.

Vou para o banheiro, e lavo o rosto na pia com a água gélida antes de me olhar no espelho. Cabelos quase loiros. Pele clara, pálido. Olhos negros. Totalmente negros. Dois buracos para o abismo dentro de mim mesmo. Assim que os encaro, inevitavelmente, as vozes começam. São apenas sussurros, mas eles enchem minha mente tão rápido que é difícil pensar por mim mesmo. A primeira coisa que me vem na cabeça é que eu não tomei os remédios da quatro da tarde.

Não tomei os remédios das quatro da tarde. Não tomei a droga dos remédios. Nesse exato momento, não tem nenhum miligrama de qualquer substância que possa impedir que esse inferno na minha cabeça continue. Possivelmente não tomei a pílula azul hoje, devo ter a jogado fora nas duas vezes, e agora esqueceram de me dar a terceira dose. Sei que deveria ir diretamente para a enfermaria, mas apenas continuo encarando meu reflexo no espelho, com as mãos apoiadas no granito da pia, até não aguentar mais e fechar os olhos com força.

A primeira coisa que eu aprendi aqui dentro é que não devo obedecer as vozes de jeito nenhum. Quero deixar claro que isso é bem mais difícil do que eu gostaria que fosse, porque nesse exato momento tem alguém gritando para que eu faça coisas que não são boas para mim, e eu não consigo pensar num bom motivo para não pegar aquele caco de vidro do relógio que quebrei segunda passada, escondido no fundo do criado mudo e cortas meus pulsos aqui mesmo no banheiro, ver a cerâmica branca do piso ser manchada de vermelho escarlate bem aos poucos.

Pressiono as duas mãos contra os ouvidos e me sento no chão. A Dra. Lee sempre me diz que devo pensar em algo bom e as vozes pararão, então tento pensar em Hannah. Ainda com os olhos fechados, tento mentalizar o sorriso de Hannah, os olhos verdes me encarando, a ponta dos dedos tocando suavemente meu rosto, e seu cabelo escorregando entre minhas mãos, mas só consigo ouvir gritos dizendo que eu nunca vou voltar a vê-la.

“Acha mesmo que ela se importa com você? Ela nunca veio te visitar, Chris. Nunca nem mesmo enviou uma maldita carta, seu filho da puta estúpido.”

“Enquanto você escreve pra ela, Hannah deve estar dando pra qualquer outro cara melhor que você.”

“Pra ela, você é o idiota que está internado, que não consegue nem se quer olhar nos olhos das pessoas por muito tempo.”

“Ela não te ama mais, Chris.”

As mesmas frases ficam se repetindo insanamente nos meus ouvidos, e eu não entendo como, já que estou com os ouvidos tapados e eu não deveria poder ouvir nada disso, não é? Estou me balançando para frente e para trás, e minha cabeça está doendo muito mesmo, então acho que as vozes estão aqui dentro e estão comprimindo meus neurônios por isso não consigo nem pensar direito e SÓ QUERO FAZÊ-LAS PARAR POR UM INSTANTE.

Sinto um gosto metálico na boca e acho que provavelmente mordi o lábio, então bato forte na minha cabeça, e só por um segundo, as vozes diminuem. Mas logo voltam a gritar para que eu acabe com isso. E uma parte de mim quer obedecê-las só para que saiam da minha mente, mas não tenho nem força suficiente para levantar e realmente fazer isso.

Insanamente, começo a pedir a Deus que faça isso parar. Tento mover os lábios e dizer as palavras mesmo que sussurradas, e fico pedindo que Ele tenha piedade de mim e faça isso parar, mas acho que Deus quer que isso aconteça, porque eu fiz algo muito errado e talvez seja uma punição ter o cérebro invadido por coisas ruins.

Pressiono a testa contra os joelhos e digo pra mim mesmo que só preciso aguentar por tempo suficiente para que eles se cansem e vão embora, porque não tem nada mais que eu possa fazer. Não faço a mínima ideia de quanto tempo eu já estou assim, porque já não tenho noção de quantos minutos se passaram. Ou horas. Tenho certeza que se parecem mais horas.

— Chris? — Ouço a porta se abrir e a voz de Callie me chamando. — Chris? Você tá aí? — Não consigo nem mesmo dizer que sim, estou aqui, e pelo amor de Deus, por favor vem aqui e faça isso parar. Acabo soltando um gemido e posso sentir seus passos se aproximando da porta do banheiro, que está entreaberta.

— Ai meu Deus, Chris! — Callie exclama quando me vê sentado ao chão, surtando. Ela se agacha na minha frente como se eu fosse uma criança com um arranhão no joelho, mas não ergo a cabeça para olhá-la.

— Callie, as vozes, elas....

