A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 2
Mortal Kombat invade a minha casa


Notas iniciais do capítulo

" Minha casa tem problemas, onde canta o sabiá... " — KABROOM, Ty



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Capítulo II - Mortal Kombat invade a minha casa

11/03/16 

Ty's POV

Algo se mexeu.

Olhei de novo. Poderia ser apenas minha imaginação, mas pelo canto do olho, percebi outro movimento.

Saí do carro, alguns minutos depois de Beno entrar por uma porta (o menino queria muito ir ao banheiro). Agora estava andando pela minha escura garagem, a porta de entrada de carros já havia sido fechada.

De algum lugar atrás da porta que liga a garagem com a casa, vinha um cheiro e uma música que eu conhecia muito bem. Sozinho, me encaminhei para onde vi o primeiro movimento. Uma mesa de madeira quebrada tinha uma lanterna em cima dela. Agora, a lanterna não se mexia mais, mas quando a toquei, ela se acendeu por poucos segundos e se apagou sozinha, como ela sempre fazia.

Como não havia nada de anormal, segui para a direita, em direção às caixas de papelão vazias empilhadas. O que quer que tenha provocado o segundo movimento, ainda teria que estar por ali.

Porém, ao afastar as grandes caixas, não encontrei nada além de um papel. O abri para ver o que nele tinha escrito: “Sir. K.” com um endereço do lado. A princípio, achei estranho, mas guardei no bolso do casaco verde escuro que estava usando para perguntar para os outros da casa.

Tranquei o carro e passei pela porta. A luz da cozinha me atingiu como um raio de Sol. O cheiro de frango estava forte por ali. Minha mãe, com seus 45 anos, estava de pé em frente ao fogão preparando o jantar. Minha pequena irmã de 7 anos estava na mesa batucando ‘We Will Rock You’, que tocava no rádio.

Beno veio da sala, de forma bem rápida.

— Esse cheiro está bom! — Ele aproveitou. — Gosto muito de frango.

— Eu sei, filho. — Ela respondeu. — Você e seu irmão gostam desde que eram muito pequenos.

Beno deu um sorriso sincero e se sentou em mesa, ao lado de Jan.

Fui para o lado de minha mãe e peguei os talheres, para ajudá-la a preparar a mesa. Coloquei os talheres e pratos em cima da mesa, entregando um garfo e uma faca grande para cada um dos quatro pratos na mesa. Beno pegou logo os seus e ajudou a minha irmã a batucar a música com os talheres. Porém, pouco depois de ele começar a brincadeira, a música mudou.

Eu e Beno começamos a cantarolar a nova música, pois a conhecíamos muito bem. Era da nossa banda.

— Obrigada por me ajudar, Ty. — Minha mãe me agradeceu. — Como está a banda de vocês?

— De nada. — Falei. — Cada vez mais clientes estão visitando o restaurante.

— Eles gostam bastante de ouvir nossas músicas ao vivo. — Meu irmão Beno continuou.

— Eu adoro a banda de vocês. A Lavínia e a Julieta são tão lindas. — Jan demonstrou-se agitada. — Quando eu crescer, vocês vão me deixar entrar no grupo, não é?

Eu olhei para Beno sorrindo e acenando com a cabeça, confirmando.

— É claro, Jan. — Ele respondeu, bagunçando o cabelo castanho claro dela.

Achei estranho ela não mencionar o nosso mestre dos empresários, que chamamos de Peagá. Talvez ela não o achasse bonito, ou simplesmente esqueceu mesmo.

Minha mãe chegou com a comida, sorrindo pela situação, e se sentou nas cadeiras da mesa conosco. Nunca fui fã da hora da janta. Na verdade, desde quando era pequeno, eu nunca gostei. Sempre fui uma pessoa de poucos gostos gastronômicos, então também não gostava quando chegava a hora de almoçar.

Minha banda ainda não era famosa, portanto não esperava que eu fosse um jovem adulto já rico. Com 21 anos, nem sempre a música faz tanto sucesso, até porque havia pouco tempo que tínhamos começado.

