Como dizer adeus em robô escrita por nmsm


Capítulo 4
NQMCPENMA e o beijo de Ripper.




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Quando olho para aquela história, penso que a única explicação era que eu estava sendo testada, sem dúvida alguma. Ou poderia estar até pagando por pecados da vida passada. Sei que se estivesse acontecendo com outra pessoa, eu estaria achando engraçado e, juro, olhando de fora, sei que é uma puta sacanagem do universo, mas se Merlin tem um propósito maior para mim, poderia ter me deixado sem essa.

 

Como, afinal de contas, eu vim parar aqui?

 

Me faço a mesma pergunta quando chego no teatro.

 

Pansy Parkinson estava sentada na primeira fileira e se antes ela me olhava com nojo (ou sequer olhava), hoje faz questão de me lembrar que eu tinha um trato com ela. Reviro os olhos, fazendo ela perceber que eu vi ela e que eu entendi ela.

 

Kim estava na fileira ao lado, batucando o lápis em um monte de pergaminho e falando com o nada. Ela olha para nós duas sem entender e gesticula para que ela me deixasse em paz. Parkinson revira os olhos e eu dou risada. Sei que ela não vai falar nada, de qualquer jeito.

 

E também tinha Robert, da Lufa-Lufa. Ele estava sentado no meio do palco com um monte de pergaminhos e falando com o nada. Ele sorri quando me vê e eu aceno, sentando na primeira poltrona que vejo.

 

— Por que não vai conversar com ele logo de uma vez? – eu ouvi da serpente ao meu lado.

 

— Por que você não vai cuidar da sua vida? — resmunguei, irritada, percebendo que tinha me sentado ao lado da cobra.

 

Malfoy dá de ombros:

 

— Estou retribuindo um favor — responde, completamente sarcástico.

 

— Sonserinos são capazes de fazer isso? — falei.

 

Draco me olha de lado, provocando-me.

 

— Não tem ideia do que um sonserino é capaz.

 

— Prefiro não saber — respondo.

 

— Mas, sério, ele não vai te chamar para sair... Não que você não seja bonita, mas ele não vai — Draco responde, sincero.

 

— Ah, obrigada! — revirei os olhos — Fico feliz em saber que eu sou não-feia.

 

— Eu não disse isso, não ponha palavras na minha boca... Coloque outras coisas — ele disse, me olhando pervertido.

 

Joguei nele a primeira coisa que tive ao meu alcance e Draco pegou no ar, sem grandes esforços.

 

— Você é muito canalha! E eu não pedi sua ajuda, não sei em que momento pareceu que eu te dei alguma intimidade — falei. Olhei para Robert e para minha sorte ele não olhava para mim.

 

— Ah, qual é?! Você está babando no cara – Malfoy responde sem me olhar – Só ele não percebe isso.

 

Por que só as pessoas que eu quero dizer alguma coisa nunca percebem que eu quero dizer algo a elas?

 

Isso é meio complicado, né? Minha vida está meio complicada ultimamente. É como se mais nada me surpreendesse.

 

E desde que fiz um trato com Pansy Parkinson, as coisas só vieram a piorar. Todo dia, Parkinson deixava escapar algum tipo de indireta. É como se ela andasse pelos corredores com uma enorme, brilhante e chamativa flecha apontando para mim.

 

— E como vai a sua busca? – alfinetei Malfoy. Seria cômico se não fosse tráfico – Já procurou ela na coxia? Ou no achados e perdidos no teatro? Isso é estranho, porque ainda nem estamos fazendo O Fantasma da Ópera.

 

Malfoy me olhou sarcástico, mas eu sabia que ele estava se divertindo. É como se minha vontade de matá-lo chegasse em todos naquele castelo, menos nele. Para mim, era cômico e trágico.

 

— Você não é desse mundo – concluiu.

 

Por um milissegundo eu queria me sentar ao lado dele, acabar com aquela distância, agarrá-lo pelos ombros e sacudi-lo, gritando "SAÍ DESSA". Mas é incrível a facilidade que tenho de implantar uma muralha entre nós e não dizer nada.

 

Mas, oh, vida, como dizer? Como olhar para o ser asqueroso e loiro que mais odeio na face da terra e dizer que aquela música é minha?

