A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 3
Um riacho, uma ponte, um despertar


Notas iniciais do capítulo

Ia falar "adivinha quem é?", mas se o Jr já postou, quem mais poderia ser, né? Enfim, oi novamente, Boo aqui (duh).
O capítulo se passa todo em POV de Kito Fadul.
Aproveitem a leitura.



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Capítulo III - Um riacho, uma ponte, um despertar

12/03/16 

Kito's POV

Apertei minha cabeça com as duas mãos, frustrado. Que ótima manhã, acordar com dor de cabeça. Eu precisava de um pouco de café. Lavei o rosto, sem conter um bocejo. O trabalho me fez ficar acordado até às 4h da manhã, como consequência só dormi durante três horas.

Antes que pudesse chegar ao banheiro, o telefone tocou, me irritando. Tentei ignorá-lo, mas tocava com estranha urgência. Não me arrependi de atender, Ed saiu do coma. Não contive um sorriso com a notícia. Precisavam que eu fosse no hospital mais tarde e assinasse alguns documentos, indicando que poderia parar com o pagamento de sua estadia no hospital.

Tomei uma ducha rápida, queria algum tempo para descansar e não seria no chuveiro. Peguei a primeira roupa que vi, um traje extremamente informal, composto por uma blusa e uma calça jeans. Sorri satisfeito ao ver meu skate, iria sair com ele dessa vez.

Fui até a banca de jornal mais próxima, duas ruas depois da minha casa, e comprei a tribuna local. De lá, fui direto para a padaria, ou minha cabeça ia acabar explodindo. Assim que cheguei, um sorriso foi direcionado a mim.

— Bom dia, você veio cedo hoje. - Uma funcionária bem vestida cumprimentou.

— Bom dia, Duda.

As bochechas de Duda tingiram-se de vermelho por breves segundos, como em todos os dias nos quais nos víamos, o que acontecia com grande frequência, visto que eu sempre tomava meu desjejum nessa padaria.

— O mesmo de sempre, chefia? - questionou, brincalhona.

— Isso aí.

Abri o jornal, passando os olhos pelas notícias que, como o usual, eram desinteressantes em sua maioria. Já estava começando a ler uma matéria sobre um evento chamado DOE SANGUE, DOE VIDA, quando minha xícara de café foi depositada a minha frente. Antes que eu tivesse tempo de pegá-la, entretanto, uma mão negra se adiantou sobre ela e agarrou sua asa.

Preparei-me para lançar à pessoa meu pior olhar, eu ainda estava com dor de cabeça e sem tempo para gracinhas. Todavia, a face que me encarava, um sorriso matreiro em lábios enquanto a xícara era levada a sua boca, era extremamente familiar.

— Qual é, Otelo. - bufei e arranquei a xícara de suas grandes mãos antes que ele pudesse beber o conteúdo. - Não se mexe no café dos outros. - bebi um gole.

— Vai dizer que ficou irritadinho? - riu. - E aí, Kito, como tá?

— Poderia estar melhor, se não fosse por um certo alguém roubando o café dos outros. Pra que você quer ele? Tá precisando da minha energia pra não broxar na Hora H?

Não perdi a oportunidade de irritá-lo de volta e com efeito. Otelo odiava esse tipo de piada besta. Eu era acostumado com elas a minha vida inteira e adorava soltá-las.

— Vai à merda.

Ri baixo, quando meu pão com ovo chegou. Comecei a comer, com o homem ao meu lado. Otelo e eu estudamos juntos por vários e vários anos, desde o Ensino Fundamental 2. Crescemos juntos. Ele cursou direito, eu cursei física, mas dividimos o mesmo apartamento durante esse período. Há quatro anos cada um arranjou uma casa, mas isso não nos impediu de continuar nossa amizade.

Saí de meus pensamentos quando fui chamado por ele, ao que pareceu ser mais de uma vez. Sorri torto.

— Desculpa, não tinha ouvido.

— Percebi. O que você vai fazer hoje? - indagou.

— Meu amigo saiu do coma, lembra dele? - perguntei, sem dar tempo para resposta. - Preciso passar no hospital e depois vou trabalhar. Quase o normal. Você?

— Trabalhar, trabalhar e trabalhar. É, colega, ser juiz não é fácil. E é claro que lembro, seu amigo de infância, correto? Ed...?

