The Mistake Of Chris escrita por Realeza


Capítulo 17
A movie not very good about love


Notas iniciais do capítulo

*Um filme não muito bom sobre o amor
Música: Leave your lover - Sam Smith | Friends - Ed Sheeran
OLÁ OLHA QUEM REAPARECEU.
Eu meio que tinha avisado do possível sumiço, mas é porque tá hard. Ando sem criatividade pra escrever, sem tempo pra ler outras fanfics, sobrecarregada de todas as formas possíveis e pra dar uma melhorada, nem férias vou ter.
É, sempre tem umas linhas de desculpas nas notas iniciais.
Esse capítulo está escrito a um tempão e sinceramente é um dos meus favoritos e mais trabalhosos até agora. Ter que lidar com as emoções de dois personagem tão complexos numa cena só me fez reescrever isso algumas vezes, e espero muito que gostem.
Sim, é capítulo de Challie. Tem bastante gente nos comentários que fala sobre os dois, sem entender muito direito o que tá acontecendo e as emoções do Chris, então esse capítulo é sobre isso.
E essas músicas? SÃO PURO AMOR.
Tenho que agradecer a cada um que acompanha a história, apesar dessas demoras e as mancadas que eu sempre dou na hora das atualizações. TMoC é uma das coisas mais especiais do mundo pra mim, de verdade, e eu não me perdoaria se a abandonasse de forma definitiva.
Pela primeira vez em muito tempo, as notas ficaram curtas. Então, aproveite a leitura.



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É como numa cena de filme. Penso que é provável que eu e Callie estejamos presos numa cena de algum tipo de produção de um diretor metido a indie. Imagino se ele quis incluir alguma trilha sonora na cena e se a música começou bem no momento em que Callie bateu na porta do meu quarto.

— Bem, eu preparei uma coisa pra nós dois hoje. Mas você vai ter que sair do próprio casulo que você chama de quarto. — anuncia, assim que a câmera corta para o seu rosto. A lente reflete a felicidade presente na íris azul e concordo com a cabeça, sorrindo de um modo instintivo e verdadeiro que encanta o tal do espectador. É estranho vê-la bem depois dessa semana, mas não contesto isso.

Queria de verdade que alguém estivesse gravando esse momento, para que futuramente essa felicidade genuína nos olhos de Callie pudesse ser revivida. Quero guardar essa cena e não confio na minha mente pra isso. Não quero que se torne uma meia-memória como todas as outras. Quero eternizar isso na minha memória. Ou melhor, de um jeito insano, quero eternizar esse sentimento dentro dela, mesmo que seja claramente impossível. Ainda assim, quero que Callie tenha o máximo possível disso consigo, principalmente depois de como ficou sobre o que aconteceu com Emma.

Ela segura uma das minhas mãos e me arrasta para fora do quarto, batendo a porta logo atrás. Duvido que alguma câmera seja capaz de registrar precisamente o que sinto quando seus dedos entrelaçam junto aos meus e ela percorre o corredor em passos apressados, o cabelo loiro flutuando logo atrás e as pontas fazendo cócegas no meu rosto. Sua risada é a trilha sonora de fundo melhor do que qualquer música já existente.

Pegamos uma cesta de piquenique na cozinha e Callie me guia pela escuridão. Meus olhos ainda estão se acostumando a pouco luminosidade mas consigo distinguir o momento em que Callie pressiona o dedo indicador sobre os lábios volumosos, indicando que devemos fazer silêncio. Ela abre delicadamente uma porta lateral e olha para os dois lados antes de atravessá-la e me puxar junto, como se estivéssemos num filme de perseguição antigo, cuja a pouca iluminação do momento faz a imagem ficar em preto e branco.

Estamos na parte dos fundos do prédio e é com certeza uma das áreas restritas a pacientes. Claramente, não vejo o porquê disso, já que é somente um gramado e um pequeno cômodo avulso mais distante, servindo provavelmente de depósito. É óbvio que não é permitido sair depois das sete da noite, e depois das oito o pessoal da cozinha vai embora, além que as câmeras ficam unicamente na parte da frente do prédio. A brecha perfeita.

