A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 19
A Falha no Plano


Notas iniciais do capítulo

" Valeu, gordinho! Vocês são os melhores! " — MARTELETO, Riko.



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Capítulo XIX — A Falha no Plano

 17/03/16 

Riko's POV

Na esquina da Rua da Tristeza com a Rua Salgueiro Chaves, ele disse. Será que aquele deficiente visual ia acertar onde os caretas passariam?

— Talvez se você ficasse quieto por pelo menos um minuto, nenhum corno descobriria a gente. — O outro disse.

Ele tinha razão, eu não parava de me mexer dentro do carro. Ansioso para o momento em que ele andaria com o veículo alguns metros para frente e tudo aconteceria de forma fenomenal.

Coloquei o dedo na frente dos lábios, produzindo um Sh inaudível, como se fosse ajudar em alguma coisa.

Com a minha visão nada perfeita, mal enxergava o deficiente na esquina logo em frente, olhando fixamente para a rua da Felicidade, que de onde estávamos estacionados não pudíamos ver.

Do nosso lado tinha uma loja de doces. Crianças entravam e saíam junto de seus pais com sacolas cheias de guloseimas. Do jeito que estava apoiado na janela do Carona, me remexendo por inteiro, parecia que a qualquer hora eu iria quebrar o plano para comer alguma besteira. Precisava de açúcar.

— Ô, lesado! — O motorista quis reclamar comigo. — Dá pra você parar de babar os beiços para essa loja mixuruca e prestar a porra da atenção no seu amigo retardado?

Sem problemas. Virei de novo para frente, me sentando de forma confortável no acolchoado do assento.

Minha visão já estava ficando cansada de ficar tentando desvendar o que estava acontecendo em um certo ponto distante. Precisava de açúcar.

Uma luz reluziu à frente e mal tive tempo de pensar antes que o motorista metesse com força o pé no acelerador.

— É agora, moleque! — Me animei, pegando um revólver no porta-luvas.

O automóvel andou cerca de cinco metros para frente e parou no meio do cruzamento. Nesse tempo, já estava apontando a arma para a janela, esperando o choque.

Atirei milésimos de segundo antes de o veículo vermelho bater com força na minha porta, arrastando o nosso McLaren para a esquerda.

Primeira morte, faltam três.

Ao mesmo tempo em que pensava no que fazer, o meu parceiro deficiente sacou um metralhadora das costas, saiu de trás da caixa de correio que estava se escondendo e começou a atirar sem parar no carro vermelho, tentando diminuir a contagem.

Enquanto isso, todos os pedestres que estavam por perto correram assustados para lugares aleatórios como para alguma outra rua ou dentro de algum estabelecimento. O que me lembrava que eu precisava de açúcar.

Minha perna ficou presa entre o porta-luvas e o banco, um espaço que ficou muito menor depois que o nosso veículo recém-roubado levou uma porrada.

— Que merda, a gente não vai poder ficar com esse carro. — Me decepcionei, mas Lomba já havia saído do carro e tentava mirar nos outros com outro revólver.

Fiquei em uma altura mais baixa que o resto do vidro que sobrou depois de os bandidos no outro carro tentarem atirar várias vezes em mim como resposta da batida.

Coloquei meu apetrecho do lado do retrovisor e por ali tentava mirar em algum outro cara. Quando um careta de cabelos loiros estava com a cabeça bem na reta do meu cano, ele levou um tiro no peito e parou de se mexer.

Agora uma dupla.

Pelo lado de dentro, vi o motorista do meu carro se achando por ter conseguido acertar um.

Os outros dois marginais estavam no banco de trás lutando em balas com o nosso parceiro da caixa de correio, só que um logo foi acertado pela metralhadora e também desmaiou sentado.

Resta um.

O homem de camisa manchada pelo sangue dos amigos saiu do carro correndo com um fuzil em uma mão e na outra uma maleta. A nossa maleta.

— Ah, não... — Falei, quebrando de vez o pedaço do porta-luvas que me prendia. Me libertei, saindo de dentro do carro, sem medo que algum dos homens mortos atirasse em mim. — Ele está indo para a...

O idiota entrou na loja de doces para se abrigar! No meu reino! Agora ele morria.

