— Oh! Isso é uma aliança? Então você é casado...? Bem, isso não é problema nenhum pra mim. — disse a mulher, agarrando o braço dele em seguida.

Naruto afastou a mulher um pouco, evitando que ela ficasse tão próxima dele. Ele sabia que o ideal ali seria forçá-la a ir embora de alguma forma; sendo grosseiro ou utilizando outro método, bastava ele ter a criatividade necessária para tirá-la dali, ou em último caso ele mesmo poderia sair. Entretanto, não foi o que ele fez. Seu desejo já começava a bater de frente com a racionalidade.

A mulher se aproximou novamente, insistindo nas carícias. — Olha, eu sei que você pode estar pensando que eu sou um lixo por te dizer isso, mas qual é? Se você fosse tão certinho a ponto de ser tão fiel como se comporta, você não estaria num lugar desses, com essa roupa de quem saiu há séculos de casa, e numa hora dessas... eu só estou dizendo que não é errado aproveitar o momento. — informou a mulher.

— E se eu não quiser aproveitar a porcaria do momento. — retrucou Naruto, friamente.

— Isso é o que você diz, mas o que você realmente deseja agora? — tocou do rosto dele fazendo com que ele direcionasse sua visão para ela.

A viagem era tão penosa para Naruto que o toque da mulher subitamente se tornou extremamente macio e quente, lembrando um pouco o de Hinata. Já fazia um bom tempo que ele não sentia algo parecido, mais precisamente o mesmo tempo desde que ele deixara a vila. Aquela sensação trazia tantas memórias que Naruto, por um instante, esqueceu de que ele a devia uma resposta.

— Escuta, eu imagino que você ame sua mulher, e isso fica claro quando se olha para essa aliança. Ela não parece ser nem um pouco barata. Mesmo assim, você acha que se você passar a noite comigo vai fazer com que seu amor deixe de ser verdadeiro? Você é um humano assim como eu, e humanos tem necessidades. E se você não suprir essa necessidade, vai acabar virando um escravo dela. Sabe... eu tive um dia de merda, e eu só quero passar uma longa noite sem pensar em mais nada. Aposto que você também quer isso. — Ela começou a levar seu rosto em direção ao dele, lentamente, falando suas últimas palavras. — Vamos para um lugar reservado, deixa eu te ajudar também.

Naruto estava em transe, naquele momento ele já não tinha mais noção alguma do que estava acontecendo. Seu pensamento era uma mistura de razão e desejo da qual ele mesmo não conseguia compreender, e nem teria tal oportunidade, visto a velocidade com que ela aproximava o rosto do dele. Sua mente, mesmo antes dos lábios da mulher tocarem os seus, já pensava previamente em como ele poderia se redimir pelo seu erro. Felizmente, antes que ela o beijasse, um toque muito inconveniente fez com que a ação fosse interrompida.

— Boa noite! — disse um baixinho com boas décadas de idade e muito alegre, por sinal, se sentando junto de Naruto e sua “companheira”.

A mulher logo olhou para o dedo do senhor, que cutucava a lateral de sua barriga.

— Quem é você, vovô? — Ela questionou.

— Oras... eu sou o tio dele. Ué... ele não te contou?! — fez cara de decepção — Sinceramente, esses jovens de hoje em dia perderam todo o respeito. — Subiu no colo dela tentando acertar Naruto com uma garrafa.

— Sai! Sai! — disse a mulher empurrando o velho, que caiu em cima da mesa. — Qual é a sua, ein? Quem te deu a permissão de subir em cima de mim?

— Você achou que eu daria uma volta por você pra ensinar uma lição de bons modos pro meu sobrinho? Se você não quer entrar na confusão é melhor sair de perto dele, porque grudadinha desse jeito você vai é levar metade da porrada que eu vou dar nele.

Naruto já tinha voltado a si, graças ao senhor que estava causando todo aquele estardalhaço. Ele sentia que devia agradecer ao velho pela atuação, mas ele havia se tornado o foco da atenção de todos no local, e isto era exatamente o oposto do que ele desejava. Sendo assim, sem maiores explicações, Naruto foi embora bar antes que alguém mais se interessasse em sua pessoa.

