A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 18
Meu pijama tem listras negras


Notas iniciais do capítulo

' Mas eram apenas dez reais... ' — KABROOM, Ty.



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Capítulo XVIII — Meu pijama tem listras negras

16/03/16 

Morgana's POV

A manhã estava bonita aquele dia. Eu estava sentada em uma mesa, na minha nova casa temporária e dessa vez eu terminara de saborear meu não tão comum café matinal mais cedo.

Fui até a janela da sala próxima ao sofá e observei o Sol no seu ponto mais alto. O relógio da cozinha acusava que tinha se passado o meio do dia.

Ty e X estavam no quarto fazendo qualquer coisa que minha malícia pudesse imaginar. Peagá e aqueles dois assaltantes de padarias medíocres estavam jogando videogame. July e Lavínia estavam no quintal acho que ensaiando alguma música da banda delas eBGDAE com uma das guitarras que o alaranjado trouxera de sua casa.

Mas o que me fez cair na real é que Amon tinha saído para trabalhar. Se você considerar que os músicos da casa estavam em um período de férias e o resto ganhava a vida fazendo coisas ilegais, o grande andarilho era o único que sustentava a casa, mesmo não ganhando dinheiro ainda e estando em seu segundo dia de trabalho.

Essa reflexão me fez pensar em como estaria minha situação quando eu precisasse ganhar um dinheiro pra me sustentar. A minha mãe pagava a minha faculdade, enquanto eu fazia estágio para ganhar um emprego logo que eu finalizasse meus estudos. Mas agora, com essas últimas notícias, de eu ter sido enjaulada e acabar fugindo em uma rebelião de presidiários, será que ela continuaria me sustentando? Talvez eu não merecesse mais o respeito dela.

Meus devaneios foram interrompidos pelo ruído do telefone. Eu era a única pessoa da casa desocupada, então fui atendê-lo.

— Olá? — Foi a única coisa que eu disse.

— Oi, Gana! — A voz risonha só podia ser a de Duda. — Tudo bem?

Uma felicidade veio até mim, me lembrando de quando a minha vida não estava um caos. De quando tudo não estava de cabeça pra baixo.

— Dudinha! — Demonstrei que foi legal ela ter ligado. — Se é pra saber sobre o que está acontecendo aqui, 'tá tudo legal. — Decidi não comentar que alguns dos moradores estavam querendo morrer.

— Não. — Deu risadinhas gostosas ao telefone. — É que você está fora esse últimos dias e aí eu te liguei para avisar que a Lu vai viajar esse fim de semana.

Demorei para perceber o porquê de ela estar me contando isso.

— Ela vai comemorar o aniversário fora? — perguntei.

— Sim, só que aí a Mia e a Karen perguntaram sobre a gente. — respondeu. — Porque tipo... Como que a gente vai comemorar junto com ela?

— E... ?

— Luana marcou de a gente ir na casa dela hoje, dormir lá. — Maravilhosas festas do pijama. — Como nos velhos tempos. E aí? Topa?

Olhei em volta para ver se alguém estava me vendo bater os pés de alegria. Negativo, os garotos ainda estavam prestando atenção só na televisão.

— Claro que eu topo! A partir de que horas?

— Ela falou para a gente chegar lá às oito, garota. — Avisou como se estivesse brigando comigo. — Mas se tratando de você, é melhor que você se apronte para chegar às cinco da tarde!

— Ai, para. — resmunguei. — Me deixa. Eu nem me atraso tanto assim. Eu vou. Pode me esperar lá que eu vou.

— Sei... — suspeitava de que ela tinha estreitado os olhos ao falar isso, mas como a conversa era por telefone, não tinha como eu saber. — Vou te esperar mesmo, hein! Vê se não fura! Até o Fofs vai.

— Ha! Ha! Muito engraçada você. — Pensei naquele gatinho cinzento dela super fofo e peludo. — Se o Fofs vai, a minha presença é garantida.

— Tá bom, preciso ir comprar o presente. — Ela se despediu. — Até mais tarde.

— Até. — desliguei, um sorriso estampado no meu rosto. Hoje a noite seria divertida.

Nesse momento, um certo rapaz estava descendo as escadas, como se tivesse descido pra pegar alguma coisa pra comer.

