Sakura anotava as coisas em uma ficha, ela terminava de dar o diagnóstico para uma criança que tossia baixo, ela estava há tanto tempo naquele hospital que nem se quer sabia se estava atrasada ou não.

— Haruno tem gente te esperando. — Um enfermeiro a chamou enquanto Sakura terminava de arrumar as coisas.

— Viemos te buscar, sabe, ela veio buscar a mãe, mas eu vim pela mulher da minha vida, sorte que elas são a mesma pessoa, não é filha? — Sasuke estava com Sarada no colo, a menina balançou a cabeça com os bracinhos cruzados.

— Ah! Sorte de vocês, Sr. e Srta. Uchiha, vamos pra casa. — Ela riu passando pelos dois e desaparecendo no próximo corredor, Sasuke e Sarada vieram logo atrás.

A família Uchiha via seus dias melhorarem, não que fossem perfeitos, mas as semanas juntos os fizeram bem, os problemas continuaram lá fora, mas eles estavam juntos, unidos em sua casa, aquilo era bom, era realmente perfeito, mas o que quase ninguém, apenas um, sabia era que toda aquela calma ambiente dava-se por um motivo, o trato feito por Sasuke.

— Você prometeu voltar logo. — A voz feminina invadiu a mente do Uchiha. — Já faz quase um ano e seis meses Sasukinho. — Ela persistiu.

— Sem apelidos idiotas e eu não prometi nada a você, Kidia. — Ele disse baixo,ela pareceu bufar, Sasuke só ouviu o barulho. — Preciso falar com Hendu, onde ele está ? — O moreno a questionou.

— Você deveria honrar as promessas que faz a uma dama, Uchiha. — A voz grossa pareceu tomar o lugar que antes pertencia a mais aguda.

— É o que eu estou fazendo, cumprindo a promessa que fiz a Sakura. — Ele disse em seu tom normal, sem se alterar em nenhuma vez. — Existem prioridades entre as damas da minha vida. — Ele completou com desdém jogando a cabeça pro lado. — Mas estaremos juntos em breve.

A voz grossa estava pronta para responder o Uchiha, mas a conexão foi cortada quando alguém tocou-lhe no ombro, Sasuke abriu os olhos vendo Sakura, ela estava com a sobrancelha arqueada se questionando sobre o que diabos ele estava fazendo.

— Meditar faz bem para mente. — Ele disse. — Onde está Sarada?

— Ela dormiu, para uma criança de praticamente quatro anos ela é quieta demais. — Sakura resmungou sentando-se no colo do marido.

— Puxou o pai, menina esperta. — Sasuke comentou recebendo um tapa de Sakura, mas de leve. — Que tal fazermos um irmão pra ela agora?

— Que tal você ir atender a porta? — Sakura falou com ele rindo, enquanto saía de seu colo.

Sasuke desceu as escadas rapidamente e quando abriu a porta viu o loiro a sua frente, dessa vez ele não tinha o costumeiro sorriso no rosto, pelo contrário, as olheiras fundas denotavam preocupação por parte do Uzumaki.

— Dormir faz bem, sabia baka? — Sasuke disse olhando para rua além do ombro do amigo.

— hahaha super engraçado teme, precisamos conversar, Sakura-chan está em casa? — Ele questionou o moreno olhando para casa nas costas de Sakura. — Se sim, não pode ser aqui.

Sasuke olhou para o amigo, depois para dentro da casa, Sakura possivelmente estaria o esperando, logo também estaria em pé na porta, então se ele fosse cogitar sair teria que avisá-la, inventar algo, mentir para a amada estava virando algo costumeiro, coisa que ele não apreciava e nem queria continuar praticando com constância.

— Sakura é o baka, nós vamos dar uma saída. — Ele falou em um tom mais alto e puxou a porta, de cara era algo sério, ele teria tempo de pensar em uma desculpa no tardar de sua volta para casa.

