Papercuts escrita por Gaia


Capítulo 20
XIX - Haru




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“Ah, é claro que você aposta, não é?

O meu momento de clara desorientação em que estava me relacionando com Sasuke foi cada vez mais se mostrando problemático, enquanto eu notava coisas que antes eu preferia ignorar.

Não me entendam mal, eu sempre soube que Uchiha era um babaca e que qualquer coisa que tivéssemos era só uma forma de saciar nossas necessidades e que se ele saísse da minha vida ou vice-versa, não ligaríamos. Ou era o que falávamos para nós mesmos antes de dormir.

Mas depois de ter passado alguns meses com ele, eu comecei a realmente perceber todos os podres. Os que eu percebia, mas preferia ignorar porque não eram tão relevantes assim.

Mas eram. Eram relevantes. E eu só os ignorava porque estava tão perdida de mim mesma que eu não me reconhecia mais.

Meu desencantamento se desencadeou quando eu vi um papel deslizar embaixo da minha porta do dormitório. Lia-se: “Concurso de Gostosas da Taka! Basta ser linda para passar uma semana com o nosso solteiro nº1: Sasuke Uchiha! A inscrição só custa 50 dólares, a não ser que você queria um calendário com fotos dele, ai são mais 20! Participe!

Sinceramente, eu não sabia se morria de rir ou vomitava. Eu realmente não me importava em saber que Uchiha pensava tão pouco de mim, o que me enojava era o machismo, o aproveitamento e a enganação barata.

Coisas que antes eu relevava, mas do nada começaram a me incomodar. Quer dizer, eu tinha convivido tempo suficiente dentro da Taka para saber que tipo de coisas eles faziam. Lendo aquele papel, tudo começou a voltar na minha mente.

Era patético, honestamente. Existia um claro desvio de verbas para construção de coisas para a faculdade, sim, mas completamente de uso privado. Os membros da Taka usavam de benefícios que se davam deliberadamente e ninguém falava ninguém, porque eles eram influentes e populares.

Me peguei soltando um suspiro ao lembrar das várias vezes que Shikamaru fingiu não ver meus atrasos na biblioteca. No que eu estava me tornando?

Não percebi quando Ino apareceu atrás de mim e soltou um som de inconformidade.

– Que porco! – ela exclamou, lendo o papel em minhas mãos. – Eu te contei de quando nos encontramos novamente e ele nem me pediu desculpas?

Ela já tinha me contado essa história milhares de vezes. Ino parecia querer me convencer de que eu era muito melhor do que Sasuke, o que era extremamente irônico e uma inversão enorme de papeis.

Pensei, horrorizada, que talvez eu fosse a Ino da situação. Quer dizer, lembro-me quando ficava inconformada por ela estar com ele, sem perceber que ele estava completamente fingindo ser outra pessoa e fazendo mil coisas por trás dela. E se dessa vez eu estivesse sendo enganada? Talvez estarmos em um relacionamento aberto, em que eu sei de aparentemente tudo fosse só mais um joguinho dele e eu não estivesse tanto no controle da situação quanto achei que estivesse.

Em pânico, sentei-me na minha cama e olhei apavorada para os olhos azuis da minha amiga:

– Eu estou sendo completamente idiota?

Ino gargalhou.

– Não, Haru! Você só está usando esse cretino para o sexo, não é mesmo? Não há nada de errado nisso.

Mas eu não estava só o usando, estava? Eu usava de sua posição na Taka, nós estudávamos juntos, nós conversávamos e contávamos coisas pessoais um para o outro. Ele até sabia que tipo de tinta eu usava no cabelo, porque teve que comprar na farmácia uma vez.

Isso não era uma relação de sexo casual.

– Sim. – disse, mais para me convencer do que para responde-la.

– Então, deixe que ele continue fazendo suas criancices. Eu acho que você devia fazer o mesmo.

