O céu nublado, diferente de outrora, sustentava o fraco brilho das íris da kunoichi. Assim sentia-se desde que ele se fora, e assim se sentiria até que ele voltasse. Já haviam se passado exatos dois anos e até agora não tinha quaisquer notícias sobre o paradeiro de Uchiha Sasuke. Era como se ele nunca tivesse existido. Nenhum sinal, nenhum comentário, nenhum rastro... Nada. E diante disso, suas esperanças de que a jornada que ele fora fazer acabasse, já não mais existiam.

Um dia ele retornaria? Um dia ele perceberia que sua presença trazia um brilho diferente aos seus olhos? Um dia ele sentiria saudades?

Não tinha respostas para todas essas perguntas. Vagas, realmente todas elas eram vagas e limitadas. No exato momento em que ele havia deixado a vila, soube que algo os sustentava. Uma parede, de concreto, que resistiria à muitos golpes da vida, e ainda assim cá estava ela, sentada no mesmo banco em que um dia estivera desmaiada. A esperança sempre fez parte de seu cotidiano e limitou-se a se agarrar nela enquanto vive-se. Uma enxurrada de informações caiam sobre si quando lembrava do passado, dos tempos em que juntos compartilhavam dos mesmos ideais.

Sorriu fracamente, enquanto alisava ambas as mãos que estavam sobre as pernas. Olhou para o céu, constatando que a noite seria mais fria do que às anteriores.

Não desistiria de que um dia veria novamente o seu Sasuke-Kun. Aquele que abandonou à vila anos atrás e que depois de tudo, depois de imergir-se na escuridão, tateou a borda com apenas uma mão e ergueu-se, para então enfrentar todos os problemas vividos, e rendeu-se, para admitir que aqueles que mereciam sua confiança eram seus amigos de Konoha.

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O vilarejo estava em clima de festa. Pessoas comprando diversas coisas, dentre elas, roupas para o tão esperado festival de inverno. A alegria plena, transbordando nitidamente na face de cada indivíduo. Dentre eles, as duas kunoichis que fizeram a diferença na última guerra.
Sakura, olhava deslumbrada para todos os pertences da loja. Casacos, porta-retratos, acessórios, dentre diversos tipos de coisas que deixavam os olhos verdes iluminados. Queria poder presentear a todos, porém, no momento sua atenção era somente a ele, Sasuke-Kun. Sim, ele havia voltado após dois anos e trazido consigo as esperanças da kunoichi de que um dia as coisas voltariam a ser como eram antes.

Mordeu levemente o lábio inferior, enquanto pensava o que agradaria o moreno. Foi então que percebeu o olhar perdido de sua amiga. Soube, de primeira, o motivo dos pensamentos da morena e olhou para ela com olhos reprovadores, enquanto acenou negativamente com a cabeça.

— O que foi desta vez, Hinata? — perguntou com a sobrancelha levemente arqueada, esperando receber em troca um bom motivo para a relutância da morena.

— Eu-Eu não sei o que comprar para o Naruto-Kun. — admitiu Hinata meio incerta. Em seguida, a morena abaixou a cabeça diante de seu olhar.

Hinata era uma fofa, sentimental e muito incerta, todavia, era muito esperta e deveria saber que Naruto estava mais que “de quatro” por ela. Sakura achava incrível a capacidade que esses dois tinham em não conseguir perceber o que o outro sentia e acabavam adiando algo que já era para ser concreto há muito tempo. Sem esperar que Hinata dissesse algo mais, porque sabia, a morena não falaria absolutamente nada se continuasse recebendo o seu olhar reprovador, colocou ambas as mãos, uma em cada lado do ombro de Hinata, e em troca recebeu o olhar confuso da morena.

— Leve o que tiver vontade, não precisa de pensar se ele vai gostar ou não. Independente do que for, tenho certeza que ele vai gostar, porque foi dado de alguém importante. — encorajou a amiga.

— Você acha? — perguntou Hinata com o cenho franzido.

