Era uma floresta extremamente escura, as únicas árvores que podiam ser vistas eram as quais estavam sendo banhadas pela luz de uma fogueira. Ao redor do calor emanado pelo fogo, Hinata estava sentada ao lado do marido, se apoiando no corpo dele. Himawari e Boruto sentavam um pouco mais distantes dos pais, de modo que conseguiam observá-los de frente. Naruto contava mais uma de suas histórias, as crianças o escutavam atentamente, e Hinata, por sua vez, escutava calmamente com os olhos fechados, agarrada ao braço dele.

— E eu estava lá, cansado... ele queria que eu desistisse e abandonasse tudo pelo que eu lutei. Eu olhei pra ele e disse...

Himawari começou a fazer uma cara estranha, despertando uma certa preocupação no pai.

— Tem algo errado, Hima? Se quiser eu posso dar um tempo ou contar outra história... — disse Naruto, despertando a curiosidade de Hinata que abriu os olhos para ver o que estava acontecendo.

— O que está acontecendo, filha? — perguntou a mãe, também preocupada.

— Eu não sei... eu estou me sentindo pesada. — começava a se desesperar — Eu estou com medo, papai. Me abraça! — gritou indo na direção de Naruto, mas ficou paralisada na metade do trajeto.

Naruto abriu os braços, esperando a filha que havia parado antes de alcançá-lo. — Pode vir, eu vou te proteger. — disse ele sem entender muito bem o que estava acontecendo.

Num piscar de olhos, Himawari começou a ser puxada para trás, sendo levada em direção ao breu da floresta. Naruto, num movimento rápido, segurou a garota com um enorme braço criado a partir do chakra da raposa. — O que está acontecendo? — indagou ele, olhando para as costas da garota. Nada segurava Himawari, era como a escuridão da floresta atraísse sua filha tal como a gravidade o atraía para a superfície.

Hinata se levantou junto de Naruto, aterrorizada com o que estava acontecendo.

— Naruto, não solte ela por nada! — pediu Hinata.

Boruto se segurou na mãe, com medo do que podia acontecer com ele. O garoto estava com razão, não demorou muito para que ele também fosse puxado para longe da fogueira junto de Hinata, porém para lados diferentes. O Hokage rapidamente segurou o filho com outro braço de chakra e Hinata, que ainda estava por perto, foi segurada diretamente pela mão do marido.

— Que merda está acontecendo?! — perguntou Naruto, confuso e amedrontado com a situação.

Conforme o tempo passava, mais seus filhos e Hinata eram puxados com força. — Arrrgh! Eu não consigo segurar eles! — gritou Naruto. — É muito forte!

A braços de chakra que ia da barriga de Naruto aos filhos tentando trazê-los para perto começava a ficar cada vez mais fino e fraco. Era como um cabo de guerra, as crianças começavam a ser lentamente puxadas para a escuridão da floresta.

— Naruto você precisa me soltar e segurar as crianças! Seu chakra está começando a ceder! — disse Hinata, apavorada com a ideia de perder os filhos.

Naruto resistiu, sua mão não cedia para que Hinata fosse levada. — A minha mão pode quebrar, a sua mão pode quebrar, mas eu não vou te soltar por nada nesse mundo! — insistiu liberando uma imensa quantidade de chakra e fortalecendo os braços de chakra novamente.

Em seguida, o Hokage tentou ir em direção aos filhos puxando Hinata com toda sua força. Correu se apoiando no solo, com a maior intensidade que conseguiu. Era inútil. A cada pisada jogava enormes quantidades de terra para trás como se fosse neve. Não havia como se apoiar ali. Ele não conseguiu se mover um centímetro sequer.

— Não vai adiantar, Naruto. Você precisa me soltar!

Olhou para a esposa com medo de que aquela fosse realmente a única opção. Hinata olhava para as crianças que gritavam com medo enquanto eram puxadas lentamente conforme o braço de chakra do pai voltava a ficar cada vez mais fino.

