Como dizer adeus em robô escrita por nmsm


Capítulo 6
Rede de notícias da Mulher Gorda




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/565404/chapter/6

A sexta-feira em Hogwarts começava com um delicioso café da manhã, como se nos recompensassem pela semana. As tortas que vinham até nós davam indícios de que o final de semana seria menos caótico e isso me fazia chegar no Salão Principal saltitando. Mas naquela sexta-feira não foi assim.

 

Assim que coloquei os pés no Salão, meus olhos procuraram por aquele loiro automaticamente na mesa da Sonserina.

 

— Hermione? – Rony chamou.

 

— Hm?

 

— Podia deixar menos óbvio? — Rony falou ao meu lado.

 

— Claro, Rony — eu respondi distraída. Percebi que Harry e Rony se viraram para olhar também e eu tentei disfarçar, pegando café.

 

— Hermione? – Harry chamara.

 

— Hm?

 

— Tá tudo bem? – ele perguntou.

 

— Por que não estaria? – frangi o cenho.

 

— Hermione...

 

— O que foi, Ronald?! – vi Rony se virar mais uma vez para a mesa da Sonserina.

 

— Onde estava ontem à noite?

 

— Como é?

 

Antes que ele pudesse responder, duas grifinórias passaram por nós e eu nunca desejei tanto ser um avestruz para cavar minha cabeça na terra:

 

— Você viu a Mulher Gorda falando? Draco Malfoy no sétimo andar ontem? — ela começou falando.

 

— Sim! E por que ela não fala logo de uma vez com quem ele estava? — a outra reclamou, cruzando os braços.

 

Cuspi meu café e comecei engasgar. Elas me olharam preocupadas, mas continuaram falando do que tinham ouvido. Rony me olhava petrificado e Harry parecia que ia ter um ataque a qualquer momento.

 

Me levantei rapidamente, tinha que ver a Mulher Gorda a todo custo.

 

— Ei, Hermione – a caloura me chamou – ontem você estava monitorando, não estava? Sabe de alguma coisa…?

 

— Não – murmurei. As garotas em olharam decepcionadas. – Eu não monitorei ontem.

 

— Eu fiquei sabendo que teve até beijo! — Lilá Brown se sentou ao meu lado, servindo-se de suco de abóbora.

 

Rony ainda estava parado, me encarando chocado com a informação. Harry dessa vez olhava para a mesa da Sonserina e depois pra mim, boquiaberto.

 

— Como você sabe disso? — perguntei, tentando parecer desinteressada.

 

— A Mulher Gorda — as três responderam em uníssono.

 

— Draco Malfoy com uma Grifinória? Isso é impagável! — Lilá falou, mastigando uma torrada.

 

Me levantei rapidamente, derrubando suco, café e minha querida torta de limão, mas fui correndo até o sétimo andar da Grifinória porque precisava ver a Mulher Gorda o mais rápido possível.

 

E quando ela me viu, ela deu risada. Eu suspirei, me certificando de que ninguém me ouviria conversando com ela.

 

— Bom dia, Hermione Granger, dormiu bem? — ela disse, rindo.

 

— Por que você está falando essas coisas para as pessoas? — eu discuti.

 

— Porque você chegou tarde ontem! — ela falou.

 

— Eu estava resolvendo um problema...

 

— Ah, eu vi você resolvendo um problema... na boca do Malfoy! — ela riu.

 

— Shhhh, tem ideia de como isso acabaria com a minha reputação? — eu falei, pedindo silêncio.

 

— Eu acho que você que não tem ideia... — ela revirou os olhos — Eu não contei para ninguém que era você. Espero que isso sirva de lição!

 

— Por que você está fazendo isso comigo? Você me odeia? Eu sempre te tratei bem — bato o pé.

 

— Você está desvirtuada. E sabe o que os outros quadros falam? Que você é a garota da música!

 

— Meu Merlin, isso é horrível — murmurei.

 

— O que aconteceu com você? — ela pergunta, me olhando de baixo para cima.

 

— Para de me fiscalizar!

 

— Esse é meu trabalho.

 

— Você é um quadro!

 

— E eu vejo tudo.

 

— Mulher Gorda, por favor...

 

— Tudo bem, com uma condição! Quero ser a primeira a saber quando você contar — ela pede.

