A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 4
O assalto da mão faminta


Notas iniciais do capítulo

" Gatinhos são perigosos. Eu amo gatinhos. " — MARTINS, Morgana



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Capítulo IV - O assalto da mão faminta

12/03/16 

Morgana's POV

A manhã estava bonita aquele dia. Eu estava sentada em uma mesa, na minha padaria preferida, saboreando o meu delicioso café matinal.

Para mim, a padaria Quebrada é a melhor da cidade, não apenas por sua comida, mas também por sua organização, funcionários e o gatinho da minha amiga que trabalha lá.

Percebi a minha amiga chegando pelo barulho que a porta giratória que conecta a cozinha com a entrada faz. Muitos anos indo à mesma padaria resultam nesse tipo de coisa.

— Olá, Morgana! — Ela me cumprimentou, trazendo em suas mãos uma bandeja com uma xícara de café.

— Bom dia, Dudinha! — Respondi com meu habitual sorriso. — A Dani me atendeu hoje. O que aconteceu?

— Desculpa não ter te atendido. — Ela disse. — Hoje, estou atendendo os pedidos do outro lado da padaria.

Fiz um sinal com a cabeça que havia entendido, mas mesmo assim ela apontou para um conjunto de mesas além do caixa. Em uma das mesas, havia um homem pouco atraente lendo um jornal enquanto esperava seu pedido.

— Tenho que entregar isso para o meu amigo ali. Já volto. — Ela explicou, enquanto andava.

Enquanto voltava, um segundo homem entrou pela porta e se sentou na mesa do rapaz do jornal.

— Não deu nem tempo de eu dizer "Tudo bem"! — Exclamei, enquanto Duda depositava sua bandeja na minha mesa e se sentava à minha frente. — Já saiu andando!

— Desculpa de novo! Eu tenho minhas prioridades. — Ela mexeu com os olhos na direção da outra mesa.

— Agora eu entendi porque você veio tão bem vestida hoje. — Pisquei para ela. — Na verdade eu já sabia, só queria ter certeza.

— Para de encher. — Ela fez uma cara emburrada. — Parece até que nunca se interessou por ninguém.

Odiava quando ela fazia aquela expressão com o rosto. Pensei na minha época escolar, em que alguns pensamentos estranhos me vinham à cabeça.

— Interessar? — Cocei o queixo. — Pode ser.

— O que você fez para dar certo?

— Não lembro direito, Duda. Mas se você quiser algo com ele e já é sua amiga, por que não o chama pra sair? — Perguntei enquanto a outra garçonete, Dani, vinha andando em direção à nossa mesa.

— Como se eu já não tivesse pensado nisso... — Resmungou Duda. — Desculpa, Gana, mas eu tenho muita vergonha com esse tipo de coisa e-

— DUDA! — Dani chegou do nosso lado, interrompendo a conversa. — Para de conversa fiada! Eu que tive que entregar o pão com ovo do seu "peguete" ali!

Duda arregalou os olhos para mim, levando um susto. Depois se virou para Dani.

— Desculpa! Desculpa! Desculpa! — Duda se levantou, toda estabanada. — Gana, vou seguir seu conselho.

Dei um sorriso motivador para a mulher. Ela ajeitou sua roupa e se encaminhou para o caixa, onde o rapaz do jornal já estava pagando.

Antes do homem sair, Duda o chamou pelo nome e perguntou alguma coisa, se sentindo envergonhada em menos de um segundo depois.

O rapaz respondeu sua pergunta, mas ao julgar pela expressão da minha amiga, ela não conseguiu o que queria. Ficou desapontada logo depois que o homem saiu da padaria, assim voltando para a cozinha com Dani.

Enquanto terminava meu cappuccino, fiquei assistindo TV. Na televisão, passava o jornal, falando sobre os novos procurados pela polícia.

Beno Kabroom, Lomba Neto e Riko Marteleto são os três mais procurados pela polícia no momento. — Falou a repórter. — Especialmente os dois últimos, são muito perigosos, capazes de matar qualquer um que virem pela frente. Nosso fotógrafo oficial conseguiu algumas fotos desses delinquentes.

Em seguida, se passaram as fotos dos homens. O primeiro tinha cabelos loiros e era bem baixo. O segundo tinha olhos azuis vidrantes, por isso não consegui prestar atenção no resto. O terceiro tinha muito cara de maluco, como se tivesse nascido só para fazer besteira. Os três pareciam ser um pouco mais jovem do que eu e tinham embaixo de suas fotos a identificação de que as fotos eram do fotógrafo Nicholas Cintra.

— Então quer dizer que aquele baixista está com problemas... — Falei para mim mesma sobre o primeiro procurado.

O amigo do rapaz do jornal ainda estava na padaria falando ao telefone, quando tomou um susto por dois homens suspeitos chegarem no local. Ao ver que os dois homens eram os procurados Lomba Neto e Riko Marteleto, deu um pequeno sorriso assustador.