A mulher tentou segui-lo, mas o velhinho também foi atrás, batendo com uma caneca na bunda dela. — Ei, você! Quem a senhorita é pra ir atrás do meu sobrinho? É a esposa dele, por acaso? — perguntou retoricamente — ACHO QUE NÃO! Então não vá criar mais intrigas entre o meu sobrinho e eu. — disse indo em direção a saída, por onde Naruto já havia passando. As pessoas do bar começaram a rir da situação, fazendo ela ficar nervosa e um pouco constrangida. Seja lá qual fosse sua intenção com o Sétimo Hokage, ela foi por água abaixo.

[…]

— Ei garoto, espere aí! — disse o velho correndo indo atrás de Naruto, que já se preparava para dar continuidade a sua viagem.

Naruto olhou para trás enquanto terminava de arrumar seu traje, observando aquele velho senhor caminhando com uma certa dificuldade.

— Caramba, minha coluna já era... foi tensão demais pra mim. Ser velho é realmente complicado. — resmungou. — Para onde você pretende ir? — perguntou com um olhar curioso.

Naruto hesitou em entregar a resposta tão gratuitamente, mas decidiu oferecer uma pista como gratidão por suas ações e o que elas evitaram. — Para o norte. — ele disse.

— Não é específico o bastante, mas já serve. — concluiu o senhor, colocando a mão nas costas numa tentativa de melhorar a dor. — Bem, você parece estar viajando por algum tempo e suas roupas não lhe permitem mentir. — segurou o tecido do manto, analisando — Não sei quem você é e nem pretendo descobrir, mas sinto que é um bom rapaz. — começou a mexer no bigode — Se quiser, existe uma cidade ao norte, que está mais para um vilarejo se me permite dizer, mas é lá que eu moro, e você pode dar uma passada caso queira tomar um banho ou descansar por um dia ou dois. — Antes que pudesse negar a oferta, o velho puxou pequeno cartão escrito a mão, o qual fazia propaganda de uma loja de artefatos ninjas históricos — Toma. Com isso você vai conseguir achar onde eu moro. Infelizmente eu não poderei te acompanhar, tenho algumas coisas pra fazer aqui, mas é só falar para minha esposa que eu te convidei e ela vai te receber. Quem sabe não nos encontramos lá mais uma vez, caso eu volte mais cedo?

— Certo... obrigado. — disse Naruto, aceitando o cartão. — Bem, vou nessa. Até. — finalizou.

— Você deveria se sentir orgulhoso, rapaz. Sabe, depois de dias andando não é qualquer um que reluta tanto em dormir com uma mulher. Eu vejo ela fazer isso direto com os viajantes desconhecidos, seduz eles, leva pra cama e depois pega o que você tiver de valor. Quase sempre que eu venho aqui isso acaba acontecendo — deu uma gargalhada, ficando sério logo em seguida —, e se você não tivesse hesitado tanto, muito provavelmente ela terminaria a noite com mais um na contagem hehe. — Colocou a mão no queixo, analisando Naruto uma última vez. — Sua aparência engana bem, garoto... essa barba largada, cabelo descuidado, vestindo um manto acabado pela viagem e principalmente esse chapéu cheio de furos... você parece ser só mais um viajante para a maioria das pessoas, mas quem trabalha no meu ramo sabe identificar um tecido de qualidade, mesmo rasgado, assim como os ladrões. — coçou a cabeça. — Enfim, apenas fique esperto com essas coisas, você ainda é e sempre será um humano com desejos, e as pessoas na estrada podem usar isso contra você. — permaneceu alguns segundos em silêncio, esperando Naruto falar algo. — Bem, de qualquer forma, boa sorte na sua jornada e vê se passa na minha loja. Vamos torcer pra que você volte para sua esposa sem arrependimentos. — sorriu para ele.

Naruto assentiu e então continuou seu caminho enquanto o senhor ficou lhe observando por algum tempo. Naquele momento, apenas algumas gotas de chuva caiam do céu. Logo após ele se aprofundar num caminho cercado por árvores, o velho voltou para dentro do bar, cruzando com a mulher, que espreitou a conversa dos dois de longe.

— Então você não é o tio dele. Tsc... que idiota eu fui. — resmungou a mulher.

— Seus olhos são tão bons para encontrar os estrangeiros com algo de valor, que você esqueceu de notar as pessoas que sempre estão por aqui. É algo engraçado, não acha?

— Escuta, vovô, eu não gostei nem um pouco dessa sua atitude. Se eu não tivesse um assunto pendente, faria você pagar por isso agora mesmo... — disse ela, prosseguindo pelo mesmo caminho trilhado por Naruto enquanto fazia um sinal com a mão.

