Já era a noite do dia seguinte. Naruto estava deitado de costas na cama e Hinata estava sentada em cima dele com o Byakugan ativado. A massagem da Hyuuga se dava início, prometendo fazer até mesmo o homem mais velho e cansado se sentir com o corpo de uma criança. Porém, não era algo tão simples, pelo contrário, funcionava como um parto. Antes de ser abençoado com um corpo livre de qualquer peso, era necessário conhecer a dor. Essa era a sensação que Hinata passava em cada toque no corpo do marido, muita dor acompanhada de prazer numa intensidade ainda maior. Naruto nem sequer tentava aguentar, o tão poderoso Hokage, o homem que salvou o mundo ninja da destruição, este homem agora enfiava seu rosto no travesseiro para abafar os gritos e gemidos causados pela massagem da esposa.

Nesse meio tempo, alguém bateu na porta e a responsabilidade de atender ficou para Boruto. De qualquer forma ele não tinha muito o que fazer, a irmã descansava quase o dia inteiro, acordando apenas para comer, e de noite ele só poderia sair na presença dos pais. Ou seja, naquela noite o garoto estava confinado em casa, treinando para matar o tempo e seja lá quem estivesse na porta salvaria a sua noite.

O garoto foi correndo e abriu a porta entusiasmado esperando que fosse algum de seus amigos. Seu sorriso logo foi desfeito ao perceber que era Sasuke e Sakura, trazendo junto com eles sua arqui-inimiga.

– Olá, Boruto, seus pais estão em casa? – perguntou Sakura se agachando para falar com o garoto.

– É obvio que estão, mãe. Você não consegue ouvir os gritos? – concluiu Sarada com um olhar de desdém.

– Eu só estou sendo educada, Sarada. – olhou com um olhar mortal e um sorriso cínico para a filha.

Por um instante Boruto cogitou em fechar a porta ali mesmo e voltar para seu treinamento pelo resto da noite, mas ele apanharia muito se fizesse isso. Ao invés disso ele preferiu não causar mais problemas para si mesmo – Eles estão sim, podem entrar se quiserem. – disse o garoto voltando para seu treinamento depois largar a porta aberta para que entrassem, fazendo pouco-caso das visitas.

A família Uchiha entrou na casa do Hokage, e se sentaram no sofá perto de onde Boruto treinava. Eles esperavam que o garoto fosse, de alguma forma, avisar os pais que eles estavam ali, o que definitivamente não aconteceu. Sarada volta e meia olhava para Boruto zombando mentalmente do seu treinamento ridículo, o qual consistia em dar socos no ar, e isso o deixava extremamente furioso.

O Uchiha, já impaciente, decidiu pedir ao garoto que chamasse os pais, mas logo foi impedido por Sakura, que apontava para o próprio ouvido, pedindo para que o marido tentasse escutar o que estava acontecendo. Sasuke conseguia ouvir grito/gemido abafado de Naruto e, um pouco mais baixo que os gritos, ele também podia escutar Hinata fazendo um som diferente, era como se ela estivesse golpeando Naruto. Por alguns instantes Sasuke se perguntou porque ela estaria golpeando o próprio marido, será que ele tinha feito ou dito alguma bobagem para ela? Suas dúvidas foram respondidas quando olhou para a esposa. Sakura estava corada e isso foi o suficiente para que ele pudesse compreender toda a situação.

Os dois ficaram envergonhados, pensando se Naruto e Hinata eram aquele típico casal bonitinho e fofo que quando colocados dentro de quatro paredes invertiam-se os papéis e o mundo inteiro virava de cabeça para baixo. Pensar naquela possibilidade assustava os dois, eles só queriam que aquilo acabasse o mais rápido possível.

– Será que eles não se importam se as crianças estão ouvindo? – perguntou Sakura chocada com tudo aquilo.

– Bem, é o Naruto, então de certa forma eu não estou surpreso, mas eu jamais imaginei que a Hinata pudesse fazer algo do tipo. – respondeu envergonhado.