— Cambada! — Exclamou o de aparência mais velha, Lomba, segurando um revólver provavelmente com balas. — Meu amigo aqui está faminto. — Apontou para Riko, que estava babando.

— Isso quer dizer que é um assalto! — Gritou Riko.

Lomba fez uma expressão de decepção e pôs a mão no rosto.

— Por que você sempre estraga as falas falando o final logo de primeira? — Reclamou com o parceiro, enquanto eu pegava meu celular e Duda vinha da cozinha com Dani.

— Não importa. Senhores e senhoras, quero toda a comida de vocês. — Pediu Riko.

As três pessoas no local levantaram as mãos, menos eu. Estava terminando de escrever 'SOS Quebrada' em uma mensagem, para enviá-la.

O bandido Lomba olhou para mim com um olhar mau com seus olhos azuis e veio até mim.

— Me dê isso. — Ele apontou para o celular.

— Espera aí! — Fiz um basta pra ele, mas nisso ele roubou o celular da minha mão.

"Ainda bem que deu tempo da mensagem ser enviada." Pensei.

— Vamos! Rápido! — Apressou o outro. — Eu quero comer tudo que tenha aqui!

Nesse momento ele correu para adentrar a cozinha, deixando Duda e Dani com olhos espantados com o que poderia acontecer lá dentro.

Para que não fizéssemos nenhuma besteira, Lomba nos olhava o tempo todo, mas principalmente para o homem amigo do "peguete" da Duda.

— Você com esse sorrisinho! — Gritou para ele, apontando sua arma. — Você quer morrer, não é? Eu odeio negros!

O homem ficou de joelhos e abaixou a cabeça, para demonstrar que Lomba tinha o controle da situação.

Barulhos de panelas e talheres se chocando com o chão vinham da cozinha, até que um miado desesperado me fez partir o coração.

O gato cinzento da minha amiga vinha correndo da cozinha.

— Fofs! — Eu e Duda gritamos ao mesmo tempo.

— GAGUINHO! — Riko veio perseguindo o gato, com seus olhos totalmente arregalados e com uma corrente de linguiça nas mãos.

Fofs, o gato cinzento, passou pela entrada, seguido de um estardalhaço de vidro que Riko causou ao ultrapassar a porta de correr da padaria. Ele trombou com o vendedor de goiaba que trabalhava bem na frente da Quebrada, onde eu estava.

Lomba fez a mesma expressão de desapontamento de antes, mas logo voltou seu olhar para o homem negro.

— Você, homem! — Apontou a arma novamente. — Qual o seu nome?

Duda colocou as mãos sobre a boca, preocupada com o cliente.

— Fabiano, senhor. — O homem negro respondeu, seguido de um sorriso da minha amiga.

— Otelo é muito esperto. — Duda sussurrou no meu ouvido, se referindo ao homem. — Ele deu um nome falso.

Lomba se virou na nossa direção.

— Ei, vocês! — Apontou a arma para nós. — Parem de cochicho escondido! O que vocês estavam falan-

O meu celular vibrou no bolso do rapaz. Ele tomou um leve susto e o pegou para ver o que era, abaixando a arma.

— "Não se preocupe. Estamos ocupadas, mas já providenciamos ajuda." — Lomba leu a mensagem. — O que significa isso, garota?

Achei estranho ele me chamar de garota, por ter 20 anos. Mas ao pensar que estava lidando com um adolescente que era procurado após fugir de um hospício, não reclamei. Fiquei sem o que responder.

— Maldita mulher. Chamou a polícia ou algo assim? — Ele perguntou de novo.

— Claro que não! — Respondi, ainda pensando no que dizer. — Isso é outra coisa.

O homem foi até a porta da cozinha e pegou o máximo de comida que conseguiu com os braços.

— É o quê então, garota?

Travei. Não me vinha nada na cabeça. Deu branco total.

— Ela ia... — Duda falou. — Me ajudar a fazer as compras no mercado, amanhã de manhã.

Fiquei aliviada. Duda era muito boa em dar desculpas, já que fazia isso o tempo todo. Mas ainda havia um problema. E Duda sabia disso. Olhamos uma para a outra e tivemos uma conversa telepática, algo que só duas pessoas que se conhecem muito bem conseguem fazer.

"Temos que fugir daqui." Meus olhos diziam para ela.

"Tem razão. A polícia não pode te encontrar." Ela lembrou.

"Por que você teve que vacilar daquela vez? Aquele policial me viu. Vai que é ele que vem!" Reclamei novamente do pior dia de gangue que tivemos.

"Desculpa, Gana! Você sabe que foi sem querer!"

"Ok. Isso não importa agora." Ia fazer um gesto como se dissesse "Deixa pra lá", mas o homem armado me interrompeu.