— Isso, isso mesmo. Me acompanha até o hospital? - convidei, mas Otelo meneou a cabeça.

— Não posso. Preciso fazer uma importante ligação, só passei para dar um oi. E, ah, é claro, perguntar se você não quer sair comigo e com a Iris hoje à noite. Ela andou me perguntando.

— Cara, tu adora bancar o cupido, hein? Ela perguntou por mim, é? — Me senti feliz, internamente. Amava ser atraente. — Você sabe que eu não tenho mais nada com ela.

— Nós ainda somos amigos, não tem nada de errado nisso. Além do mais, você não vai conseguir uma garota melhor tão cedo cara, é a Iris. - deu um sorriso sacana. Duvidei das palavras dele, é claro que eu conseguiria.

— Tá, tá, eu devo ir. Então até mais tarde.

— Falou. - bateu a mão na minha e depois deu um soquinho, se afastando.

Enquanto me dirigi ao caixa, ainda pude ouvir o início da conversa do Otelo no telefone, sua voz estava grave, parecia bem sério. “Temos problemas. Não, não é nada novo. Ele voltou. É, ele. Sim, sim, precisamos eliminar esse problema”. Desviei minha atenção para a atendente, sem querer entreouvir mais a conversa do meu amigo. Seja lá o que for, não era da minha conta, deveria ser algo do trabalho. Tanto eu quanto ele éramos muito focados em ser produtivo.

Duda acenou para mim e, antes que eu pudesse sair, chamou meu nome um pouco alto demais. Ô-ou. Mal sinal. E ao mesmo tempo satisfatório.

— Sim?

— Você estará livre essa noite? - perguntou, pouco envergonhada.

Essa sexta-feira está recheada de moças querendo, mas que coisa inusitada. Duda era realmente muito legal, mas eu não estava interessado em relacionamentos, então não queria brincar com os sentimentos dela, que era tão jovem.

— Desculpa. Já tenho compromisso. - dei um meio sorriso e saí, temendo ter sido grosso demais.

Me encaminhei para o hospital, indo em alta velocidade com meu skate. Chegando no local, rapidamente me dirigi para o balcão de entrada, no qual uma mulher olhava desinteressada para os pacientes. Pus a mão no balcão, chamando sua atenção. Ela proferiu um “sim?” baixo, finalmente despertando.

— Bom dia, eu sou acompanhante do paciente Ed Ribs. Hoje ele saiu do coma e preciso assinar–

— Ah, sim, senhor Kito Fadul, correto? Pegarei a documentação necessária, o senhor pode visitar o paciente. Ele terá que ficar até amanhã à tarde, para que uma série de exames ainda seja efetuada. Sala–

— 2053, já sei, muito obrigado.

Odiava como as secretárias eram frias aqui, elas trabalham em um hospital, diabos. As pessoas aqui são muito rabugentas. Poucos sorriem, no máximo alguns estagiários. Entrei no elevador e fui para o segundo andar, logo indo em direção ao quarto de Ed. Bati, uma enfermeira estava lá.

— Com licença.

— Ah! Sinto muito por atrapalhar, aguarde um instante, por favor. - pediu, ajeitando a máscara de oxigênio nele.

Saiu poucos segundos depois, andando enquanto fazia anotações em uma prancheta. Antes de abandonar o cômodo, porém, alertou:

— Depois de permanecer tanto tempo “desligada”, a pessoa não têm todas as memórias. Vá devagar. O coma do seu amigo era do tipo 5, bem grave. É surpreendente que ele esteja tão bem. Será necessário que ele faça algumas atividades terapêuticas até voltar ao normal.

— Ok. - suspirei, me aproximando lentamente.

O olhar do meu amigo estava meio sem foco, observando o teto, o cenho levemente franzido. Mesmo quando sentei ao seu lado, não recebi resposta, nem uma reação. O olhar permanecia direcionado para o mesmo ponto.

— Oi, herói. - chamei. Ainda sem resposta. - Ed...

— Kito? - me encarou, a voz fraca. Assenti, estendendo a mão em sua direção. Ele agarrou meu punho, angustiado, mas quase sem forças. - Cadê a Gwen? Eu... eu não consigo lembrar da última vez que nos vimos. Mas algo me diz que tem alguma coisa errada.