Saí correndo que nem um maluco atrás dele, que tinha deixado um rastro de sangue no chão porque Lomba tinha acertado sua perna enquanto corria.

Chegando no estabelecimento, vi que o cara tinha sido esperto. Ele já estava com uma dúzia de reféns, mais ou menos ajoelhados em frente ao balcão, pronto para atirar em qualquer um com sua totalmente original AK-47.

— Não se mexa, moleque enxerido! — Apontou por um relance a arma para mim. — Posso matar qualquer um deles se for o caso. Sua voz tentava ser amedrontadora, mas via-se claramente que ele estava receoso.

Dei uma risadinha e estendi a mão direita até a vitrine.

— O quê que eu falei, seu merda? — O medroso gritou. — Fica frio aí!

Levantei a mão esquerda como em uma rendição, enquanto que com a outra pegava um pedaço de torta de chocolate.

— Relaxa, tio... Eu só vou comer açúcar.

E coloquei o pedaço na boca, sem medo do cara me atirar, sabia que não faria isso até porque meu parceiro de cabelos negros havia acabado de chegar na frente da loja. O que eu só havia percebido pelo reflexo do vidro estilhaçado das tentativas do mesmo atirar no bandido.

— Agora, garoto! — Gritei e nesse instante um menininho gordo que estava perto do meu inimigo deu um soco forte na perna do mesmo, atingindo perfeitamente o local ferido.

O homem urrou de dor e perdeu a mira em qualquer pessoa, momento perfeito para eu dar um pulo até ele acertar uma coronhada na sua testa, o fazendo desmaiar sem matá-lo.

— Valeu pela grana, otário! — Roubei sua arma capenga e a maleta, saindo da loja logo em seguida com mais um pedaço de torta na boca. — Bora, Vesguin! Agora a gente tem que vazar porque a polícia deve estar vindo aí! — Falei de boca cheia.

Parado logo em frente na rua, estava Lomba dirigindo um outro carro que havia acabado de roubar dentre os que foram abandonados no meio do tiroteio.

— Entra aí, cambada! — Gritou para a gente e disparou em velocidade quando fechamos nossas portas na parte de trás.

Pudemos ouvir as sirenes de polícia enquanto íamos embora, desviando dos veículos empacados no meio da rua.

— Vai logo, mané. — Vesguin exigiu de Lomba, preparando para atirar em qualquer um pela janela com sua metralhadora.

— Eu não sigo ordens de ninguém, vesgo filho da puta. — O loiro retrucou de volta.

Estava observando pelo vidro traseiro várias viaturas parando na esquina que tinha ficado para trás, mas uma seguiu atrás da gente, se atrapalhando um pouco também na hora de passar pelos Empacados.

— Não queria ser estraga-prazeres, mas temos companhia.

O deficiente visual pulou para o banco de carona ao mesmo tempo em que Lomba dirigia em alta velocidade.

— Rápido, vira aqui! — Vesguin meteu a mão no volante, já que o motorista não iria lhe obedecer.

O carro deu uma guinada para a esquerda, fazendo um ruído muito alto nas ruas, dando mais suspeita ainda de que nós éramos ladrões. Demos de cara com um beco sem saída.

— Você é retardado mental, não é? — Lomba caçoou do meu amigo de infância.

— Só cala a boca e me segue. — O vesgo saiu do carro, sendo correspondido por nós dois.

Corremos até o muro que limitava o beco e começamos a escalar, sem saber o que tinha do outro lado.

A viatura que suspeitou da gente parou logo na virada do beco e os policiais começavam a sair do carro, para nos prender.

— São aqueles lunáticos de novo! — Um deles disse quando Lomba chegou por último no topo do muro.

Na nossa frente, a gente via um viaduto a uns três metros da gente, que recebia poucos carros.

— E agora, imbecil? — Lomba perguntou. — O que a gente faz?

— Agora a gente pula. — respondi pelo meu parceiro, dando um salto de mais de três metros e rolando ao se chocar com o chão da estrada alta.

Os carros instantaneamente desviaram de seus caminhos para não me atropelar e bateram uns com os outros ao trocarem de pista. Nisso, os outros dois já haviam reunido coragem o suficiente para me seguir.

