Aprendiz do mal escrita por slytherina


Capítulo 1
O mestre


Notas iniciais do capítulo

Local: Viena. Ano: 1913



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– O coração como órgão mais importante do corpo humano, deve estar em boas condições, sem mazelas da velhice e sem sequelas de vícios. O ideal é um coração jovem, de um atleta.


– Supunha que o cérebro fosse o órgão mais importante do corpo humano.

– Meu caro Anton, falta romantismo em sua vida. Não sabia você que uma pessoa sem coração não tem boas intenções? Falta-lhe um toque feminino no modo como vê a vida.

Anton fez uma expressão irônica e cruzou os braços sobre o peito.

– Nunca sei quando fala sério, professor. Por ventura está sugerindo que um cérebro feminino é melhor do que um cérebro masculino, ou devo dizer "um coração feminino", delicado e terno, tem mais valia do que um coração viril, determinado e masculino?

– Por favor, Anton, não sou mais professor, ou doutor, depois que fui expulso da universidade. Chame-me de senhor, se quiser, mas não sou um mestre. Quanto ao toque feminino, não estou brincando. Você precisa de uma distração feminina, a não ser que queira ser chamado de "inglês libertino".

– Que tal... que tal retornarmos nossa conversa a assuntos mais pertinentes, como o cérebro de nossa criatura. Concorda comigo, que nosso "Frankenstein" necessita de um cérebro masculino?

– Você nunca esteve com uma mulher Anton? Se me responder que não, eu o expulso dessea catacumba. - O homem mais velho falou com uma expressão séria na face.

– Por Deus, que sim. Que diabos! - Exasperou-se Anton incrédulo.

– Antítese, teu nome é Anton. Um caso perdido. Quanto a garota com quem esteve... conte-me como foi.

– O que? Não pode me obrigar a isso.

– É, não posso, mas se quiser que eu acredite, vai ter que me dar detalhes.

Anton Arcane olhou o velho mestre. Respeitável, admirado e reverenciado nos meios acadêmicos. Caído em desgraça por detalhes ínfimos como ética, códigos de conduta e regras morais. Ele nunca suspeitaria que seu velho mestre fosse um velho safado, fascinado por histórias lascivas de aventuras sexuais de seus alunos. Nunca!

Ter aulas particulares com um mestre afamado como aquele era um privilégio. Que mal faria discorrer sobre piadas chulas de taverna e contos de bordel?

– Ela era muito bonita. Tinha a pele dourada e os cabelos castanhos cacheados. Usava pintura no rosto, talvez em demasia. Suas roupas de baixo eram baratas e tradicionais. Ela banhava-se com folhas de lavanda e lixava os dentes com sabugos de milho.

– Uma selvagem! Você copulou com uma selvagem, meu caro Anton?

– Ela não era uma selvagem. Tinha família, sabia usar talheres, e inclusive lia.

– Estou intrigado!

– Por favor, mestre! Eu até aprendi algo com ela.

– Aprendeu a fazer nenê?

– Não... sim... Quero dizer que sim. Eu ... copulei com ela, mas também aprendi sobre folclore.

– Folclore? Essa é boa.

– Foi! Ela me ensinou a ler a sorte em xícaras de chá. E também tirar a sorte em cartas de baralho, e a considerar a influência da lua em nossas vidas diárias.

O velho mestre parou de mexer no cadáver sobre a mesa de exames, e virou-se para seu ex-aluno.

– Você namorou uma cigana?

– Sim!

O homem velho deu um meio sorriso e apontou para baldes no chão a um canto.

– Ali! Encontrará cérebros masculinos, como você prefere. Traga um para mim.

Anton calçou suas luvas grossas e abriu um dos baldes. O cheiro de química e podre era forte e poderia nausear a um touro. Ele retirou um dos cérebros e levou ao outro homem.

– E além de ler as mãos das pessoas, o que mais aprendeu sobre ocultismo?

– Como consegue falar com esse cheiro, mestre? Eu mal consigo respirar.

– Satisfaça a minha curiosidade.

– Aprendi com alguns colegas a conjurar golens.

– E você o fez?

– O que? Conjurar um golem? Não, eu supunha que era necessário ser um judeu para fazer isso.

– De posse do modus operandi, qualquer um pode ser um necromante.

– Um... o que?

– Um necromante. Um homem que domina os mortos. Ou a grosso modo, um feiticeiro.

– De certo modo, é o que estamos fazendo aqui, não é professor? Trazer um cadáver de volta à vida?

– Sim. Embora, meu caro Anton, ele seja destituído de alma, como o golem judeu.

– Como um golem? Quer dizer que poderíamos controlar a este corpo redivivo como ao nosso próprio golem?

– Em teoria sim. Suspeito que na prática encontraríamos alguns contratempos, como o fato destas carnes estarem putrefatas. Se revivêssemos esse cadáver, ele morreria logo, pois já está podre.

– Contudo se revivêssemos alguém que acabou de falecer, ele poderia durar anos a fio, não é assim?

– Sim. Em teoria. Agora, comecemos nosso experimento. Vou posicionar os eletrodos, e você liga a fonte de energia elétrica.

Ao ligar a bateria tosca de energia elétrica, um grande clarão manifestou-se nos eletrodos, fazendo com que o corpo inerme, sobre a mesa de experimentos, pulasse. O velho mestre colocou seu estetoscópio no peito do cadáver e exclamou eufórico.

– Está batendo, Anton. O coração está batendo.

Anton se aproximou e colocou seu próprio estetoscópio. Deu um grande sorriso ao escutar o baticum do coração morto. Isso durou cinco minutos. Então o coração parou. Os dois homens se entreolharam e sorriram extasiados, pelo feito.


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