O cheiro estava bom. Além do frango, ela também fez farofa, batatas e o tradicional arroz e feijão. Seguindo a minha lógica, frango era a única comida que não seguia a trilha dos F’s. Todas as outras comidas que começavam com F eu simplesmente não gostava.

Jan estava comendo sua janta bem rápido, tanto que acabou em poucos minutos e foi logo bagunçar alguma coisa na sala.

De longe, nós conseguimos ouvir trechos do que estava passando na TV da sala.

— O governo de nosso país... — Começou o repórter na TV. — Recentemente, assinou um contrato para melhorar o desenvolvimento. Eles dizem que gastando 50 milhões de reais...

Revirei os olhos e parei de prestar atenção. Um dos assuntos que eu menos gosto é política, então sempre que se tornava, eu subitamente não tinha mais vontade de me pronunciar para algo.

Felizmente, a minha irmã não tem idade para saber sobre essas coisas muito bem, então ela acha chato também. Por isso, rapidamente, já estávamos ouvindo as notícias de outro canal.

— E ficamos com a repórter Mendel para nos dizer sobre esse acontecimento. — Uma âncora de jornal falava.

— Crianças sem lar, isso mesmo. — Falava provavelmente a repórter Mendel. — Ontem, infelizmente, o Orfanato Gota de Chuva finalmente foi demolido para a construção de arranha-céus. Ainda não temos todos os detalhes sobre o que aconteceu com as crianças, porque o principal investidor do espaço Ésoj José simplesmente desapareceu dos contatos. Teremos que identificar o que realmente aconteceu com esse homem.

Jan cansou e desligou a TV. Não reclamei, nunca fui fã mesmo.

— Boa noite, gente. — Ela se despediu, já indo na direção da escada, pois dormiria cedo para acordar a tempo de sua aula no dia seguinte. Minha irmã era uma pessoa muito responsável.

Todos na mesa dissemos “Boa noite” e continuamos a comer. Foi então que aconteceu.

Uma pedra vinda do lado de fora acertou a janela da cozinha e a estilhaçou, ao mesmo tempo em que um homem mascarado arrombava a porta que liga a cozinha com a garagem.

O homem vestia uma roupa totalmente preta, exceto pela parte que cobria sua boca, sendo amarela. Ele usava o que eu diria ser uma roupa de ninja da atualidade, com vários apetrechos em seu cinto, como canivetes, isqueiros e facas. Uma de suas facas estava em sua mão.

Minha mãe soltou um grito de susto. Eu e Beno nos levantamos rapidamente de nossas cadeiras e ficamos em alerta.

— O que você... — Beno começou a falar, mas nesse momento, outro ladrão, vestindo a mesma roupa do primeiro, exceto pela parte que cobria sua boca dessa vez azul, saltou pela janela da cozinha estilhaçada e me acertou com os pés, me fazendo cair de bunda no chão.

— Ai. — Falo sarcasticamente.

Minha mãe levou a mão à boca, assustada.

O suspeito amarelo pegou um papel do bolso e começou a ler.

— É, verdade, agente Cerúleo. — Ele amassou o papel, colocou no bolso e começou a mexer em todos os bolsos, como se tivesse procurando algo. — Merda. Vamos. Pega logo.

Já estava de pé novamente, minha mãe estava se escondendo atrás de Beno, apesar de ele ser muito baixo.

— A gente pode fazer isso do jeito simples. — Começou o sujeito de azul, pegando a faca que Jan estava usando pra comer. — Ou do jeito difícil, senhora Kabroom.

— Digam logo o que vocês querem de mim! — Pediu minha mãe. — É dinheiro? Pode pegar no armário! Apenas deixem meus filhos em paz!

O suspeito de azul, provavelmente chamado Agente Cerúleo coçou o queixo.

— Obrigado por nos dizer onde fica o dinheiro de vocês. Mas não é isso o que a gente quer.