— Os policias podem atirar na gente de cima do muro. — Vesguin começou a correr entre os automóveis amassados. — Venham!

Seguimos ele até o outro lado do viaduto. Quando chegamos lá, não deu tempo de respirar e descansar direito. Ele nos empurrou lá de cima, se jogando logo em seguida.

Gritei, pensava que morreria. Mas não. Fui atingido por algo fofo e amarelo.

— Palha. — Falei, sendo afogado no meio de tantas gramíneas. Tínhamos caído em cima da caçamba de um caminhão transportador de palha.

Percebi que meu amigo de hospício tinha ficado tão incrédulo quanto eu quando cheguei à "superfície".

— Como é que você adivinhou que tinha essa palha toda aqui para não matar a gente, seu desgraçado?

— Eu vi o caminhão passando quando a gente deu o primeiro salto. — respondeu prontamente, como se estivesse esperando aquela pergunta. — Amigo, enquanto um olho está prestando atenção no perigo o outro está vendo como é que eu vou escapar, tá ligado?

Ed's POV

Berílio andava alguns passos a frente, como um passante despreocupado, enquanto eu utilizava um celular descartável, como se estivesse em uma ligação privada e por isso mantivesse distância.

Tudo devidamente planejado pelo detetive.

Wyles morava no mesmo bairro que na época em que estávamos na ativa, porém se mudara para uma casa que parecia mais barata e, consequentemente, menos segura.

Era estranhamente nostálgico estar lá, de um jeito que eu não sabia se era bom ou ruim. Minha mente começou a vagar por tempos memoráveis, permanecendo em silêncio, quando o Mágico parou.

— Só um momento. - Eu disse para o celular desligado, como se alguém estivesse falado sem parar na linha por todo esse tempo.

A rua estava relativamente vazia, apesar de um ou outro gato pingado.

— Por que paramos? - perguntei a ele, que respondeu apontando um casebre.

— É ali.

— Vamos entrar?

— Por trás. - murmurou.

“Desliguei” a chamada e fomos para os fundos da casa. Ele retirou um pano da bolsa e enrolou no braço. Em alguns segundos, os estilhaços de uma janela voaram perto de mim. O barulho não fora completamente abafado, o que me deixou temeroso. Afinal, não havia escurescido completamente.

Ele passou o braço pelo buraco recém criado e abriu a trinca da porta ao lado. Logo depois, deu um chute pesado na porta, que não apresentou maior resistência. Estranho. Um ex vigilante com uma segurança tão precária? Observei a fechadura por dentro. Parecia nova.

A morte de Wyles não foi relatada como assassinato. A casa parecia impecável, então a Máfia... o Governo provavelmente remontara a cena para uma morte natural. Senti a raiva esquentar meu corpo.

Berílio analisou todo o ambiente, demoradamente. Já eu fui direto para o quarto. Se ele agisse do mesmo jeito, o computador ficava lá. Era lá que ele escrevera suas últimas palavras... Bingo. Um laptop mais moderno do que eu me lembrava, mas lá estava.

Abri-o, nervoso. Loguei em sua conta, sem senha. Mais uma coisa estranha. Ele tinha muito a esconder. Então por que não parecia? Abri o navegador e usei o comando de histórico. Nada de blog. Franzi o cenho, estaria ele usando a aba anônima?

— O que você está fazendo?! - Berílio questionou, levemente irritado. - Não mexa com a minha área sem me avisar.

Dei espaço para ele, sem pedir desculpas, a expressão ainda fechada.

— Hmm... Bom pensamento. Vejamos se ele estava usando a aba anônima ou algum comando.

Permaneceu apertando diversas teclas por algum tempo. Quanto tempo? Eu só ficava mais e mais incomodado.

Olhei ao redor. Nenhuma marca de sangue. A cama impecável, como se ele fosse voltar e dormir ali. Abri o armário. Suas roupas intactas. Angustiado, fui até a cozinha e abri a geladeira. Ainda tinha comida. Senti a garganta apertar.