— Ed, você precisa descansar.

— Não, Kito, me fale–

— Ed! Você ao menos sabe em que ano estamos?! - inquiri, frustrado.

— Mas que pergunta... 2011. Disseram que eu entrei em coma por traumatismo craniano, mas ninguém falou nada sobre o tempo. Então talvez já seja 2012. Em que mês estamos?

— … Março.

— Acordei antes da páscoa, então. Gwen ficará contente. - sorriu levemente, aquilo estava me matando.

— De 2016, Ed. Estamos em 2016. Você esteve fora por cinco anos.

Ele abriu a boca, estarrecido. Virou a cabeça para cima, novamente fitando o teto. Mas então vi que seus lábios tremeram.

— Kito, cadê a Gwen?

— Você precisa fazer alguma terapia. Frequentar um bom psicólogo. Vai ser melhor para você, vai te ajudar com isso. - desconversei, nervoso.

— Cadê. A. Gwen? - Ele não parou.

— Não aqui, Ed. Não aqui. Você vai poder ir embora amanhã. Eu venho te buscar. Sinto muito por não poder ajudar mais.

— Kito, por favor me diz que é ela quem está pagando minha estadia. Diz que ela está aqui... - de seus olhos começaram a escorrer lágrimas. Ele fez as associações certas. Ah, cara...

— Fui eu quem paguei. Desculpa, Ed. Desculpa.

Saí a passos largos de lá, sentindo meus olhos arderem. Fui barrado na saída, sem entender o motivo, quando um dos seguranças me apontou a mesma moça rabugenta de quando cheguei. Suspirei mais uma vez e fui até ela.

— Senhor, esses são os docu... Ah, meu deus! O senhor está bem? - Eu tremia.

— Sim, só preciso de um ar. — Claro que ia ficar bem.

Assinei o que foi preciso e saí. Precisava esfriar a cabeça antes de ir para o trabalho. Observei meu relógio de pulso, ainda eram 9h. Fui até uma ponte, não tão distante do meu trabalho, que passava por cima de um riacho. Eu gostava muito daquele lugar.

Quando o Ed foi levado ao hospital, retiraram sua máscara. Não havia tempo para se preocupar com um disfarce de justiceiro, o caso era grave. Seu rosto circulou por todos os jornais regionais. Estava acabado. Mas era lógico que ele não sabia disso ainda. De toda forma, acredito que muitos tenham esquecido dele. Passou a ser só mais um rosto acamado.

Ele era, assim como o Otelo, por mais que nunca tenham se conhecido, meu melhor amigo. Foi bastante duro passar esse tempo sem ele, até porque Ed era quase como um mentor para mim, mesmo que só três anos mais velho.

Acendi um cigarro. Traguei, desgostoso comigo mesmo por estar fumando. Não era algo que eu achasse divertido, mas às vezes sentia que precisava. Apenas às vezes. Respirei fundo por um momento.

E então segui para o trabalho. O majestoso Batalhão. Eu dizia ser professor de física lá. Meus amigos e conhecidos nunca suspeitaram de nada. Meu trabalho não era meu maior orgulho por não ser tão prestigiado, mas representava a proteção da cidade, ao menos. Na realidade, do país. Eu sou um estrategista militar, que algum dia será promovido para um cargo mais imponente.

Um dos mais jovens por aqui, na verdade. É algo com que tenho extrema facilidade. Sempre tive. Não me considero excepcionalmente inteligente, mas meu raciocínio somado a minha facilidade com exatas sempre foram bons aliados.

— Fadul.

— Major. - Levantei-me para cumprimentar meu superior, assumindo posição.

— O relatório que pedi que fizesse...? - não completou, já esperando uma resposta.

— Eu o tenho aqui comigo, senhor. No pen drive.

— O que está esperando, homem?! - perguntou no tom rígido de sempre. - Venha a meu escritório.

— Sim, senhor. - fiz uma mesura militar.

O escritório do Major era o mais impessoal possível. As paredes cinzentas, levemente descascadas, mostravam o descaso para com o ambiente. Não havia fotos, nem quadros que não os dos seus antecessores e das medalhas conquistadas pelo batalhão. Me dava certo sentimento claustrofóbico e de puro desagrado, não sei como ele conseguia trabalhar ali.