— O que é que vocês querem, então? — Perguntei.

— Algo que vocês guardam há muito tempo. Vocês sabem do que estou falando.

Minha mãe se jogou no chão e afundou o rosto em suas mãos.

— Não, não, não... — Começou a suplicar.

— Do que ele está falando, mãe? — Perguntou Beno. Fiz a mesma cara de confuso.

— Então quer dizer que você não contou para eles, tiazinha? — Falou o suspeito de amarelo. Ele olhou para o amigo, que acenou com a cabeça confirmando alguma coisa. — Não contou a eles sobre o tesouro da sua família?

— Vamos logo! — Reclamou Cerúleo. — Vamos do jeito fácil para não causar problemas para o nosso lado, ok?

A pobrezinha começou a suplicar de novo, mais silenciosamente. Fiquei com pena dela, apesar de não estar entendendo nada. Os invasores estavam ficando impacientes.

— Não sei o que vocês querem! — Tentei negociar. — Por que vocês não vão embora antes que nós chamemos a polícia?

O suspeito de amarelo começou a rir.

— Você acha que nós não resolvemos esse problema antes de vir pra cá? Todos os seus telefones não funcionarão.

Tentei, lentamente, pegar meu celular no bolso de minhas calças. Porém, Cerúleo estava prestando atenção em mim. Então, quando eu finalmente o tirei do meu bolso, a faca voou e cravou no verso do celular. A velocidade do lançamento, fez o celular sair da minha mão e ficar pendurado na parede da cozinha, que agora tinha um furo após ser atacada por uma faca afiada.

Cerúleo pegou a faca que Beno estava usando pra comer, para se armar novamente.

— Ok. — Reviro os olhos. — Sem telefones então.

O suspeito de amarelo demonstrou surpresa nos olhos, que além de seus pulsos não cobertos pelas luvas pretas, era a única parte de seu corpo que eu podia ver. Cerúleo assentiu com a cabeça, me confirmando.

— Essa família Kabroom é muito molenga. — Reclamou Cerúleo. — Posso confiar em você, Agente Milho?

O suspeito de amarelo também balançou a cabeça como uma forma de confirmar.

— Okay. — Cerúleo voltou a falar, pegando algumas cordas que havia trazido na mochila. — Vamos amarr-

Ele não terminou de falar. Eu tinha acertado um soco forte em seu rosto. Minha mãe levantou a cabeça para olhar.

— Não!

O soco não foi muito efetivo. Não jogou o homem ao chão ou algo do tipo. Apenas deixou uma depressão em sua maçã do rosto, além de uma expressão raivosa em seu rosto.

— Sorte sua que seu soco não é forte, garoto. — Cerúleo usou todo o seu ar de maioridade para dizer. Ele girou a corda que tinha pego e só me dei conta de que estava sendo amarrado quando já estava totalmente preso.

Beno veio correndo para tentar me ajudar, mas levou logo um soco bem no nariz. De joelhos, com muita dor e a mão no nariz, Beno também foi amarrado nas cordas, de modo que as minhas mãos ficavam ligadas às do Beno e os pés amarrados separadamente por outros pedaços de corda.

— Merda. — Eu e meu irmão falamos ao mesmo tempo. Pelo canto do olho, vi que Jan, lá da escada, via tudo sem fazer nada. Era melhor assim. Ela era apenas uma pequena criança. Estava torcendo para que nenhum dos dois assaltantes percebessem sua presença.

— Agente Milho. — Chamou seu parceiro. — Tome conta desses dois pirralhos. Eu vou com essa mulher... — Ele pensou um pouco. — Cloud Kabroom, certo? Vou com ela pegar a tal esfera.

Beno e eu ficamos confusos, sem entender nada. Felizmente, assim que Jan ouviu o plano, ela subiu as escadas para se esconder.

Milho assentiu e veio para perto da gente, enquanto Cerúleo pegava a minha mãe pelo braço e levava ela para o resto da casa.