– É mesmo, pobrezinha, ela deve amar tanto o Naruto que aceita fazer qualquer coisa por ele.

– Não se preocupem, eles já fizeram isso várias vezes, normalmente termina rápido. – informou Boruto, fazendo os Uchiha ficarem ainda mais envergonhados.

– Eles fazem isso frequentemente!? – perguntou Sakura ainda mais chocada.

– Bem, até que sim.

– Mãe! Nós viemos aqui pra ficar entrevistando o Boruto? – perguntou Sarada, brava com Boruto sendo o centro das atenções.

– Eu não sei porque nós viemos, pergunte ao seu pai ele que me forçou a fazer isso. – respondeu Sakura com o braços cruzados e corada por lembrar de como o marido tinha “forçado” ela fazer a visita.

Ao terminar a frase, Sakura pôde perceber que finalmente os gritos e gemidos cessaram. Depois daquilo não demorou muito para que alguém saísse do quarto, era Hinata e ela vestia pouquíssima roupa. No mesmo instante Boruto pulou na frente da mãe – Ei seus idiotas, fechem os olhos! – gritou o garoto, Hinata já estava completamente vermelha e imediatamente voltou para o quarto.

– É bom vocês esquecerem do que viram, senão eu vou ter que tirar à força! – disse Boruto ameaçando num tom de voz alto.

– A culpa é sua idiota, isso não teria acontecido se você tivesse avisado seus pais que estávamos aqui! – concluiu Sarada indo na direção de Boruto para brigar.

Contradizendo a ideia de que o Hokage é um ninja inteligente, Naruto saiu do quarto para ver porque Hinata estava tão envergonhada, usando apenas a sua famosa cueca da nove caudas, causando mais tumulto ainda.

– Sarada, feche os olhos! – disse a mãe já fazendo o mesmo.

– Meu deus, Naruto! Você não colabora mesmo, coloque uma roupa antes de aparecer na frente de todos. – pediu Sasuke para o amigo.

– O que diabos vocês está fazendo aqui, Sasuke? Quem deixou você entrar? – perguntou berrando.

– Eu estou aqui por causa daquilo que eu te falei no hospital, seu idiota.

– Ahn? O que você me falou no hospital? – indagou confuso.

– Você é desprezível, Naruto. Só vista uma roupa rápido. – respondeu com uma expressão de decepção.

– Ei, aqui é minha casa e você não manda em mim, só por causa disso agora eu vou ficar pelado e quero ver quem vai tentar me impedir. – disse prestes a tirar a única peça de roupa que usava.

Sakura não demorou um segundo sequer, mantendo a tradição, ela acertou Naruto em cheio, antes que ele piorasse toda a situação.

Depois que tudo se acalmou e todos finalmente se vestiram, a reunião proposta por Sasuke finalmente poderia começar, com todos sentados no sofá. O Uchiha então deu início ao seu dircurso.

– Finalmente vamos come...

– Como está a Himawari, Hinata? – perguntou Sakura cortando ligeiramente o Uchiha.

– E...ela... ela está melhorando, acordou um pouco para comer, mas já voltou a descansar. O-Obrigada por perguntar, Sakura. – respondeu Hinata ainda envergonhada.

– É bom saber, mas voltan... – novamente Sasuke era interrompido.

– Desde quando vocês estão aqui? – questionou Naruto.

– Nós chegamos faz algum tempo, mas eles quiseram ficar ouvindo a barulheira de vocês no quarto. – respondeu Sarada fazendo seus pais, além de Hinata ficarem envergonhados.

– Nós não ficamos escuta...

– Bem, obrigado por respeitarem nossa privacidade, eu acho? – disse Naruto ainda confuso, interrompendo Sakura.

Os dois ficaram ainda mais envergonhados, concluindo que a teoria sobre o casal estava correta.

– Qual o problema com vocês dois? Parecem estar tímidos. – perguntou Naruto sem entender nada.

– Nós nunca pensamos que você gostasse desse tipo de coisa, Naruto. – respondeu Sakura.

