A Esfera dos Renegados escrita por Boo, Jr Whatson


Capítulo 11
Orgulho e Amizade


Notas iniciais do capítulo

' Bando de maluco. ' — NETO, Lomba.



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Capítulo XI — Orgulho e Amizade

∴ 13/03/16 

Lomba's POV

Esperava que os retardados não cagassem com o esquema. Felizmente, nós conseguimos pensar em algo rápido, por isso não achava que daria certo, mas era a chance que tínhamos.

Já haviam se passado algumas horas desde que eu e meu companheiro Riko conhecemos Ty, até que o policial que nos dá comida chegou em nossa cela.

É agora.

— Obrigado, bom senhor. — O garoto cantor recebeu os nossos três pratos com um sorriso simpático no rosto.

Riko se aproximou e fez uma expressão falsa de surpresa no rosto.

— Nossa, hein. Depois desse pratão, acho que só vamos sentir fome amanhã!

O homem nos olhou levemente surpreendido pelo comentário e saiu com um pequeno sorriso para dar comida às outras celas.

— Por que está me olhando com essa cara, Lomba? — Riko perguntou em voz baixa. — Essa parte da fala foi ridícula.

— Suspeitei que você pudesse "broxar" na hora.

O garoto revirou os olhos.

— Então, moços. — Ty chegou perto. — Acho que vamos estar sem vigiamento até amanhã. Estão prontos criar suas armas?

— Sempre pronto. — Riko respondeu, ao contrário de mim, que fiquei calado.

[ ... ]

— Que ideia mais estúpida. — Disse enquanto deslocava o quadro de nossa cela do lugar.

Era um quadro com um desenho horrível. Era simplesmente uma árvore pintada no meio de um campo aberto. Apenas isso. Joguei o quadro no chão com o maior prazer.

— É a que temos, cara. — Ty pegou sua bugiganga.

A bugiganga tinha sido ideia dele. A gente destruiu nossa beliche com a ajuda de nossa força e utilizamos os pedaços de madeira para elaborar picaretas, com o auxílio das colheres recebidas mais cedo para prender o material firmemente.

Formamos três delas, uma pra cada. Após algum tempo batendo com elas na parede sem fazer muito barulho, a gente começou a ver nossa porta de saída, o buraco que nos daria liberdade.

Não tínhamos nada para levar com a gente, então cada vez que aprofundávamos um pouco o buraco, andávamos a mesma quantia.

— Ainda acho que isso não vai dar certo. — Falei.

Foi quando eu dei a minha centésima porrada na parede de concreto que vimos uma luz no fim do túnel. A parede era relativamente fina. A saída que encontramos dava para um corredor extenso, mal iluminado e vazio.

— Parece que deu. — Meu parceiro maluco discordou. — Voilà!

Ty passou para o corredor primeiro e seguiu para a direita.

— Por que a direita, cara? — Riko perguntou.

— Porque direita é sucesso. — Ty explicou e eu concordei com a cabeça. — E porque tem uma janela ali, não está vendo? — Apontou.

Viramos a curva para direita e realmente pudemos ver a luz do Sol invadindo o local.

— Certo. — Riko concordou, ao mesmo tempo em que um alarme alto soava e ele ficava desesperado. — Fudeu.

Ty estreitou os olhos.

— Não se formos rápidos. Vamos! — Nós três corremos na direção da janela.

— Qual é o seu plano agora? Pular do sexto andar? — Provoquei.

— Esse não é o sexto andar, Lomba. Pelo o que eu me lembro de quando eu fui posto aqui anteontem, esse é o quarto. — Ty me corrigiu, com um pequeno sorriso travesso, enquanto chegava perto da janela.

— Que seja, Sr. Memória. Mas essa é a ideia? — Eu e Riko o seguíamos.

— Tem uma melhor? — Ele pegou a picareta que estava na minha mão e bateu com força na janela, a estilhaçando.

— Por que a minha, viado? — Gritei.

Ele levantou a sobrancelha.

— Não queria usar a minha. — E pulou.

Quase caindo em pé, o garoto doido deu uma rolada para frente e parecida não ter se machucado ao colidir com a grama.

