Era de noite, o céu estava fechado, não haviam estrelas e a lua minguante mal podia ser vista. Naquele horário, era comum os moradores estarem se divertindo nos bares e lojas ou, para aqueles que tinham missões no dia seguinte, estarem indo dormir. Porém não era o que estava acontecendo, nas ruas, no lugar de pessoas se divertindo, haviam ninjas se preparando para a batalha. Formavam filas para pegarem armas e suprimentos. Seus nomes eram chamados aos poucos, determinando em qual time eles estariam.

Aquela noite, Konoha estava agitada. As poucas pessoas que entravam na vila eram revistadas por completo. Não haviam ninjas fora da vila, todos estavam dentro das grandes paredes que protegiam a Vila da Folha. A maioria deles vigiava as muralhas e qualquer outro local que pudesse ser um possível acesso de inimigos. O turno era revezado, para que outros ninjas pudessem dormir, comer e se preparar. Desta forma ninguém estaria cansado no dia seguinte, e eles realmente precisariam estar descansados, pois o amanhã também seria o início do cerco de Konoha.

Na sala do Hokage, pessoas entravam e saiam sem parar, entregando diversos relatórios que deveriam ser assinados. Sasuke estava na frente da porta bancando o segurança, mas, na verdade, ele estava lá porque não aguentava mais ouvir problemas. Ao lado dele, Sarada sentava no chão encostada na parede, quase dormindo.

– Pai! Eu estou com sono... – disse a garota.

– Eu sei, mas eu não quero te deixar sozinha em casa. Sua mãe me mataria se eu fizesse algo do tipo. – disse olhando de relance para a filha.

– Que droga... bem que você podia me deixar dormir no seu colo, igual quando eu era pequena. – resmungou mexendo no óculos, abrindo um sorriso maligno para o pai.

Sasuke desviou os olhos da garota. Ele não sabia dizer não para ela, e a pequena sabia muito bem disso. Sendo assim, preferiu ficar em silêncio.

Shikamaru havia acabado de chegar na entrada da sala do Hokage, dando de encontro com os dois Uchihas.

– Como vai, Sasuke, muita bagunça lá dentro? – perguntou já sabendo da resposta.

– Sim... – respondeu.

– Períodos como esse são sempre problemáticos... – suspirou fazendo cara de cansado enquanto coçava a cabeça – A paz realmente combina comigo, tudo é tão mais simples... – suspirou novamente enquanto levava a mão até a maçaneta da porta – Bem, vou entrar... preciso avi – antes que sua mão tocasse, a porta abriu. Era Sakura.

– Shikamaru, Sasuke.... parem de conversar e venham me ajudar agora! Eu não consigo dar conta de tudo isso. – pediu num tom de completa agitação. Era notável que ela havia ficado o dia inteiro ali dentro.

– Vamos lá então. – disse Shikamaru, entrando na sala junto de Sasuke e Sarada.

– Eu não sei como o Naruto dava conta de tanta papelada assim... ficar trancado o dia inteiro lendo e assinando papéis não combina nada com ele. – resmungou Sakura.

– Bem... – suspirou – ele na realidade usava os clones, então acabava tudo muito rápido. – disse Shikamaru, denunciando o amigo.

– É bem o estilo do Naruto fazer algo do tipo. – comentou Sasuke.

– Que maldito! – disse num tom agressivo – Mas tenho que confessar que eu faria o mesmo se soubesse fazer o Kage Bunshin no Jutsu... – desabafou ela, agora mais calma, se sentando na mesa do Hokage. – Bem... eu preciso saber qual é o nosso plano para amanhã. Eu estou realmente preocupada, somos uma vila inteira, temos ninjas de outras vilas nos ajudando e principalmente ninjas bem treinados... mas o nosso inimigo... não consigo ficar à vontade com a ideia de que vamos lutar contra ele. – disse preocupada.

– Madara... da última vez não foi nada fácil, e ainda tínhamos o Naruto... – suspirou – Isso vai ser realmente problemático. – concluiu Shikamaru.

– Não sei se o que me preocupa é o Madara... ele é um ninja muito poderoso, mas todos nós evoluímos bastante desde a quarta guerra. Talvez nosso maior problema seja a aliança dele com o Orochimaru... este sim joga sujo, pode ter certeza que ele nos trará alguma surpresa amanhã. – alertou Sasuke.

– Mesmo assim... seria bom se o Naruto ainda fosse o Hokage. – afirmou Sakura.

– Certamente... mas ele deixou o cargo, então agora é com você, Sakura. – disse Shikamaru.

– Eu só fico um pouco preocupada com a Hinata... eu falei com ela... embora aparentemente ela esteja sendo forte, quando você conversa com ela, dá pra sentir como está sendo difícil passar por isso...

– Está sendo difícil para todos nós, Sakura... eu acredito que a vila inteira sente falta dele, aquele idiota dava um ótimo Hokage. – afirmou Shikamaru, um pouco chateado.