Eu não tinha tempo para mais homens na minha vida. Enquanto não estava estudando, percebi em choque que Uchiha ocupava o resto do tempo. Sem saber o que responder, fiquei um tempo analisando a pessoa que eu tinha me tornado.

– Isso está errado. – murmurei finalmente, sem saber exatamente sobre o que eu estava falando.

– O que? – Ino perguntou.

– Isso! – apontei o papel. – Se ele quiser pegar milhões de mulheres, eu não me importo. Mas cobrar por isso? Fazer um concurso de beleza?

Minha amiga ficou me olhando por um tempo, como se não acreditasse no que eu estava falando. Eu sabia o que ela estava pensando.

– Tem certeza que é realmente com isso que você está incomodada? – ela perguntou, concretizando minhas previsões.

– Tenho! – exclamei, antes que pensasse duas vezes. – Eu vou dar um jeito nisso!

Sai rapidamente do quarto, antes que Ino me fizesse mais perguntas para as quais eu mentiria. Mas eu não fui confrontar Sasuke, nem gritar com ele por fazer uma coisa tão vil.

Porque no fundo eu sabia que não era o machismo da ação que me incomodava. Talvez nem o fato dele cobrar por isso. Odiava admitir para mim mesma, mas naquele momento, o que me matava por dentro, era saber que ele não me considerava nem um pouco para ao menos conversar comigo sobre isso, ou inventar uma desculpa, mentir. Não, ele simplesmente não se importava que eu soubesse.

Porque éramos nada. E nunca seríamos alguma coisa.

Cabisbaixa, fui para o refeitório comer alguma coisa e me deparei com Naruto, que estava comendo macarrão instantâneo, coisa que ele fazia muito frequentemente.

– Senta ai, Haru! – ele disse, ao me ver e eu forcei um sorriso. Só por ser amigo de Sasuke, até Naruto me parecia idiota, corrupto e errado naquele momento.

Do lado de seu prato, eu vi vários papeis que encarei com curiosidade. Percebendo meu olhar, ele explicou rapidamente:

– Burocracias do concurso. O maldito do Sasuke sempre deixa a parte chata para mim. – ele mencionou o concurso de forma tão informal que eu me sobressai. Uchiha realmente não ligava se eu sabia ou não. Que babaca.

– Não tinha uma forma melhor de ganhar dinheiro, não? – perguntei, amarga e ele negou com a cabeça. – E eu aposto que metade desse dinheiro vai para o bolso do Sasuke.

Naruto riu.

– Não, ele já vai ganhar muita grana com a aposta idiota dele. – disse inocentemente e eu engoli um seco.

Obviamente que naquela hora eu não sabia de aposta nenhuma, então fiquei o encarando por alguns segundos, esperando ele desenvolver o assunto, coisa que nunca aconteceu. Como sabia que Naruto ia desconversar se eu perguntasse que aposta era, resolvi jogar verde.

– Mas ele ainda não ganhou a aposta. – tentei, esperando que ele fosse tão inocente quanto eu achasse que fosse. Eu estava sedenta para encontrar alguma coisa a mais que me fizesse odiar Sasuke ainda mais e aquilo parecia muito mais do que aparentava.

– Ah, mas já vai ganhar. Você é uma das últimas, eu acho. – insistiu e eu tentei imaginar uma forma de fazê-lo falar exatamente do que estava se referindo.

Eu era a última o que? Com os pensamentos a mil, resolvi ir atrás da verdade e sabia exatamente por onde começar. Os membros da Taka podiam ser leais, mas também eram burros e me contariam tudo o que eu queria, se eu jogasse as cartas certas.

Fui em busca de Shikamaru primeiro, que apesar de ser inteligente, não se importava muito com Sasuke e sua influência.

Quando cheguei na biblioteca, ele estava falando com sua namorada, Temari, que tinha se tornado uma boa amiga minha. Ela era muito mais parecida comigo do que Ino e não podia se importar menos com roupas e reputação, o que era um alívio.

– Oi, Temari, tudo bom? – cumprimentei. – Posso falar com Shikamaru por um minuto?