Olhando lá de cima, também vi um homem magricela e de óculos lutando seriamente contra dois guardas. Parecia estar ganhando e essa era uma boa deixa para a gente fugir.

— Eu vou primeiro? Okay. — Riko confirmou, hesitando um pouco na hora de se jogar. Mas se jogou, parecendo ter machucado o braço quando caiu. Ty o ajudou, não parecia algo muito sério.

Estava com medo, mas não queria admitir isso. Não confiava no meu corpo para se jogar daquela altura de uns 15 metros, apesar de sempre me exibir para as pessoas.

Pensei bastante até me certificar que era a única opção que eu tinha.

Me joguei. Consegui dar o rolamento parecido com o do Ty e portanto não ganhei nenhum machucado, mas meu coração parecia que ia pular para fora do meu corpo.

— Tudo certo? — Ty perguntou pra mim, olhando em volta.

— Tu- — Comecei, interrompido pelo o mesmo.

— Wow! — Ele saiu correndo atrás do homem magricela. — Peagá!

Ainda segurando a picareta dele, acertou ela na cabeça de um dos guardas que o homem lutava contra, o fazendo desmaiar.

O homem deu um murro no rosto do outro policial e pareceu muito surpreso ao encontrar Ty.

— Meu deus! Sério que já te libertaram? — Ouvi o cara perguntando com excitação enquanto eu e Riko nos aproximávamos. — Cadê a Julieta e a Lavínia?

— O quê?! — Ty gritou. — Elas estão aqui? Por que VOCÊ está aqui?

— Eu vim te salvar, besta. — Ele olhou para a entrada principal do presídio. Vinham mais guardas. — Eu era a distração enquanto elas se infiltravam lá dentro. Parece que agora nós somos a distração!

Esse homem, provavelmente chamado Peagá, tinha muito uma cara de chateado com a vida, como se a odiasse. Percebi isso quando ele olhou para mim.

— Quem são esses? — O de óculos perguntou. — E como vamos tirar as duas lá de dentro agora?

Riko fez questão de se apresentar.

— Meu nome é Riko! E você? — Pergunta besta.

— Peagá. — Resposta seca.

— O outro se chama Lomba. — Ty respondeu por mim, vendo que eu ficaria calado. — Elas vão ver o furo tremendo que a gente deixou na parede. — Deu uma risadinha. — Elas vão voltar, se tirarmos a atenção delas.

O terceiro guarda se aproximou e Peagá já começou dando-lhe um soco na barriga. O problema é que mais guardas chegavam. E eles apontavam as armas para a gente.

— Larguem esses pedaços de madeira! — Um deles gritou. — Já!

Era hora de enrolar, mas eu não conseguia falar nada.

Riko começou a rir descontroladamente e os policiais olhavam estranho para ele, como se não estivessem entendendo, o que de fato nenhum de nós estávamos.

Um outro policial chegou perto do que gritou e sussurrou alguma coisa em seu ouvido, que olhou sinuosamente para a gente.

— Do que está rindo, garoto? — O que falou antes perguntou.

Meu amigo não respondeu, apenas se jogou no chão e rolou de tanto rir. Um sorriso chegava em meu rosto por achar aquela atitude babaca.

Ty simplesmente não parou de analisar a situação, ainda com a picareta nas mãos, só que atrás do corpo.

Nesse momento gritos foram ouvidos e eu me perguntei se Riko tinha alguma coisa a ver com isso, já que ele não parou de rir por causa do barulho.

Olhei para o local de concreto. Parecia que havia um terremoto. Suas poucas janelas chacoalhavam e um grande som de pisadas ia aumentando.

De repente a atenção dos policiais não estavam mais em nós, mas sim na grande quantidade de pessoas sem uniforme correndo do lado de dentro para o lado de fora.

Fugitivos. A gente tinha alguma coisa a ver com isso? Não importa.

A maioria era de mulheres, mas haviam alguns homens no meio. Eles agora estavam na mira de todos os policiais, que não podiam fazer nada para impedir tanta gente.

— Ty, rápido! É a nossa chance de buscá-las. — Peagá disse entre os gritos. — Vamos!