No momento em que ela me arrasta para longe da porta e mais adiante no gramado, me permito ficar verdadeiramente feliz com essa cena. Os bons momentos são raros em muitos filmes. E quero viver um bom momento com Callie.

— Por que um piquenique? — pergunto, quando já estamos sentados na toalha sobre a grama e cada um servido com um pedaço de torta de amora.

— Gosto de piqueniques. — responde e levanta o olhar para me oferecer um meio sorriso. — E o nosso último foi um completo desastre muitos sentidos. É o meu jeito de tentar superar ao menos um pouco aquilo tudo, sabe? — Assinto por compreender cada uma das suas palavras, inclusive as não ditas, como o fato de que Emma tentou se matar no último piquenique. — Eu até fiz uma torta, tá vendo?

— Desde quando você cozinha?

— Desde que você não foi jantar e nem apareceu para pegar algo pra comer.

A noite está clara e já deve ser perto da meia-noite. Há luzes na parte dos fundos do prédio, e como não nos distanciamos muitos, a claridade chega aqui. Além de que a lua está quase cheia no céu sem nuvens. Callie está sentada a minha frente com as pernas cruzadas, vestida com algo que está longe de ser um pijama.

— Prova logo. — Obedeço em silêncio, levando o garfo a boca. — E então?

Engasgo um pouco tanto pela pergunta, como pelo sabor.

— Você está linda. — A elogio, e rio logo em seguida. — Está realmente linda, Callie.

— E você, Sr. Campbell, está mentindo bem na minha cara só para não ter que dizer que eu sou péssima na cozinha. — rebate, se sentando mais próxima de mim.

— Mas não é mentira. Você está realmente linda. — Callie faz uma careta e dá de ombros, fazendo com que a camiseta solta deslize pelo ombro direito e deixe a mostra a pele. Logo em seguida, se inclina para perto da cesta novamente e me joga um sanduíche, ficando com outro pra si.

­— Tenho plena ciência da catástrofe que sou na cozinha, então tenho uma contenção de dados. —anuncia enquanto já abre a embalagem do seu. — E não, não fui eu que fiz, se isso te faz ter um pouco mais de segurança antes de comer.

— Essa é uma das razões pela qual você é incrível.

Comemos em silêncio. Não é nada desconfortável, pelo contrário. Sinto que com Callie não é nenhum problema haver falta de conversa. Acho que nunca me senti desconfortável com ela, e já comecei a pensar que é algo impossível e contra as leis da natureza. Como se fosse totalmente certo assim. Logo, estamos deitados sobre a toalha lado a lado encarando o céu. No momento em que viro o rosto e observo silenciosamente Callie, ainda com o rosto voltado para as estrelas, me lembro da única pessoa que me fazia sentir dessa forma. A única outra garota que preenchia cada milímetro do meu ser quando estava do meu lado. Que me levava a piqueniques e que tinha olhos incríveis, mas verdes, em vez dos azuis de Callie. Minha mente me mostra a garota de onze anos sentada no gramado meio mal cuidado da minha casa.

O cão dela, Bob, está deitado ao seu lado, e com a cabeça pede carinho. Vejo Hannah, os cabelos ondulados escondendo o ombro nu, que a blusa caída deixou aparece. Ela segura o rosto do cachorro e beija seu focinho. Em seguida, sorri e pega uma cereja da tigela ao seu lado e ergue a cabeça, olhando para o céu azul e joga a cereja na boca. Hannah me olha, e faz uma careta pelo gosto levemente amargo da fruta. Nós estamos sentados numa toalha vermelha, e a cesta castanha está jogada de lado. Há uma flor minúscula ao lado de Hannah, ao alcance de seus dedos. Ela não a vê, por isso, me estico para frente e alcanço a flor, oferecendo para a garota a minha frente logo em seguida.

A lembrança se vai tão cedo e tão de repente quanto chegou. Sinto vontade de estender as mãos para a noite e tentar agarrá-la, mesmo sabendo que esse impulso é inútil. Uma saudade avassaladora de Hannah me preenche.

