Love Songs escrita por ohhoney


Capítulo 4
怖いよ


Notas iniciais do capítulo

Título: Eu tô com medo.

Esse capítulo se passa algum tempo depois do capítulo anterior. Daichi está na faculdade em Tokyo.



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(8:23) Hm, Suga, queria falar cntg. Me manda mensagem pf.

(12:02) Preciso falar cntg. Me liga pf. Sério.

(16:54) Sei que o jeito que a gente se despediu não foi o melhor do mundo. Desculpa. Só queria falar com você.

(02:36) Estou com saudades.

(05:47) Preciso te ver.

(06:10) Me responde pf.

(12:57) Eu sinto tanto a sua falta. Me atende Suga pf.

(14:09) Quero te encontrar pra gente se resolver. Não ligo de você estar em Kyoto e eu em Tokyo. Não quero continuar assim.

(18:00) Responde.

(01:34) Eu quero ficar com você. Desse jeito. Não me importo, eu quero você comigo. Suga, eu preciso de você.

(04:44) Vamos nos encontrar em Karasuno? Vou estar na quadra de vôlei.

(21:19) Você não apareceu.

(21:20) Eu to tentando ajeitar as coisas. Se você não quer, me fala.

(21:30) Eu to com saudades e quero te ver.

(04:35) É melhor eu esquecer tudo de uma vez.

(21:48) Por que você me beijou?

.

.

Coloco um beijo na boca dela e levanto.

–Nãããaoo.... Volta. - ela pega na minha mão e me segura no lugar.

–Não posso, tenho um papel pra amanhã e ainda nem comecei. - sorrio e ela solta a minha mão. Coloco a cueca e uma calça de moletom.

–Falando em papel... - ela rola na cama e geme contra o travesseiro - Tenho três enormes pra semana que vem e eu já quero morrer.

–Não é melhor você começar? - amarro os cordões da calça e me espreguiço um pouco.

–Ugh. Tem razão. - Minn senta na cama, estica os braços para cima, e pula para fora. Ela coloca a calcinha e o sutiã.

Damn, ela é tão bonita e legal.

Calma, Daichi. Controla essa sua crush ridícula.

–Posso voltar depois? - ela pergunta e sorri e, nossa, ela é mesmo muito legal.

–Claro que pode. - arrumo um pouco da bagunça na minha mesa e jogo uns papéis velhos no lixo. - Meu roommate tá viajando mesmo.

–Beleza.

Ela termina de colocar as roupas e arruma o cabelo rapidinho no espelho. Vou até o frigobar e encho um copo com água gelada. Ouço três batidas na porta e suspiro.

–Que horas são? - Minn pergunta olhando ao redor - Nem são 10 horas. O monitor não pode me expulsar ainda!

–Eu sei, eu sei...

Abro a porta.

.

.

O barulho do copo caindo no chão faz com que Minn olhe na direção da porta a tempo de ver as costas largas de Daichi e uma outra pessoa parada na frente dele.

O vidro quebrado corta o pé de Daichi, mas ele nem percebe. A simples visão de Sugawara Koushi na sua porta é o suficiente para fazer seus pulmões pararem de puxar ar. Sua boca abre e seus olhos se arregalam. O outro garoto continua com a mesma cara séria, porém miseravelmente triste.

Suga.

–Quem é?

Minn pulula até a porta e apoia-se no ombro de Daichi, espiando o rosto do desconhecido. Ele tinha o cabelo claro batendo nos ombros e uma expressão bem perturbada. Ela espia o rosto de Daichi e vê que ele não parece muito melhor. Os dois se encaram fervorosamente.

–Hm, ok. Hora de ir embora. A gente se vê depois. Tchau.

Minn dá um beijo na têmpora de Daichi, esquiva-se dos dois garotos, e segue corredor abaixo.

Daichi puxa o ar pela boca e sente seu interior queimando. Suga está bem na sua frente. Ele está bem ali. Está diferente - parece bem mais maduro, o rosto mais marcado e duro, o cabelo comprido. O olhar dele não parece aquele do Ensino Médio.

O impulso faz Daichi jogar-se para frente e apertar Suga nos seus braços e contra seu peito, enfiando o rosto na curva do pescoço dele. O cheiro ainda é o mesmo, pelo menos.

A respiração de Daichi está totalmente descompassada e cortada, como se tivesse corrido uma maratona. Suas mãos tremem de leve, e ele sente como se tivesse sido esfaqueado pelo torso - dói demais.