Douglas era meu amigo. Ele era a porra de um amigo. Eu estive fora, e voltei perdendo dois amigos, fora minha amada Gwen. Será que eu devia contatar os outros vigilantes? Revelar minhas suspeitas, falar sobre o sumiço de Kaine? Ou será que isso os colocaria em perigo e eu deveria agir sozinho? Deveria pedir ajuda à Katerina Salazar e ficar devendo um favor a ela? Minha mente não parava de me bombardear com pensamentos acelerados, o coração bombeando o sangue com força, os ouvidos zunindo.

— Sr. Ribs, venha cá.

Me assustei ao ouvir sua voz. Meu corpo fraquejou e me senti subitamente fraco. Droga.

— Já estou indo.

Aproximei-me. Ele me mostrou a tela, que parecia pura e simplesmente feita de letras e símbolos embaralhados.

— Sim?

— Foi tudo apagado. O blog não existe mais. Os registros da vida e pesquisas de Douglas Wyles se resume a sua vida pública no Facebook. Quem são seus amigos e o que ele compartilhava. Aparentemente, muitos dos seus posts de conteúdo político se foram das redes sociais. Apagaram parte do HD, sumiram com quase tudo. Consegui puxar alguns arquivos sobre o que ele investigava, mas está tudo corrompido, demorarei a conseguir ter um acesso definitivo.

— Certo. Vou te aguardar lá fora.

Enquanto ele copiava os arquivos para seu HD externo, fui me sentar no sofá. Minha cabeça doía e pesava, me senti debilitado. Pensei em Kito. Ele ficaria decepcionado comigo? E Gwen? Ela me perdoaria por causar tanta dor? Eu me perdoaria? Fechei os olhos, amargurado. Não queria me sentir assim. Queria seguir em frente, mas não só estava preso no passado, como o presente continuava a doer.

Meus olhos marejaram. E então adormeci.

[...]

— Vamos? - Acordei com a pergunta, a mão do hacker em meu ombro.

Assim que abri os olhos, uma lágrima escorreu. Ambos ficamos surpresos, no entanto ele fingiu não reparar. Mais uma vez, senti que ele conhecia e compreendia minha dor e fui grato por seu silêncio.

— Olhou tudo por aqui?

— Sim. Vamos dar uma olhada rápida na vizinhança agora.

Assenti e olhei meu relógio de pulso. Já passavam das 19h30. Saímos silenciosamente, recolocando a trinca no lugar. Berílio jogou uma pedra pelo buraco, simulando que fora assim que o vidro se partiu.

Contornamos a casa e ele bateu em uma porta qualquer. Uma mulher de quase cinquenta anos abriu, com uma feição simpática e curiosa.

— Pois não?

Por um momento, me senti sendo atendido pela suposta Tia May, e isso me causou nova onda de fúria. Ela deve ter percebido, porque se encolheu. Mágico me lançou um olhar repreensivo.

  — Boa noite, minha senhora. Desculpe o incômodo. Somos amigos do falecido Douglas Wyles que morava naquela casa logo ali. Estávamos sem contato com ele há um tempo, e a notícia de seu falecimento foi um choque. Achávamos que ele estava em perfeita saúde e, contudo, fomos notificados de uma parada cardíaca.

— Não é? Eu conhecia um pouco o bom Wyles, era um homem um pouco perturbado e com um furor juvenil, mas sempre muito gentil e prestativo. Era dos bons, sim. Nunca percebi sua saúde decaindo. Sabe como são essas coisas, quando menos esperamos... - Ela disse, parecendo realmente se importar. - Uma pena, gostava de tê-lo na vizinhança. Porém ele está em um lugar melhor agora.

Franzi o cenho. Não fui o único a perceber. A mulher estava se coçando para não dizer algo.

— Oremos. - Meu parceiro respondeu, sem me convencer, mas soando simpático. - E a senhora percebeu algo de incomum perto de quando ele faleceu? Estamos intrigados, sabe?

— E é compreensível!

— Perfeitamente. - continuou, em tom persuasivo.

— Bem... Eu acordei com um carro no meio da noite. Achei muito estranho isso, nessa rua pacata. Tirei uma foto do carro, também tirei da placa. Não tive coragem de tirar dos homens, achei que estava sendo neurótica. Voltei para cama enquanto eles ainda estavam perto do carro, e nada pareceu estranho. No entanto, no dia seguinte, descobrimos que Wyles estava morto. Fiquei muito intrigada.