 

— O quê? Por quê?

 

— Porque eu quero! Gosto de ter informação em primeira mão...

 

— Meu Merlin, Hogwarts não tem segredos não é mesmo?

— De forma alguma. E também acho que Draco devia saber logo de uma vez que é você. 

 

— Você não acha nada!

 

— Hermione Granger...!

 

Eu me corrijo: — Me desculpe... Apenas pare de fazer fofoca!

 

— Você é muito chata! — ela revirou os olhos — Temos um acordo?

 

Aquele segredo estava me custando muito. Eu balanço a cabeça, vencida. Não tinha outro jeito. 

— Feito. 

 

— Vai entrar ou não?

 

— Não — respondo, me afastando.

 

— Veio aqui só para isso? Deve estar muito desesperada.

 

— Eu estou! E não quero meu nome atrelado ao dessa doninha! Já é muito pior ter que conviver com ele.

 

Ela bufa: — Como quiser. 

— Muito obrigada.

 

— Disponha.

 

E sumiu, me deixando sozinha.

 

Bom, eu tinha perdido a fome.

 

[...]

 

O Flitwick falava de feitiços domésticos, e foi tentando fazer um feitiço não-verbal para uma vassoura varrer a sala que eu vi um origami vindo em minha direção.

 

Saia imediatamente desse presídio.

 

Assim mesmo. Sem assinatura. Olhei em volta para ver quem mandara isso e logo vi a figura loira pelo vidro da porta, acenando e sorrindo ironicamente. Canalha.

 

Respirei fundo e rabisquei no verso:

 

O que foi? Hogwarts está sendo atacada? Dumbledore foi sequestrado? Roubaram a chapinha da Pansy? Os elfos? Eles estão bem?

 

Vi ele revirar os olhos quando recebeu o origami. Dei risada e esperei a resposta.

 

Não, engraçadinha, preciso do seu trabalho de História da Magia.

 

Amassei o origami e joguei na minha bolsa, sem responder. Emburrada, voltei a prestar atenção na aula. Então outro origami chegou:

 
Preciso da sua ajuda.

 
Eu li bem? Draco Malfoy pedindo minha ajuda? E de novo?


Eu realmente estou fodido.

 
Sim, estou muito preocupada.

 
Qual é, Granger?! Faço qualquer coisa.

 

Tentador. Olhei para a porta de sobrancelhas arqueadas e Malfoy revirou os olhos.

 

Respondi:

 

Estou saindo.

Vá para a Ala-hospitalar.

 

Não olhei a porta para saber qual foi sua reação. As borboletas dançando no estômago e a falta de ar estavam voltando. O coração parecendo uma batedeira, tudo isso porque veria ele de novo.

 

Guardei os origâmis na minha bolsa e fui até o professor.

 

— Ah, professor? – chamei.

 

— Sim, Srta. Granger?

 

— Eu… não estou me sentindo… muito bem – fiz careta, colocando toda energia no papel da minha vida. A sala emitiu um "oh" e eu fiz esforço para não revirar os olhos. Eu sou gente também, ok? Eu passo mal. Eu sou um ser humano.

 

— Oh, claro, claro, Srta. Granger – o professor balançou a cabeça – Madame Pomfrey está ausente nessa manhã, aconselho ir para sua Sala Comunal descansar.

 

— Obrigada, professor — murmurei e saí da sala.

 

[...]

 

— Espero que seja muito importante, porque eu ia apresentar um trabalho.

 

Encontrei Malfoy no corredor, encostado na parede. Joguei minha bolsa nele, com a intenção de descontar minha raiva, mas não foi tão forte assim.

 

— Eu não fiz o trabalho, eu esqueci, você acha que eu presto atenção no que aquele fantasma fala? — Malfoy respondeu.

 

— Não acredito! Você me fez sair da sala de aula e inventar uma doença só para te ajudar em um trabalho que você teve semanas para fazer? — bufei — Não faço ideia de como vou conseguir um atestado.

 

— Eu consigo um para você, que seja — ele revirou os olhos.

 

— E que fique claro que eu vou cobrar depois – eu ao entrar na sala de Madame Pomfrey — Isso que dá… sair por aí procurando garotas com neurônios a menos.