Depois de um tempo, Sugawara ergue os braços e aperta Daichi também. Ele cheira a suor e sexo, e talvez perfume floral. Suga sente-se enjoado e aperta Daichi ainda mais forte. O fundo de seus olhos queimam em lágrimas, mas ele não chora.

Concretos cinco minutos se passam. O silêncio no corredor era reconfortante, e os braços e abraços eram tão quentes, tão acolhedores. A mesma sensação de estar em casa.

Foi Suga quem afastou Daichi e olhou em seus olhos de novo. Daichi sai da frente da porta e abre espaço para que Suga entre.

Suga dá um passo para dentro e analisa o pequeno quarto do dormitório da faculdade. Duas camas, uma encostada na parede da direita e outra na da esquerda. A da esquerda estava bagunçada e meio torta, a da direita totalmente alinhada; duas mesas, uma totalmente vazia e a outra cheia de livros, copos, xícaras, papéis, um computador, pacotes de comida instantânea; um tapete meio sujo no meio do quarto; janelas grandes na parede de frente para a porta; dois armários, um no pé de cada cama; prateleiras nas paredes cheias de livros, brinquedos, perfumes, etc.; as cortinas fechadas, o quarto totalmente abafado e escuro, a porta do banheiro aberta, um pacote de camisinha rasgado no chão, nenhum sinal da mesma.

Suga tem vontade de dar meia volta e sair pela porta, mas Daichi já a fechou. Ele, então, vai até a cama arrumada e senta na ponta. Daichi corre até as janelas e afasta as cortinas

–N-Não é uma boa hora. Eu estava... Quer dizer, a Minn... - ele empurra o vidro e o vento balança o cabelo de Suga. - Eu só...

Ele faz a cama rapidamente e pega o pacotinho do chão, enfiando-o no lixo do lado da escrivaninha.

Suga.

Daichi senta na ponta de sua cama e encara o garoto a sua frente. Ele ainda não dissera uma palavra.

–Suga, eu fico feliz de você estar aqui mas... - Suga vira o rosto para a mesa vazia e aperta as mãos. - Por quê?

Daichi aperta as mãos no lençol da cama e continua respirando pela boca. Suga está tão diferente, até parece outra pessoa. Ele parece tão... Infeliz.

–Eu mandei tantas mensagens e você nunca me respondeu. Eu te esperei. Eu te esperei mais de um ano, e você nunca nem se deu o trabalho de mandar uma mensagem, ou me ligar, ou mandar notícias. Eu esperei sua mensagem por mais de um ano. - a voz dele era amarga - Suga, por quê?

Lentamente, Suga vira a cabeça na direção de Daichi e encara seus olhos. Ele enfia a mão no bolso e tira de lá um celular preto, e o esfrega entre as mãos.

–Abandonei meu celular.

Daichi estremece. A voz de Suga era gelada e meio morta, definitivamente não tinha aquela empolgação e calor que tinha antes. Esse não era o Suga que Daichi se lembrava. Era uma versão triste, solitária dele.

Suga aperta um botão no celular e ele faz um barulho. A tela acende, e logo em seguida ele apita sem parar. Mensagens, ligações perdidas, e-mails. Estava tudo chegando agora.

Daichi pula de sua cama e senta ao lado de Suga. O celular até trava um pouco por causa da quantidade de coisas chegando. Suga vai até a pasta de mensagens e abre a conversa com Daichi.

.

~Daichi (104 novas mensagens)

.

–Isso é de quando?

–Ano passado.

Ele começa a ler as mensagens rapidamente. Seu dedo trava no final.

.

(14:09) Quero te encontrar pra gente se resolver. Não ligo de você estar em Kyoto e eu em Tokyo. Não quero continuar assim.

(18:00) Responde.

(01:34) Eu quero ficar com você. Desse jeito. Não me importo, eu quero você comigo. Suga, eu preciso de você.

.

Suga respira bem fundo e pisca várias vezes. Ele lê e relê as mensagens, apertando a mão contra a perna.

–Você... - a voz dele é um sussurro - Você queria se resolver comigo?

–Queria. Quero. Suga, eu não não quero mais ficar longe de você. - Daichi pega na mão livre de Suga, praticamente implorando. - Por favor. Eu quero me resolver contigo.

–Mas eu não.