— Droga! — disse ele envolvendo seu braço que segurava Hinata com uma camada de chakra da raposa. — Eu vou segurar as crianças, mas não vou desistir de você! — soltou Hinata, deixando ela ser segurada apenas por um braço de chakra que se ligava ao corpo dele.

Naruto foi correndo até os filhos que estavam do lado oposto de Hinata. Tanto eles quanto a mãe eram segurados pelos braços de chakra de Naruto, e os mesmos ficavam mais fracos a cada instante, o que fazia eles serem puxados e ficarem cada vez mais distantes.

Antes que Naruto pudesse chegar até as crianças, todos os braços de chakra foram rompidos. Sua família inteira fora abocanhada pela escuridão que reinava longe da fogueira. Num momento de desespero, ele tentou criar novos braços de chakra para que agarrassem seus amados filhos e esposa. Não adiantou, os novos braços eram extremamente pequenos e não conseguiam se esticar nem por meio metro. Cada vez mais seus poderes foram diminuindo.

Ainda mais desesperado, ele correu para dentro da floresta aonde seus filhos foram absorvidos. Não demorou muito para que a escuridão cegasse sua vista. Ele só conseguia escutar gritos. Sua audição parecia girar com gritos de sua família vindo de todos os lugares ao mesmo tempo. Em segundos ele já havia perdido qualquer sentido de orientação em meio a escuridão. Tentava correr pra qualquer lado, mas dava de encontro com árvores. Aonde eles foram? O que tinha acontecido? Afinal, onde ele estava e como tinha chegado lá?

Uma luz branca e intensa começava a aparecer por uma janela. Era noite de lua cheia. Ele estava deitado dentro de um quarto desconhecido, do hospital talvez. Começou a raciocinar imediatamente, tentando justificar como tudo que acabara de acontecer não passava de um sonho. Sentiu um calor na sua mão esquerda, era Hinata, ela dormia sentada, apoiando a cabeça na cama enquanto segurava a mão dele. Tentando se mover um pouco, sentiu um peso em suas pernas, seus filhos dormiam abraçados nelas. Tentou se erguer um pouco, mas estava fraco.

A mulher percebeu a inquietação e começou despertar. Ela não conseguiu conter o sorriso ao ver o marido acordado.

— Naruto! — abraçou ele entusiasmada.

— Ai... — sentiu um pouco de dor.

— Desculpa, eu te machuquei? — perguntou preocupada.

— Hehe não... eu só estou um pouco enferrujado. — brincou tentando aliviar a preocupação dela — O que está acontecendo? Por que eu estou no hospital? — indagou confuso.

— Você não se lembra do que aconteceu na floresta? — perguntou apreensiva.

Naruto ficou assustado no mesmo instante — Então realmente aconteceu? — perguntou preocupado.

— Sim... o Orochimaru te derrotou, mas nós não conseguimos rastreá-lo. — informou um pouco triste.

Neste momento Naruto começou a ligar os pontos. Ele, que até então achava que ela estava falando de seu sonho maluco, se lembrou do que havia acontecido durante a batalha. Soltou a mão de Hinata e colocou no pescoço, exatamente onde Orochimaru havia mordido, e sentiu uma cicatriz. Normalmente a Kyuubi curava essas marcas de batalha antes mesmo que ele pudesse notá-las, mas dessa fez foi diferente, ele nem sequer sentia o chakra da raposa dentro dele, era como se Kurama estivesse dormindo dentro dele.

— Alguém mais se machucou nessa batalha? — perguntou ele.

— Na-não... — disse desviando o olhar.

— Menos mal... — suspirou — Ei Hinata... — ficou um pouco sem graça— acho que eu tenho que pedir desculpas... acabei me deixando levar e fui sem reforços até o Orochimaru, o Shikamaru até tentou me avisar que era uma armadilha... tsc.. eu... eu sabia que era uma armadilha, mas eu não consegui me segurar. Eu fiz exatamente o que o Orochimaru queria e acabei arriscando tanta coisa... a segurança da vila... — desviou o olhar — você e as crianças... — passou a mão no rosto, decepcionado consigo mesmo.