Ela me cumprimentou de volta e disse que sim, sem questionar. Eu gostava dela por isso, sua simplicidade e praticidade. Outras talvez assumissem que eu estivesse dando em cima de seu namorado, quando a última coisa que eu iria querer na vida era ser namorada de Shikamaru.

– Fala, Haru. – ele disse, aparentemente cansado. Mas ele sempre estava cansado, então desconsiderei.

– Vim aqui receber o dinheiro de Sasuke. Ele ganhou a aposta. – falei, tentando parecer descontraída, enquanto por dentro estava explodindo de dúvidas e irritação, já pronta para odiar Sasuke com todas as forças dependendo da resposta.

Shikamaru me encarou com uma expressão de indiferença e eu mantive a minha de descontração para convencê-lo de que estava ciente do que estava acontecendo e sabia exatamente do que estava falando.

– Vou precisar de provas. Você tem a lista com os números dos sutiãs? – ele perguntou e eu respirei fundo, tentando ignorar as mil teorias que estavam se formando na minha mente.

– Não, esqueci. Mas por que eu estaria mentindo? – apelei. Se aquela aposta fosse tão infame quanto eu estava pensando que fosse, Shikamaru teria que assumir que eu saber de sua existência já era prova suficiente.

Ele ficou me encarando por um tempo, como se estivesse esperando que eu falasse mais alguma coisa. Como eu não disse, respondeu:

– Por que eu acho muito conveniente você, mulher, vir aqui dizendo que Sasuke já transou com todas as suas colegas de medicina. Eu acho que na verdade ele não ganhou a aposta e você está tentando protegendo elas e sua privacidade, contando que você está inclusa nisso.

Demorei alguns segundos para entender e mais alguns para absorver o que Shikamaru tinha acabado de me dizer. Eu não sei dizer exatamente que expressão que eu fiz, mas ele percebeu imediatamente o que tinha feito ao me encarar.

Vi o pânico em sua face e algumas coisas saindo de sua boca, mas eu já não ouvia mais nada. De tudo o que eu tinha pensado, aquilo era a última coisa.A informação tentava penetrar na minha mente e eu a negava com todas as minhas forças, tentando encontrar alguma incoerência naquilo que me permitisse desmenti-la e descarta-la. Mas é claro que eu não encontrei, porque fazia todo sentido do mundo.

Sasuke fazer uma aposta idiota para transar com mulheres da medicina fazia todo sentido do mundo. Ele ter se aproximado de mim para começo de conversa e feito tantos joguinhos. Então, para o meu desespero, tudo pareceu se encaixar. Era óbvio, ele sempre soube que era eu nos livros, Uchiha era exatamente o tipo de cara que usaria essa tática patética para chegar perto de uma mulher.

E eu tinha caído. Tinha caído em todas as suas armadilhas, tinha sido mais uma das mil mulheres que ele tinha transado só para ganhar dinheiro, mais uma trouxa que entrava e saia de sua casa e participando de sua vida.

Como eu pude ter sido tão ridiculamente idiota? Quer dizer, ele só tinha namorado Ino para investigar sua família, por que eu achei que comigo teria um motivo maior? Depois ele a traiu diversas vezes e ainda sim eu tinha escolhido ficar com um cara desse.

A culpa era toda minha de ter sido tão idiota.

Sim, nosso relacionamento era aberto e eu não me considerava sua namorada. Mas mentiras? Me senti completamente traída e usada, me senti pequena e patética. Eu sabia que estava certa em começar a enxergar os erros, as merdas.

Em meio de toda a raiva, angústia e sentimento de traição, eu decidi que Sasuke Uchiha ia pagar e já sabia exatamente como.”


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Notas finais do capítulo

Oiiee, dslcpa a ausência meu povo, tá cada dia mais dificil fazer algo que não seja estudar e trabalhar, haha.
Mas aqui estou eu com cap novo.
Agora o bixo vai pegar, haha
Gostaram?

beijocas :*



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