— Shh! Eu sei, eu sei. Se acalma, por favor. — Ela passa os dedos finos pelo meu cabelo, jogando-o para trás, então ergo só um pouco a cabeça, só para que seus olhos se encontrem com os meus. Callie me oferece um de seus sorrisos preocupados e deposita um beijo na minha testa. ­— Vou buscar um enfermeiro, ok?

Volto a abaixar a cabeça assim que Callie sai do meu campo de visão. Queria que ela continuasse aqui, comigo, porque foda-se o enfermeiro, é ela que faz com que as vozes diminuam, que faz minha pulsação se estabilizar. Uma fala urgente me diz que ainda tenho tempo, que só preciso de um corte bem fundo ante que qualquer pessoa volte a atravessar a porta, mas fico apenas me balançando para frente e para trás, para frente e para trás, para frente e para trás, até que Callie volte.

O enfermeiro se desculpa pelos remédios, me faz engolir cinco comprimidos, o que é mais do que minha dose normal, mas eu simplesmente não questiono. O homem me dá uma injeção no braço, com a desculpa de que vai me ajudar a ficar calmo, e pela primeira vez, não me oponho ao sedativo, porque só quero que isso tudo pare e eu consiga respirar sem ofegar. Antes de ir embora, o enfermeiro me coloca na cama, e me diz para tentar dormir, mas é realmente complicado quanto tem um milhão de ordens se repetindo em minha mente.

Me encolho junto a coberta, mesmo que não sinta frio algum. Callie se deita junto comigo, a minha frente, e fica me olhando com os olhos mais azuis do mundo, que transbordam preocupação. Simplesmente parece que Callie abaixou o volume da confusão dentro da minha cabeça. Ou talvez seja o sedativo. Ou o calor da sua mão contra o meu rosto enquanto os dedos percorrem a linha do meu nariz.

— Vou ficar aqui com você, ok? Até você ficar bem. — Faço que sim com a cabeça de leve, já com os olhos fechados. Não digo que nunca vou ficar realmente bem, que vou ficar pra sempre desse jeito perturbado, o que então significa que Callie ficará comigo pra sempre, e não me importo nem um pouco de ficar a eternidade assim, com ela deitada ao meu lado.

***

Na hora que acordo, sei que tem algo de errado. Tem algo de errado porque não estou sozinho na minha cama, e tem cabelo loiro jogado por cima do meu peito. Callie.

Levanto num salto e me afasto da cama, como consequência, Callie acorda. Ela tenta se ajeitar na cama e joga o cabelo de lado enquanto se espreguiça.

— Bom dia para você também, Chris. — Ela diz, com um sorriso brincalhão surgindo em seus lábios. Não estou achando nada disso engraçado, só para constar. Ela deveria ter ido embora depois que eu dormi, não é?

— Você não deveria estar aqui. — falo em tom ríspido, mas uma parte de mim quer que ela fique. Uma parte pequena que eu não queria que existisse.

Callie revira os olhos para mim. Odeio isso, odeio tanto isso. Quero dizer para ela nunca mais fazer isso para mim, que me traz sentimentos ruins, mas não acho que seja um bom momento para falar isso, já tenho bastante sentimentos ruins neste segundo.

— Como se eu nunca tivesse dormido no quarto de outra pessoa. — Ela está fazendo um coque no cabelo e não dá nenhuma importância ao que eu falo. Minhas mãos começam a tremer mesmo que eu não saiba porquê. Quero, ao mesmo tempo, tirar essa garota do meu quarto imediatamente, e fazê-la deitar de novo e ficar comigo pelo resto do dia. Acho a primeira opção mais sensata, então ajo como se a segunda nem ao menos existisse.

Fico imaginando se a qualquer momento algum enfermeiro vai entrar no quarto.

Eles vão entrar no quarto.

Eu não poderia estar aqui com a Callie.

Ela não deveria estar aqui.

— Você precisa sair daqui. — Estou tentando manter a voz firme porque sempre que engasgo em alguma palavra ou deixo a voz fraquejar por um milésimo de segundo as pessoas riem ou se estressam ou gritam comigo e eu não gosto de gritos porque fazem minha mente girar e nesse momento ela já está começando a girar e eu não sei quanto tempo posso continuar falando com a voz firme porque minha cabeça está começando a latejar pela simples razão de que não consigo definir realmente o que eu quero ou o que estou sentindo.

Tento controlar meus pensamentos porque eles estão surgindo rápido demais então percebo que Callie está me encarando. Isso significa que ela sabe que nesse momento tem algo de errado comigo.

— Já estou indo, tá bem? E vá tomar seus remédios, agora. — Ela me lança um olhar estranho em que parece que o azul dos seus olhos está perfurando minha carne e enxergando dentro de mim. De alguma forma, permito que ela faça isso, que enxergue tudo o que eu realmente sou. Ela está bem na minha frente e então me dá um beijo no rosto antes de desviar de mim e sair pela porta.