Hinata segurou a mão dele com as duas mãos o mais forte que conseguiu. — Eu fiquei tão preocupada, Naruto... por favor, nunca mais faça isso novamente! — pediu quase chorando enquanto olhava para baixo.

— Não vou fazer. É uma promessa! — sorriu levantando o rosto dela.

Num impulso de felicidade, Hinata tentou abraça-lo novamente, mas se lembrou da última vez que fez isso e optou por não prosseguir com a ação.

— Ahn? — notou a esposa sem jeito por ter parado antes concluir o abraço — Não vou ganhar abraço? — brincou fazendo cara de bobo.

— Mas... da última vez você sentiu dor.

— Mas também valeu a pena. — disse rindo.

Hinata abraçou ele cuidadosamente para não machucar. Ela sabia que ele ainda estava se recuperando e não queria causar mais problemas. Enquanto a mulher o abraçava, Naruto se lembrou dos dois pequenos que dormiam agarrados em suas pernas.

— Eu fico feliz que vocês tenham se preocupado comigo, mas acho que isso é um pouco de exagero, não? — apontou para as crianças. — Eu me recupero rápido hehe, vocês não precisavam montar um acampamento no meu quarto. — começou a rir num tom alegre.

Hinata sentou na cama,ela ainda parecia preocupada, era como se estivesse escondendo algo. Naruto notou a expressão da mulher, ficando sério em seguida— Ei, era só brincadeira... eu não queria te... — foi interrompido.

— Não é nada, é que nós ficamos muito preocupados com você... — sorriu tentando disfarçar a preocupação.

Encarou ela — Dá pra ver que tem alguma coisa te incomodando. — segurou a mão esquerda dela, a qual usava a aliança.

Quando Naruto fazia isso, Hinata sempre se lembrava do início do casamento, da primeira vez que ela tentou esconder algo dele.

==== Flashback ====

Hinata estava sentada na borda de uma plataforma de madeira que ficava de frente para uma linda paisagem da vila. A Hyuuga balançava os pés com um olhar distante, seu rosto demonstrava que ela estava aflita por algum motivo. Naruto acabava de voltar com dois copos de bebida, um em cada mão, os quais deixou ao lado da recém-esposa. Além disso ele também mantinha um palito de sorvete já finalizado na boca, provavelmente por estar com as mãos ocupadas.

— Obrigada, Naruto-kun... — sorria olhando para ele, tentando disfarçar a cara que fazia antes de sua chegada.

Naruto foi para o lado onde oposto ao que deixara as bebidas e se deitou ali na beirada, repousando a cabeça no colo dela enquanto tirava o palito da boca.

— As vezes eu acho que você se esqueceu que nós nos casamos... — resmungou com os olhos fechados.

— E-eu não me esqueci! Po-por que diz isso? — perguntou preocupada.

— Me dá sua mão. — ofereceu a mão esquerda a ela. — Hinata colocou a mão direita sobre a mão dele. Após Naruto tatear a mão da esposa, abriu os olhos e continuou — Não essa... eu preciso da outra. — Hinata entregou a mão correta desta vez, ficando um pouco envergonhada. — Eu quero que você olhe atentamente para as nossas mãos. — alinhou a mão da esposa com o rosto corado dela. — Eu quero que você me diga o que nós temos na mão que é exatamente igual.

Naquele momento, o sol que aquecia Konoha atingiu as alianças fazendo elas brilharem e por consequência dando uma importante dica para Hinata. — As alianças? — ela respondeu perguntando.

— Exatamente! E você sabe o que isso significa? — perguntava sério, ainda segurando a mão dela.

A Hyuuga ficou confusa com a pergunta, ela não queria responder o óbvio, mas também não sabia aonde ele queria chegar com aquilo. Sendo assim, permaneceu calada pensando no que aquilo significava, até o momento em que Naruto soltou a mão dela.

— O que todos os ninjas de Konoha carregam? — tentou mudar a pergunta enquanto tirava a cabeça do colo de Hinata, sentando ao lado dela.

— Hm... Ba-bandanas? — respondeu sem certeza.