Suga puxa a mão para longe e a coloca sob o colo, abaixando a cabeça. Daichi recua instantaneamente. Quem era aquele garoto do seu lado?

Suga mal consegue respirar. Estar ao lado de Daichi doía. Seu calor, seu cheiro, sua voz, suas manias. A respiração dele batendo e sacudindo seu cabelo. As roupas dele amontoadas num canto como sempre, a pilha de livros. A cama bagunçada do outro lado, a garota que tinha acabado de sair. O cheiro do perfume dela impregnando o ar.

O quê?

–Eu não quero me resolver contigo.

Daichi bate a mão no colchão e se levanta, chutando uma bola de papel.

–Então por que você veio até aqui? Pra jogar sal na ferida?

–Eu não posso.

–NÃO PODE O QUÊ?!

Suga ergue-se e empurra Daichi para trás.

–Eu não posso me ajeitar contigo, Daichi! - Suga grita de volta - A gente não pode ficar junto! A gente nunca vai poder ficar junto!

–Do que você tá falando, Suga? - Daichi volta para perto dele e segura seus ombros, olhando seu rosto. Suga encara um canto qualquer no chão - Claro que pode! A gente mora longe, mas a gente vai dar um jeito, eu prometo...

–Não posso fazer isso contigo. - Suga afasta os braços de Daichi e agora encara os olhos escuros - Isso é errado. Eu preciso ir.

–Suga, eu ainda te amo.

O olhar de Daichi evidencia desespero. Ele ainda respira rápido pela boca, porque aquele garoto na sua frente consegue roubar todo seu ar. Suga encara-o de volta, os olhos tristes.

–Cala a boca.

Daichi vê como o olhar de Suga desce até sua boca, e o mesmo acontece com ele. Será que o beijo dele ainda é macio e agradável?

É.

É bem macio.

Suga deixa escapar um gemido sofrido enquanto segura-se nos ombros de Daichi para não cair. A mão em sua nuca aperta seu cabelo, e a em suas costas o puxa para mais perto. O corpo de Daichi é quente e úmido, e a boca dele o beija furiosamente. Suga sabe que tem que se afastar, mas é tão difícil.

Ele vira o rosto para a esquerda, tomando golfadas de ar.

–Ela... Daichi, você...

Os dedos de Daichi seguram no cabelo de Suga e puxam sua cabeça para a direita, para em seguida beijá-lo com mais força e desespero.

Sugawara sente nada exceto nojo. Nojo de estar beijando os mesmos lábios que beijaram aquela menina, nojo do perfume feminino grudado na pele de Daichi, nojo de estar sendo tocado e apalpado pelas mesmas mãos. Incrivelmente, ele ainda não tinha força para sair dos braços de Daichi. O beijo dele era de tirar o fôlego, e tudo o que Suga mais tinha ansiado. Fisicamente doía estar perto de Daichi, mas ele não conseguiria ir embora, não importando o quanto doesse ou o quanto sentisse nojo.

Suga ergue os braços e finca as unhas nas costas nuas de Daichi, puxando-o para si. Ele ainda gemia de agonia, dor, desespero. Daichi bufava e suspirava pesadamente.

Quatro anos. Daichi esperou por esse momento por quatro anos, então Suga definitivamente não iria embora agora. Ele não pode.

Não pode.

Daichi vira e senta na beirada da cama, puxando Suga para seu colo. Com os joelhos ao redor dos quadris dele, os dois se beijam e se agarram e arranham. Sugawara abre os olhos para ver o rosto concentrado de Daichi.

Ele parece tão aliviado. Ele parece imensamente mais feliz. O cheiro da garota estava indo embora, e agora tudo o que ele sentia era a língua de Daichi descendo pelo seu pescoço.

"Só uma vez."

"Só uma vez não vai fazer mal."

.

.

A cama parece incrivelmente vazia.

E está.

Daichi abre os olhos e se vê sozinho entre os lençóis. O relógio mostra 9:43. Os travesseiros têm cheiro de suor. Os pacotes de camisinha no chão sacodem com o vento provindo da janela aberta. O sol da manhã joga raios pra dentro do quarto, iluminando tudo gentilmente.

No centro da escrivaninha vazia, um celular preto.

Daichi fecha os olhos e enterra a cabeça no travesseiro.

.

.