Ligou seu computador, bloqueado por mais de uma senha. Coloquei meu pen drive na entrada USB e ele inseriu alguns códigos que eu nunca antes vira para liberar o acesso. Um possível hacker no passado. Perscrutou com os olhos minhas pastas rapidamente, mas como uma pessoa que se previne, todas estavam ordenadas de forma que só eu as entenderia. Tinha muito material importante ali. Acessei a que nos interessava. Para isso, precisei inserir uma senha.

Cada pasta possuía uma senha própria, como forma de segurança, então não me importei que ele a visse. Afinal, quando a pasta carregou, o único documento presente nela era o dito relatório. Ele deu um sorriso breve, aprovando minha cautela.

— Então... o que temos aqui?

Deu uma risada, realmente satisfeito com minha capacidade de organizar uma minuciosa investigação e formação de combate. Certamente ganhei pontos com o superior depois de hoje.

Passamos por volta de duas horas discutindo alguns assuntos e depois me dirigi para meu esquadrão, no qual fiquei trabalhando por algumas horas até acabar meu horário. Às 19h eu já estava andando, um tanto cansado, de skate de volta para casa.

Não demorei a reconhecer meu prédio velho. Eu ganhava realmente bem, mas quanto um professor de física pode ganhar, afinal? Apesar de antigo, eu adorava aquele espaço. Adentrei a estrutura e cumprimentei o porteiro, um velho conhecido, com uma piada.

Já no elevador, me observei brevemente no espelho. Eu andava muito cansado mesmo. Minha aparência não estava das melhores, tinha que melhorar isso. Retirei a chave do bolso e abri a porta, sem nem me preocupar em trancá-la. Apenas liguei o ventilador e me joguei no sofá, subitamente me sentindo fraco.

Observei os ponteiros do meu relógio de pulso. 19H48. Se eu fechar os olhos um pouquinho, descanso e acordo a tempo de fazer um jantar qualquer, sem problemas.

[x]

Ainda estava escuro na minha cabeça, a sonolência me dominava, mas uma música insistente e, devo dizer, irritante no momento tocava no volume máximo que meu celular suportava. Eu conhecia aquela música. Era Unforgiven II, o que significava que Otelo estava me ligando. Peguei o aparelho eletrônico, visualizando o aviso de seis ligações perdidas.

— Alô? - minha voz saiu quase como um ganido.

Porra, Kito, você apagou? Vai dizer que você esqueceu...

— O quê? - perguntei, despertando. Merda. Esqueci que íamos sair. - Foi mal, cara, eu tava muito cansado. Cadê vocês?

Na porta da sua casa.

Desliguei o celular e abri a porta, limpando a remela que se acumulou no canto dos meus olhos. Por um breve momento perdi o ar. Devo dizer, apesar de não ter mais nenhum sentimento por ela há um bom tempo, a Iris estava de matar. E tudo em que eu conseguia pensar era que eu queria possuir aquela mulher e agora.

— Segura a baba e o amiguinho, Fadul. - Otelo riu pelo nariz, enquanto Iris apenas dava um sorriso maroto.

— Vai se vestir, Kito. - ela ordenou, como sempre.

Lavei o rosto e me vesti, estando pronto em menos de quinze minutos. Ri, adorava jogar na cara de mulheres como elas demoravam para se arrumar e como eu era o oposto disso. Fechei a porta, sentindo meu estômago roncar.

— Que fome.

— Ninguém mandou dormir. - O negro riu. - A gente come lá.

— Onde a gente 'tá indo afinal?

— Aquela boate perto de casa, onde mais? Faz um tempo que não saímos os três juntos. - Iris completou, com um sorriso.

Se tem uma coisa que essa mulher tem é um sorriso bonito. Logo que chegamos senti uma pontada na cabeça, a música era realmente alta. Não que eu não tivesse experiência, mas como o trabalho estava ocupando muito do meu tempo ultimamente, perdi um pouco da ambientação. Demorei a me acostumar com isso e com os corpos quentes se encostando por todo lugar. Fomos para o balcão, pegar algumas bebidas.

— Cerveja? - ela perguntou, fazendo ambos rirmos. - Que foi?

— Não, cara, com certeza não. Black Label.

— Sempre com bom gosto pra bebidas, esse Kito.