— Você está bem? — pergunta Callie, apoiada em um dos cotovelos para me ver. — Podemos esquecer tudo isso se preferir. —Sua última frase sai mais fraca e vejo o desapontamento presente no tom baixo da voz. Ela abaixa o olhar momentaneamente. —Sou uma catástrofe em tudo, mesmo quando já estou tentando consertar catástrofes anteriores. E isso vai muito além de uma torta ruim.

— Acha que é sua culpa uma mínima lembrança já me ferrar por inteiro? Entre todo mundo, você é a pessoa que mais me faz bem. — Minha mente me alerta pra quase mentira. Usei o verbo no presente: Callie me faz bem, Hannah me fazia bem. Por um momento, aceito isso. — Não acho que isso seja uma catástrofe nem de longe. — Ela continua sem me olhar, mas meu corpo grita para ter novamente aquele azul me encarando profundamente. — A torta, no entanto, já é um caso diferente.  — Ela sorri com meu comentário e se joga novamente deitada ao meu lado.

— Você assumiu diretamente que tem medo de ratos, como se eles fossem super mortíferos. Vou ter sempre isso ao meu favor. — Callie parece estar voltando a nossa atmosfera leve anterior. —Nenhuma torta ruim supera isso.

— Infelizmente, tenho que concordar. Estou meio que me arrependendo de ter te dito isso.

Callie sorri ao meu lado. Ela está com os braços esticados acima da cabeça, por isso desisto da ideia e do impulso de pegar a sua mão e uni-la a minha. Ficamos em silêncio novamente por um momento, até que ela o interrompa.

— Espero que seja a única coisa sobre a qual se arrependa quando se trata de mim. — Levo um segundo para entender do que ela está falando, já que desfoquei totalmente da nossa conversa enquanto fui inundado de pensamentos que a incluíam.

— Por que disse isso? — pergunto, mesmo que não queira ouvi-la falar que se sente um erro. Eu sou o erro nessa história toda. Mas Callie não me responde, como se ignorasse totalmente minha pergunta, como se isso não importasse.

— Sabe, as vezes eu queria apenas parar de pensar. — Volta a falar e faz uma pausa logo em seguida. — Pensar torna tudo mais difícil. Seria mais fácil só agir de acordo com o que se sente, sem se preocupar com o certo e errado, com todos os talvez e os será. Tipo toda essa história da Emma e como eu não paro de pensar nisso.

— Seria mais simples se não sentíssemos, e tudo não passasse de uma fórmula. — falo, e, mesmo que queira que minha vida seja dessa forma, sei que ela nunca será. — Você é boa com cálculos normalmente.

— Seriamos todos robozinhos, no seu lindo plano para a humanidade? Fala sério, Chris. A vida não teria a mínima graça.

— Eu sei, mas... — Deixo a voz sumir. Torço para que Callie não me peça para terminar a frase, e ela não pede.

— Eu queria te conhecer melhor, sabia? Mas é que, as vezes, parece que nem você mesmo se conhece. — Callie se vira e me olha nos olhos, com medo de ter me magoado ou algo do tipo, e como vê que eu não tive nenhuma reação semelhante, continua. — Como se você estivesse perdido.

Sei com todos as minhas forças que Callie está certa. Todas as células do meu corpo gritam que ela está certa.

Não conheço a mim mesmo.

Não conheço a mim mesmo porque não lembro de como eu era. Não lembro do que fiz. Dos erros que cometi. Ou de qualquer sentimento que já tive.

Minhas lembranças nunca são completas. É engraçado dizer isso, porque mesmo que eu já tenha tentado explicar diversas vezes para a Dr. Lee, ela sempre diz que não estou sendo claro o suficiente. Mas é exatamente isso, as lembranças nunca são suficientes, porque parecem partidas. Como se eu as enxergasse através de uma parede de vidro trincado que me impede de compreendê-las de verdade.

— Eu também queria me conhecer melhor. — digo, por fim. Como resposta, Callie me encara profundamente por um longo momento. Ela parece enxergar através de mim, além do meu Erro, do Objetivo Final e de todas as meias-memorias que nunca serão completas. Seu rosto está bem próximo ao meu, e o único movimento entre nós são nossas respirações, seu peito subindo e descendo lentamente.