 

— Como é estar apaixonada e ser uma grande covarde? — ele pergunta, o que me irrita por um breve momento. Primeiro, apaixonada? Como ele ousa? Segunda, uma grande covarde? Desde quando Draco Malfoy virou o símbolo da valentia, dos que fazem tudo por uma bela história de amor?

 

Tive vontade. Tive vontade de falar grandes verdades, mas me contive e dei risada.

 

— Por que acha que estou apaxonada? — falei, e Draco deu de ombros, me olhado como se fosse óbvio...

 

—  Qual é...

 

— Eu nunca me apaixono.

 

Malfoy me olhou.

 

— Não, é? – perguntou, com um sorrido ridículo.

 

— Não.

 

— E o que acontece se você se apaixonar?

 

— Eu não vou me apaixonar, eu não me apaixono por ninguém.

 

— Não consigo acreditar.

 

— Isso porque você é um grande canalha e o maior motivo de muitos choros no banheiro feminino — revirei os olhos — Isso porque não tem um pingo de respeito pelas garotas desse castelo... Isso porque acha que qualquer pessoa se apaixonaria por você, sem nem você fazer esforço... Isso porque é um grande idiota.

 

Ele me olha, sarcástico. Sabe que estou certa e sabe que é um grande egoísta. Sabe que o único motivo para estar procurando uma garota que ele nem conhece é somente pelo seu ego.

 

— Garotas se apaixonam por mim. O que posso fazer? — ele dá de ombros.

 

Balancei a cabeça.

 

— Elas não se apaixonam por você. Elas só querem diversão. Você acredita nisso? Amor? Acredita quando elas dizem que te amam?

 

— Ah, qual é, Granger?! É amor, não é Papai Noel.

 

— Bom, tá legal, é o que é que eu não estou vendo?

 

— Vai saber quando sentir.

 

Fiquei em silêncio, encarando Malfoy e evitando olhar para o palco e não trocar olhares com Parkinson.

 

Amor, amor, amor. Sinceramente, para que que serve? Simplismente para tirar nosso foco de coisas que realmente importam e, aadivinha, nunca nunca nunca termina bem.

 

— E você? Já se apaixonou? – resolvi perguntar.

 

— Não.

 

— Não? – cruzei os braços.

 

— Eu nunca me apaixono.

 

— E o que acontece se você se apaixonar? – eu zombei.

 

— Granger, diz o nome de uma aluna dessa escola que saiu comigo e não terminou… Como foi que você disse mesmo? "Chorando no banheiro"?

 

— Isso é tão cruel – falei – Você parte o coração dessas meninas ingênuas e indefesas em dois. É isso que te faz acreditar no amor?

 

— Essas garotas só querem atenção. Ou como você disse, só querem diversão... e eu também, mas quando elas veem que precisam de outras coisas para alimentar a fantasia... elas querem algo sério e eu não preciso disso — ele, no fundo, parecia sincero. — Mas eu sei que ela está por aí... e eu vou achá-la...

 

E eu bem que entendia. Entendia o que era querer uma coisa e se relacionar com uma pessoa que queria outra, entendia tomar todo cuidado possível para saber quando era a hora de parar

 

Mas, francamente, Malfoy era um grande canalha. Egoísta, mesquinho e idiota. Por que tinha que achar que todo mundo caia de amores por ele?

 

— Talvez se você olhar com cuidado, vai ver que não é assim... Vai ver que pode ter uma pessoa legal bem de baixo do seu nariz, se você der uma chance — eu respondi.

 

— Te falo o mesmo, Granger — ele respondeu, sério. Sinceramente, o que queria dizer? Não quis me dar ao trabalho de continuar com aquela conversa.

 

Antes que  pudesse responder, Sutcliffe chegou no anfiteatro. Continuei olhando para o Malfoy enquanto Sutcliffe pedia desculpas pelo atraso.

 

— Fiquei sem café – ele explicou erguendo a caneca escrito "Ringo" – Sabem como é...

 

Robert, Parkinson, Kim e Malfoy assentiram, concordando. Desconfiei que Sutcliffe fizesse aquele tipo de coisa com frequência e assenti junto.

 

— Ok, vamos lá – e Sutcliffe subiu no palco, começando oficialmente a reunião do comitê.

