‘’O vento que leva o velho, também deixa coisas novas. No começo elas podem ficar ocultas, mas com o tempo elas vão se revelando’’.

Coloquei uma camisa com manga longa que ia até o meio das minhas coxas, de um tecido fino. Uma calça bem soltinha, jeans azul claro, dobradas no tornozelo. Deixei meu cabelo solto e bem escovado, também tinha feito uma maquiagem leve.

Fui olhar ás horas, que mostravam ser agora nove e meia da noite, peguei minha bolsa e sai. O caminho até o apartamento de Sasori estava tranquilo. Pensei e repensei várias vezes o que falar, mas sabia que não seria necessário, pois nós dois sabíamos que isso aconteceria em breve. E essa conversa provavelmente deveria ser curta e objetiva, ele entenderia e tudo ficaria bem. Era isso que eu imaginava, e certamente era o que aconteceria. Nós dois não nos amávamos, então não teria nenhum pesar e remorso sobre tal assunto.

Antes quando eu ainda era apaixonada por ele, jamais conseguia sequer pensar na possibilidade disso acontecer, que me sentiria nervosa. Mas agora... Parecia que um alívio enorme começava á tomar conta de mim, quanto mais à distância ia diminuindo entre o lugar em que Sasori morava e meu carro: Mais essa sensação crescia.

Virar essa página era preciso, não que anteriormente eu não queria vira-la. Apenas achava que deixa-la no mesmo lugar não faria mal nenhum. Mas uma hora cansamos dela e precisamos de algo novo. Algo que mexa conosco e nos faça suspirar, dando um sentido diferente á nossas vidas. Muitas vezes não se é preciso, mudar o cenário e os personagens. Mas no meu caso era e Sasori fazia o personagem que deveria ser mudado. E no filme dele, tenho certeza que comigo tinha que ser feito o mesmo.

Estacionei o carro, tirei o cinto e desci. Fui até a entrada do condomínio, já abrindo ás portas de vidro do mesmo, subi ás escadas que levavam até o apartamento dele. Parei á frente da porta e bati. Pude ouvir passos pesados e coisas sendo derrubadas até a porta se abrir. Talvez ele estivesse bêbado, desejava que não, pois queria que ele estivesse sóbrio para poder me ouvir atentamente.

Quando á porta se abriu, vi seus olhos se fixarem nos meus, como se me questionassem. Ele estava com os cabelos rebeldes e roupas amassadas.

– Sakura? – logo que abriu a boca, senti o cheiro de álcool.

‘’ Droga, não queria prolongar isso ‘’.

– Oi. – Ele não sorriu nem falou mais nada, apenas deu um espaço para eu conseguir passar.

Entrei e vi algumas coisas quebradas no chão, que foram provavelmente, de quando ele veio me atender. Olhei para a mesa de centro aonde tinha várias garrafas de bebidas alcóolicas.

Por impulso, sentei no sofá. Mas vi que era melhor voltar outro dia.

– Ah Sasori... Acho melhor vir outro dia, quando você estiver sóbrio. – Falei já me levantando, mas seu braço empurrou o meu bruscamente, me fazendo cair sentada no sofá. Levantei minha cabeça, e olhei-o melhor, seus olhos não estavam nos meus, e sim no meu corpo.

Continuei ali, logo começando a travar uma luta interna em minha mente, onde um lado me dizia que deveria ficar e esperar, e o outro me mandava ir embora. E o curto período, que estava perdida em meus pensamentos, foi o bastante para ele me surpreender. Seus braços forçaram á deitar no sofá, tentei impedi-lo... Eu não estava ali para isso, e de agora em diante não estaria mais em nenhum momento. Fiz o máximo de força que pude com minhas mãos para tirá-lo de cima de mim, quase não consegui, mas aproveitei o momento que ele se levantou um pouco para me olhar e saí por baixo dele. Foi meio desastroso, por que tive de me espremer entre o ruivo e o sofá. Mas não queria isso e muito menos com ele bêbado. Aquilo não tiraria minha determinação. Voltaria outro dia.

Peguei minha bolsa na mesa de centro, e caminhei rapidamente até á porta. Sasori foi rápido e me prendeu contra a mesma, com seu corpo e a mão esquerda. Senti a outra que estava livre por baixo de minha blusa percorrer meu corpo até chegar num de meus seios, que apertou sem dó nem piedade. Soltei um gemido de dor e tentei empurrá-lo, o que não adiantou.