— O que é essa esfera? — Beno fez a pergunta que eu faria, para Milho.

— Vocês não sabem. — Ele começou a rir. — Eu também não. Mas não importa. É algo que nosso mestre quer.

— Que mestre? — Foi minha vez de perguntar.

— O magnífico Sir... — Milho parou no meio da resposta. — Peraí, por que estou dizendo isso para vocês?

— Sir. K. — Disse. — Na mosca.

A expressão de surpresa do agente demonstrou que eu acertei o nome. Ele decidiu não perguntar como eu sabia daquilo. Beno estava com uma expressão mais confusa do que já estava antes.

Olhei para a parede da cozinha. Dei uma risada curta.

— O que foi, pirralho? — Milho perguntou.

— Vocês não escaparão dessa. — Eu respondi. — Temos bons vizinhos.

— O que você quer dizer co-

Ele não terminou a pergunta. Um brilho ofuscante vinha da sala.

— Hoje é nosso dia de sorte, Agente Milho. — Disse Cerúleo, vindo com minha mãe. Ele tinha algo muito brilhante em mãos.

— Diga. — Milho pediu.

— Pegamos vários reais na casa da velha. Além do que o chefe encomendou. — Cerúleo levantou a mão que estava com o objeto brilhante. Em sua outra mão, ainda havia a faca de comer que Beno estava usando.

Tudo aconteceu rápido demais.

Minha mãe ganhou coragem para se mexer. Ela pegou o pequeno objeto da mão do ladrão e o arremessou em nossa direção. Quanto mais o objeto ficava perto, melhor eu pude vê-lo. Era semelhante a uma esfera. Parecia colorida.

A esfera passou direto por Milho e acertou a cara do Beno. De repente, o menino desapareceu, junto com a esfera. Fiquei confuso e as cordas afrouxaram, então pude desamarrar minhas mãos.

— Não! — Cerúleo gritou.

A cena a seguir foi chocante para mim. Cerúleo enfiou a faca no corpo da minha mãe. Ela gritou e caiu no chão.

— Mãe! — Gritei, me arrastando com as pernas amarradas até ela. Fui impedido por Milho, que acertou um chute na minha barriga, me paralisando de dor no meio do caminho.

Uma sirene de polícia soava do lado de fora da casa, chegando cada vez mais perto.

— Ferrou! — Milho e Cerúleo falaram ao mesmo tempo.

Cerúleo pegou a sacola que tinha enchido de dinheiro.

— Vamos com isso mesmo. Alguma coisa para o chefe. Pela porta dos fundos. Rápido!

E então não mais os vi. Jan desceu a escada correndo e veio até à mim, soltar meus pés.

— Não. Eu não. — Coloquei as mãos na barriga. — Mamãe, ela é mais importante.

Ela correu até ela. Era possível ouvir a polícia arrombando a porta da garagem, já quase na cozinha.

— Isso! A polícia. — Comemorei. — Vá para a casa da sua amiga Berg, Jan! Corra! A polícia vai cuidar da gente.

Jan assentiu e não mais a vi a partir de quando ela passou para a sala.

Consegui chegar até a minha mãe, apesar da dor. Jan era pequena ainda, então tudo que ela conseguiu fazer foi tirar a faca do peito da mamãe. A polícia entrou.

Alguns policiais foram socorrer minha mãe e outros, surpreendentemente foram me prender em algemas.

— Por que? Por que? — Fiquei desesperado.

— Você é o único suspeito. — Um dos policias respondeu. — Mas as digitais na arma do crime serão a principal prova de quem esfaqueou a senhora Kabroom.

— Vocês não podem me prender! — Exigi, percebendo que minha mãe estava quase morrendo. — Foram os ladrões que já fugiram que machucaram a minha mãe!

— Não, Ty Kabroom. — Falou outro policial. — Até termos prova disso, você está preso.


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Notas finais do capítulo

A introdução da esfera. Tan tan taaaaaan (8)
Jr.
:235 (30/11/2014)



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