Daichi não conseguia parar de pensar em Sugawara Koushi e naquela noite que passaram juntos. Eles transaram até de manhã cedo, e ele chorava, chorava, chorava. Era como se Daichi lhe causasse uma imensa dor só de tocá-lo, só de estar perto dele. Mas também ele pôde ver o velho Suga, com o mesmo olhar gentil e a expressão suave, a voz calorosa, os gestos delicados. Por algumas horas a versão infeliz do Suga tinha ido embora e eles pareciam dois garotos do terceiro ano.

Recolher os cacos de vidro foi bem doloroso.

.

.

(15:33) Não sei onde você tá. Preciso de ti. Vem me ver.

(15:34) Por que você deixou o celular?

(15:35) Esquece. Você não ia responder mesmo.

.

.

Matemática III é, na opinião de Daichi, a matéria mais fodida da faculdade. Mas ele gosta. O único problema é que o livro pesa uma tonelada e ele sempre anda com milhares de papéis.

Milhares de alunos correm de um lado para o outro na troca de salas. Felizmente Daichi tinha um horário vago depois do almoço e trabalharia no projeto que era para a próxima semana.

Com uma caneta na boca e equilibrando pilhas de papéis e livros nos braços, Daichi desvia das pessoas no corredor do dormitório.

–334k,65 e 221,00863 vezes 64,13... - ele digita na calculadora no topo da pilha enquanto caminha - O x equivale... E o y... O alfa é raiz cúbica de 445809,874, então o beta é...

Uma aluna bate no seu braço e a pilha ameaça cair no chão, mas ele consegue equilibrá-la a tempo. Erguendo o olhar, ele avista Sugawara Koushi parado na outra ponta do corredor. Alguns papéis caem no chão, mas eles nem são importantes mesmo.

Suga estava de volta. Um mês depois, ele estava de volta. O coração de Daichi deu um pulo gigantesco e o garoto quase largou tudo no chão e saiu correndo. Segurando esse impulso, Daichi apertou o passo até seu quarto, abriu a porta com dificuldade e largou o material em cima da mesa.

A porta do quarto bate. Daichi levanta o olhar; Suga está encostado contra ela e parece tão miserável quanto a última vez que se viram. Daichi mal consegue respirar.

–Por que deixou o celular? Pra onde você foi? Por que voltou?

Suga desencosta da porta e caminha até Daichi.

–Por que você foi embora sem me avisar? O que está acontecendo?

Os dois param frente à frente.

–Eu não posso.

–Não pode o quê?

–E-Eu... - o queixo de Suga treme sem parar - Eu não posso falar.

Por quê?– Daichi chega mais perto e segura em seu pulso.

–Porque não posso. - Suga puxa o braço e vira - Vou embora.

Suga caminha até a porta e puxa a maçaneta. Daichi continua parado no lugar.

–Seu filho da puta. - Suga para com o pé para fora do quarto. - Você vem aqui zombar da minha cara? Você se dá ao trabalho de vir até Tokyo pra rir de mim? É isso? Suga, o que aconteceu com você? Não te conheço mais.

Suga abaixa a cabeça e encara os pés, mordendo a boca. Seus olhos se enchem de lágrimas. Ele apoia-se no batente da porta; seus joelhos tremem e ele ameaça cair. Foi como uma facada. Foi pior que uma facada.

–S-Se você for embora, por favor não se dê ao trabalho de voltar. - Daichi gagueja.

–E-Eu não quero... Mas eu preciso. - Suga soluça baixinho - Eu não quero ir, Daichi...

–Não vai.

–Não vou.

.

.

Daichi aperta a descarga e se olha no espelho. As marcas em suas costas estão feias, mas não piores do que aquelas em seu pescoço. Mesmo assim, ele suspira e sorri.

Ao abrir a porta, a cama vazia.

A pilha de roupas no chão sumida.

Sem sapatos na soleira.

Nenhum sinal de que ele estivera ali.

.

.

Dois, quatro, dez meses se passaram.

Nesses dez, Suga e Daichi se viram um total de 14 vezes. De vez em quando uma vez por mês, ou duas, ou dois meses inteiros sem nenhum contato.

Toda vez era a mesma coisa. Lábios inchados. Roupas no chão. Cheiro de sexo, pacotes de camisinha. Depois, frio, a cama vazia. Nem um bilhete ou mensagem, nem um sinal deixado para trás. Era o tempo de Daichi ir ao banheiro, e quando voltava, Suga não estava mais lá.