— Tenho certeza! — respondeu convicta, deixando um sorriso de canto transparecer diante da afirmação e recebendo o mesmo em troca. Era exatamente isso que queria, ver Hinata confiante e disposta à por para fora tudo que vinha guardando há muito tempo.

— Já decidiu? — perguntou, observando Hinata mais pensativa que o normal.

— Si-Sim. — afirmou Hinata, aproximando-se dos cartões personalizados e pegando um deles, suspirando em seguida. Surpreendeu-se ao constatar o que Hinata segurava, todavia, sorriu singela.

Pensou em perguntar qual frase Hinata havia escolhido, porém, optou por deixar sua curiosidade de lado e dar privacidade a amiga. Olhou a morena se afastar até o caixa e decidiu esperá-la próximo à saída. Andou pensativa até a porta, porém, parou assim que visualizou alguns ponchos a mostra. Modelos femininos e masculinos postos a venda, destacando dentre eles um cinza, um pouco parecido com o que ele havia chegado na vila há exatos uma semana. Deslumbrou aquele casaco, pensativa e indecisa se deveria comprá-lo, ou não. A cor era linda e o modelo simples, entretanto, aos seus olhos, eram perfeitos para o moreno. Podia imaginá-lo dentro daquele poncho, tendo os cabelos, agora num comprimento maior, contrastando perfeitamente com o cinza escuro do tecido. E os olhos... Ah. Esses com certeza dariam o toque final ao visual. Mas... E se ele não aceitasse? Ou pior, e se ele sequer usasse o presente?

— Sakura-San? — seu coração pulou uma batida ao ouvir seu nome, virando-se de sobressalto e percebendo Hinata atrás de si com a expressão confusa.

— Ah. Acabei me distraindo. Já comprou o que tinha de comprar? — Desculpou-se com a amiga pela falta de atenção.

— Sim. — assentiu Hinata. Antes de deixarem a loja, Sakura olhou mais algumas vezes o poncho, relutante em seus pensamentos positivos e negativos.

Andavam lado a lado, ambas em silêncio, e Hinata pareceu perceber seu desconforto com a situação, porém, assim como Hinata fez, deu de ombros e preferiu calar-se e esperar chegar em casa para desabafar com seu interior. Assim que chegaram no trajeto em que separava suas casas, despediram-se com um leve aceno de cabeça.

Sakura, rumou pensativa o restante do trajeto, apenas desviando o olhar do chão quando uma criança, vizinha sua, lhe chamou atenção, pedindo que a ensinasse ninjutsu médico. Garantiu a menina que ensinaria assim que tivesse tempo e subiu os degraus de sua casa, sendo recebida por sua mãe que lhe perguntou onde havia passado o dia. Sem muito interesse no assunto, Sakura garantiu que estava com Hinata e que tinha de arrumar o quarto, indo até o mesmo e trancando-se no cômodo.

Por que não tivera coragem de comprar o que queria? Nunca havia sido tão relutante quanto aos seus sentimentos desde que conheceu Sasuke-Kun, e parece que apenas dois anos a fizeram temer a rejeição mais do que nunca.

O moreno voltou há apenas uma semana, desde que Otsutuki Toneri apareceu para trazer o caos as vilas e, surpreendendo a todos, Sasuke ajudou manter a segurança em Konoha. Não que duvidasse dos interesses do moreno, porém, não imaginava que ele apareceria tão repentinamente. Durante sua missão, não soube ao certo o que acontecia na vila, entretanto, assim que voltaram constataram que Sasuke, Kakashi, e os outros foram os responsáveis por manter a segurança em Konoha.

Depois disso chegaram a trocar algumas palavras, mas o moreno vivia ocupado tratando assuntos particulares com o Hokage, Hatake Kakashi. Não havia nenhum sinal de que Sasuke-Kun ficaria, como também não havia nada que dissesse que ele partiria novamente. Apenas a dúvida que florescia dentro de si, junto com o sentimento de solidão.