— Realmente, intrigante. E por acaso a senhora tem essas fotos aí? Pode nos descrever os homens?

Ela enviou para ele, por bluetooth, as fotos. Eu só pensava em acabar com a raça do dono do carro. Ela descreveu os homens como um sendo gordinho e baixinho, ao que Berílio assentiu, e outro com cabelos cacheados e um bigode grosso. Pediu desculpas por não dar mais detalhes, porque estava escuro e ela não olhou muito.

Agradecemos e demos boa noite, prontos para seguir nossos caminhos. E então, alguns passos fora da casa, fomos abordados por um mendigo.

— Eu vi que vocês estavam perguntando p'ra tia lá. Os caras mataram o sujeito, eu sei. Vi eles atirando na porta. Eles num me viram, porque eu 'tava na moita onde eu durmo às vezes. Eles saíram de lá muito preocupados, ligaram p'ra outros caras que vieram e arrumaram tudo, levaram até o corpo. Foi sinistro, tiow. Parecia coisa do Governo, fiquei até pensando nessas paradas de conspiração aí que falam hoje em dia.

O morador de rua falava com os olhos esbugalhados. Qualquer um diria que ele não estava em perfeito estado mental e mentia. Eu não. Eu sabia que era verdade. Mas quem acreditaria nele? Não tínhamos nada...

— Mas aí, tiow. O gordinho deixou cair um cartão, nem viu. Daí eu peguei, né. Guardei, sabia que um dia ia vir gente descobrir.

Ele tirou do bolso imundo, as mãos pretas, um cartão amassado e sujo. Segurou à frente da minha mão, mas quando fui pegar, ele puxou e deu um sorriso de quem está nas últimas.

— Eu quero comida, tiow. Em troca da informação. Comida e roupas.

Berílio nada disse. Assentiu para que eu, em um movimento rápido, arrancasse o cartão das mãos do pilantra esperto. E então chamou o homem para andar conosco.

— Vou lhe levar em um lugar de um amigo meu. - Berílio começou. - Lá você tomará um banho, conseguirá roupas e comerá. E então você some e não comenta nada com ninguém, certo?

— Claro, tiow, 'brigadão!

Mágico bufou e pegou um celular e discou um número.

— Alô, Leoni? Preciso de um favor.

Combinou com seu amigo como fariam com o morador de rua. Depois desligou e, enquanto andávamos, perguntei o que iríamos fazer a respeito do que descobrimos.

— Não é óbvio? Caçar esses desgraçados que se utilizam do poder governamental. Vou te ajudar, Sr. Ribs, te ajudar muito. Só espero que seja bem recompensado, também.

— Você será, meu amigo. Você será. - Eu disse, sem muita certeza.

E seguimos pela noite, minha cabeça pensando em como eu gostaria de cair na cama e descansar desse pesadelo.

Beno's POV

Sentado no sofá comendo uma pipoca de microondas, podia notar todas as vezes que a mulher passava pela sala procurando o que ela tinha perdido.

A cada vez que eu a via, ela derrubava algo diferente ao revirar em suas coisas.

— Se você continuar assim, vai acabar quebrando uma lâmpada ou algo do tipo. — comecei a rir.

— Muito engraçadinho, você. — A ruiva respondeu de volta. — Por que ao invés de ficar me sacaneando, você não vem me ajudar?

Eu não tinha uma desculpa pronta para essa pergunta.

— Porque o dinheiro não era meu, ué. — improvisei. — E porque eu estou com preguiça.

Katerina Salazar fez um grande olhar de decepção para seu hóspede bastante adorado que não a ajudava em quase nada.

— Tá, eu ajudo. — levantei a bunda do sofá. — Mas por que você está tão desesperada em achar isso?

Ela respondeu como se fosse óbvio.

— Meu querido, eu trabalho como entregadora de jornais. Se eu ficar jogando fora o dinheiro que eu ganho, que já é pouco, eu vou ter que viver debaixo da ponte.

Não disse nada. Apenas assenti com a cabeça e fui até o quarto que a dona da casa tinha me cedido sem ela me ver. Apanhei a minha mochila e busquei dez reais lá de dentro.