— Parem com isso! — Ele gritou. — Vocês estão me deixando maluco!

— Tecnicamente, você já é maluco. — Dani finalmente disse alguma coisa. — Vá embora da nossa loja, logo. Você já tem o que quer.

Lomba até então, não tinha percebido isso. Mas antes que pudesse sair, uma voadora o atingiu bem nas costas.

— Ouvi dizer que você curte dar tapões nas costas das pessoas, Sr. Neto. — Disse o agressor, o homem chamado Otelo.

— Desgraçado! — Lomba falou para Otelo, enquanto ouviam-se as sirenes da polícia entrando na rua. Logo, o maluco já estava preso pelas mãos de Otelo.

"Ah, não." Pensei, enquanto corria para a cozinha, com Dani me olhando estranho.

A cozinha estava uma bagunça. Várias panelas estavam jogadas no chão, o fogão estava com o fogo tanto tempo aceso que saía muita fumaça das refeições que estavam sendo esquentadas. Aquilo qualquer hora iria explodir, mas eu não tinha tempo para me preocupar com isso. Tinha que me esconder.

Topei com uma estante destruída deitada no chão. Peguei algumas caixas de papelão, me deitei atrás da estante e me escondi com as caixas.

É assim:

Eu e Duda, com mais três amigas, éramos um grupo de mulheres jovens que caçavam criminosos nos tempos vagos. Nós não éramos como a polícia ou até mesmo os justiceiros. Tínhamos uma diferença. Não éramos conhecidas pela polícia, nós simplesmente prendíamos os criminosos em uma encurralada e roubávamos o que eles roubavam como recompensa. Assim, os criminosos eram detidos e nós éramos pagas por nosso trabalho. Nós nos achávamos uma gangue: As Garotas Clichês. Um nome de bosta, mas sempre achei que combinava com a gente, por isso ele se manteve.

Porém, um certo dia, ao tentar encurralar um assaltante de bancos, a parte do plano que era para a Duda resolver falhou e a polícia acabou chegando antes de nós irmos embora. Por sorte, apenas um policial me viu, mas tenho certeza que ele guardou meu rosto para sempre e até fez Retrato Falado. Por isso, topar com a polícia era sempre um desconforto para mim. Pelo menos eu era a única que tinha sido vista. A Duda poderia usar seu poder de Desculpas para os policiais não me acharem naquela cozinha imensa.

Nesse tempo parada, a polícia já devia ter capturado Lomba, porque escutei ele dizendo que iria caçar o tal do "Fabiano" assim que pudesse. Porém, não ouvi nada de terem conseguido pegar Riko.

— Não! — Ouvi o grito de Duda, do lado de fora. Ela provavelmente estava tentando impedir dos policiais entrarem na cozinha, mas pelo o que eu ouvi, não conseguiu.

Pelo canto do olho, consegui ver dois policiais desconhecidos vasculhando o recinto. Tentei ser o mais quieta possível. Maldito mosquito. Ele apareceu do nada e tentou entrar no meu nariz, o que me fez espirrar.

Com isso, em menos de um minuto, um dos policiais me achou e ficou surpreso.

— Ei, Diogo. — Ele disse, chamando o outro. — Você não acha essa mocinha parecida com a...

— Sim. É ela. Traga-a já. — Chamou para fora da cozinha. Ao sair, encontrei meu pesadelo. O policial que me tinha visto estava lá. — Aurélio. Encontramos sua presa.

Duda colocou as mãos na boca novamente. Dessa vez ela não podia fazer nada. Eu disse "Desculpa" pra ela, mentalmente.

O policial que eu já conhecia, provavelmente chamado Aurélio, deu um sorriso feliz e começou a andar de um lado para o outro.

— Cabelos longos, lisos e pretos... — Ele me analisou. — Alta. Meio parda. Olhos castanhos escuro. É ela mesma.

Seguido do comando, os policias que me encontraram na cozinha me algemaram e me levaram para o carro de polícia. Assim que saí pela porta, olhei para trás. Telepaticamente, Duda disse "Vou te salvar!", e assim me aliviei um pouco.

Ao entrar no carro, fiquei ao lado de Lomba, que estava entre mim e um garoto totalmente alucinado e apagado ao mesmo tempo. Era Riko.

— Pelo visto esse deu trabalho. — Pensei alto demais.

— Cala a boca, verme. — Lomba disse para mim. Se ele pudesse encostar em mim, acharia que ele me mataria. Mas felizmente, ele estava devidamente aprisionado em um banco. Os policias de hoje em dia criaram vários métodos para prender melhor as pessoas, pelo visto.

Enquanto o carro seguia para sair da rua, pude observar uma massa cinza correndo desesperadamente atrás do carro. Era Fofs, seguindo sua amiga. Eu amo gatos.


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Notas finais do capítulo

Essa prisão é dahora.
Jr.
:214 (10/01/2015)



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