Eles caminhavam por uma das ruas principais de Konoha, já a caminho do Ichiraku, Sasuke pensou que apesar de todo o drama o loiro só estava cansado e queria comer algo, como nos velhos tempos, mas quando ele o puxou por uma das ruas laterais rumo aos portões da vila o Uchiha ficou realmente preocupado.

— Eu espero que realmente você não tenha matado ninguém, não quero ser cúmplice. — Sasuke já foi anunciando enquanto ele e o loiro se afastavam passando por entre as árvores.

— Você ainda está vivo Teme, sem perigo nenhum. — Naruto completou em tom zombeteiro alcançando uma clareira antes de Sasuke que quase lhe acertou com um tapa na cabeça.

— Pois bem, o que é? — O moreno questionou.

Dentre as vestes o loiro tirou uma pasta, ela tinha que amassado um pouco, mas Naruto não se importou, nem mesmo quis alisá-la antes de entregar ao amigo, apenas esticou para Sasuke e se manteve sério.

Ver Naruto sem um sorriso no rosto, mesmo para as horas complicadas sempre foi sinais de problemas para quaisquer um que o conhecesse, isso porque era sua marca registrada, “ seu jeito ninja “, mas agora lá estava ele, sério, olhando Sasuke com seus grandes olhos azuis que pareciam mostrar a relevância do assunto.

Sasuke abriu a pasta, olhou cada uma das folhas com cuidado, foram quase dez minutos que pareciam horas, mas nenhum dos dois se moveu, a não ser os dedos do Uchiha passando folha por folha, na capa da pasta já mostrava que aquilo era assunto confidencial da AMBU, o que o moreno se questionava era o que o amigo fazia portando aquilo, se fosse pego nem Kakashi poderia livrá-lo de uma boa punição, talvez aliviá-la.

— Você vai nos meter em roubada com isso Naruto. — Sasuke avisou fechando a pasta com algumas folhas ainda por ver. — Não somos mais adolescentes para ir nos metendo em confusão toda hora e tendo sempre alguém pra ajudar, onde você pegou isso? Quer saber, não importa. Toma! — Sasuke esticou a pasta ao loiro.

— Dê uma olhada em tudo e eu prometo que você não vai precisar olhar de novo. — O loiro pediu, o Uchiha recolheu a pasta e a abriu pontualmente onde tinha fechado, as imagens vinham em seguidas, os rostos, ele infelizmente os conhecia, mas Naruto não sabia disso.

Na última página tinha a foto de Kidia, foi quando Sasuke fechou de uma vez e esticou a pasta ao amigo, que dessa vez recolheu, ele ainda não entendia o motivo de porque Naruto tinha roubado aquilo da AMBU e ainda mais o que o levava a mostrar aquilo tão secretamente só pra ele.

— São criminosos da classe mais alta, o que você quer fazer? Caçá-los? — O Uzumaki olhava as fotos enquanto viajava nos seus devaneios, dos quais foi tirado pelo amigo que o sacudiu.

— Quero os proteger, Sasuke e também ... — A voz do loiro falhou, Sasuke que estava olhando por entre as árvores passou a olhá-lo.

— E também? — Ele questionou o amigo olhando para o Uzumaki que estava até então de cabeça baixa, ma a ergueu para encará-lo.

— Também quero entender o que você faz metido com eles. — Naruto abriu a pasta e puxou a foto da moça, no fundo se via uma imagem um tanto quanto borrada.

Não dava para realmente ver que era Sasuke, mas ele sabia que era ele, isso significava que eles estavam sendo vigiados, que logo tudo estaria sendo descoberto e tudo pelo que ele estava há tempos lutando para manter finalmente iria ruir, ali, nas suas mãos, sem que ele pudesse completar aquilo.

— Eu? Enlouqueceu baka? — Ele riu de lado passando pelo amigo que ficou lá parado no meio da floresta, o mesmo riu e fechou a pasta.