Quando voltei à sala, a garota estava sentada no meu sofá e comendo a minha pipoca.

— Folgada, você, hein? — entreguei a grana.

Ela levantou de súbito e pegou na minha mão.

— Como que você achou?!

— Tava em cima da geladeira... — menti, calmo, quase rindo. — Você ao menos procurou lá?

Ela pôs uma mão na testa, como se agora a decepção fosse com ela mesma.

Eu ia sacanear ela de novo só que a campainha tocou e eu desisti.

Quando abri a porta, vi que era Minsy, molhada da chuva que caía naquela noite.

— E aí, Beno? — A morena cumprimentou animada. — A Kat está aí, não está?

E antes que eu falasse qualquer palavra, ela avançou para dentro molhando um pouco a sala com seus sapatos sujos.

— Ô, cheirosa! — A ruiva chamou. — Podia ter tirado o tênis antes de entrar, não?

A visitante tirou os sapatos, se abanando com as mãos.

— 'Tá calor. — explicou. — Mesmo com essa chuvinha básica aí. — bateu palmas orgulhosa, mudando de assunto. — Consegui informações sobre o cara!

— É? — Salazar se interessou, chamando a "sócia" naquele plano maluco para o sofá. — Quem é ele e por que ele está com o Ed?

Minsy juntou as mãos em cima do joelho quando se sentou.

— Ouvindo um pedaço de uma conversa deles, eu descobri que o nome dele é Bernardo Berílio. — Tanto Kat quanto eu demonstramos para ela prosseguir com as informações. — Isso foi de tarde. Eu segui o vigilante até Figueira Seca e lá os dois pararam para visitar um amigo chamado Douglas Wyles, eu acho.

Uma lâmpada que não estava quebrada se acendeu na mente da ruiva.

— Douglas Wyles! Um ex-vigilante que morreu recentemente.

— Isso mesmo. — A morena confirmou. — E pelo o que eu pesquisei na Internet, Bernardo Berílio é um hacker.

Katerina abriu um enorme sorriso.

— Vocês sabem o que isso significa, certo? — balancei negativamente a cabeça porque na verdade não fazia ideia. — O Sr. Ribs está voltando à ativa, gente!

Ela parou alguns segundos pra ter certeza e continuou.

— Ele deve ter contratado esse hacker para descobrir coisas do Governo. E ainda foi visitar um velho amigo que morreu para verificar se tinha alguma pista do que aconteceu na casa dele ou na do Kaine, não é óbvio?

Pensando desse modo, era óbvio mesmo. Com um pouco de raciocínio, dava para se chegar a essas conclusões.

— Ed não quis se juntar a mim. Ele está agindo sozinho, mas agora que ele viu que o Governo está contra os vigilantes, alguma hora ele vai perceber que vai precisar da minha ajuda. Beno, vou pedir um favorzão pra você.

Apontei pra mim, incrédulo. Como se estivesse perguntando: "Eu?"

— Quando eu for trabalhar amanhã, a Minsy vai continuar vigiando o Ed e você fica de olho nas notícias pra saber se tem alguma coisa sobre seu irmão, tudo bem?

— Fico imaginando se não teria sido melhor eu continuar na prisão. — falei. — Lá ele me encontraria fácil.

— É, mas como eu deixei meu endereço, se ele ir lá, vai ter como ele te encontrar aqui.

Pensando nisso, também cheguei em uma outra coisa.

— Você me avisou que você me libertou graças às confissões de dois ladrões. — comecei. — E você também disse que eles trabalham para alguém maior.

— Certo. — Ela confirmou, sem saber porque eu comecei a falar disso.

— Então se esse chefe deles ir até a delegacia, ele também não pode encontrar seu endereço?

Ela ficou quieta. Tinha a pegado. Olhou para Minsy, sem saber o que responder, mas a morena parecia concordar comigo.

— A gente tem que fugir daqui. — Katerina Salazar queria se mudar.

 18/03/16 

X's POV

— Então... — chamei, em frente ao endereço. — Só pra confirmar mesmo: Eu finjo, a gente entra, vocês conversam e todo mundo negocia. Certo?

— Certo. — Um homem vestido de ninja verde disse, sendo correspondido por uma ninja de vermelho e Amon.