– Que foi Sakura? – Me olhou como eu estivesse louca.

– Eu volto outro dia, talvez amanhã. – Falei firme, fiz uma pausa e continuei. – Agora me solta.

– Não, você sabe... É tão linda e tão sexy.

– Sasori me desculpe, mas eu não vim aqui pra isso... Eu queria conversar com você sobre algo importante. – Falei pausadamente, como estivesse conversando com uma criança.

Pensei que ele iria me soltar, mas não, ele insistiu. Fiz uma careta e tentei sair, mas o mesmo não deixou. Invés disso me beija, no qual mordo seu lábio com força e ele recua. Nisso consegui puxar um de meus braços, e abri a porta bruscamente e saí apressada de lá. Escutei os passos cambaleantes de Sasori atrás de mim, mas fui mais rápida e arranquei com meu carro logo que cheguei ao estacionamento. Percorri o caminho, com o pensamento longe. Minha respiração aos poucos se normalizava, eu havia me irritado com á cena de antes. Mas decidi deixar passar, ele estava bêbado, e não fez por querer, nós não tínhamos terminado ainda, e ele não imaginará o que eu queria lá. Talvez tivesse pensado que era uma visita normal. É não foi nada de mais, na próxima vez, nós vamos conversar e tudo estará acabado...

*

Cheguei em casa, abrindo á porta cuidadosamente. Por sorte meus pais estavam dormindo e não teria de responder á nenhum interrogatório, de como tinha sido.

Subi ás escadas que levavam ao meu quarto, sem pressa. Entrei no meu quarto, fechando á porta em seguida, fui até meu guarda-roupa, pegando meu pijama. Despi-me devagar, ainda com meus pensamentos longe, coloquei a roupa de dormir e fui ao banheiro. Escovei meus dentes e prendi meu cabelo.

Estava sem sono, e decidi ficar um tempo acordada até sentir um pouco de cansaço. Peguei um livro e fui até a varanda do quarto. O céu estava estrelado e sem nuvens, em um azul profundo. Invés de ler o livro: Acabei apenas admirando a paisagem, não havia ninguém na rua, tudo estava silencioso. Pensei em Sasuke, seus orbes negros, sua pele alva, seu jeito carrancudo e fofo... Na cachoeira, na sua cabeça encostada no meu ombro e de todas aquelas sensações estranhas. Novamente a realidade me acertou em cheio, e percebi que algo novo estava tomando conta de mim lentamente. Era diferente de tudo que eu cheguei á sentir por Sasori.

Tentei parar de pensar nisso, mas aquilo martelava cada vez mais em minha consciência. Até que escutei o celular tocar, fui até a cômoda e o peguei, era Ino.

– Oi Saky!

– Oi porquinha. – Provavelmente ela estava querendo saber sobre Sasori.

– Falou com ele já, como foi? – Me questionou, com um tom curioso e animado.

– Ah não falei... – Respondi desanimada.

– O quê?!?

– É que ele estava bêbado, então achei melhor deixar para outro dia.

– Hmm, nesse caso eu faria o mesmo.

– Pensou que eu tinha desistido né?

– É, pensei.

Ficamos conversando por um tempo, sobre outras coisas e Sasuke, sim isso mesmo. Ela não parava de me atazanar por causa dele. Quando desliguei, já estava um pouco sonolenta, fechei as vidraças da varanda e ás cortinas. Desabei na cama e logo adormeci.

*

Era de manhã, e eu já estava devidamente arrumada e tinha tomado meu café bem cedo. Meus pais nem tinham levantado ainda, quando fui para o emprego, tinha saído antes do horário habitual. Cheguei à mansão e Kakashi estava arrumando alguns remédios de Sasuke, enquanto o moreno estava dormindo. Passei o tempo lendo um livro.

Depois de uma meia hora, Kakashi foi até o quarto de Sasuke. Passou-se mais uma hora e ele voltou, me cumprimentou e saiu.

POV Sasuke

Senti á luz invadir o quarto, e em seguida meus olhos arderem um pouco. Abri os olhos devagar, até conseguir me acostumar. Senti um cansaço sob minhas pupilas e dor de cabeça. Então fechei os olhos novamente. A voz de Sakura ecoava pelo cômodo, mas não consegui distinguir o que a mesma dizia. Estremeci ao toque da mão dela em minha testa, segundos após o contato, ouvi passos apressados. Como um raio ela já estava no cômodo novamente, tentando me fazer engolir alguns remédios, depois te ter feito isso, ela colocou uma toalha úmida em minha testa. Ela parecia falar alguma coisa, mas novamente não entendi nada, apenas alguns sons estranhos, como ela fosse de outro mundo.