Antes de partir, ele havia deixado-a com palavras de agradecimento e algo mais, muito mais importante e meandroso, e isso fez com que Sakura esperasse, forte e silenciosa, por aqueles dias. Dias em que estiveram juntos, partilhando das mesmas aventuras como um time, o time 7 de Konoha. Quanto tempo sonhou com isso? Quanto tempo esperou por isso? Só agora podia sentir-se mais leve para respirar diante dos acontecimentos, porque a sinceridade sempre fez parte de si, e tinha que admitir que antes nunca pôde respirar com tranquilidade, não, sabendo que o amor da sua vida estava fora, perdido em seus próprios pesadelos.

Deitou de costas na cama, apoiando a cabeça sobre o travesseiro e fechando os olhos em seguida. Lembrou-se do dia em que Sasuke-Kun partiu em sua jornada. As palavras exatas em que foi deixada dois anos atrás, essas que vem se agarrando com o fio de esperança em seu interior.

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— Bom, vou ser bem honesto com você. — Kakashi começou falando. — Em condições normais você ficaria em prisão perpétua. Mas a única razão pela qual você está sendo perdoado é porquê... Você ajudou a desfazer o mugen tsukuyomi. E mesmo assim, só isso não iria te salvar. Isso é graças ao Naruto que é o herói dessa guerra, e eu que conversei um bocado usando minha influência como sexto hokage. Então, vê se não enlouquece de novo, ou desta vez vai ser a minha cabeça que eles vão querer. — Tanto Sasuke, quanto Sakura observavam com cautela cada palavra dita pelo mais velho. Após Kakashi terminar seu mini discurso, Sasuke calmamente o olhou.

— Sim... Desculpe. — falou com sinceridade. O moreno sabia que era exatamente isso que seu ex-sensei queria ouvir. Palavras sinceras de perdão, vindas de seu antigo aluno, aquele que tanto lhe deu trabalho e que hoje estava diante de si, finalmente, com emoções diferentes.

Aquela que até então observava atenta à cada palavra dito por ambos, finalmente resolveu se manifestar, diante da agonia em que sentia internamente.

— Você já está indo embora? — perguntou, porém, não esperou por resposta e decidiu acrescentar algo mais, pois naquele momento o que menos queria era se afastar do seu amado. — Tsunade-Sama está prestes a completar seu braço protético feito com células do Hashirama-Sama...

— Nesse momento eu preciso ver o mundo por mim mesmo... Preciso conhecer qual é o estado atual dele. Sinto que poderei ver melhor todas essas coisas que eu deixei de observar, e se eu perder essa chance... Não acho que terei outra. Além do mais, tem algumas coisas que estão me incomodando. — disse Sasuke. Em seu interior sabia perfeitamente do porque precisava dessa viagem. Se encontrar e tentar compreender os ideais de seu amigo e rival, Naruto.

Ainda não conseguia entendê-lo por completo, e isso não significava que não o aceitasse. Sabia que esteve errado por todos esses anos e que fora Naruto quem conseguiu fazê-lo enxergar a verdade, a luz. Todavia, ainda não conseguia compreender completamente todos os ideais do loiro e precisava de tempo para enxergar com seus próprios olhos o mundo ao seu redor, coisa que não pôde fazer enquanto vagava com sua escuridão aflorada. Além do que, sabia exatamente que essa era a primeira e única chance que teria, pois assim que se encontrasse por completo, voltaria para o lugar ao qual sempre pertenceu.

Nesse ponto, com essa resposta, Sakura já não tinha mais nada a perder. Entendia que Sasuke precisava desse tempo, entretanto, não conseguia imaginar-se novamente longe dele. Não sabia ao certo quanto tempo seria até vê-lo novamente e isso a consumia por dentro. Sem se importar com Kakashi bem ali ao seu lado, resolveu perguntar a mesma coisa que havia perguntado 4 anos atrás.