— É verdade! — Ele concordou e logo em seguida olhou para mim. — Eu vou voltar, se vocês quiserem ir embora, adeus.

— É óbvio que eu quero ir embora, não sou retardado. — Esclareci.

— Eu vou com vocês. — Riko disse, com um olhar impressionado no rosto.

— Por quê? — Perguntei indignado.

— Porque eu estou afim.

Idiota. Agora eu teria que ir junto pra cuidar dele.

— Certo. — Ty falou, por fim. — Só venham logo.

E entramos pelo portão principal.

Minsy's POV

Chegara a hora. Era o dia em que eu finalmente mostraria àquele homem que eu tinha algum valor.

Anos me desprezando, falando que eu estava longe de ser uma filha perfeita, jogando na minha cara e no meu prato que eu nunca seria alguém decente na vida. Essa era a hora de ele ter orgulho de mim.

Toquei a campainha. O homem não demorou muito para abrir a porta.

— Sabia que você viria. — Ele disse apenas isso.

Olhei para ele, batendo com o pé no chão. Esperei uns vinte segundos o observando de sobrancelhas levantadas antes que ele me convidasse para entrar.

— Esse é o momento que você vem se exibir? — Ele perguntou, como se achasse que estava lendo meus pensamentos.

Continuei mascando o meu chiclete e joguei minha mochila na mesinha da sala.

— Então você soube... — Aceitei, estreitando os olhos.

— Que abuso é esse? — Ele perguntou, observando a minha provocação. — Eu não queria saber, na verdade.

Meti minha mão dentro da mochila e de lá tirei o jornal do dia anterior. O joguei nas mãos do Mr. TT.

Ele pegou e olhou pra mim esperando alguma coisa. Não disse nada. Só fiz sinal para que ele lesse a notícia principal.

— "Minsy Eva, a menina misteriosa, vence a maior lutadora da cidade Iris, a Magnífica." — Usou voz de deboche. — Você acha que isso me faz feliz, garota?

— "Garota"... — Murmurei. — Quando é que você vai me aceitar como filha?

Estava cansada disso. Cansei do desmerecimento. Se ele não me aceitasse agora, eu não tentaria nunca mais.

— Quando você merecer isso. — Respondeu secamente.

— Então quer dizer que isso — Apontei para a notícia. — não foi o suficiente? Fala sério, pai.

Minsy, — Mr. TT fez cara de desgosto. — se é assim que lhe chamam hoje, você não tem o meu orgulho até você se mostrar digna. Você acha que eu fico satisfeito em saber que a menininha que cresceu na minha casa, sob os meus cuidados, nunca fez algo de útil na vida? Você acha que eu vejo utilidade em você ter ganhado uma luta e ter aparecido em um jornal? Isso é o mínimo que eu esperava de você, visto que passei anos pagando aulas de boxe para você. Não é nada mais que a sua obrigação.

— Patético... — Cuspi a palavra. — Quem deveria ter vergonha sou eu, por ter um pai desse. Tendo você e minha mãe, acho que eu nem preciso de inimigos.

Decidi não pegar o jornal de volta. Queria deixar alguma lembrança naquela casa. Dei um último olhar de ódio para aquele homem e saí pela porta, não sendo chamada de volta.

Nunca mais, repeti na minha cabeça.

E então uma mão feminina me parou. Era uma mulher cheia de sardas no rosto e um pouco mais baixa que eu.

— Você é a senhorita Eva?

Uma animação veio para mim de repente.

— Sim. — Respondi com um sorriso. — Você é mais uma entrevistadora?

A moça deu um sorriso.

— Pode-se dizer que sim, poderia conversar com você em uma doceria aqui perto?

— Claro!

[ ... ]

O cheiro da doceria era delicioso e me trazia alegrias. Alegrias de uma infância horrível em que umas das partes boas era quando eu visitava os meus avós e eles faziam várias coisas gostosas para eu comer e não morrer desmaiando de fome.

— Obrigada, Mauã. — A moça agradeceu à garçonete que lhe trouxe uma torta de limão.

Mauã me deu um pequeno prato com dois brigadeiros e jujubas.