 

Depois dos falatórios de Sutcliffe, descobri que estávamos ali porque decidiu que faríamos Cidade dos Anjos. Uma história trágica de amor famosa no Mundo Mágico de uma princesa demônio e herdeira do trono que abandona tudo para fugir com um anjo, rivais por natureza.

 

— Pamela Parkinson, você dará vida a nossa heroína Arabella. Vai ser muito demoníaco, você é perfeita para o papel — Sutcliffe anunciou, entregando o roteiro para Pansy, que apenas revirou os olhos, mas agradeceu. Sutcliffe então completou: — E, como par romântico da Srta. Parkinson, o anjo... Cadê o Alec?

 

— Alec recusou o papel do Étienne – Robert disse hesitante. Étienne, o par romântico-angelical da Arabella.

 

— Por quê? – Sutcliffe voltou a perguntar.

 

— Não sabemos – Parkinson respondeu. Mas pelo jeito que ela olhou para Kim, me fez ter quase certeza de que ela sabia de alguma coisa.

 

— Alguma outra indicação, Kimberly? – Sutcliffe perguntou para Kim.

 

— Malfoy — ela respondeu sem hesitar.

 

— Ah, sei que eu daria um ótimo Étienne, mas prefiro ficar como Ripper – Malfoy disse mostrando o roteiro. Ripper era um demônio, assim como Arabella. Praticamente um vilão. Descrê no amor e faz de tudo para resgatar o lado racional de Arabella.

 

O final é quase que óbvio: Arabella abandona tudo, a cidade, o trono, seu povo e sua família para viver feliz com Étienne. Tragicamente, os dois morrem porque são de mundos completamente opostos e é incendiário uma relação dessa acontecer.

 

Não sei ao certo como adoram essa história. Sinceramente, que lição podemos tirar disso tudo?

 

— Tudo bem, depois decidimos isso – Sutcliffe disse. – Ainda tem a seleção dos alunos que não fazem parte do clube de teatro. Deve ter alguém que vai querer fazer um dos protagonistas… Ah, eu tinha algum recado para passar… – ele fez careta tentando se lembrar e então apontou para Malfoy – Oh, como pude esquecer?! Draco!, você não vai participar de qualquer ensaio que envolve uma cena de musical. Dispensados! Nos vemos amanhã na aula.

 

Parkinson riu, Kim sorriu marota e bateu sua pilha de pergaminhos no peito do Malfoy, brincando, enquanto Malfoy protestava.

 

Não que fizesse diferença se Malfoy encontrasse a sua Garota da Música, mas era realmente confortante vê-lo irritado.

 

— Sutcliffe, Sutcliffe – Malfoy disse indo pro palco – Preciso ver esses ensaios.

 

Sutcliffe se virou para Malfoy como se também prendesse o riso: – Draco, fiquei sabendo dessa sua perseguição por uma certa garota…

 

E aí Sutcliffe olhou pra mim, como Parkinson fazia toda vez que cruzava comigo no corredor. Imaginei a flecha grande, brilhante e chamativa acima da minha cabeça e fechei os olhos lentamente.

 

—… e te conheço o suficiente para saber que você se aproveitaria da situação para encontrá-la – Sutcliffe desceu do palco com Malfoy atrás – Apesar de achar que não é necessário, uma vez que só é preciso você parar de reparar na volta que seu umbigo faz e começar a prestar atenção no que está um palmo a sua frente. O último a sair, apaga as luzes.

 

E outro olhar antes de passar por mim.

 

Suspirei. Ok, até Sutcliffe percebeu. Parkinson percebeu! Por que Malfoy simplesmente não descobre por conta própria? Eu não quero fazer continuação da música.

 

— Mas o quê… – ouvi Malfoy atrás de mim. Ele parecia meio irritado – O que ele quis dizer com isso?

 

— Nada, vamos logo – respondi.

 

Dei de ombros, pegando minhas coisas, e caminhando pelo longo corredor do anfiteatro. Parkinson já tinha saído com Kim e Robert, deixando só eu lá para enfrentar a fera. O longo corredor do anfiteatro parecia o caminho para o inferno agora.

 

— Espere aí, srta. Ninguém Quebra Meu Coração Porque Eu Nunca Me Apaixono...