— Ganhou na loteria, moça? — perguntou. — Tá com esses dentes aí postos pra fora...

— Outra pessoa me sacaneando? — protestei. — O que é isso? Mudou o humor do nada, Ty? O que foi que aconteceu lá em cima, hein?

— Nada de mais, ô curiosa. Eu só estava preparando uma roupa que me protegesse dessas suas indiretas nada puras aí.

Dei uma risada, ajeitando meu cabelo para trás da orelha.

— Ganhei de novo! — Riko estava em seu surto de gargalhadas como sempre. Ele adorava deixar os outros com raiva de tanto perder para ele no videogame. — Só o Amon e o Ty para terem alguma chance contra mim. Vocês são muito ruins e por isso é tão divertido.

— Obrigado pela consideração. — O baterista estava realmente pegando alguma coisa para comer na geladeira, mas desistiu ao ver que não queria nada de lá.

— Por falar em você, cara... Não quer fazer um favorzão pra mim, não? — perguntou, pidão.

O amigo foi até ele e conversaram em uma voz que eu não podia ouvir da mesa do telefone. Só pude ver a expressão chocada do Peagá. Ri dele, ele tinha umas atitudes engraçadas.

— Não quer fazer um favorzão pra mim, não? — Ty chegou perto de mim de novo. — Preciso de companhia para ir ao mercado amanhã de manhã. Pode ir comigo?

Não sei porquê, mas não queria recusar o pedido de jeito nenhum.

— Claro, por que não? — respondi prontamente.

— Obrigado. — deu uma piscadela pra mim e subiu as escadas para continuar fazendo alguma coisa lá em cima.

As próximas horas eu passei tanto na sala lendo um livro qualquer que tinha na casa ou vendo TV no quarto em que tinha me instalado junto com a X. Acabei caindo no sono, porque só estava passando programas chatos e tinha me enjoado do livro.

[x]

Acordei de súbito quando batidas fortes foram feitas na porta do quarto. Um garoto de cabelos laranjas veio até mim e sacudiu meus ombros.

— Levanta, Garota Curiosa! — Seu rosto estava muito perto do meu, querendo se certificar que eu tinha acordado. Quando eu resmunguei alguma coisa aleatória, ele se afastou. — Sua amiga ligou pra cá perguntando sobre você, parece que você está atrasada para alguma coisa.

Duda! A festa!

Pus os pés no chão e corri até o armário para escolher alguma roupa.

— Que horas são? — perguntei.

O garoto olhou para o relógio que usava no pulso para me responder.

— Oito e meia. Você vai sair?

— Vou. — respondi rápido, carregando em mãos um jeans e uma camiseta azul celeste. — Obrigada, Ty, mas tem como você sair rapidinho? É que eu quero me trocar, sabe.

Piscou os olhos para mim, sem entender na hora.

— Ah, claro. — saiu, fechando a porta. Mas não ouvi passos.

— Eu sei que você está aí! — gritei, na dúvida se já tirava o short que usava.

Demorei para receber uma resposta.

— Óbvio que estou! E se alguém quiser entrar? Estou vigiando.

Fiquei pensando se deveria confiar nele. Como estava atrasada, chutei que sim e troquei de roupa ali mesmo.

— Posso abusar de você? — tentei não ser cara de pau quando abri a porta e dei de cara com o homem.

— Eu já acabei de costurar duas roupas inteiras, então... — Ele pensou, envolvendo um dedo em seu queixo. — Depende.

— Você e seus amigos chegaram aqui em um carro, certo? Ele é seu?

Acho que ele ficou surpreso de eu ter reparado no veículo verde azulado dele.

— Eu o divido com o meu irmãozinho, por quê? — Fez uma cara maliciosa que eu achei engraçada. — A atrasada quer carona?

Balancei a cabeça para um lado e depois para o outro, levantando o beiço.

— Se não for muito incômodo...

Ele estendeu o braço direito e eu me apoiei nele.

[x]

De repente me veio uma ideia rebelde na cabeça.

— Minha amiga é muito fã da sua banda. — Contei a ele enquanto estacionávamos em uma vaga, já próximo ao local da festa.

Ele olhou pra mim, definitivamente estreitando os olhos.

— Outro favor?

— É que como eu não trouxe presente... Eu pensei se você poderia...

— Tudo bem. — Ele entendeu rápido. — Vamos.