 

— É a segunda vez que sou humilhado hoje – ele murmurou atrás de mim.

 

Eu sabia que Madame Pomfley estava ausente naquela manhã porque eu dividia dormitório com Parvati Patil e Lilá Brown, o que significava que eu já abordava sabendo das fofocas do dia.

 

A minúscula sala da Madame Pomfley não tinha nada além da cadeira da Pomfrey. Cadeira onde Malfoy se acomodou sem se importar comigo. Respirei fundo e me sentei na mesa da enfermaria. Malfoy tirou da sua bolsa seus livros e pergaminhos e me olhou, esperando.

 

Eu estava irritadíssima, não era capaz de tocar no assunto sobre o que tinha acontecido noite passada e esperava que ele falasse primeiro. Mas sinto que ele sabia que eu xingaria ele, de qualquer forma.

 

Enquanto falava tudo que sabia sobre a Revolução Bruxa para o trabalho de História da Magia, uma hora percebi que ele só me olhava e parecia nitidamente perdido em pensamentos. Peguei a primeira coisa que vi na mesa da Pomfrey e bati na cabeça grande do Malfoy.

 

— Você nem está prestando atenção — reclamei.

 

— Desculpe... ei! — ele disse. Outro tabefe – Para… Hermione!… Granger… PARA COM ISSO!

 

Malfoy puxou o pergaminho enrolado da minhas mãos com força, o que me fez desequilibrar. Eu caí no chão, levando metade dos papéis da Pomfrey e um vasinho de flor junto.

 

Abri a boca para xinga-lo, porque aquela era a oportunidade que eu tinha de descontar toda minha raiva nele. A raiva que eu estava por ele ter me beijado, a raiva que eu estava por ter correspondido, a raiva que eu estava por causa da minha música... juntou tudo e quando eu ia falar, o Malfoy começou dar risada e isso fez com que eu ficasse ainda mais irritada.

 

— VOCÊ – respirei fundo. Ainda estava jogada no chão, apoiada sobre os braços – NÃO PASSA DE EGOÍSTA QUE ACHA QUE O MUNDO GIRA EM TORNO DE VOCÊ.

 

— Você que com… – ele voltou a rir.

 

— Estou tentando te ajudar! Perdi uma aula por você.

 

— Nossa, que gratificante.

 

— Vai se danar, Malfoy.

 

Malfoy veio até mim, a mão esticada para me ajudar. Ignorei, me levantei sozinha e saí da sala.

 

Foi saindo da sala da Pomfley que eu vi Filch e Norra no corredor. Filch me daria uma detenção, porque, bem, eu deveria estar na Sala Comunal de repouso. Então, contrariada, eu voltei para a Ala-hospitalar e Malfoy estava no mesmo lugar, com um sorriso sínico.

 

Eu bufei e voltei falar sobre o trabalho.

 

Dessa vez, me controlei. No final das contas, eu só queria brigar um pouco e aquilo não me levaria a nada. Só havia um jeito de resolver nossas desavenças: conversando. E eu sabia que nós dois éramos incapazes daquilo.

 

Conversar? Com o Malfoy? Parece uma piada.

 

Apesar de pagar de orgulhoso, Malfoy se empenhou em tentar chamar minha atenção o resto do dia. Origâmis e aviões de papel com cantadas bruxas, e eu sabia que de alguma forma ele estava adorando e achava hilário cada vez que eu recebia uma diferente, porque, bem, ele sabia perfeitamente como me irritar e também porque quanto mais eu o ignorava, mais ele me procurava.

 

Muito engraçado como funcionava a cabeça daquela doninha.

 

Ficar sem você é como estar sob a Maldição Cruciatus.

 

Nós não estamos na aula do Flitwick, mas você me enfeitiça.

 

Não sou a professora Trelawney, mas a gente tem futuro.

 

Sabe, Hagrid não é o único gigante de Hogwarts.

 

McGonagall pegou aquele último na aula de Transfigurações e a Sonserina perdeu 20 pontos por causa da "ousadia do Sr. Malfoy".

 

[...]

 

Depois da última aula, eu fui para a tenda do campo de Quadribol.

 

Quando cheguei lá, uma garota da Corvinal estava cantando alguma coisa que falava sobre anjos, sorrisos e repetia várias vezes "Hey Draco". Duvido que ele prestava atenção.