 

— É um nome muito comprido – observei ironicamente – Vamos abreviar.

 

— O que acontece... – ele disse ignorando meu comentário.

 

— NQMCPENMA...

 

—... se a pessoa destinada para você nunca aparecer, ou ela aparece e você está distraído demais para notar?

 

Senti meu rosto corar no escuro. NQMCPENMA queria sair correndo, mas não sentia as próprias pernas, e estava escuro demais, ela poderia esbarrar em algum degrau e cair.

 

— Você aprende a prestar atenção – respondi não muito segura da resposta.

 

— Tá, mas e se o caso for dela não aparecer? O que eu faço?

 

— Arranja outro destino – eu disse isso mesmo?

 

Ele não estava sério, como se realmente se importasse com essa coisa de destino e nunca encontrar a pessoa amada, mas de repente Malfoy estava confuso. Parecia não saber o que queria.

 

Talvez aquela seria a hora perfeita para dizer a verdade. O anfiteatro estava escuro e a última luz da última fileira já se apagara. Sobrara agora as luzes do palco e as luzes da saída de emergência.

 

— Olha, Malfoy, preciso te dizer uma coisa – passei a mão na testa, cogitando aquela ideia de sair correndo.

 

— Não é como chegar no Três Vassouras e dizer "mais um destino, por favor" – ele me interrompera. – "Pra viagem".

 

— Não, não é – passei a mão na testa novamente – Presta atenção, Malfoy. Preciso te falar uma coisa.

 

— O quê? – e ele parou novamente. Parou na soleira da porta da saída de emergência. O interruptor estava atrás de mim e Malfoy se esticou para desligá-lo.

 

O anfiteatro ficou escuro.

 

Acendi a luz de emergência novamente, um pouco ansiosa.

 

Abri a boca e quase disse algo. Quase. Tudo poderia ter sido diferente se eu tivesse dito alguma coisa naquela hora. Mas não disse. Só fiquei olhando. Paralisada. Mordi o lábio inferior; queria estar qualquer outro lugar, menos ali.

 

— Ah – enfim, consegui falar – Acho que você deveria falar com o Alec. Para pegar o papel do Étienne.

 

Malfoy arqueou as sobrancelhas. Me virei para desligar o interruptor, fracassada.

 

— É, também acho – ele disse saindo do anfiteatro – Tem certeza que era só isso que queria me falar?

 

Antes que eu pudesse responder, Parkinson apareceu no corredor e foi até nós. Ela teve que inventar qualquer desculpa para Malfoy ir sozinho para o Sala Comunal da Sonserina e deixar eu e ela sem fazer perguntas. Talvez porque Malfoy é meio lerdo às vezes ou talvez porque todos fazem o que Pansy quer.

 

Ou talvez os dois.

 

Pansy me arrastou de volta para o teatro, ela se jogou em uma das poltronas da primeira fileira e ficou tagarelando sobre as novidades que rodeiam Hogwarts enquanto eu tentava terminar a música. Isso quando ela não fazia luzes com a sua varinha ou lixava a unha.

 

Ela me incluía no seu monólogo, como se quisesse mesmo saber minha resposta, e ficava brava quando eu não dava atenção. Então passei responder tudo "sim" ou "não" automaticamente.

 

— Foi para o Weasley?

 

— Não.

 

— Potter?

 

— Não.

 

— Longbottom?

 

— Não.

 

— Porra, Granger, deve ter alguém – Parkinson insistiu.

 

— Mas não tem. Desiste, Parkinson.

 

— Não, sério, você fez essa música para alguém.

 

— Esquece isso.

 

— Tudo bem – disse e sorriu daquele jeito sonserino – Mas, fique sabendo, Hermione, que eu sou da Sonserina, e sonserinos não desistam assim tão fácil.

 

Aquilo estava mais para maldição do que para aviso, mas mesmo sentindo a alfinetada – e um pouco de pânico –, revirei os olhos e voltei para a música.

 

Não acredito em destino. Ou em carma.

 

Bem, eu achava que não até aquela noite.