O mês de novembro estava inesperadamente frio. Já havia até nevado algumas vezes, nada muito forte. Daichi se sentia emocionalmente cansado a maior parte do tempo; deveria ser porque esperava Suga aparecer na sua porta todos os dias, e todos os dias ia dormir naquela cama fria, sozinho.

Seu colega de quarto fora viajar e nunca mais voltou. Então Daichi ficava sozinho quase sempre, encarando as paredes vazias e contemplando a solidão do campus por cima de milhares de folhas de cálculos intermináveis.

Faltava menos de uma semana pras provas finais do semestre e Daichi estava pilhado em cafeína jogando Zelda no videogame. Ele não conseguia passar de uma fase particularmente complicada e vivia errando o momento certo. Quando morreu pela 13° vez, ergueu-se num pulo e quase arremessou o controle pela janela.

Ele se sentia tão vazio, bosta. Vazio como as paredes e a cama do outro lado do quarto. Vazio como a sua caixa de mensagens no celular e os contatos no Facebook. A neve que caía lá fora conseguia distraí-lo um pouco da dor existencial. Os floquinhos levavam sua mente para longe, bem longe.

Quando a vida ficara tão sem sal? Quando Daichi passara a ter vontade de matar aula e ficar na cama o dia inteiro? Quando foi que Daichi parara de sentir fome e só comera para não morrer de inanição?

Todas as vezes era a mesma coisa. Ele chegava, batia na porta quatro vezes. Daichi abria e eles se jogavam contra a parede. Seus lábios ficavam inchados e vermelhos, e depois eles iam para a cama do colega de quarto viajante. Nunca pra de Daichi. E aí ele ia embora. Sempre assim. Nenhum bilhete. Ele voltaria, obviamente. Só não se sabia quando.

Daichi se pegou muitas vezes deitado na cama encarando o teto na madrugada, esperando ouvir passos no corredor e quatro batidas na porta. E os suspiros, e as lágrimas, e o som de sapatos batendo no carpete enquanto ele corria para longe. Era a rotina. Daichi nunca reclamara dela pelos últimos dez meses, mas agora se sentia extremamente incomodado.

Foi aí que as quatro batidas na porta despertaram o rapaz do transe e a neve ficou de repente tão desinteressante.

Quatro batidas. Maçaneta. Parede. Beijos, lábios inchados. Cama. O cheiro de suor e sexo impregna o lençol. Lágrimas escorrem na fronha e pelas bochechas. O Vazio de Daichi para de doer por duas horas. Só por duas horas.

Ele se levanta para pegar a água no frigobar e Suga já está totalmente vestido e termina de amarrar os sapatos. Daichi tem medo do Vazio e respira fundo. O Vazio dói, e ele sempre volta quando Suga vai embora. Daichi não quer sentir de novo.

Suga continua encarando o chão quando joga a bolsa no ombro e vai até a porta. Daichi segura em sua mão com delicadeza. Suga para no lugar, olhando o cadarço torto do sapato.

–Por que você sempre foge?

–Eu tô com medo.

–Medo de quê?

Suga ergue o olhar e Daichi vê. Daichi consegue ver o mesmo Vazio de quando se olha no espelho, e ele vê nos olhos de Suga. Oh, meu Deus. Suga também tem. Suga tem o Vazio, e ele provavelmente assombra sua vida do mesmo jeito que faz com Daichi. Isso machuca. Isso dói. Daichi não quer ver Suga doendo, não do mesmo jeito que ele.

–Do quanto eu te amo.

Suga puxa a mão e bate a porta quando sai.

.

.

Dezembro foi solitário.

Janeiro foi bem gelado também.

Asahi, Nishinoya e Tanaka estão na porta. Eles choram. Por quê choram? Daichi já passara dessa fase; não seriam as lágrimas que fariam o Vazio ir embora, ele sabia disso.

Chove lá fora e os meninos estão molhados. As roupas pretas estão pingando. Os cabelos grudam nas testas e pescoços, e os olhos estão tão vermelhos. As lágrimas se misturam com os pingos da chuva. Está frio.

Tão frio.

Tão frio.

O Vazio cresce tanto que assusta Daichi.

Asahi ergue a mão e entrega-o um quadrado embrulhado.

–Ele deixou isso pra você.


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Notas finais do capítulo

We'll be holding hands once again
All our broken plans I will mend
I will hold you tight so you know



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