Noto cada detalhe do seu rosto. A pele suave e os olhos maquiados que me encaram. Callie costuma sempre se maquiar, como se fosse um habito que ela não queira perder só porque está num maldito hospital. Mas ela é linda sempre. Observo os olhos fascinantes que estão contornados por delineador. A curva delicada do lábio superior que está coberto por um batom marrom avermelhado. Os cílios longos, a pequena falha no final da sobrancelha direita e uma pinta minúscula no queixo, próxima ao lábio inferior. Tenho o impulso de me aproximar ainda mais e depositar um beijo nem naquele local, mas me detenho no momento em que Callie vira novamente para frente e volta a observar o céu.

— Tudo bem, quem é a sua pessoa favorita no mundo? — pergunta.

—O que?

— Eu disse que queria te conhecer melhor, e o único jeito que conheço é perguntando. — ela explica. — Então, quem é a pessoa favorita no mundo? 

O tom da sua voz e a intensidade do momento anterior me impedem completamente de mentir.

— Hannah. — respondo e reafirmo logo em seguida. — Hannah é a minha pessoa favorita no mundo.

— Tudo bem. —diz, de um jeito que arrasta as sílabas. — Próxima pergunta: qual seu lugar favorito no mundo?

— O quintal da casa da Hannah. — respondo, sem nem pensar uma segunda vez. É automático e totalmente sincero.

— Tá. — Callie respira profundamente. — Qual a sua música favorita, de todas que já ouviu?

— A música que dancei com a Hannah no baile do colégio quando tínhamos uns catorze anos. Era algo do The Smiths, eu acho. — Callie não fala mais nada, então continuo. — Mais alguma pergunta, interrogadora pessoal?

— Na verdade, só mais uma. — anuncia, num tom mais amargo. — Tem alguma coisa na sua vida que não esteja ligada a essa garota? Por que a sua vida gira em torno dela? — fala, de um jeito nada agradável e vira para o outro lado, se afastando de mim.

— Você fez duas perguntas, Callie. E não uma só. — Não sei porque digo isso, já que não ajuda em nada.

— Você é um idiota, Chris. — Me viro em sua direção e tento puxá-la de volta pra mim, mas Callie afasta o braço bruscamente. — Você nem mesmo a ama mais. Ama as lembranças estúpidas que ainda tem dela. Dedica toda a sua vida a isso e não enxerga o quão estúpido é. Estraga o seu presente e seu futuro por não conseguir superar uma garota estúpida que não dá a mínima pra você. Essa é a verdade. Nenhuma carta, nenhuma visita mesmo depois de tantos meses aqui dentro. Ela nem sequer manda notícias pelo seu irmão. — Sua voz é baixa e carregada de decepção. — Posso ser uma idiota por gostar de você, mas nunca chegarei no seu nível.

Não a respondo por minutos. Não sei como respondê-la quando ainda estou absorvendo cada uma das suas palavras. Sei que amo Hannah. Tenho essa certeza dentro de mim desde quando a conheci. Callie não entende e simplesmente jamais vai entender. Hannah é tudo o que eu já tive antes de ferrar com a minha vida. É impossível não amá-la.

Callie se senta e começa a organizar as coisas dentro da cesta.

— Callie, não precis.... — começo a dizer, mas ela me interrompe. Está de costas pra mim e verdadeiramente irritada.

— Vamos embora, tá legal? Na verdade, nem deveríamos ter vindo.

— Não fala isso.

— O que quer que eu fale então? — Ela se vira para mim de repente, quase gritando. — Já disse tudo o que deveria. Você ao menos me ouviu? Ou estava ocupado demais pensando na sua querida Hannah?  Vou esclarecer mais ainda: não consigo ficar aqui ouvindo sobre a Hannah e sabendo que tudo o que te importa é ela. Tudo o que pensa é ela. Quando estava me olhando, você via ela também? Fica perto de mim e imagina como seria com ela? — Seus lábios ficam levemente trêmulos. Callie fala disparadamente e sem pausas, e usa as mãos para gesticular de forma eufórica. —Gosto de você, Chris. E me sinto uma idiota por isso. Gosto de você de verdade, e quando estou com você, é dono de todos os meus pensamentos. Poderia te abraçar por mil anos. Quando está perto de mim, quero o tempo todo que me beije. Você é o primeiro cara com o qual eu não quero só fazer sexo. Me odeio por isso tudo, Chris.