 

Hey Draco, I could give you fifty reasons
(Hey Draco, eu poderia te dar 50 razões)
Why I should be the one you choose
(de porque você deveria me escolher)
All those other girls, well they're beautiful
(As outras garotas, bem, elas são lindas)
But would they write a song for you?
(Mas elas iriam escrever uma música para você?)

 

Era deprimente como aquelas garotas tinham metade do cérebro funcionando e como competiam descaradamente pela atenção do Malfoy e, pior, como ele parecia adorar aquele show. Eu tinha vontade de dizer “por favor, procure alguma coisa produtiva para fazer.”

 

Mas, bem, a garota bonitinha chamou a atenção do Malfoy. Kim, Pansy e eu nos olhamos boquiabertas quando Malfoy marcou um encontro com ela, bem ali na nossa frente.

 

Eu senti meu sangue arder, mas não daria aquele gosto para o Malfoy e Pansy se manifestou por mim.

 

— Você enlouqueceu? – ela murmurou ameaçadoramente.

 

— Esses dias tem que ter algum resultado, né? Estou cansado de ficar ouvindo músicas, prestando atenção em histórias sem poder… — Malfoy começou falar, mas eu o interrompi, azeda.

 

— Sem poder tirar proveito disso tudo – falei, entediada.

 

— Não é bem assim – Malfoy respondeu se visando para Pansy.

 

O desgraçado nem queria me olhar. Ele sabia que estava encrencado. Fuzilei o olhar no Malfoy, ele estava me deixando ainda mais irritada.

 

Como? Como aquelas coisas aconteciam comigo? Como ele tinha a audácia de me beijar em uma dia e fingir que não existo no outro? Então era aquilo? Eu tinha sido usada por Draco Malfoy e não era nada diferente de uma daquelas garotas que faziam fila para falar com ele. Eu estava ardendo de ódio.

 

— O que está acontecendo entre vocês dois? — Kim perguntou.

 

— Nada – respondemos juntos.

 

— Não parece nada — ela insistiu.

 

— Malfoy é insuportável — bufei, dando de ombros.

 

— E mesmo assim Hermione não consegue ficar longe de mim — Malfoy falou. Revirei os olhos.

 

Eu não faria parte dos joguinhos do Malfoy. Eu me recusava.

 

Eu estava me xingando mentalmente quando peguei minhas coisas e saí da tenda, sem dizer nada e praticamente fui correndo para o anfiteatro. Esperei que Pansy ou Blaise aparecessem, mas acabei ficando sozinha.

 

Então eu acho que é melhor — eu comecei – nós dois esquecermos antes de nos alongarmos nisso...

 

— Ei, quer saber uma fofoca?

 

Vi Pansy se aproximando e aquilo alegrou um pouco meu coração, mas lembrar que tinha que contar para Pansy voltou a me desanimar.

 

Bom, qual seria a reação dela?

 

— Ah... Eu preciso te contar uma coisa... — falei.

 

— Não, eu primeiro – ela se sentou na poltrona, com um sorriso largo — Mas você promete que não vai ficar brava comigo!

 

Queria dizer que se alguma de nós fosse ficar brava ali, essa pessoa certamente seria ela.

 

— Pansy, eu...

 

— Prometa! — ela insistiu.

 

— Ok, eu prometo — revirei os olhos.

 

— Zanini disse que me amava — ela enfim falou e eu levei um tempo para entender.

 

— Uau, eu não esperava por essa. Como isso aconteceu?

 

— Nós nos aproximamos mais nesses últimos dias e eu percebi que é com Zabini que quero ficar... Foi tudo por causa da sua música, Hermione! — ela fala, rindo que nem boba — E eu conversei com Draco e nós dois simplesmente não demos futuro. Nunca tivemos. E eu nunca, em anos que conheço Draco, nunca me senti dessa forma como me sinto com Blaise... Nós sempre fomos muito mais que amigos e eu não acredito que nunca vi ele desse jeito. Eu estou falando besteira? Por que você está me olhando assim?

 

Fico boquiaberta de ver Pamela Parkinson, fria, esnobe e calculista, falando como se estivesse nas nuvens, e rapidamente respondo:

 

— Merlin, você está diferente — eu falo e ela sorri.