— Eu te conheço a tempo demais Sasuke, só espero que saiba o que está fazendo. — Ele tentou alertar o amigo que no instante em que ouviu sua voz parou.

— Eu preciso ir agora, tenho algumas coisas para arrumar e a conversar com a Sakura. — Sasuke disse se afastando em passos largos, Naruto ficou logo pra trás.

— Por favor, não vá embora de novo, não por mim, mas por elas, Sakura-chan pode parecer forte, mas ela não aguenta mais sofrer por você, mesmo te amando. — Dessa vez Sasuke não parou, apesar de ouvir a voz do amigo, ele tinha a total razão.

A porta da casa dos Haruno-Uchiha se abriu devagar, Sakura estava sentada na poltrona de Sasuke na sala, que era enorme para ela, Sarada por sua vez estava sentada no chão lendo alguns pergaminhos do clã Uchiha, ela tinha aprendido a ler a poucos meses, e agora era o que mais fazia, exercitava.

— Você deu os pergaminhos do clã pra ela ler de novo, Sakura. — Sasuke coçou os cabelos, a rosada depositou a xícara sobre a mesinha ao seu lado e depois o olhou.

— Qual o problema? Ela é uma Uchiha, teria que aprender isso logo, aposto que seu pai também te fazia ler. — Ela riu chamando o marido com os dedos, mas Sasuke preferiu o sofá além de Sarada.

— Da próxima dê seus livros para ela, aposto que será uma ótima médica. — Ele olhou para a garota que mesmo entendendo a conversa dos pais não dava a menor bola para ambos, queria mesmo era ler sobre os jutsus de seu clã.

— Você não quer começar a ensiná-la a lutar? Sabe, ela tem quase quatro anos, tudo bem, mas aos cinco ela entra para a academia e seria bom ela já ir começando com uma base que não fosse acadêmica. — Sakura sugeriu no findar de seu chá, Sarada ajeitou os óculos e olhou para o pai, ele encarou a mulher depois a filha.

— Será mesmo que ela quer? — Ele arqueou a sobrancelha e a pequena cruzou os braços.

— Demasiadamente desnecessária essa sua sentença, Sr. Uchiha, quer dizer, pai. — A pequena Sarada soltou do nada, com sua voz fina, o que fez os pais rirem.

— Espero que a mocinha esteja em pé as seis e meia, vamos ao domo as sete em ponto. — Ele se sentou no sofá, Sakura balançou a cabeça positivamente, Sasuke abriu os braços para acolher sua pequena, mas ela ficou lá parada.

— Ela é chata como você. — Sakura disse se levantando, Sasuke acompanhou a mulher.

— Ainda bem que ela é bonita como a mãe. — Ele disse e a Haruno se virou.

— Espero que no futuro seja “ forte como a mãe “, literalmente. — Sakura respondeu de volta lavando algumas vasilhas dentro da pia.

Sarada terminava de juntar os pergaminhos e saía tropeçando nos próprios pés escadas a cima, Sakura ocupava-se a lavar as vasilhas sujas, Sasuke apoiado na janela olhava para o quintal, as coisas pareciam se ajeitar na mesma intensidade que poderiam ir a um caos completo. Seus devaneios pararam quando uma pena negra desceu devagar até perto de onde ele se apoiava, na ponta dela havia um bilhete, do qual o Uchiha recusava-se a ler e pedia para estar errado ao ver a letra.

O papel era branco, a letra cursiva não deixava de ser bonita, mesmo que mostrada que foi escrito as pressas, o céu começou a se escurecer e parecia que a chuva estava a caminho de Konoha, Sasuke deu uma última olhada no papel em sua mão, nele dizia “ ESTAMOS CHEGANDO “, ele apertou com força e o papel se desfez em pó negro entre seus dedos, assim como a pena um pouco mais distante.

— Sakura! Feche as janelas, vai chover. — Sasuke olhou pro céu mais uma última vez, antes de trancar a janela, após fechá-la, e puxar as cortinas.