Conversamos bastante enquanto bebíamos, tínhamos muito assunto, afinal. Nossas vidas eram bastante corridas e nossa adolescência fazia muita falta. Iris era mais nova que eu, mas foi Otelo quem me apresentou a ela. E como.

Depois de um tempo ela correu para a pista de dança, dançando sensualmente com qualquer um que se aproximasse. Eu sentia meu corpo queimar de desejo com seus movimentos, mas não fiz menção de me levantar.

— Você sabe que ela quer te deixar com ciúmes, né?

— Sei. Não vai funcionar, mas... esse jogo pode ser jogado por dois. E eu vou ganhar. - sorri, pretensioso.

Otelo apenas riu, meneando a cabeça. Ele sabia que era verdade. E nós sabíamos que essa noite acabaria com Iris na minha cama. Enchi meu copo e tomei mais uma dose, antes de ir para a pista também. Me certifiquei de permanecer no campo de visão dela e comecei a dançar com uma loira.

Eu não sou particularmente bonito e raramente tenho confiança o bastante para isso. Mas admito que, quando quero, posso ser atraente. E era para isso que estava me esforçando essa noite. Se eu tinha que estar aqui, que fosse para me divertir.

A garota praticamente se esfregava em mim, e isso certamente era diversão. Observei uma Iris irritada e dispensei a loira, já puxando uma morena para perto de mim. Quando olhei novamente para a minha ex, ela não estava em uma posição favorável. O cara que dançava com ela parecia intimidá-la e, por um segundo, pensei em ajudá-la. Mas, bem... era a Iris.

Sorri quando ela deu um gancho nele, logo dando uma joelhada poderosa no saco escrotal do homem, sorrindo vitoriosa. Nunca mexa com uma lutadora profissional, essa é minha dica. Eu já apanhei muito para essa garota. Já passavam das 23h.

Puxei-a para o primeiro ponto em que vi uma parede, prensando seu corpo com urgência e atacando seus lábios. Na mesma urgência, então, ela me beijou. Seu beijo era familiar e o efeito da bebida me compelia a fazê-la minha ali mesmo, na frente de todas aquelas pessoas. Beijei seu pescoço, sem me importar com sua opinião, e agarrei suas nádegas, forçando-a a prender as pernas em meu quadril.

— Espera... - pediu, dengosa, enquanto eu a prensava com mais força contra a parede.

— Por quê? - perguntei entre beijos.

— Vamos para outro lugar.

Assenti, permitindo que ela descesse. Não sabia a que lugar pretendia me levar, mas ela conhecia aquela boate como a palma de sua mão, então não discuti. Deixei que ela me conduzisse pela mão, tentando me controlar.

Olhei ao redor, buscando me distrair um pouco, quando uma ruiva trombou em mim, me separando de Iris em toda aquela multidão. Porra, garota. Ela me olhou, os olhos de um verde único, e pediu desculpas. Ora, ora. Se eu perdi a minha “vítima” da noite, que arranjasse outra. E digamos que essa parecia boa o bastante. Debochei de mim internamente, parecia desesperado por uma transa. Esse é o resultado de ficar inativo por tanto tempo, afinal.

— Não, tudo bem. Você quer dançar?

— Acho melhor não. - negou com certo desinteresse.

— Ah, por favor.

Ela bufou e assentiu. E como eu não me arrependi da oferta. Aquela garota dançava como o sonho mais erótico que eu poderia ter. O rosto, apesar da maquiagem, mostrava tanto cansaço quanto o meu, mas ela parecia com bastante vigor. Conversamos muito pouco, mas ela parecia estar se divertindo. E pela primeira vez em muito tempo, achei um sorriso mais bonito que o da Iris.

Tentei uma aproximação, sussurrando algumas palavras em seu ouvido. Ela só riu, ignorando a clara cantada. Ri de volta, colocando as mãos em sua cintura e dançando mais próximo a ela. Honestamente, eu não sei dançar, mas naquele momento eu a queria e pronto.

A ruiva sorriu, deixando o pescoço exposto e ousei um beijo nele, o que pareceu ter aprovação. Beijei seus lábios com certa calma, mais para não assustá-la, e puxei seu corpo para mais perto e fui prontamente correspondido.