— O que você diria... Se eu te dissesse... Que eu quero... ir também? — perguntou, hesitando nas palavras, com os olhos baixos e com as bochechas ruborizadas diante da pergunta direta. — (…) — Passando-se alguns segundos, esses que fizeram com que Sakura ergue-se o olhar para constatar se realmente teria sua resposta.

— É o meu caminho de redenção. Você não tem nada a ver com os meus pecados. — respondeu Sasuke com os olhos fechados.

— Você diz... Que não tenho nada a ver... — e foi interrompida de sua mágoa interior, surpreendendo-se ao sentir a presença de Sasuke próximo a si.

— Até a próxima vez... E obrigado. — disse Sasuke, repetindo o mesmo gesto que seu irmão usava com si. Esse que era o ato mais importante que Itachi mantinha, demonstrando todo sentimento e lamento por não poder estar com seu irmãozinho tolo. E agora era Sakura quem recebia o mesmo tratamento, pois seria através dele que deixaria explícito seus sentimentos para com a kunoichi. E ela tinha que entender, e sabia que ela iria, pois Sakura sempre fora inteligente o suficiente para saber que ele voltaria um dia, e que ela deveria estar esperando por ele.

E pela primeira vez Sakura pôde enxergar, com clareza, os olhos de seu amado e tudo o que eles queriam transmitir para si. E sua vontade foi de gritar que ela o esperaria, que independente de quanto tempo ele levasse para se recuperar, ela estaria aqui como sempre esteve, e que ele sempre seria bem-vindo em sua vida.

Desde que havia curado Sasuke-Kun e Naruto, e recebeu as palavras de perdão do moreno, não se desgrudou mais dele. Todo dia fazia questão de visitá-lo enquanto ele estivera em prisão e assim que o soltaram, fez questão de acompanhá-lo por todos os cantos da vila. Sasuke estava diferente, não mais era o menino de 12 anos que fez parte de sua equipe genin, como também não era o sombrio adolescente que tentou matá-la. Ele era o verdadeiro Sasuke, aquele que deveria ter crescido com pais, amigos, e uma infância normal e feliz. Ele estava leve, suave, e até mesmo mais comunicativo, e nesse momento soube que nunca conheceu, de fato, o verdadeiro Uchiha Sasuke. E foi então que quis, de todas as maneiras, conhecê-lo novamente. Queria conhecer cada pedacinho dele, cada gesto, olhar, palavra, manias, cada mínimo detalhe do homem ao qual se apaixonou anos atrás.

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Os grandes olhos verdes se abriram lentamente, usando as costas da mão direita para esfregar o local sensível. A luz do luar invadia o quarto, que encontrava-se parcialmente escuro. Sakura, sentou-se na cama, analisando o cômodo em que estava. Se lembrou do festival que teria aquela noite e decidiu levantar para se arrumar. Entrou no banheiro, retirando suas vestes e ligando a ducha. Relaxou todo o corpo com a água norma que caia e resolveu deixar de pensar nos recentes acontecimentos, pelo menos por um tempo.

Terminou de banhar-se e pôs sua roupa. Não usaria kimono, pois nunca foi muito adepta a isso. Vestiu sua calça clara e blusa verde-chá com manga longa. Calçou o par de sandálias rosa que Tsunade-sama havia lhe dado e amarrou, nos cabelos soltos, uma fita vermelha. Se olhou no espelho e diante do reflexo simples, resolveu passar gloss nos lábios. Assim que terminou, saiu de casa, avisando aos pais que não sabia ao certo às horas que retornaria, e rumou até o festival. As ruas iluminadas por luzes emaranhadas aos postes, deixava a paisagem mais romântica, e Sakura amaldiçoou-se mentalmente por pensar nisso.

Caminhou até o local do festival e assim que chegou percebeu o quanto estava cheio. Pessoas sorrindo, comendo, correndo, tudo muito angelical fez Sakura sorrir de canto, perdendo-se em duas crianças que corriam gargalhando. Os pequenos rodearam-na, a fazendo rodopiar meio sem jeito e arrancando uma gargalhada da kunoichi. Estava boquiaberta com a liberdade em que aquelas crianças brincavam e se expressavam entre o tumulto.