 

Que o universo conspirava contra mim eu já suspeitava e já tive noção de que as coisas piorariam a partir dali e que eu deveria parar de achar que carma era o fardo da vida. Mas só foi no momento em que vi Blasio Zabini entrando no anfiteatro, com um sorriso triunfante, como se ele tivesse descoberto a cura do câncer, que não pude deixar de pensar que o universo conspirava contra mim e que meu carma era o maior fardo de todos.

 

Foi mais ou menos dessa forma que Zabini descobriu que a garota que estavámos todo esse tempo procurando, o novo amor do Malfoy, era eu.

 

E nem tinha para onde correr.

 

Eu já tinha começado a melodia e já estava cantarolando uma parte quando percebi que ele estava ali e Pansy nem se dera ao trabalho de tirar a atenção das suas unhas e me avisar.

 

— O que está fazendo aqui? – nós duas perguntamos juntas. Rapidamente saí do piano e desci do palco. Zabini, ainda com seu sorriso de quem ganhara na Mega-Sena Bruxa, se sentou numa das poltronas, me fitando, como se somasse um mais um.

 

— Espera, espera aí – ele disse AINDA SORRINDO – É você.

 

Levei as mãos ao rosto. Merlin, Merlin, Merlin.

 

— Blaise, não… – Parkinson começou ao meu lado.

 

— É você – Zabini apontou pra mim — A música é sua. É você que o Malfoy quer.

 

É incrível como passaram a dizer isso frequentemente pra mim. Parkinson, Ron e Harry não me deixaram esquecer ainda. Mas, sinceramente, querer era uma palavra muito forte.

 

Pansy olhou pra mim, sem saber o que fazer. Me sentei no palco, dando de ombros, apoiando o rosto nas mãos novamente. Inventar uma história não seria má ideia, mas Zabini já tinha sacado tudo.

 

— Não acredito – ele riu. – Faz todo sentido.

 

— Como assim? – tirei as mãos do rosto.

 

— Ah, puxa, é super normal mesmo Hermione Granger ajudar Draco Malfoy com seus casos de amor – não gostei nenhum pouco do ênfase que foi usado no ajudar.

 

— Você não vai contar, né? – Parkinson finalmente perguntou.

 

— Me deem um bom motivo.

 

Zabini olhou para ela de sobrancelhas arqueadas e se virou pra mim, divertido. Pansy suspirou, impaciente. Os dois trocaram um olhar que me deixou curiosa, um daqueles olhares carregados de muita coisa que quem estava por fora não tinha ideia do que estava acontecendo. Aqueles olhares dos filmes e dos livros românicos... aqueles olhares de um amor não correspondido quase doloroso.

 

E aí eu entendi a cena toda.

 

Zabini gostava da Parkinson.

 

Ele amava ela. E talvez Parkinson sentisse o mesmo. Só não sabia ainda.

 

Eu senti uma necessidade absurdo de balançar ela pelos ombros gritando "você não está vendo o que eu estou vendo?", mas estava muito longe de querer me envolver naquela história. Amor, amor, amor. Não serve para absolutamente nada.

 

Pigarrei, tentando chamar atenção e me livrar de ideias bobas, mas o jeito que Zabini olhava pra Parkinson me fazia retomar todas.

 

Eu podia fazer aquilo? Junta-los?

 

Não, não, não podia. Que ideia! Parkinson quer voltar com o Malfoy e eu estou terminando a música porque… Nunca vou saber porque estou ajudando Pansy.

 

— Quer motivo melhor que o fato de que "ela" – fiz aspas – sou eu?!

 

— É, Draco vai surtar – Zabini voltou a sorrir daquele jeito, mostrando todos os dentes. Fiquei com vontade de arrancar um por um.

 

— Foi o que eu disse – Parkinson falou. ESSES DOIS SE MERECEM.

 

— Ele não tem direito nenhum de surtar – cruzei os braços – A música é minha e a única pessoa que pode surtar sou eu. Principalmente porque ele divulgou a minha música.

 

— E se você está tão irritadinha, por que está fazendo a continuação? – Zabini perguntou. Parkinson, atrás dele, fez careta.

 

— Isso não é da sua conta – respondi.

 

— Claro que não é – ele se inclinou, apoiando os cotovelos no joelho – Mas isso vai ser interessante.

 

Bom, foi mais ou menos dessa forma que Zabini se acomodou em uma das poltronas do anfiteatro e começou a fazer a mesma função que Parkinson fazia até lá: nada demais, só me perturbar.

