Um amor inglês escrita por Marvin


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Hey, trago mais um capitulo feito com muita dedicação. Espero que aproveite a leitura.



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Passou-se um mês e agora a rotina de Andrew havia mudado.

Inicialmente ele teve que perder alguns dias de aula para se recuperar em sua casa. Seus pais nem ao menos notaram o seu problema, mas isso não o chocou, eles tinham sua própria rotina de viagens e trabalho na qual um filho machucado não estava incluído.

Quando voltou para a escola ele começou a falar com Emilly nos intervalos tentando ensina-la palavras básicas. Ela havia ficado animada, porém na primeira semana de seus ensinos os outros alunos perceberam a proximidade entre os dois e começaram a fazer piadas. Ela apesar de não entender tudo o que falavam ficou constrangida e os dois pararam com os ensinamentos.

Andrew arranjou então outra forma para continuarem. Todos os dias depois das aulas que eram matutinas eles se encontravam na biblioteca da escola. Com a maior privacidade suas aulas progrediram para frases avançadas e passaram a estudar os conteúdos dados nas aulas de português e até de outras matérias. Andy apesar de sua isolação costumeira aprendeu a apreciar estes encontros, até criava expectativas para o que ensinaria nas próximas aulas.

Logo ambos passaram a almoçar juntos no restaurante a quilo próximo a sua nova rota de ida para casa, já que a outra virara um tabu agora.

– Você realmente tem que comer batatas fritas todo dia? – Ele perguntou ironicamente.

– It’s chips, i can’t live without that – Ela respondeu rindo. É batata frita, eu não posso viver sem isso.

– Tem coisas mais saudáveis para se comer, como alface ou sei lá... – Ele comentou apontando para o seu prato todo enfeitado com o equilíbrio entre verduras, frango, arroz e feijão. Então apontou para o dela, cheio de carne e batatas fritas e o mínimo de qualquer outra coisa.

– Hey – Ela fingiu-se de ofendida – Batatas são veg... vege...

– Vegetais?! – Ele corrigiu enquanto gargalhava – Sua britânica junk food.

– You brazilian healthy – Ele respondeu com uma risada. Seu brasileiro saudável.

Sua alimentação sempre fora saudável, mais uma vez uma não influencia de seus pais. Na verdade isso era por conta de um estudo que leu onde constava que uma alimentação saudável fazia com que o cérebro trabalhasse melhor. E o seu cérebro era o único com quem podia contar.

Em uma de suas horas de estudos na biblioteca, em que eles decidiram prolongar já que nenhum tinha nada para fazer, Emilly fechou o seu livro de gramática marcando na pagina 146 onde falava sobre concordância verbal. Ela se afundou na cadeira em que estava e jogou seus pés por cima da mesa, Andy notou que ela usava um all star preto e parecendo um pouco velho e seu cadarço estava desamarrado.

– Hum, Andrew? – Ela perguntou em um tom preguiçoso.

– Sim? – Ele respondeu retirando os olhos do livro de literatura, no capitulo dos autores modernistas. Seu preferido era Clarice Lispector.

– You never asked me about why i came here, i mean, to Brazil – Ela falou olhando expectativamente para ele. Você nunca me perguntou por que eu vim pra cá, eu quero dizer, para o Brasil.

– I don't want to push you – Ele respondeu sinceramente, não sabia nada sobre ela, mas mesmo assim não queria pressiona-la e fazer alguma pergunta que a deixa-se desconfortável.

– I can tell...

Ela então contou uma parte de sua historia. Falou que por causa de um problema ela e seu pai tiveram que vir para esse país. Contou que seu pai estava muito nervoso nos últimos tempos, como se tivesse medo de algo. Falou que ele era um grande doutor que agora trabalhava em um centro médico próximo a sua casa, apesar de que poderia em algo melhor. Também admitiu estar preocupada com a situação dos dois. No final, porém ela não contou exatamente o porquê de sua vinda.

– Não se preocupe, eu posso ajudar em qualquer coisa que precisar – Ele falou enquanto colocava a mão em seu tornozelo de uma forma amigável. Surpreendentemente ela não se importou com o toque.

Ela ainda parecia pensativa, mas olhou em seus olhos – And what about you, what’s your story? - E quanto a você, qual é a sua história?

Andy suspirou fundo e refletiu, deveria realmente contar para ela?

Olhou profundamente em seus olhos e viu que era alguém a se confiar, mas também notou outra coisa, que talvez eles pudessem ser semelhantes em relação à solidão.

Então começou a falar sobre sua vida para aquela estranha que considerava mais do que seus próprios pais. Contou de forma calma e eufemizada sobre sua infância solitária, a negação de seus pais e como ele era agora uma pessoa excluída pela sociedade. Omitiu certas partes que achara desnecessárias, mas ainda assim parecera a ele que pela primeira vez se abrira para alguém.