 

— Eu sei, eu estou feliz! Eu amo o Draco, mas ele é meu melhor amigo e não vamos ficar juntos, nunca — ela fala.

 

— Fico feliz por você — falei. E eu realmente estava, é como se Pansy fosse outra pessoa.

 

E eu estava vibrando por dentro porque já tinha percebido como os dois agiam perto do outro e era lindo ver que eles enfim tinham descoberto aquele sentimento.

 

— E, bom, espero que você deixe de ser uma cabeça dura e dê uma chance para o Draco — ela falou.

 

— O quê? — franzi o cenho. Pansy revirou os olhos.

 

— Eu sou não cega, Hermione. Vocês dois se gostam — ela completou com um sorriso sínico — Hermione, Draco mudou. Você não é qualquer uma.

 

— Você tem que conversar com ele.

 

— Eu não quero saber dessa doninha! E quer saber? Estou feliz por não precisar terminar a música e se antes eu não ia contar para ele, agora muito menos — me irritei.

 

Pansy gargalhou: — Você está louca? Você vai contar para ele, nosso trago ainda está valendo.

 

— Não está valendo nada, você quebrou nosso trato com Zabini — cruzei os braços.

 

Pansy me olhou, sarcástica.

 

— A música já está quase pronta mesmo… Ei, não me olhe desse jeito! Qual é, Hermione?! Vai ficar fugindo até quando?

 

— Por que só pensam no lado do Draco? Ninguém se importa em como eu estou me sentindo?

 

— Você está exagerando — Pansy diz.

 

— Viu?! É disso que estou falando. Por que ele merece saber? Ele foi um verme egoísta desde que botei os pés em Hogwarts e agora eu preciso fazer algo por ele? — desabafei.

 

Pansy me olha confusa. Sei que estou falando mais do que devia. Sei que vou me entregar, mas tudo bem, é a Pansy...

 

— O que você quer dizer, Granger? — ela cruza os braços.

 

— Quero dizer que ele me beijou! Ontem à noite, na Grifinória. Ele me beijou e eu estou com raiva dele, porque eu beijei ele também... Acho que estou confundindo muito as coisas com essa história da música... E só quero que ele seja acertado por um balaço — eu conto para Pansy, que me olha surpresa.

 

— Espera, é muita informação...

 

— Eu sei, e hoje ele age como se não fosse nada. Como você fala que eu não sou qualquer uma? — me irrito.

 

— Você não é qualquer uma, Granger. Pode apostar que não — ela diz.

 

Eu balanço a cabeça: — Eu estou apenas cansada dessa história.

 

— Hermione, nada vai se resolver se você não tomar uma atitude — Pansy fala, séria.

 

— Eu não preciso tomar nenhuma atitude agora, está na hora do jantar — eu falo pegando minha mochila.

 

Pansy revirou os olhos e passa a mão pelo meu ombro. Começo gostar dessa nova versão de Pansy, que ela não me ofende a cada duas palavras que sai da sua boca.

 

— Vamos, não vamos tomar decisões de estômago vazio — ela diz saindo do anfiteatro.

 

Pansy entendia, eu sabia que entendia. E mesmo que aquela relação tenha surgido por causa do Malfoy, eu estava feliz por ela e por Zabini.

 

No jantar, ela se senta entre Zabini e Malfoy e eu vou até Harry e Rony, sentindo os olhares de julgamento das outras casas.

 

— Grandes amigas — Rony provoca.

 

Abri a boca para falar alguma grosseria, mas Harry não deixou.

 

— Malfoy está apaixonado por você, Pamela Parkinson agora é sua melhor amiga... O que está acontecendo? Estamos vivendo uma realidade paralela? — ele diz, divertido.

 

— Ele não está apaixonado – revirei os olhos, dei uma garfada na minha comida e me corrigi: – Ele está apaixonado, mas não é por mim.

 

— Não, ele está apaixonado pela garota da música – Rony disse de boca cheia – Ah, é mesmo. Ela é você.

 

Harry se virou para a mesa da Sonserina. Rony fez o mesmo e eu espiei os sonserinos pelo ombro de Harry.