Seus braços passaram por baixo de mim, me encostando à cabeceira. Não senti mais nada, e nem consegui compreender o que ela estava fazendo. Só soube o que era, quando meu corpo repousou na água meio fria, me trazendo um alivio em seguida. Passou-se um tempo, até as coisas voltarem ao normal, e eu conseguir abrir os olhos sem sentir tudo rodar á minha volta. Eu ainda estava na banheira.

– Você me assustou. – Ela falou meio chorosa, quando percebeu que eu estava melhor.

– Não foi nada, mas obrigado. Agora já estou melhor.

Vi suas mãos alcançarem á esponja seguidamente esfregando-a em minhas costas.

– Você, está sentindo alguma dor ou sensação estranha Sasuke? – perguntou já com a voz normal.

– Apenas um peso no pescoço e nos olhos, nada de mais.

Estremeci novamente ao toque de suas mãos no meu pescoço, e depois em meus ombros. Massageando em tais locais, ela fazia tudo calmamente e com uma leveza divina. Aos poucos, um pouco da dor e do pesar foi sumindo, quase por completo.

– Hmm, Haruno, você tem namorado não é? – Escutei ela concordar. – Não quero nem pensar o que ele iria achar disso sabe...

– É, mas eu vou terminar com ele.

– Por causa de mim? – Questionei á provocando.

– Nossa... Mas é um convencido hein. – Respondeu, e só pelo jeito que falará soube que estava sorrindo.

– Mas falando sério, por quê?

– Bem, eu consigo sentir mais nada por ele á certo tempo, e sei que é recíproco.

– Hmm, então você logo vai ficar livre pra mim né, mas que idiota que ele é. – Falei brincalhão.

– Vou pensar nisso Uchiha, quem sabe eu te dê uma chance viu?

– Sei que você quer o meu corpinho. – Respondi fingindo estar ofendido.

– Hoho, não precisa ficar triste, prometo que pensarei com carinho. E para de se achar viu?

Estranhamente quando estava com ela, uma paz me invadia. Algo que eu nunca fui capaz de sentir com Karin e as outras tantas garotas que já tinham passado pela minha vida. Exceto por uma, que eu já havia esquecido. Ela tinha sido meu primeiro amor, no começo eu achava que ela me amava. Mas eu me enganei, e no fim descobri que ela só queria meu dinheiro e o status de estar com um garoto como eu. Na época eu tinha quinze, depois disso eu nunca mais gostei de outra, passei á usar todas as com quem saí. Eu errei em magoar aquelas garotas, pois muitas delas eram boas... Mas eu não posso voltar atrás, o que foi feito, não se pode mudar.

E com Karin, eu sabia também que ela tinha interesse apenas no meu dinheiro e no luxo que podia lhe oferecer. Mas fiquei com ela mesmo assim. Já Sakura, era diferente, ela não estava aqui pra tentar me seduzir ou algo do tipo. Só estava aqui pra trabalhar e fazer o que lhe era exigido. Mais nada, talvez por isso eu conseguisse conversar com ela desta forma. Mas não podia negar que ela era atraente e linda, e que ás vezes me sentia meio atraído pela mesma. Qualquer que fosse o garoto que ela namorava, ele tinha muita sorte.

Suas mãos tocaram meu cabelo, o lavando e passando xampu em seguida. Massageava-os pra fazer espuma.

– Temos que cortar esse seu cabelo né? Tá ficando grande demais.

– Não, não quero ficar com pouquinho cabelo. – Falei com desdém.

– É só um ou dois dedos, vai ser quase o mesmo tamanho. – Insistiu.

– Só se você cortar o seu, que bate toda hora na minha cara.

– Ai que mentira, mas tudo bem. Em tão hoje de tarde nós dois iremos á um salão.

– Tem certeza?

– Tenho.

*

Á tarde chegou, com um clima fresco e bom. Sakura já estava me arrumando, para irmos á um salão, eu disse á ela que pagaria, mas ela recusava. Demorou um pouco até eu conseguir convencê-la, tinha sido eu á fazer á proposta dela cortar o cabelo dela. Na verdade era pra fazer com que ela desistisse de querer passar a tesoura no meu, mas como ela concordou eu preferia pagar.