 

Depois de uns xingamentos, gritos e feitiços de ataque, Zabini prometeu que não contaria nada para Malfoy. Mas o sorriso dele se alargou um pouco mais quando disse que queria fazer parte desse "procedimento". Apesar de não saber os motivos que levavam Parkinson a participar dessa cumplicidade, ele passou a me mandar origâmis durante as refeições e algumas aulas fazendo piada da situação.

 

É claro que no começo eu estava irritada com o Universo é só queria preservar a profissão dos meus pais e arrancar todos os dentes brancos dele, mas acabei me acostumando com seu humor sonserino e respondia de volta.

 

Era por isso que na noite seguinte e em plena quinta-feira a noite, estávamos os três de volta à cena do crime: o anfiteatro.

 

Parkinson, como sempre, se acomodou em uma poltrona com sua lixa de unha, e Zabini, como de costume, se empoleirou em uma fileira diferente da dela e só abria a boca para fazer seus comentários sarcásticos. Já eu estava em cima do palco, no piano, tentando ver se a letra que tinha composto fazia sentido com a música.

 

— Está difícil aí, Granger? – Zabini chamou quando parei de tocar. Sim, sim, está difícil. Está muito difícil! Quero matar o Malfoy por ter aprontado essa comigo.

 

— Está – choraminguei.

 

— Ok, pausa para o lanche – Parkinson anunciou se sentando. Ela tirou da sua bolsa um pacote de biscoitos e ofereceu para nós dois. Recusei e Zabini aceitou. – Você precisa relaxar. Senta aí, vamos conversar.

 

— Não, valeu, dispenso – falei.

 

— Foi para o Thomas? – ela perguntou.

 

— Ah, pode parar – reclamei.

 

— O quê? – Zabini perguntou.

 

— Ela acha que fiz a música para alguém — respondi — Não fiz – voltei a dizer.

 

— Oh, sei, é óbvio que fez – Zabini enfiou um biscoito na boca antes de continuar. – Vai lá, Granger, nós não vamos contar pra ninguém...

 

— Por que é óbvio? — perguntei, de cenho franzido. Eu me achava tão reservada.

 

— Porque você quer terminar o que começou — Pansy respondeu.

 

— Porque estou sendo ameaçada — falei, sincera, olhando para Pamela. Ela riu.

 

— Você poderia simplismente ter dito não — Pansy deu de ombros.

 

— Eu tentei.

 

—  Ah, para! Você está aqui por conta própria... Foi para aguém de outra Casa? – Parkinson perguntou, voltando para o assunto.

 

— Algum lufano? – Blasio continuou.

 

— Corvino? —  ela disse.

 

— Ou alguém da Sonserina? — Blaise enfim perguntou, sorrindo sarcástico.

 

Isso fez com que Parkinson se remexesse na poltrona, visivelmente curiosa e animada. Ah, em que eu fui me meter?

 

Me inclinei para pegar um biscoito quando Blasio me cutucou.

 

— Conta aí – ele disse – Sem problema nenhum. Um amor proibido de uma grifinória e um sonserino é algo que devo contar para os meus filhos.

 

— "Era uma vez uma grifinória que se apaixonou por um sonserino e…"

 

— Que isso?! Podem parar – interrompi Parkinson. Ela riu e enfiou mais um biscoito na boca.

 

— Isso é realmente interessante... todo esse ar de mistério – Blasio disse – Não precisa se envergonhar, Hermione, sonserinos até que são gente boa.

 

— Não comigo.

 

— Então foi para um?

 

— Pansy!

 

— Ah, Hermione, não seja chata – Zabini chamou.

 

— Não sei do que vocês estão falando – respondi prendendo o riso.

 

— Não é para qualquer um... se apaixonar por alguém da Sonseria — Pansy falou.

 

— É, por que acha que Draco não namora ninguém?

 

— Porque ele é um canalha — eu respondi. Zabini riu.

 

—  Você tem muito que aprender.

 

— Porque se apaixonar por um sonserino é pedir para sofrer — Pansy respondeu.

 

— Essa é graça – Zabini disse – E quando você se dá conta, BUM, você está encrencado. Tarde demais, baby.