O velho suspirou enquanto ela ia embora. — Ser uma boa pessoa realmente dá mais trabalho do que qualquer outra coisa.

[…]

Naruto caminhava sob a chuva, que começava a se intensificar. A cada passo, a lama engolia seus pés quase que por completo, tornando a viagem ainda mais tortuosa. E bem no meio daquele caminho cercado por árvores e pela noite, a presença de indivíduos se tornava cada vez mais evidente. Ele não sabia ao certo o número exato, mas, mesmo sem poder usar o chakra, estava claro que não era apenas um quarteto de bandidos.

O sétimo permaneceu caminhando calmamente, pensando em um plano e fingindo que não havia notado a emboscada. Os bandidos o perseguiram por um bom tempo, o suficiente para que ele obtivesse uma estimativa um pouco mais precisa dos números do inimigo. Algo entre vinte e vinte e cinco. Definitivamente não pareciam ser fortes ou sequer organizados, visto as inúmeras falhas durante a perseguição silenciosa, mas, ainda assim, extremamente perigosos para um só homem que perdera uma grande parte de seu poder.

Subitamente, um dos homens, provavelmente o mais parrudo de todos, apareceu em sua frente bloqueando o caminho. Naruto cessou a caminhada, mantendo o chapéu baixo de forma que ninguém pudesse ver seus olhos enquanto eles buscavam por ataques pelos flancos. Alguns segundos já haviam se passado e até o momento ele não notara nenhuma outra ofensiva. Ele se perguntava se alguém havia reconhecido sua identidade no bar ou eram apenas alguns ladrões qualquer, e sua torcida para que fosse a segunda opção era inevitável. Entre a tensão e os cálculos, passos foram ouvidos na retaguarda do Hokage, e este, mesmo sem dar meia volta, já confirmou suas suspeitas.

— Hm... você tinha cara de encrenca, sem dúvidas. — concluiu ele, olhando de relance a mulher que caminhava em direção às suas costas.

— Veja, tenho que dizer que você fez uma péssima escolha. — afirmou olhando as unhas — Você poderia ter passado uma boa noite comigo. Não digo que conseguiria exatamente aquilo que eu tentei te dar — deu um sorriso malicioso —, mas, pelo menos, dormiria numa cama quentinha haha... — abriu um sorriso cínico.

— Qual é a de vocês? — perguntou sem demonstrar nervosismo diante da emboscada.

— Eu gosto de ver o meu negócio como um tipo de empreendimento exótico, talvez um pouco antiquado agora que o mundo é pacífico. — apoiou a mão na cintura.

— Tsc... que jeito de dizer que faz merda por aí. — replicou Naruto.

— Desvalorizando o trabalho dos outros... que feio! — desaprovou com a cabeça. — Veja bem, se você olhar de um certo jeito, não parece tão errado assim. Eu dou uma oportunidade aos viajantes; uma oportunidade de esquecer os problemas, e antes que eles tentem algo, eu os coloco pra dormir com essa coisinha aqui. — mostrou um frasco de sonífero. — Eu largo eles dormindo num quarto, pego o que eu achar de valor, como um mero pagamento pelo meu serviço, e quando acordarem eu já vou ter sumido, e bem... eles provavelmente não vão lembrar se aconteceu algo ou não na noite passada, mas sempre acabam optando por acreditar que sim. Homens geralmente adoram contar histórias de vitória para seus amigos. Eles escondem que foram roubados e que não lembram de nada, e voilà, temos um homem que vai contar pra todo mundo que encontrar como ele conquistou o coração de uma dama em uma noite escura e dormiu com ela na mesma noite. — gargalhou. — Chegar a ser patético como são previsíveis.

— Hehe, mas parece que hoje não foi bem assim... — provocou. — de qualquer forma, seria uma pena se eles voltassem pra recuperar o que “perderam”... — retrucou.

— Por essas e outras que eu tenho vários “amigos”. — deu um leve sorriso enquanto mais ninjas começavam a sair das árvores e se aproximar, encurralando ele por todos os lados. — Mas já falei muito sobre mim, então que tal falar de você? — mexeu no cabelo. — Pois bem, quem é você? — olhou para Naruto como se estivesse vendo ouro puro. — E não se atreva a mentir.