Escutei os passos dela até o quarto, eu estava tentando pegar minha carteira, demorava um pouco, pois não tinha muito controle sob minhas mãos, meus braços não se mexiam muito. Mas eu ainda conseguia pegar com certo esforço algumas coisas. Com as mãos trêmulas consegui colocar a carteira em meu colo. Nesses dias, Kakashi me disse que eu estava evoluindo bastante na fisioterapia.

Ela pegou algumas coisas pra levar na bolsa, meus remédios e outras coisas que talvez eu pudesse precisar. Então me empurrou pra fora de casa, fechando á porta e indo até o carro adaptado.

O caminho até o centro da cidade foi um pouco irritante, porque o trânsito estava um pouco ruim. Chegamos lá no salão, que era para mulheres e homens, eu havia o escolhido, pois o mesmo já era de confiança. Fiquei um pouco curioso, imaginando como ela ficaria com o cabelo mais curto, se ela cortaria pouquinho ou bastante. Pedi á pessoa que cortaria meu cabelo, para não cortar muito, apenas tirar um pouco o comprimento. No fim ele ficou apenas na metade do pescoço. Sendo que anteriormente ele estava quase passando dos ombros, sim, eu me relaxei por causa do acidente. A barba eu acabava deixando Kakashi fazer porque o mesmo insistia muito, mas depois que Sakura e eu começamos á nos entender melhor, admito que, comecei á pedir aos dois para tirar, porque tive vontade de me arrumar melhor. Claro que não iria querer ficar como um bicho, na frente de uma garota linda como ela.

Após uns vinte minutos, quando eu esperava por á mesma, ela veio por trás tocando meu ombro. Olhei por cima de meus ombros, e vi seu cabelo um pouco á cima dos ombros e repicado. Fez uma diferença grande, mas deu até um charme á ela, fazendo-a parecer ainda mais com uma boneca. Eu gostava muito de garotas de madeixar longas, mas ela tinha ficado muito linda e fofa com o novo corte.

– Hm, ficou diferente, muito.

– Aah, não ficou bom? – Perguntou desanimada.

– Você era bonita com cabelos grandes... – Ouvi á suspirar. – Mas eu gostei assim, ficou mais linda que antes. Pensou que eu ia dizer que tinha ficado estranho né.

– Pensei... Huum mais obrigado, você também ficou mais bonito com o cabelo um pouco menor. - Falou já animada.

– Sakura, você não se importa em a gente ir comprar algumas roupas?

– Claro que não.

– Você pode comprar pra você também, eu pago.

– Huh, mas...

– Eu já disse.

– Ok.

Passamos o resto da tarde, fazendo compras. No começo ela queria pegar apenas uma ou duas peças de roupa, mas obriguei á escolher mais coisas. Ela vestiu algumas peças para me mostrar, confesso que quase tudo caia bem nela. Depois, fomos á praça de alimentação. E em seguida voltamos para casa.

Chegamos lá, já era quase noite. Sakura guardou minhas comprar, e tentou me convencer á pagar o que havia gastado. Mas é óbvio que não concordei. Olhamos um filme, até Kakashi chegar.

POV Kakashi

Entrei na mansão Uchiha e escutei o som que vinha do quarto, de um filme. Sasuke tinha mudado bastante esses dias, estava mais falante e animado. Pelo visto, Sakura estava o fazendo muito bem. Abri á porta devagar e eles estavam rindo de algo, me olharam quando notaram minha presença. Sasuke pareceu murchar quando me viu HOHO, é ele gosta mesmo da companhia dela. E eu chegar ali, significava que Sakura podia ir para casa dela.

Não pude deixar de reparar, que o cabelo dos dois tinha um novo corte.

– Huh, ficou bom á mudança de vocês.

– Ah, é Sasuke concordou em cortar, daí eu aproveitei e cortei o meu também.

– Acho que vou ficar um pouquinho mais hoje, só pra terminar de olhar o filme... – Sorriu olhando Sasuke, e piscando para o mesmo.

– Vou deixar vocês a sós, tenho que recolocar uns remédios lá na prateleira e tal.

– Mas não precisa Kakashi. – Falou Sakura.

– Precisa sim Sakura. – Respondeu Sasuke emburrado.

Ri baixinho, prevendo que futuramente Sasuke gostaria muito dela. Até que os dois formavam um belo casal.