Saímos do carro e agora quem conduzia o caminho era eu, o levando para a casa de Luana.

Toquei a campainha, um pouco decepcionada de o som dela não ser como o maravilhoso conjunto de notas da casa do meu acompanhante.

Uma jovem de cabelos lisos longos e castanho atendeu. Repousou seus pequenos olhos em mim e depois em Ty. Sua pele ficou mais branca do que o normal quando viu o baterista.

— V-Vo-Você... — Ela começou.

Ty olhou para mim, perguntando meio que telepaticamente o que deveria fazer. Eu só balancei a cabeça afirmando.

— Olá, Luana. — Ele cumprimentou e ela me abraçou, envolvendo-o nos braços logo depois.

— Você veio mesmo! — Ela estava emocionada. — Atrasada... Mas trouxe ele! Como vocês se conhecem? Como?

Os dois convidados deram de ombros.

— Meio confuso de explicar. — confessei, levando o rosto um pouco para a frente. — Tudo bem? Podemos entrar?

— Devem! — ordenou, dando uma pausa entre uma sílaba e outra. Ela abraçou Ty mais uma vez, só que mais forte, eu acho. Acho também que ele gostou, porque retribuiu de novo.

A sala parecia ser o lugar mais animado da sala, tinha cheiro de docinhos e havia umas bexigas soltas por aí. A música que tocava era Todo Carnaval Tem Seu Fim, da banda Los Hermanos.

Percebi a ironia. Não havia se passado tanto tempo desde o Carnaval. Ri internamente.

Todos os meus colegas daquela esfera de amigos estavam ali. Darwin, Cibelle, Freya, Ally...

Uma das garotas em específico veio correndo me abraçar.

— Ganinha, há quanto tempo! — usou aquela voz fofa que só ela tinha.

— Nem faz tanto tempo assim, Mia. Eu te vi no aniversário da Karen, lembra?

Ela não me soltava. Não gostava muito de afeto em público, mas ali estava entre conhecidos, então não tinha problema.

— Um mês, poxa! — protestou. — Que gostoso vê-la de novo! Chegou logo na minha música favorita do Los.

— É, eu sei. — Dei um sorriso. — Como andam as coisas com o Nick?

Sua expressão murchou, o que não era uma coisa boa.

— Não sei, ainda está de pé. Mas ele tem agido meio estranho ultimamente. Super ocupado.

— Que pena. Mesmo. — Fiz um cafuné em seu cabelo negro preso em um coque.

E no meio do assunto triste chega o cara para alegrar o clima.

— Oi, baixinha. — Deu o sorriso que eu já estava me acostumando a ver. — Meu nome é Ty. Prazer em conhecê-la.

E estendeu a mão. Mia primeiro levantou uma sobrancelha pra ele, perplexa, mas depois cumprimentou, se apresentando.

Enquanto isso, olhei para trás e Luana estava fofocando com Bella, enquanto Duda estava no sofá conversando com Niels.

— E aí, Dudinha! Não falei que vinha?

Um gato se enroscou em minha perna, me fazendo abaixar para lhe dar carinho.

— "E aí, Morgana! Não falei que vinha?" — Duda usou uma voz mais fina, então achei que estivesse falando como o Fofs.

— Ha. Ha. — Ri falsamente de novo. — Como é que vai, Niels? Tudo na boa?

Cabelo despenteado e para o alto. Olhos brilhantes. Sorriu para mim, feliz em me vez. Respondeu com um "Sempre".

— O que tem acontecido entre vocês todos? — perguntei, enquanto via Ty se apresentar para cada pessoa da festa e Luana o seguindo.

— Ah, o de sempre. — Niels respondeu. — Saímos às vezes pra ir no cinema, andar de bicicleta. Tudo mais do mesmo. E esse homem aí? É seu peguete?

— É. Tá saindo com alguém, já, é? — Duda também estava interessada.

— Ô, curiosos! — imitei o garoto do assunto. — Ele é só meu amigo. O trouxe porque eu sei que a Lu é fã da banda dele e porque eu não trouxe presente.

E também porque eu não sabia como chegar na festa e precisava de carona, mas não quis comentar.

— Será que sua mãe já consegue suportar um namoro, amiga? — Ela tocou no assunto que eu queria.