— Certo... as bandanas, elas são um símbolo, um símbolo que representa o orgulho da nossa origem e nossa vontade de proteger nosso lar e amigos... mas também significa que somos parte de algo e que junto de outras pessoas formamos uma grande coisa com a qual nós compartilhamos alegrias, felicidades e tristezas. — começou a tirar a bandana. — Sabe... a aliança de casamento funciona da mesma forma, então quando você fica triste, se preocupa com algo ou tem algum problema, isso acaba me afetando também. — entregou a bandana para Hinata e olhou para o horizonte. — Se você olhar desse ângulo, os problemas só aumentam... mas, por outro lado, nós estamos nisso juntos, Hinata, e podemos resolver esses problemas juntos. — segurou a mão esquerda dela fazendo as alianças se tocarem. — Assim como a vila inteira se ajuda, nós podemos nos ajudar... como uma equipe. — sorriu para ela.

— Na-Naruto-kun... — observava ele atentamente.

— Olhando por esse lado, o casamento é algo muito bom, mas também exige confiança...

— Eu confio em você! — exclamou.

— Eu sei que sim — sorriu novamente. — Você não precisa me contar todas as coisas, mas também não precisa esconder nada de mim. Então se você estiver com um problema.... eu estarei sempre aqui. — deitou novamente com a cabeça no colo dela, fechou os olhos e colocou o palito na boca novamente.

Hinata ficou muito contente por saber que podia contar com ele, mas também sabia que precisava se abrir naquele momento e revelar o que a afligia, como uma forma de mostrar que realmente confiava nele.

— Te-tem uma coisa... — batia os dedos indicadores — Eu... eu... tenho medo... medo de ser uma péssima mãe e esposa! — Ela estava tão nervosa por falar aquilo que acabou dizendo num tom mais alto do que deveria, o que a fez ficar mais envergonhada ainda.

Naruto abriu os olhos, ele pareceu um pouco surpreso, mas logo começou a rir. — Era isso que estava te atormentando? — Hinata ficou um pouco frustrada por ele brincar com a situação, mas antes que pudesse demonstrar o futuro Hokage iniciou novamente. — É engraçado porque eu pensava nisso antigamente... eu cresci a maior parte da minha vida sem conhecer meus pais, então eu não tenho muita noção de como é ser um bom pai ou de como é ser um bom marido... — coçou a cabeça. — é um pouco complicado. — sorriu um pouco chateado.

— Me desculpe... eu não queria trazer este assunto. — Ela se sentia mal por lembrar Naruto do seu passado solitário.

— Hehe... não tem problema, eu acho que isso vai ser uma coisa que nós vamos acabar aprendendo com o tempo, né? Ah... e durante essas primeiras semanas você tem sido uma ótima esposa, então não precisa se preocupar. — sorriu para ela. — Parece até que você já planejava estar casada comigo há um tempão! — finalizou brincando, fazendo a Hyuuga ficar extremamente corada.

— Na-naruto-kun!

— Ah... essa é a outra coisa... você não precisa mais ficar me chamado de “Naruto-kun”... — imitava a voz dela — … você pode usar o que achar melhor, quem sabe até inventar um apelido, né? — riu— eu pensei em algo do tipo: "O Homem Ramén de Konoha“... — Hinata riu — melhor não, né? — riu junto da esposa.

====FIM DO FRESHBEQ=====

— Ei... Hinata. — chamou a atenção da esposa que esboçava um sorriso sem motivo algum.

— Ahn? Ah... me desculpe. — acordava dos pensamentos.

Suspirou desanimado — Você está muito estranha... tem certeza que não quer me contar nada? — segurou novamente pressionou a mão dela novamente, tocando as alianças.

Instantaneamente Hinata voltou a ficar séria e um pouco deprimida, ela precisava contar isso a ele uma hora ou outra.

— Eu não sei como te falar isso, Naruto...

— Bem, eu estou acordado. — sorriu — Não dá pra ser algo tão ruim, dá? — brincou.

— Naruto... — abaixou a cabeça, segurando a mão dele com força. — você perdeu seu... seu chakra...