— Você não entende nada sobre a Hannah. Não tem como entender.

— Chega, Chris! — berra, alto o suficiente para que eu tema que alguém apareça. — Não quero entender, não quero te ouvir, porra! Puta merda, eu estou indo embora. Se quiser ficar aqui pensando na idiota da Hannah e criando uma vidinha estúpida ao lado dela, que no fundo você sabe que nunca vai acontecer, que fique. — Enquanto fala, Callie pega a cesta e coloca no braço. Logo depois, dá as costas pra mim e sai andando.

Fico parado como um idiota de pé enquanto a vejo ir embora. Minha cabeça está uma bagunça cheia dos gritos de Callie, meias-memorias e mil pensamentos confusos que eu quero desesperadamente organizar mas não consigo.

Não posso deixa-la ir embora. Não faço a mínima ideia de como resolver o que acabou de acontecer, mas tenho certeza de que não vai ajudar em nada deixar Callie voltar para o quarto tão irritada comigo. Nunca a vi gritar antes, e vê-la aos berros comigo, os olhos brilhantes de raiva e lágrimas e mechas do cabelo loiro caindo sobre o rosto sem que ela se dê o trabalho de arruma-las, me angustia.  Logo, estou indo atrás de Callie enquanto ela aumenta ainda mais a velocidade de seus passos a fim de me manter distante. Chamo seu nome no silêncio da madrugada e ela nem mesmo se vira. Agarro seu pulso quando já estou perto o suficiente. Não quero que vá embora. Quero voltar ao momento em que ela estava me olhando intensamente sob a meia-luz do prédio. Quero voltar a notar a pinta delicada em seu rosto.

— Vai pro inferno, Chris. —diz, quando se vira pra mim. Noto a maquiagem borrada que mancha o seu rosto, indícios indiscutíveis de que ela chorou.

Se isso fosse um filme, com certeza esse momento duraria mais e seria aqui que eu perceberia que a amo profundamente, de corpo e alma e tudo mais romântico que se pode dizer. Eu imploraria perdão e, Callie como a mocinha improvável, seria capaz de ver a sinceridade nos meus olhos e me beijaria como uma prova do nosso amor. Sinceramente, nem mesmo espero que nada disso aconteça. Não sinto nada disso. Nem tenho tempo pra isso, porque ela solta o pulso dos meus dedos e corre. Para o lado oposto a porta, mostrando que mudou de objetivo e agora só quer se livrar de mim.

Vou atrás dela mais uma vez, porque seu novo objetivo é idiota. Talvez eu me canse e ela volte para o quarto sem falar mais nenhuma palavra comigo, mas nós dois sabemos que eu estaria batendo na porta do seu quarto em dez minutos.

Instantaneamente, me arrependo de todas as aulas de educação física as quais faltei. Mas estou motivado a alcançar Callie. Todas as células do meu corpo imploram para que ela pare e não vá embora. Chego perto o suficiente para que seus cabelos encostem em mim quando percebo que ela não vai parar. E que tenho que pará-la caso não queira perdê-la.

Então me jogo em cima dela.

E nós dois caímos bruscamente sobre o gramado.

No último milésimo de segundo antes de batermos contra o chão, ergo o braço para impedir que Callie bata a cabeça. Para minha surpresa, ela continua tentando me afastar, o que faz com que eu bata a cabeça com força no chão. Com uma força do caramba e minha visão fica turva por um momento antes que eu consiga projetar o corpo para cima e prender Callie contra o chão. Seguro seus braços acima de sua cabeça e estou com os joelhos nas laterais do seu corpo.

— Me deixa ir embora, porra! — grita, e continua se debatendo embaixo de mim. Há mechas de cabelo jogadas pelo rosto e um pequeno machucado no lábio inferior. Ela respira ofegante pela corrida e só assim tomo consciência da minha própria respiração irregular, um grande contrate com minutos atrás.