Tinha medo da resposta. Quando eu era pequena, minha mãe era muito neurótica com qualquer garoto que eu conhecia. Qualquer menino que fosse meu amigo ela achava que queria me namorar. Eu fui crescendo e essa neura foi diminuindo, mas não sei se ela gostaria que eu me relacionasse a sério com alguém.

— Não tenho a mínima ideia. — falei a verdade. — Mas acho que deveria, né? Já passei dos 18 há 3 anos, eu mereço.

Ao mesmo tempo que observava Luana indo atrás do meu amigo baterista em qualquer lugar que ele ia, deixei passar alguns minutos sobre outras conversas entre nós três até que resolvi voltar no assunto.

— Vocês têm ouvido falar dela?

— Para ser sincera... — Duda começou, ajeitando a franja. — Eu acho que ela não gosta mais da gente.

— Como assim?

— Você sabe... O papo de ser justiceira e tal. Ela acha que a gente também está envolvida com esse "crime".

— Não deixa de ser verdade. — Niels concordou, tomando um gole de refrigerante. — Perigoso, isso aí.

Eles não tinham notícia da minha mãe e ela não tinha notícia minha. O que devia estar se passando pela cabeça dela nesse momento? Seria eu uma criminosa? Uma marginal? Uma renegada?

Mudamos o assunto novamente quando Ty chegou na nossa roda junto com a sua stalker. Não queria que ele soubesse sobre "minhas coisas ocultas".

Ele apenas se apresentou e me chamou para dançar com ele. Agora a música que tocava era uma chamada Radio Video, da banda System of a Down.

Claro que topei, gostando do jeito que ele dançava e da atitude que teve comigo. A cada música mais pessoas entravam no meio para dançar e acho que a Lu ficou um pouco com inveja de mim. Ou ciúme, sei lá.

O mesmo som de antes se fez ouvido, me obrigando a não pensar que eu tinha sido a última convidada a chegar. Alguém tinha chegado depois.

Luana foi abrir a porta e eu olhei curiosa para saber quem era. Me surpreendi com quem vi. Uma pessoa alta e super familiar para mim. Era ela mesma. A minha mãe tinha vindo à festa.

— A minha filha está aqui? — perguntou séria. Tinha começado a chover, seu cabelo estava molhado.

Seu olhar se encontrou com o meu antes que a dona da casa respondesse e assim ela entrou, limpando os sapatos no tapete. Ela veio até mim e me tirou da pista de dança improvisada, fazendo Ty começar a dançar com a Lu sem entender nada.

— Oi, filhota. Tudo bem? — Ela começou, sentando comigo em umas cadeiras no canto. — Eu vim aqui te procurar. Pensei que você pudesse estar nessa festa.

Ela deu um sorriso para mim, como se a vida estivesse às mil maravilhas e não houvesse problema algum para resolver ou conversar.

— Eu sei sobre o que aconteceu recentemente. — Ela contou, seus olhos severos repousados em mim. — E eu não te julgo, é claro. Você é minha filha. Deve ter havido algum engano.

— Não, mãe. — Discordei, sinceramente. — Eu sou aquilo. Eu sou uma pessoa que rouba de ladrões, que os encurrala ajudando a polícia. Considero isso uma boa ação.

Ela ignorou meu argumento.

— Eu continuo pagando sua faculdade e você pode voltar para casa, se quiser. Mas você está sendo procurada, então estou tentando contratar algum bom advogado para que você fique livre de acusações por aí, okay?

— Okay. — respondi, o que era a melhor coisa a se fazer.

Acho que era só isso que ela tinha para dizer. Se levantou para me dar um abraço super forte, me deu alguns beijos na bochecha enquanto segurava meu rosto e abraçou de novo.

— Estava com saudades. — Sua voz falhou. — Me liga de vez em quando para dizer sobre sua situação.

E se afastou para ir embora, para pegar um pouco de chuva e ir para casa. Me despedi dela emocionada, com os olhos acho que um pouco vermelhos.

Por cerca de duas horas, meus amigos me pararam algumas vezes para perguntar se eu estava bem, ao invés de me deixar curtir a festa na minha. Tanta comida pra comer, tanta música pra dançar, tanta gente pra conversar... Por que eu me daria ao luxo de ficar triste em um momento desse?