— Isso vai ser muito divertido. — ri da fantasia que Ty e Lavínia tinham arrumado para vir e toquei a campainha.

A porta demorou para abrir, mas depois de uns dois minutos revelou uma outra pessoa vestida de ninja, só que na cor vinho.

— Senhorita X. — A voz era masculina e estava um pouco nervosa. — A que devemos sua preciosa visita?

Cheguei entrando mesmo, afastei o homem da minha frente e fui seguida pelos meus companheiros.

— Esses dois aqui me acharam, — apontei para os falsos ninjas. — quando eu estava com o meu amigo no bar. — Dessa vez para Amon. — E aí eu pensei...

— Acho que já entendi. — Ele me interrompeu. — Por favor, venha comigo até a sala de visitas.

Andando com o anfitrião, fiquei olhando em volta e descobri que aquele endereço na Rua Abelha Negra se tratava de um galpão gigante que parecia realmente a sede dos ladrões. Sério que o Ty tinha achado uma pista tão fácil assim?

Visualizei muitas outras pessoas vestidas de ninja andando de lá para cá. Vi alguns com a cor verde, mas nenhum com a cor vermelha.

A sala de visitas era diferente do resto. Tinha uma mesa no centro com um jarro de flores que exalava um forte aroma no local. Haviam também algumas cadeiras em volta da mesa e foi lá que a gente sentou.

— O que a senhorita e seu convidado vão querer para beber? — O anfitrião perguntou. — Nós temos água, suco, café, álcool, café alcoolizad-

— Café?! Com álcool?! — Lavínia falou alto demais. Dei um olhar raivoso para ela. Não podíamos estragar nosso disfarce agora que já estávamos dentro do território inimigo.

O homem olhou para a falsa parceira de maneira estranha, estreitando os olhos, mas acredito que ele não tenha suspeitado.

— Ok. — falou. — Vou trazer isso, então.

Ele saiu da sala e quando voltou estava acompanhado de um outro ninja, de cor verde, e uma bandeja com um bule e quatro xícaras.

Na hora de entregar as xícaras para cada um, dois de nós rejeitamos.

— Não, obrigado. Não gosto de café. — Amon avisou.

— E eu de álcool, fica pra próxima. — Ty sempre dizia isso: "Fica pra próxima."

Lavínia abaixou o pano vermelho em seu rosto e bebeu de uma vez só, ao mesmo tempo em que eu pegava o meu copo e provava. Tinha um sabor ótimo, então continuei bebendo.

— Conte sua história, X. — O homem pediu e o ninja que tinha vindo com ele também se mostrou interessado.

Me ajeitei na cadeira.

— Eu decidi virar da gangue de vocês. — comecei. — Cansei de trabalhar sozinha. É um saco não ter ninguém pra me achar foda.

Ao meu lado, o nosso ninja verde afirmou com a cabeça, como se estivesse dizendo que eu tinha contado exatamente isso para ele.

— E você trouxe um amigo, estou vendo. — Ele continuou. — Qual é seu nome? Você também quer participar?

Amon ficou na dúvida se falava seu nome verdadeiro, enquanto eu senti uma vontade repentina de vomitar.

— Quero. — Um segundo em silêncio até decidir o nome. — Hermano, prazer.

— Prazer é todo meu, novo agente. — O homem apontou para si mesmo. — Eu sou o Agente Tinto. É gratificante ter novos parceiros.

— Com licença. — Lavínia pediu, se levantando. — Eu preciso usar o banheiro.

E agora? Ela não era realmente dali. Se ela fosse tentar achar o banheiro e errasse o caminho, o plano iria por água abaixo. Mas infelizmente, não foi isso que aconteceu.

Antes que a ninja vermelha saísse pela mesma porta que veio, ela desabou no chão.

Ty olhou para ela bruscamente e correu até ela. Além do plano ter falhado, tínhamos uma companheira desmaiada.

Ignorei qualquer expressão dos anfitriões e corri até a minha amiga.

Não aguentei, acabei vomitando no chão da sala e meus olhos se fecharam.


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Notas finais do capítulo

Voltando à ativa que nem o Ed
Bea e Jr
:445 (04/05/2017)



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