– Ahn? Quem é que não gosta de massagem? Ainda mais a da Hinata, é a melhor massagem que eu já experimentei, ela pega os dedos e faz assim – tentava imitar como Hinata fazia massagem, “atacando” o ar – é muito bom. – dizia emocionado, com os olhos brilhando – é como se ela te matasse e revivesse logo em seguida. – abraçou a esposa chorando de orgulho.

– E... Então... você... já experimentou outras massagens? – perguntou Hinata deprimida.

Aquele era o tipo de questão que um homem nunca sabe responder. Naruto pensou que se respondesse sim, Hinata ficaria triste por ele ter recebido massagem de outras pessoas. Por outro lado se a resposta fosse não, ela também ficaria triste pensando que ele elogiava a massagem dela simplesmente pra agradá-la. Ou seja, não havia glória em responder aquela pergunta, mas o silêncio seria a pior resposta de todas. O Hokage então estufou o peito e finalmente respondeu – Talvez. – e percebeu que o silêncio não era a pior resposta.

Sasuke e Sakura apenas ficaram calados, olhando para o chão decepcionados, mas felizes por descobrirem o mal entendido. Pelo menos Sasuke finalmente poderia iniciar a reunião que ele tanto queria sem ser interrompido, e foi isso que ele fez, assim que os ânimos acalmaram.

Bem, vamos começar! – disse Sasuke se levantando e se movendo para um local onde todos poderiam observá-lo. – Mas primeiro eu preciso que apaguem todas as luzes.

– Ei Boruto, pode fazer o favor? – perguntou Naruto, fazendo o filho atender o pedido de Sasuke, ainda que com uma cara emburrada. – Luzes apagadas, e agora?

– Agora eu quero que todos fiquem sentados e escutem a minha voz. Olhem para mim como se estivessem me enxergando.

Tudo estava fechado, todas as luzes estavam apagadas. A casa do Hokage era um bréu total, não era possível ver absolutamente nada. As crianças, com um pouco de medo, encostaram em suas mães. Até mesmo Hinata estava receosa e isso a fez agarrar o braço do marido que, por sua vez, estava bem entusiasmado para ver o desenrolar do jutsu de seu melhor amigo.

O silêncio se manteve por alguns segundos, todos olhavam para a escuridão atentamente, no exato local aonde Sasuke se encontrava. Eles não conseguiam enxergar ou ouvir, mas, ainda assim, sabiam na onde ele estava, apenas guiados pelo sentimento que presença assustadora do Uchiha causava.

Por um momento, todos acharam ter visto o Sharingan de Sasuke ativado. Talvez uma ilusão causada pelo medo? Não... eles sentiam que o Sharingan estava ativado, ainda que não pudessem enxergá-lo.

Foi quando finalmente algo aconteceu, tirando todos de seus pensamentos. Todas as portas, janelas e cortinas se abriram. Aquele ambiente, uma vez escuro, em poucos segundos havia sido inundado pela luz. O dia estava ensolarado, aliás já estava de dia? Todos pensavam se aquilo era uma ilusão ou se de fato haviam andado no tempo.

Sasuke permanecia no mesmo lugar, agora banhado pela luz em suas costas. Por causa da luz, os outros apenas conseguiam ver sua silhueta, foi quando ele se moveu. O Uchiha foi em direção à saída – Vamos, temos coisas a fazer. – convidou a todos, abrindo um leve sorriso.

Eles começaram a andar por Konoha enquanto seguiam Sasuke. A vila estava vazia, não havia ninguém exceto eles andando por lá. Era algo extremamente estranho, naquele horário Konoha deveria estar lotada, considerando que era período do Exame Chuunin. Todos estavam cheios de perguntas, mas tentavam ser pacientes, esperando que Sasuke fosse explicar tudo em breve. Bem... todos menos Naruto.

– Sasuke, qual é a desse lugar? – perguntou confuso.

– Se acalme Naruto, você já vai entender tudo.

– Qual é Sasuke, está de dia e não tem ninguém nas ruas, o que diabos você fez? – Sasuke permaneceu em silêncio, demonstrando que não explicaria nada – Não me ignore, Sasuke!