 

— Então por que vocês continuam fazendo isso? Por que continuam repetindo esses erros? — perguntei.

 

— É a nossa maldição — Pansy deu de ombros.

 

Zabini iria falar alguma coisa, mas em logo o interrompi.

 

— Shhhh – murmurei. Ele fez careta – Quietos, preciso me concentrar.

 

And these fingertips

(E esses dedos)

Will never run through your skin

(nunca irão correr pela sua pele)

And those bright blue eyes

(E esses olhos azuis brilhantes)

Can only meet mine

(só podem encontrar os meus)

Across a room filled with people

(em uma sala cheia de pessoas)

That are less important than you

(que são menos importantes do que você)

 

Parei de tocar quando percebi que ao meu lado estavam duas pessoas que antes não estavam

 

Alec e Kim.

 

Alec tinha o mesmo sorriso que Blaise quando descobriu, o que não era grande surpresa pra mim, mas eu senti uma vontade desesperada de chorar ao me dar conta que mais um amigo do Malfoy ficou sabendo dessa história toda.

 

Já Kim… bem, a expressão de Kim era meio indecifrável. Ela sorria, mas parecia curiosa. Acho que estava tentando ligar os pontos.

 

Os dois vinham andando pelo longo corredor, ambos correram para um abraço desajeitado.

 

— É você! É você! É você! É você! – Kim parou e me segurou longe de si – É VOCÊ!

 

— É a Granger – Alec dizia pra si – É a Granger! Vocês sabiam disso?

 

— É VOCÊ! – Kim voltou a dizer.

 

— Draco vai surtar – Alec disse balançando a cabeça. Zabini e Parkinson sorriram cúmplices. – BEM QUE EU DESCONFIAVA!

 

— Não desconfiava – falei.

 

— Verdade, não desconfiava – ele admitiu passando as mãos pelos cabelos loiros – Mas agora vendo as coisas desses ângulo… está tudo tão óbvio. É claro que é você.

 

— E aí? Quando vai contar? – Kim perguntou.

 

Alec me chacoalhou pelos ombros.

 

— Draco precisa saber – ele disse a cada chacoalhada. Balancei ele pelos ombros também.

 

— Ele não vai saber tão cedo.

 

— Grifinórias malditas sempre se achando superiores – ele disse. Revirei os olhos.

 

— Eu vou contar – respondi. Vi Parkinson e Kim sorrirem – Um dia… talvez.

 

Aquilo fez os quatro revirarem os olhos. Também depois de gritos, xingamentos e feitiços de ataque, Kim e Alec disseram que não contariam nada, assim como Blaise.

 

Quado estavámos indo embora, Pansy me puxou pelo braço e falou para im, baixinho.

 

—  Nós precisamos conversar, mas não agora... E obrigada pelo que você está fazendo — ela disse, quase hesitante. Sinceramente, um "obrigada" e palavras gentis saindo de Pansy Parkinson eram novas para mim.

 

Eu não me deixou responder e foi embora.

 

Zabini, Parkinson e Alec foram para as masmorras, Kim – depois de me abraçar e dizer "É VOCÊ" – foi pra Corvinal e eu fui para a Grifinória.

 

Quer dizer, se eu soubesse que iria encontrar ele no sétimo andar, teria dado meia volta, ou demorado um pouco mais no anfiteatro, mas não! Merlin quer me ver sofrer.

 

E lá estava ele. Draco Malfoy, no corredor do sétimo andar.

 

— Granger.

 

— Malfoy.

 

— O que faz fora da cama uma hora dessas?

 

— E eu te devo satisfações? — respondi, mal humorada. Ele não precisou dizer nada, só me ohou para me lembrar que sim, eu devia satisfações, afinal ele era monitor e estava fazendo seu trabalho.

 

Descobri que não tinha uma boa desculpa. Biblioteca? Não, não iria convencer. Cozinha? Bom… até convence. Ou era melhor eu falar logo de uma vez que…

 

— Estava no anfiteatro – respondi dando de ombros – Terminando a sua música maravilha. Fiz um trato com a Pansy. Sabe como é, termino a música e conto para você que sou eu a – revirei os olhos – deusa que está você procurando.

 

Vi ele prender a respiração por um instante e seus olhos brilharem, mas se recompôs.