A aniversariante se aproximou pela primeira vez em um tempo, como se estivesse ocupada com a organização da festa. E estava mesmo, afinal.

— Na conversa com a sua mãe... — Ai. De novo, não. Cansei desse assunto. — Avisou para ela que você dormiria aqui? — Ela olhou para trás rapidamente, talvez para se certificar de que um dos ídolos dela ainda estava por ali.

 Eu ainda não tinha me tocado disso. Não deveria dormir na casa dela, mesmo que fosse um dos propósitos da festa. Além de estar com um acompanhante, tinha um afazer com ele na manhã seguinte.

Porém, mesmo que eu estivesse me esforçando ao máximo para dar a melhor resposta possível, alguém tinha que atrapalhar dizendo alguma besteira.

— Dormir aqui? Gostei da ideia. — Ty passou o braço por cima do meu ombro, como em um abraço de lado. — Estamos juntos nessa.

Esse menino estava sendo muito ousado, mas minha amiga com certeza deixaria ele ficar.

— Não é só para garotas? — perguntei, claramente querendo tirar o baterista daquela Minha noite com as Minhas amigas.

— Cla-claro que não. — Luana gaguejou. — Darwin e Niels também vão ficar. Caso algum homem faça alguma besteira, meu pai tem uma espingarda.

E então riu, tentando fazer parecer que era uma brincadeira.

— Ai, ai. — O malandro sorriu. — Essa noite vai ser boa.

[x]

Tive que aguentar muitas danças malucas e sem noção, além de estardalhaços feitos por pancadas em panelas até que desse meia-noite.

Quando o dia mudou, foi um alívio para mim por me livrar da música alta, mas ainda tive que aturar gritaria tanto dos outros quanto minha ao conversar sobre Astrologia ou ao jogar um dos nossos jogos favoritos de infância.

Resultado disso: Mesmo depois de ter dormido umas três horas no sofá da sala, acordei exausta, pedindo mais conforto.

O que não foi suficiente para que Ty desistisse do compromisso. Ele levantou do chão meio zonzo, mas ainda assim estava de pé. Me chamou com a mão e tivemos que ir embora de manhã antes da cidade acordar.

— O que que um maluco faz às oito da manhã em um supermercado? — perguntei como se fosse uma reclamação, a dor de cabeça estava me matando. E era mesmo. Por que mesmo tinha topado participar daquele "favorzão"?

Ele tirou um spray colorido das prateleiras e pôs na caixa de compras que tinha pego ao entrar no estabelecimento.

— Ajuda os amigos, não é óbvio?

Tínhamos pão, manteiga, queijo, presunto, blanquet, outras coisas para se tomar um café da manhã e um spray. Qual é o elemento que não faz parte do conjunto? Não importa, eu só queria voltar pra casa e dormir um pouco mais.

— O senhor está comemorando o Carnaval atrasado? — A mulher simpática do caixa perguntou, risonha.

— É que minha irmãzinha estava viajando durante a festa. — Ty respondeu desse jeito mesmo. — Só agora que estamos juntos.

A mulher assentiu, entendendo. Mas Ty não estava mais na conversa.

— Gan! — Ele me deu cem reais em dinheiro. — Pague o caixa.

E correu, pegando um pedaço de papel que havia no chão perto da gente.

— Senhorita! — Ele gritou para alguém. Muita gente olhou para ele, mas ninguém parecia ser a pessoa que ele queria.

Eu vi duas mulheres baixas um pouco mais a frente dele que estavam roubando sua atenção. Uma se destacava por ter um corpo forte, mas estava toda vestida, usando até capuz. Para a outra, a única característica que eu achei para diferenciá-la do resto era sua altura e seus cabelos ruivos.

A mulher do caixa pegou o dinheiro que estava comigo e me deu as compras, enquanto eu ainda observava o meu amigo correr atrás das mulheres.

Gargalhei quando ele levou um tombo imenso no piso escorregadio e fui até ele para ajudá-lo.

— E aí? Tá tudo bem? — Não conseguia esconder a risada.

Ele me mostrou o pedaço de papel que estava em suas mãos.

— Claro. Acabei de ganhar dez reais da ruivinha que desapareceu.


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Notas finais do capítulo

Outro capítulo de um POV só! Tcharan!
Jr
:341 (29/02/2016)



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