– Eu já disse para ser paciente, Naruto. Nada do que você fizer vai me fazer falar.

– Eu achei que você ia me mostrar um jutsu novo e não sumir com a população de Konoha pra que a gente pudesse ficar passeando! – disse em voz alta, já impaciente.

– Que jutsu novo é esse que você não contou pra sua mulher, hein Sasuke? – perguntou Sakura, num tom de sermão.

– Naruto, você é um idiota! Eu te avisei que era pra ser surpresa! – reclamou nervoso.

– Ninguém mandou você me decepcionar! Primeiro você fala sobre um super jutsu que vai mudar o mundo e agora você traz todo mundo pra um passeio? – resmungou Naruto

– Porque você contou pra ele e não pra mim, hein Sasuke? – perguntou Sakura, pulando na frente do marido.

– Eu já vou explicar tudo, mas por enquanto apenas fiquem quietos. – olhou para o lado, fazendo com que os outros fizessem o mesmo – Vamos entrar. – disse indo em direção ao local.

Aquele era o antigo distrito do clã Uchiha e por algum motivo ele estava intacto, mas, ainda assim, vazio igual ao resto da vila. Deste ponto em diante todos ficaram em silêncio enquanto seguiam Sasuke. Até mesmo Naruto ficou calado, imaginando o que o amigo pretendia fazer. A travessia pelo distrito apresentava um clima pesado, todos sabiam o que havia acontecido outrora naquele mesmo local, o massacre do clã Uchiha. Ninguém compreendia o que Sasuke queria levando as duas famílias até aquele lugar, mas ninguém se pronunciava. Falar qualquer coisa naquele momento seria um erro e por isso eles decidiram ficar quietos, apenas observando aquele pedaço de história de um clã quase extinto.

Não demorou muito para que chegassem ao seu objetivo, o templo do clã Uchiha. Se até aquele momento ninguém tinha falado nada, a partir dali eles ficariam mais quietos ainda. Aquele templo era considerado um lugar sagrado, o que fazia todos ficarem ainda mais curiosos e apreensivos. Embora todos os outros ficassem cada vez mais tensos, Sasuke estava calmo. A viagem pelo distrito que uma vez serviu de cenário para suas memórias mais dolorosas, agora não lhe causavam nenhuma emoção negativa. O Uchiha simplesmente continuava a andar, entrando no templo e finalmente chegando ao monumento dos Uchiha, que causara tantos conflitos no passado.

– Bem, chegamos ao local. Vamos começar – disse Sasuke finalmente quebrando o silêncio que perdurava a algum tempo.

– Ei Sasuke, o que você vai fazer? Não é nenhuma loucura, né? – perguntou Sakura preocupada.

– Não se preocupe, se fosse algo do tipo eu não traria as crianças.

– Espero mesmo, se você fizer alguma idiotice eu vou quebrar sua cara. – acrescentou Naruto, ameaçando o amigo.

– Relaxem, não vai acontecer nada... negativo. – brincou Sasuke, abrindo um sorriso, enquanto acendia as piras que ficavam ao lado da pedra. – Fiquem atrás de mim. – completou.

Sasuke fechou os olhos e fez um selo utilizando apenas uma das mãos. Durante um período de tempo ele permaneceu assim, até que finalmente um corvo entrou no local e ficou em cima do monumento. O Uchiha abriu os olhos, os focando diretamente para o pássaro e este o correspondeu, emitindo um som e em seguida se dividindo em dezenas de outros corvos que voaram por alguns segundos naquela câmara. Ninguém conseguia ver nada do que estava acontecendo, o movimento e barulho dos pássaros não permitia. No final, quando os corvos saíram, havia apenas um homem parado em frente a pedra... um homem que não pertencia mais àquele mundo e que tinha os mesmos olhos de Sasuke.

– Como vai, nii-san? – cumprimentou abrindo um sorriso.

– É estranho ver você me chamar assim sendo mais velho do que eu, Sasuke.