— Eu não posso, Callie. Não sei porque, mas não posso. — Espero por um segundo que ela me xingue novamente, mas ela não o faz. — Só pare um minuto com isso, por favor. — Minha voz sai baixa e calma, mesmo que uma parte de mim queira gritar com ela por estar agindo como uma louca.

Incrivelmente, ela me obedece. Me encara com um misto de raiva e decepção que me afeta no mesmo instante. Ela lambe o sangue do ferimento da boca antes de falar.

— Só me solta e volta pro seu quarto. Nunca mais vou te encher de novo. Só que provavelmente vou transar com um enfermeiro por cigarros e acabar com uns cortes nas coxas, aí não vou poder usar shorts por uns dias. Mas fazer o quê, sou uma louca psicótica internada num hospital, quem esperaria algo além disso? — Seu tom é amargo e de um jeito Jeff demais pra mim. Não sei lidar com isso, nem um pouco.

— Não posso deixar você ir.

— Por que não?  Qual é a porra do motivo disso? — Ela volta a gritar e se encher de raiva.

— Porque amo você, Callie. De verdade.

Mais improvável do que o surto irônico, os gritos de fúria e toda a corrida insana, é a gargalhada que ela solta logo após o que falo.

— Isso foi realmente engraçado, Chris. Você seria um ótimo comediante se não fosse um filho da puta. — Seu rosto está com uma expressão verdadeiramente divertida que me deixa ainda mais confuso. — Não sabia que você curtia tanto esse lance de brincar com os sentimentos dos outros.

— Não é engraçado. Não é divertido. É verdade, Callie. — digo, num tom alto e duro que a faz parar de sorrir e me encarar como de finalmente estivesse levando aquilo a sério. — Não é do jeito que está pensando. Não do tipo namorados, porque sinceramente acho que você merece alguém melhor que eu. E nem do tipo amigos, porque no meio de tudo o que aconteceu agora, acho que nem sei mais o que isso significa. — Faço uma pausa, meio que esperando uma nova reação sinistra. — O que sinto por você é único, Callie. E eu não faço a mínima ideia de como definir isso direito, mas sei que envolve o fato incontestável de amar você.

A observo por alguns segundos, sem ter a mínima ideia de alguma possível reação. Acho que não tinha a mínima ideia da metade dessas coisas antes de dizê-las, mas soam completamente verdadeiras.  Apenas a encaro, vendo a sua expressão voltar a ser serena.

— Me ama como ama a Hannah? — dessa vez, fala num sussurro.

— Não. — respondo simplesmente, sem saber dar maiores explicações. Continuo a observando, sua respiração voltando a se normalizar.

— Pode me soltar, não vou mais fugir como uma maníaca.

Solto seus pulsos devagar e saio de cima do seu corpo, rolando para o lado. Ela se senta e permanece assim por uns dois minutos antes de se levantar e pegar a cesta caída logo adiante.

— Pelo menos você não disse que somos só amigos. Aliás, mesmo que convincente, ainda quero socar sua cara por ser um otário com toda essa história com a Hannah, mas meio que estou com dó por você já ter batido a cabeça. — Com essa menção, volto a lembrar da dor perto da testa e levo a mão naquela direção, voltando com os dedos manchados de sangue. Também noto o sangue pingado na base do pescoço de Callie. Ela me estende a mão e me ajuda a levantar.  — Vem, vamos pro quarto dar um jeito nesse machucado.


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Notas finais do capítulo

Sim, tem lembrança da Hannah no meio de uma cena Challie. É pra mostrar toda a influencia que ela tem sobre o Chris em todas as áreas possíveis. Dissertem sobre esse capítulo nos comentários, já que eu estou meio sem ideias para perguntas:
1- Eu tentei colocar algumas cenas mais leves e outras mais tensas num mesmo capítulo. Acham que sobrecarregou ou ficou ruim de alguma forma?
2- Entenderam os sentimentos de ambos? Dei meu máximo pra tentar esclarecer isso.
3- O que esperam da relação de Challie depois desse capítulo?
É isso, eu acho. Vou tentar não deixar aparecer mais o aviso de 45 dias sem atualização, para não parecer que eu abandonei a história.
Obrigada por ler ♥



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