 

Malfoy estava rindo de uma coisa que Mark dissera, assim como Pansy, Blaise e Alec. Ele balançava a cabeça e seu olhar acabou cruzando com o meu. Me virei rapidamente para Rony, ignorando aquela vontade de enforcar Malfoy que eu tinha tido frequentemente.

 

— Então tudo que sobrou – Rony disse. – É a prova de que amor não é só cego, mas também surdo.

 

— Vou fingir que nem ouvi isso – falei por fim.

 

— Meio irônico, não acha? – Harry dissera. Fiz

careta – Por que Parkinson e Zabini estão…?

 

— Eles estão namorando – contei observando-os agarrados na mesa.

 

— Já entendeu o que isso significa? – Rony riu.

 

— Já sim, muito obrigada – resmunguei – Por que que parece que ele sabe que sou eu e só está esperando eu falar? Isso é uma tortura. Tenho a sensação de que ele vai rir de mim a qualquer momento. O que é muito injusto, eu sei, pois quem deveria rir depois disso sou eu.

 

— Talvez ele saiba – Harry concluiu — É um pouco óbvio, Hermione, você é péssima com mentiras.

 

— Eu sei – choraminguei – Mas estamos falando do Malfoy. Ele ia adorar rir de mim.

 

— Harry apostou que ele vai rir — Rony contou. Olhei chocada para Harry, que começou gaguejar.

 

— Rony apostou que ele vai te seguir que nem um cachorrinho — Harry contou, se defendendo.

 

— Vocês estão apostando a minha vida?! — discuti — É por isso que estão agindo dessa maneira?

 

— Está sendo muito difícil acompanhar essa história – Rony concluíra se servindo de um pouco de bolo de cenoura. Eu juro que teria feito ele engolir aquele bolo todo de uma vez se eu tivesse ânimo e forças para isso.

 

— Você está irritada porque não sabe como resolver isso — Harry se manifestou, tentando poupar a vida de Rony.

 

— Você virou o quê? Meu analista? — me irritei.

 

— Uau, recebendo conselho amoroso de Harry Potter... eu não gostaria de estar no seu lugar — Rony brincou.

 

— Isso é algum tipo de rebelião? – resmunguei brigando com Harry – Como se não bastasse Ronald com seus comentários sarcásticos, e o Malfoy rindo de mim nos meus piores pesadelos e espalhando por Hogwarts a minha música, agora vem você com essas conclusões estúpidas sobre como eu devo agir.

 

— Você que perguntou – Harry deu de ombros, sem se dar conta do perigo que corria agora. – E já percebeu que a única forma de fazer o Malfoy parar com isso, é contando para ele?

 

— Vocês só querem que eu conte porque fizeram uma aposta!

 

— Isso não é cem por cento verdade! — Rony fala bebendo um pouco de suco.

 

Eu suspirei novamente, vencida pelos argumentos e enfiei na boca um pedaço daquele bolo de cenoura.

 

Gina faz falta às vezes, eu queria dizer, mas sabia que aquilo não era coisa para dizer perto de Harry.

 

Fiquei quieta pelo resto do jantar, como se encerrasse o assunto, mas não conseguia deixar de notar os olhos cinzas de Draco Malfoy em mim a noite inteira.

 

[...]

 

O corredor parecia deserto como noite passada. Tive uma espécie de déjà vu ao passar pelo sétimo andar no final da minha monitoria.

 

Mas como se o universo não tivesse me punido o suficiente, lá estava Draco Malfoy.

 

Respirei fundo antes de seguir pelo corredor e dar de cara com o inimigo, que me olhava sarcástico.

 

Ele estava me esperando. O desgraçado veio só para me ver, mas me surpreendeu um pouco encontrá-lo levemente bêbado no corredor.

 

— E-ei – ele falou abrindo os braços e me envolvendo em um abraço. Não sabia ao certo o que pensar.

 

— Você bebeu? – perguntei de cenho frangido.

 

— Só um pouco – ele respondeu. Revirei os olhos com o rosto afogado em seu peito. — Me acompanha? Só um copo.

 

— Por que está me abraçando? – perguntei emburrada. Aquele cheiro dele era tão bom… estava me deixando hipnotizada e meramente irritada comigo mesma.

 

— Um abraço vale mais do que mil palavras – Malfoy respondeu me apertando um pouco mais.