 

— Essa foi boa, Granger – Malfoy disse – Quase me convenceu.

 

— É, inacreditável – murmurei. Viu só? Conciliando entre o sarcasmo e a ironia. Conciliando entre a vontade de berrar e socar Malfoy.

 

— Não, é sério, onde estava?

 

— Não sei se isso é da sua conta – respondi. Malfoy revirou os olhos.

 

— Sou monitor e você está fora da cama depois do toque de recolher – ele disse. Nossa!, que tapa na cara. – Sabe muito bem que posso te colocar em detenção.

 

— E eu sou monitora da Grifinória, caso não saiba – falei – Também tenho direito de perambular por Hogwarts no meio da noite.

 

— Esse argumento convenceria se fosse sua noite de monitoria, mas, olha só – ele sorriu irônico – não é.

 

— Qual a importância disso? Finge que eu não me viu e me deixa ir para a Grifinória.

 

— Falando desse jeito nem parece Hermione Granger – ele se encostou na parede, de braços cruzados.

 

— E você com esse jeito todo certinho nem parece Draco Malfoy – rebati cruzando os braços também. Malfoy riu – Ou você está esquecendo das várias vezes que te livrei de detenções quando fazia minhas monitorias? Sabe que se agarrar com calouras nos corredores é contra as regras…

 

— Oh, então isso? – ele riu olhando para a grande janela ao nosso lado – Diz longo onde estava, Granger, senão vou pensar que andou se agarrando pelos corredores.

 

— Até parece – dei uma risada forçada – Eu não estava me agarrando por aí, Malfoy.

 

— Não vai dizer? – ele perguntou de novo.

 

— Eu já disse – insisti – Estava no anfiteatro.

 

— Que diabos estava fazendo lá?

 

— Ei, ei, mil desculpas por ocupar o trono da sua Cleópatra, mas o anfiteatro também é uma sala de aula livre para todos os públicos e eu não preciso da sua autorização para ir lá. Ou para qualquer outro lugar desse castelo, sua cobra.

 

Ele ficou me encarando, sem dizer nada, e depois olhou para a janela e se voltou pra mim com um sorriso de lado pregado na cara. Eu pensei: fudeu. Porque por um instante ou eu tinha adquirido um tipo precoce de arritmia ou meu coração começou bater forte por causa daquela cobra.

 

— Você parece que está com ciúmes.

 

— Você parece que veio atrás de mim — rebati.

 

— Então está com ciúmes?

 

— Não me provoca, Malfoy, por que está aqui?

 

— Eu vim, Granger, porque eu preciso saber uma coisa.

 

Eu não disse nada e nem deu tempo. O meu coração estava completamente acelerado quando Draco, sem receio nenhum, sem vergonha na cara, passou a mão pela minha cintura e me deu um beijo. E eu juro que aquilo era o que eu mais estava torcendo para ele fazer, ali mesmo, no meio do corredor.

 

E como ele ousa? Como? Como ele ousa passar por cima da minha autoridade dessa forma? Me deixando completamente sem ar... E, só por um momento, ele não era o Malfoy e eu a Granger... Ele não era Sonserina e eu não era Grifinória. Que raiva! Que vontade absurda que eu estava daquela boca...

 

Tentei passar um filme na minha cabeça de todas as vezes que odiei Malfoy, mas por um momento – e eu desejo que esse momento jamais se repita –, nada mais importava. Um asteroide poderia ter atingido o planeta e destruir todas as chances de vida que eu não iria me importar.

 

Para ser sincera, foi lindo. Foi perfeito, eu poderia congelar aquele momento e tirar um foto para colocar em um quadro na cabeceira da minha cama… Mas foi como um tapa na cara, porque não tinha ninguém melhor no mundo mágico para transformar minha vida em um pesadelo e eu juro que se eu estivesse com a minha varinha ali, não ia sobrar uma alma viva naquele castelo.

 

E a pior parte, diante de todos os pensamentos assassinos e medonhos que tive, foi que em nenhum momento eu pensei em parar, eu só queria continuar beijando ele, me perguntando por que tínhamos demorado tanto tempo.

 

O Ripper beijou a NQMCPENMA. Aquilo não era nada bom.

 

 


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