— Kito, até que enfim te achei! - A voz inconfundível de Iris fez com que nos separássemos.

— Ah, oi. - sorri irritado, e a mulher se afastou. - Espera, ruivinha. Qual é o seu nome? - ela acenou, amigável.

— Katerina.

— Irritado por eu ter te feito perder a garota? - Iris perguntou, claramente mais frustrada do que eu.

Não respondi, apenas puxei ela boate afora, mandando uma mensagem para Otelo, e a levei para minha casa de táxi. Viemos o caminho todo em silêncio, mas mal tranquei a porta, já estávamos nos agarrando de novo. Empurrei-a contra a cama, sem paciência, e tomei seu corpo para mim.

[x]

Acordei mais uma vez com dor de cabeça. Queria poder dizer “ressaca”, mas não bebi tanto. Encontrei o corpo nu de Iris da cama e suspirei. Sabia que isso aconteceria, mas sabia também que não era a melhor das opções.

Tomei um banho e quando saí ela ainda estava desacordada. Me vesti e, então, sacudi seu corpo. Ela abriu os olhos lentamente e apertou a cabeça. Essa, sim, bebeu.

— Mas que porra...? Por que você me acordou agora? - resmungou.

— Você não tem luta hoje?

— Não, não tenho, seu bosta! Posso ficar aqui?

— Eu 'tô de saída, mas pode ficar. Eu vou deixar a porta destrancada. Quando eu voltar, não quero que você esteja aqui, beleza? - falei, sem rodeios.

— Grosso. Parece até que não gosta mais da minha companhia.

— Agora não, Iris. Vai dormir. - suspirei e saí do quarto.

Fiz ovo mexido e comi com um pão velho, para logo depois escovar os dentes e sair. Cheguei no hospital, constatando que ainda eram 10h30 e a retirada de Ed podia ser feita até às 12h. Me identifiquei novamente no balcão, era outra funcionária. Identifiquei algumas pessoas estranhas na entrada do hospital, mas só realmente percebi o que eram quando os vi prostrados na entrada do quarto de Ed.

— Saiam daqui, seus abutres. - empurrei um dos fotógrafos, ou seria um dos jornalistas?

Entrei junto com uma enfermeira, vendo que Ed não estava muito bem. Expliquei a ela que ele não podia ser visto, que aquelas pessoas precisariam ser retiradas. Se ninguém o visse, sabia que as suspeitas morreriam. Poucos ainda lembravam do super-herói que um dia ele fora. Mas se a mídia se agitasse com isso, seria um problema.

Ela foi compreensiva e ativou o procedimento de emergência, o que obrigava a evacuação. Por walkie talkie, informou que era uma simulação, por isso só os visitantes saíram e, consequentemente, aquele bando de abutres nojentos.

Quando separamos tudo, pensamos em sair pelos fundos, mas logo percebi que era idiotice, não daria certo. Então fomos até o subsolo do hospital, onde ficava o estacionamento. Liguei para um taxista conhecido e pedi que ele nos buscasse dentro do estacionamento. Com isso, saímos em segurança.

— Você 'tá legal? - perguntei, apertando o ombro do meu melhor amigo.

— Não. Eu não consigo lembrar como minha namorada morreu. Nem como entrei em coma. Nem o que aconteceu em alguns períodos dos meses antecedentes ao meu acidente. Mas uma hora eu devo ficar, não é? Eu tenho você, também.

— É, você com toda certeza me tem. - dei um sorriso triste. - Você quer ficar em casa um tempo até ganhar grana o bastante?

— Não sei. Tenho que ver o que vou fazer. - assenti.

— Certo. Vamos esperar essa confusão da mídia passar, também.

— Não demora, aposto.

E no fundo, eu esperava que essa aposta estivesse certa. Porque se não... o que seria dele? Dei um abraço de lado nele, enquanto o táxi nos levava para minha casa. Eu torcia para Iris ter ido embora, afinal não queria mais dor de cabeça.

E ela realmente tinha ido.


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Notas finais do capítulo

Pois é, em um único capítulo eu introduzi dois personagens secundários e ainda voltei na Katerina, não sei se choro ou se comemoro.
Espero que tenham gostado deles tanto quanto eu gostei, e que o capítulo tenha sido do agrado de vocês. Reviews?
Boo.