– Não adianta ficar pensando em como seria se o Naruto estivesse aqui. Vamos mostrar que nós conseguimos tomar conta de nós mesmos... é isso que ele gostaria de ver se ainda estivesse aqui. – disse Sasuke, encostado na parede, evitando contato visual com os outros.

– Eu sei... mas eu fico pensando na Hinata... ela vai querer batalhar amanhã, eu tenho certeza. Se algo acontecer com ela... as crianças... – disse preocupada.

– Ela não é fraca, Sakura, não vai morrer tão fácil. Além disso, todos nós vamos lutar juntos, se depender de mim, não vou deixar uma pessoa sequer morrer. – disse Sasuke, confiante em suas palavras.

Shikamaru ficou em silêncio, sabia que falar algo tipo era ser muito otimista, mas também não queria preocupar a nova Hokage.

– Eu sei que você não vai. – disse Sakura sorrindo pelo incentivo do marido. Ela foi em direção da janela, olhou para a vila, focando principalmente para o local onde ficava a casa de Naruto. Sakura sabia como era ter o marido longe de casa, mesmo que Sasuke ficasse no máximo alguns dias fora, a falta que ele fazia era gritante. Imaginava como a Hyuuga se sentia naquele momento, sem saber onde Naruto estava, quando voltaria ou até se estaria vivo.

[…]

Após tanto tempo sem ele, Hinata começara a dormir com os filhos na sala de estar. A mansão dos Uzumakis era enorme, talvez essa fosse uma forma de preencher o vazio que Naruto deixava naquele lar. A falta que fazia a presença dele naquela casa era imensa.

Desde que ele se fora, dormir na cama de casal havia se tornado uma tortura para Hinata. Aquele colchão enorme e macio, antes palco de muitas carícias trocadas entre eles, se tornou um templo para pensar sobre a solidão. Para a Hyuuga, era impossível dormir naquela cama sem sentir falta do calor, da proteção, da segurança, do amor e da felicidade que sentia ao ser abraçada por ele enquanto dormia, ou então do simples fato de poder se agarrar ao corpo do marido após ter tido um pesadelo. Ah... como ela sentia falta de Naruto.

Para as crianças também não era nada fácil, eles estavam tão acostumados em ter o pai por perto que a falta dele era maior do que a presença de Hinata poderia preencher. A mãe se esforçava para não deixar que faltasse amor por um segundo para as crianças, até havia parado com as missões, mas não adiantava. As histórias que ela contava, as brincadeiras que fazia, as refeições em família, praticamente tudo, embora alegrasse as crianças, sempre acabava lembrando como seria bom ter o pai por ali. Era como se em todos aqueles momentos faltasse alguém junto deles, alguém rindo e tornando tudo ainda melhor.

Por isso eles começaram a ficar cada vez mais próximos, dormindo juntos e fazendo tudo que podiam um ao lado do outro, talvez assim fosse mais fácil de continuar naquela casa, a qual agora parecia tão vazia.

Eles dormiam, os três juntos na sala de estar, talvez sonhando com ele, esperando acordar com Naruto novamente na casa. No meio da noite, Hinata acordou, sentindo o travesseiro úmido, provavelmente pelas lágrimas que deixava cair durante o sono. Ela foi em direção ao quintal, para observar um pouco o céu. O tempo fechado daquela noite apenas denunciava o que aconteceria em breve. Ela ficou olhando por alguns segundos, pensando se Naruto tinha aonde ir quando chovia, se ele conseguia se aquecer de alguma forma quando ficava molhado, chegava a pensar até se ele estava vivo ainda e voltaria algum dia para eles. Começava a chover... não apenas do céu.

[…]

Naquela noite, um homem andava sobre uma estrada, acompanhado pelas gotas de chuva que ficavam cada vez mais intensas. Ele usava um grande chapéu de bambu com alguns buracos, o qual cobria todo seu rosto, exceto a parte inferior, esta, por sua vez, ficava escondida devido a sua razoavelmente longa barba loira. O corpo era coberto por um enorme manto negro com um acabamento laranja nas bordas, rasgado em vários pontos. O manto cobria seu corpo por completo, quase tocando o chão, todo o desgaste do traje evidenciava o quanto ele tinha sido utilizado.

No final da trilha já era possível ver as muralhas da Vila da Folha. Grandes tochas pelo caminho denunciavam que havia algo diferente ocorrendo em Konoha, mas ele já sabia o que era, afinal, era um dos motivos pelo qual estava voltando.

Ainda longe da vila, a chuva ficou extremamente intensa, apagando todas as tochas pelo caminho. Não era possível enxergar a um palmo de distância, mas o homem não parou. Entrou pelas árvores, como já pretendia, para diminuir a força com que a tempestade lhe atingia. Encostou um pouco no tronco de uma árvore e jogou uma parte do manto para trás, agora poderia ver seus braços. Olhou para a mão esquerda, a única que não estava enfaixada, ela estava nua, livre de qualquer objeto, em seguida fechou a mão com força, lembrando do que havia acontecido semanas antes. Voltou a cobrir o corpo completamente com o manto e seguiu em direção a Konoha, desta vez espreitando pela floresta para que não fosse visto.