Emilly ouviu calmamente a confissão de seu colega e quando este terminou, ela se levantou apressadamente. Pegou todos seus livros e começou a arrumar ordenadamente em sua bolsa. Andy ainda olhando para ela foi coagido a imita-la e começou a guardar em sua mochila os livros que sobraram na mesa. Em todo esse tempo ele ficou em duvida sobre o que ela faria, realmente acreditando que ela iria embora e passaria a ignora-lo como todo mundo faz.

Mas após ambos estarem arrumados ela se aproximou dele e entrelaçou sua mão esquerda a direita dele e começou a guia-lo levemente para fora dali.

– Eu gostaria de conhecer... Sua casa – Ela falou ainda o guiando – Quem sabe... Amanhã?!

– Han? Sim, não acho que alguém vá se importar – Ele respondeu ainda timidamente. Era a primeira vez que alguém o pedira para ir a sua casa. Era a primeira vez que alguém fora legal com ele. Era a primeira vez que andava de mãos dadas com uma garota.

– Importar? – Ela perguntou confusa.

– My parents won’t care – Ele constatou ao notar que ela não entedera a palavra. Meus pais não se importarão.

– Ha, see you tomorrow then – Te vejo amanha então. Ela soltou sua mão e lhe ofereceu um sorriso tímido. Só então que ele percebeu que já estavam na esquina em que ele deveria virar e ela estava esperando uma despedida por parte dele.

– Ok... Hum... Bye – Ele respondeu levantando a mão com um meio aceno, mas ficou todo vermelho e andou direto por seu caminho com vergonha demais para olhar para trás.

...

No outro dia Emilly arrastou uma cadeira para o local onde Andrew ficava e se sentou ao lado dele. Enquanto fazia isso, Andy notou que os outros colegas estavam olhando, mas ela nem ao menos se importou. Ele observou o desenrolar da cena sem saber o que pensar, por um lado sua privacidade estava sendo invadida, por outro... Bem, ela estava se dando o trabalho de fazer isso só para estar ao seu lado. A sala já estava lotada agora.

– Então... Hoje... Sua casa? – Ela sussurrou baixo para ele com o olhar de expectativa.

Andy corou tão profundamente que se soubesse que ela pudesse notar, coraria mais. Mas a sua pele branca não era alva suficiente para que se fosse perceptível, então ele ficou aliviado.

Ele olhou para ela e percebeu que falara inocentemente, sem perceber que parecera uma amante fazendo uma proposta indecente ao seu parceiro. Mas ele decidiu expulsar esses pensamentos ridículos de sua cabeça.

– Hum, sim claro – Respondeu e virou-se para anotar o que o professor de química, que acabara de chegar, estava escrevendo no quadro.

Eles passaram o resto do dia se portando normalmente, ressalvo quando Andy olhava para ela, pois esta devolvia o olhar com um sorriso cúmplice.

Na aula de português ele notou que Emilly ainda sentia certa dificuldade para acompanhar o que a professora falava. Esse problema eles ainda não haviam conseguido superar já que seria impossível que ela aprendesse o mais avançado da matéria, sendo que ainda trabalhavam no básico.

Por enquanto Andrew fazia como em todas as aulas, copiava tudo para que mais tarde na biblioteca deixa-se que Emy anotasse um resumo enquanto ele explicava para ela tudo o que os professores haviam falado. O interessante era que ele assumira toda a responsabilidade de ajudar Emilly e nem ao menos reclamara uma só vez. Por isso ele notava que a garota era muito grata ao que ele fazia mesmo que ela não falasse muito.

Dessa vez, porém, ao notar sua dificuldade, ele passou a sussurrar explicações e significados para a garota toda vez que via em seu rosto algum contorno de duvida. Isso incomodou a professora que não gostava de barulhos enquanto tentava dar aula.

– Andrew, você está atrapalhando o desenvolvimento da aula, se continuar assim eu vou ter que pedir para que se retire – A professora falou.

Andy quase morreu de vergonha enquanto toda a sala caia na gargalhada. Todos acharam graça na ironia de o aluno mais quieto do colégio estar conversando na aula. A professora se voltou para o quadro voltando a anotar.

Olhando para seu lado esquerdo Andy percebeu que Emilly estava tapando a boca por causa de uma gargalhada, ela então se virou e começou a imitar os gestos da professora em um tom cômico – Você está atrapalhando blá, blá, blá...

Ambos então riram do caso.

– Shiuu – A professora sibilou ainda voltada para o quadro ao perceber os burburinhos que se formavam na sala, dessa vez todos se calaram.


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Notas finais do capítulo

Traduçãozinha basica:
— Junk food = Sinonimo de comida gordurosa, "porcaria"
— I don't want to push you = Eu não quero te pressionar
— I can tell = Posso dizer

Bom... Comente se quiserem (ou não,me deixe no vacuo mesmo :/ ) e prometo que o proximo capitulo será melhor.



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