 

Dei de ombros. O abraço do filho da mãe era tão bom.

 

Então eu acho que é melhor

nós dois esquecermos

antes de nos alongarmos nisso

O jeito que você me abraçou tão apertado

 

E então eu estava bebendo com Draco Malfoy e não estava com vontade de causar uma lesão nele. Nem em ninguém. Pela primeira vez nos últimos dias, eu sentia que os problemas podiam esperar.

 

— Obrigado por me ajudar com o trabalho — Malfoy disse baixinho.

 

— O quê? Desculpa, eu não ouvi... Estou com um problema nesse ouvido — falei, irritando-o.

 

Malfoy riu e suspirou.

 

— Obrigado por me ajudar com o trabalho...

 

— O quê? “Granger, você é sensacional”?

 

— Obrigado por me ajudar com o trabalho. Granger, você é sensacional — ele disse revirando os olhos.

 

— Por nada, Malfoy — respondi, bebendo.

 

Estávamos sentados na janela, com os pés para fora. Muito perigoso por sinal, mas a vista do lago valia a pena.

 

— Granger, você é sensacional — ele disse sem me olhar. Aquilo me fez rir.

 

— Eu sei — falei.

 

— Eu falo sério — Malfoy responde.

 

— Eu sei. Às vezes leva um tempo mesmo para perceber...

 

— Vou me lembrar disso.

 

— Eu gosto daqui... Eu gosto da Torre de Grifinória, gosto da vista — eu disse, mudando de assunto.

 

— Não é a Torre mais alta — Malfoy responde me olhando.

 

— Mas nenhuma é igual a Grifinória. Eu venho bastante aqui.

 

— Eu gosto de ficar nas Masmorras. Com a Lula Gigante batendo nas janelas — ele conta e eu dou risada.

 

— Eu não conseguiria dormir. Como você consegue? É tão tenebroso.

 

— Você acostuma.

 

— Acho que nunca vamos saber.

 

— É só pedir, Granger — ele diz, me provocando.

 

— Você sabe que eu ainda te odeio, não sabe?

 

— Acredite, é bastante divertido ser odiado por você — ele dá risada.

 

Eu olho para e ele olha para mim. Sinto que ele abaixou a guarda e meu coração acelera. Eu lembro da noite passava, da boca dele na minha, dele me apertando contra seu corpo... Por que ele estava fazendo aquilo comigo? Por que ele tinha que vir para a Grifinória logo hoje?

 

Eu não devia ter bebido. Ou aceitado a proposta de Pansy e feito a música.

 

Eu não devia ter perdido a hora naquele 1º de setembro e errado o vagão. Eu não devia ter ido para o clube de teatro.

 

Suspirei encarando o Malfoy ao meu lado. Ele, como sempre, estava lindo. Ele é lindo e parece ser mais ainda sob a luz da Lua que estava cheia e linda.

 

Era o cenário perfeito. Eu o beijaria facilmente ali. Eu me declararia. Contava toda a verdade, fatia promessas... Eu queria dizer tudo o que estava pensando naqueles dias, até mesmo das vezes que pensei em separar a cabeça dele do corpo, mas tudo isso desapareceu e mais uma vez que eu me senti uma covarde por me perder naqueles olhos cinzas e falar:

 

— Por que me beijou? – eu finalmente perguntei. Sem pensar, mas sentindo que tirava um peso das costas.

 

— Porque eu quis – ele deu de ombros. Arqueei as sobrancelhas e Malfoy suspirou: – Tá legal, eu realmente vim atrás de você ontem. Eu queria te ver. E eu sei que eu fui um idiota nesses últimos anos, e que também fui um idiota noite passada, mas… Por que você está me olhando assim?

 

— Nada. Só achei que você tinha nojo do povo oprimido.

 

— Eu queria pedir desculpas, só isso – ele respondeu me olhando. Draco tinha como estar mais bonito naquela noite?

 

— Veio noite passada só para pedir desculpas? — provoquei.

 

Vamos, Malfoy, fale de uma vez por todas.

 

— Não, eu vim para te ver. Estou passando muito tempo do meu dia pensando em você.

 

Eu dou risada, desviando o olhar. Era muito difícil não cair no canto da serpente.