— Obrigada. — Disse.

— De nada. — Mauã, que usava óculos e tinha fios de cabelo relativamente grandes, negros e pouco cacheados, respondeu. — Kat, você vai manter pra sempre esse vermelho natural no cabelo? Nunca vai enjoar?

A moça à minha frente na mesa deu um sorriso simpático e fofo.

— Não sei, cheirosa. Acho que não, eu adoro essa cor. Mas e você, quando vai me levar de novo no seu ateliê de pinturas?

— Quando você puder, né? Sempre que eu chamo, você está ocupada! Assim fica difícil!

— Desculpa... Eu ando muito atolada no meu trabalho ultimamente. No próximo fim de semana, que tal?

— Pode contar comigo! — Mauã levantou o polegar direito. — Agora deixa eu ir que eu tenho que ajudar a Dona Louise na cozinha.

— Claro! — A ruiva deu outro sorriso, se despedindo da amiga. — Me desculpe, Eva. Não a vejo há eras.

Demorei para perceber que ela falava comigo.

— Ah! — Me ajeitei na cadeira, parando de comer. — Tudo bem. Você queria falar comigo sobre... ?

A moça abaixou a voz na hora de responder.

— Meu nome é Katerina Salazar. E eu preciso do seu talento.

Peagá's POV

Corríamos contra o avalanche de criminosos e eu sentia uma vontade tremenda de sair dali logo para me livrar de confusão.

Eu estava um pouco à frente de Ty e meus novos parceiros que eu não me importava.

Um passo errado, tropecei. Subitamente mãos grandes me agarraram. Eu de repente tinha sido pego por três guardas ao mesmo tempo. Tentava me desvencilhar deles, mas eram muito fortes.

— Peagá! — Ty gritou em algum ponto, talvez ele tenha me visto. Se não, não saberia onde estou porque a mão de um guarda tapou a minha boca e eu não podia gritar de volta.

Comecei a ser arrastado no meio da multidão, sem ninguém se importar comigo. Fui carregado enquanto os homens subiam as escadarias, sem eu poder me mexer.

Agora estava preocupado. Tinha vindo até aquele lugar para salvar o baterista da banda que me dava dinheiro e trocaria de lugar com ele? Não mesmo. Tinha que arranjar um jeito se sair dali.

Uma esperança apareceu. Eu vi um cabelo loiro que eu conhecia. Um criminoso deu uma porrada no homem que tapava minha boca quando passou por ele e eu aproveitei a chance.

— Lavínia! — Gritei e atraí o olhar de uma loira dentre a correria.

Ela começou a tentar vir até mim, mas os policiais eram muito rápidos ao se locomoverem em confusões de indivíduos.

— Fuja! O Ty já está a salvo! — Ela deu um sorriso gigante para mim quando dei a informação. — Eu me viro!

E minha boca foi tapada de novo, mas o recado tinha sido dado e isso que importava. Agora todos eles estavam a salvo.

Menos eu.

Chegamos ao quarto andar. Até na área das jaulas havia muitas pessoas correndo de um lado para o outro, a maioria policiais contendo ladrões que não conseguiram fugir rápido o suficiente.

Um alívio percorreu pelo o meu corpo sem eu saber de início o porquê. Até que eu percebi que as mãos que me seguravam tinham sido afrouxadas.

O adolescente loiro e de olhos azuis que eu tinha encontrado anteriormente agarrou meu braço.

— Você vem comigo, seu besta.

Com Lomba me guiando o caminho, chamamos Ty , que estava desmaiando policiais com a picareta improvisada dele, e o outro garoto maluco, que tentava fazer a mesma coisa, mas estava com dificuldade porque acho que tinha machucado o braço recentemente.

— Para onde vamos agora, Ty? — Perguntei.

— Preciso resolver umas coisas. Temos que passar na minha casa para conseguir o que eu quero.

Agora estava satisfeito. Julieta. Ty. Lavínia. Eu. Todos os inocentes a salvo, fugindo disfarçadamente entre os culpados.


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Notas finais do capítulo

Que capítulo triste de escrever :P
Jr
:243 (13/12/2015)



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