Solto a respiração que eu nem tinha percebi que estava prendendo e me sento na cama. Tento rever todos os últimos momentos e procurar se posso ter magoado Callie com alguma coisa, mas minha cabeça continua doendo.

Desço no refeitório apenas para tomar os remédios, como Callie mandou. Cancelei meu café da manhã quando não vi Jeff em nenhuma das mesas e Callie estava com Emma. Eu continuo não gostando dela, mas as palavras de Callie sobre a garota meio que ficaram martelando na minha mente. Eu não a odeio, mas não quero ficar perto dela, muito menos me sentar numa mesa com ela e tomar café da manhã. Não sei se ela ainda vai me atacar sem motivos e fazer minha pulsação disparar. Torço para que Callie não tenha me visto ou tenha entendido minha razão de não ficar. Estou evitando as duas, para ser sincero.

Ignoro o fato de que Jeff deve estar trancado na droga do seu quarto bebendo vinho e esperando a namorada, mas principalmente, deve estar chapado. Bato duas vezes na sua porta quando passo por ela no corredor e ele apenas grita “Estou vivo!” de lá de dentro.

Os sábados são estressantes e frustrantes demais. A maioria dos pacientes recebe visitas e ficam no gramado, então é meio torturante ficar olhando pela janela e vê-los com as suas belas famílias, logo que Steve não vem hoje e meus pais estão mortos e qualquer outra pessoa fora disso deve me odiar menos Hannah e ela nunca viria aqui.

Bato as mãos com força na grade que protege a janela e solto um grito. São barras de ferro, e não vão se romper. Calço os sapatos e saio do quarto, batendo a porta forte atrás de mim. A lógica é que eu sei que posso bater a porta o quando eu quiser e esmurrar a janela até meus punhos sangrarem e isso não vai adiantar porra nenhuma mas eu continuo fazendo porque é quase uma forma de libertar o sentimento ruim que insiste em viver no meu peito. Caminho até o corredor do andar de baixo e procuro pelo Sr. Hughes. Procurar não é bem a palavra, já que ele sempre está em seu quarto sentado na cadeira de balanço.

Bato duas vezes em frente a porta branca do velho. Ele responde com um “entre” com a voz calma e sorri para mim quando me vê.

— Boa tarde, Chris. — diz, enquanto se levanta lentamente da cadeira de balanço e liga o toca discos. Música clássica. Como sempre.

— Boa tarde, Sr. Hughes.

Ele aponta para a cama e eu me sento.

— Sabe, eu ainda tenho esperança que seja algum dos meus filhos sempre que você bate à porta. Gosto de você, garoto, mas eles poderiam vir, sabe? — Faço que sim com a cabeça. — Aliás, o que te traz aqui?

— Sábados são deprimentes para quem não recebe visitas. Posso só ficar aqui e escutar a música? — pergunto, mesmo sabendo que ele me deixaria ficar aqui para sempre. Ele é um velho solitário. Qualquer um que esteja no mesmo ambiente que ele sem ser obrigado a isso já o faz feliz.

— É claro, garoto.


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Notas finais do capítulo

Aviso rápido: alguns termos estão repetidos, e é assim mesmo, para dar ênfase. E em alguns momentos, seria necessário o uso da vírgula, mas eu não coloquei pelo motivo de que são pensamentos desorganizados do Chris, e sei que lendo dá meio que uma falta de ar, e minha intenção é bem essa.
Pausa só pra dizer que, vocês que shippam Chris e Callie estão me contaminando. Fico vendo imagenzinha no We Heart It e imaginando os dois (criei uma coleção com o nome da história, olha o vício). Falando em Callie, o transtorno que eu comentei lá nas notas iniciais é o Transtorno de Personalidade Borderline (ou Limítrofe), pra quem quiser saber mais sobre e tal.
O Nyah! agora não deixa que vocês copiem partes da história (para prevenir plágios), mas se vocês virem algum erro, avisem, ok? Nem que seja um "Dona Alasca, olha os erros de digitação, mulher".
Hoje eu quero críticas, gente. Eu amo de paixão os comentários com elogios, mas hoje quero que apontem coisas que podem ser melhoradas. Encham aquela segunda perguntinha aí dos comentários, ok? Tal personagem tá mal desenvolvido? Falha no enredo? Poderia ter trabalhado melhor tal aspecto? Quero deixar a história cada dia melhor pra vocês, afinal, vocês merecem.
Perguntinhas de hoje: Acham que a Callie gosta do Chris? E o Jeff, que vocês consideraram um grande amigo do Chris no capítulo passado, porque nem deu as caras o dia todo, nem se preocupou? De onde raios saiu o Sr. Hughes?
É isso, eu acho. Minhas aulas começam na segunda ~chora~, mas vou tentar atualizar no máxima a cada duas semanas (em média, a cada 10 dias, ok?). Até o próximo, amo vocês ♥