 

— E ajudou? — perguntei, bebendo.

 

— Não. E você? Por que correspondeu?

 

Fiquei quieta, quase contei toda verdade, porque, ali naquele instante, ele não era um narcisista idiota. Ele era só o Draco.

 

— Porque eu quis – respondi bebendo mais da minha cerveja. Enchi nossos copos com o resto de cerveja que tinha na última garrafa. Malfoy parecia insatisfeito com a resposta, mas sabia que não tiraria mais nada de mim. Tive a impressão de que perguntaria em outra ocasião — Desculpas aceitas, mas vai ter que ser melhor que isso.

 

— Vou fazer o possível — ele responde, sarcástico.

 

— Quer dizer, em uma noite você me beija, mas no outro dia marca um encontro com uma garota bem na minha frente... Parece difícil acompanhar, sabe? — fui sincera.

 

— Me desculpa... essa história está me irritando um pouco, já estou cansando. Ela não vai aparecer, ela não quer aparecer... E também foi o que você disse aquele dia.

 

— O que eu disse? — franzi o cenho. Por que eu abro a minha boca?

 

— Se eu der uma chance, vou encontrar alguém legal. Bem de baixo do meu nariz.

 

Eu me lembrava daquilo e me arrependi amargamente daquelas palavras. Então tudo aquilo era por causa de uma coisa que eu disse? O Universo me odeia mesmo.

 

— É realmente um ótimo conselho, devia me ouvir mais vezes — respondi.

 

— E eu sei que você gostou de me beijar e não quero fazer você se apaixonar por mim — Malfoy provocou, o que me fez rir.

 

— Não precisa se preocupar — respondi olhando para ele, hermética naqueles olhos cinzas que me chamaram à noite toda.

 

Que me chamavam todo dia.

 

Malfoy se inclina, cauteloso, como quem pede permissão. Ele afasta meus cachos e me dá um beijo no pescoço, eu fecho os olhos, desejando desesperadamente poder provar aquela boca de novo, de qualquer jeito. Estou quase virando para beijá-lo quando ele sussurra no meu ouvido, me fazendo voltar para a realidade:

 

— Vem comigo... Tem muitos lugares vazios nesse castelo. A gente acaba o que começou.

 

— Eu preciso ir — respondo rapidamente, me levantando antes que fizesse qualquer burrada que não desse para consertar no dia seguinte.

 

— Boa noite, Granger — ele fala sem se virar.

 

— Tchau, Malfoy — respondi me afastando. E eu estava quase chegando no quadro da Mulher Gorda quando recuei.

 

Cause you love love love

(Porque você ama, ama, ama)

When you know I can’t love

(Quando você sabe que eu não posso amar)

You love love love

(Você ama, ama, ama)

When you know I can’t love

(Quando você sabe que eu não posso amar)

You love love love

(Você ama, ama, ama)

When you know I can’t love

(Quando você sabe que eu não posso amar você)

 

Estou louca, eu pensei olhando para o loiro sentado na janela.

 

Estou bêbada, na verdade.

 

— Malfoy – chamei da escada da Grifinória. Ele se virou para me olhar novamente –, eu não te odeio. Não hoje.

 

Ele sorriu e parecia que meu coração ia derreter. Antes que meus pés fossem contra minha vontade, eu corri para o quadro da Mulher Gorda e falei a senha.

 

— Então, você contou? — ela perguntou, curiosa.

 

— Hoje não.

 

Ela revirou os olhos e abriu a porta.

 

A Sala Comunal estava vazia e ninguém me viu chegar. Entrei no dormitório feminino do sexto ano como um ninja e fui direto para o banheiro, tentando entender exatamente o que tinha acontecido. Nada mais parecia ter sentido e eu sentia que tinha perdido complemente o controle das coisas.

 

E que o pior tinha acontecido: eu estava perdidamente apaixonada pelo Malfoy.

 

So I think it’s best

(Então eu acho que é melhor)

We both forget

(Nós dois esquecermos)

Before we dwell on it

(Antes de nos habituarmos a isso)

The way you held me so tight

(O jeito como você me segurou tão apertado)

All through the night

(Durante toda a noite)

Till it was near morning

(Até perto do amanhecer)

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Como dizer adeus em robô" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.