— Sakura. — escutou seu nome ser pronunciado e automaticamente se virou para encontrar Sasuke parado com as mãos nos bolsos da calça escura.

— Oh. — disse, sentindo-se extremamente sem jeito diante do moreno.

Sasuke a olhava curiosamente atento, aproximou-se dois passos. Sakura, tentou a todo custo não desviar o olhar.

— Naruto deve estar com os outros, se você quiser posso te ajudar a procurá-los e-

— Não é com ele que preciso falar. — interrompeu-a. — Eu... Quero falar um minuto com você.

Sakura franziu o cenho, olhando-o diretamente nos olhos. Perguntava-se o que Sasuke poderia querer falar consigo, todavia, se manteve o mais paciente possível.

— Pode falar, Sasuke-Kun. — disse, e em seguida as crianças voltaram a correr em torno de si. Meio encabulada com a situação, Sakura sorriu sem jeito, fazendo com que Sasuke a olhasse com a sobrancelha levemente arqueada.

—Acho melhor me seguir. — disse ele. Sakura assentiu, seguindo o moreno sem saber para onde iam.

Andaram todo o caminho em silêncio. Sakura um pouco atrás do homem, que não se incomodou uma vez sequer em olhar para trás para garantir que estava sendo seguido. Logo que chegaram onde ele queria, Sakura pode visualizar o local, sentindo um arrepiado nostálgico percorrer sua espinha. Parou atrás dele, que continuou de costas para si.

— Foi aqui que começamos a trilhar caminhos opostos. — escutou ele falar, fechando os olhos e deixando as lembranças lhe invadir como um turbilhão. — Eu viajei por todos os cantos e pude comprovar por mim mesmo muitas coisas que me eram desconhecidas. Foi estranho, no começo, mas quando se está sozinho costumamos nos habituar mais rápido.

— Você pretende ficar...? — perguntou hesitante. O sopro da noite gélida emaranhava seus cabelos rosados. Fechou os olhos com medo da resposta, que não tardou em vir.

— Sim. — longos segundos se passaram até que tornou a falar. — Eu sabia que não teria outra oportunidade para conhecer por mim mesmo o mundo, por isso decidi ir naquele momento.

— Naruto e Kakashi-Sensei vão ficar muito felizes em saber disso... — ela disse, tentando elaborar falas coerentes.

— E você? —perguntou direto, virando-se para encarar Sakura, que arregalou os olhos pela surpresa das palavras jogadas ao vento.

— Eu já estou. — sorriu, fracamente, e amaldiçoou-se mentalmente por sua atitude diante do moreno. Porém, como poderia dizer que estava plenamente feliz quando na verdade estava travando uma batalha interna.

Queria poder pular nos braços dele e abraçá-lo como se não houvesse amanhã, mas se fosse afastada assim que o fizesse? Sua covardia era vergonhosa, porém plausível.

Sasuke caminhou até o banco, sentando-se ereto. Suas íris ônix encarando algum ponto qualquer no chão. Com um aceno silencioso, mandou que Sakura senta-se ao seu lado, e assim ela o fez. Alguns centímetros separavam seus corpos de se encostarem. Sasuke, ergueu a mão esquerda, depositando algo pequeno na palma da mão paralisada de Sakura.

— Quero que fique com isso. — disse, apertando sua mão a dela, em punho. — É algo material que tenho de mais valioso...

A kunoichi olhava suas mãos juntas com um brilho incerto no olhar. Seu corpo tremia, não pelo frio, mas sim pelo contato físico de suas peles. Esperou que ele dissesse o que tinha para dizer e praguejou quando ele retirou a mão da sua. Ainda com a mão em punho, abriu-a lentamente para visualizar um colar de prata com um pingente. Ergueu o objeto na direção dos olhos, completamente fascinada pelo o que via.

O pingente era uma miniatura da crista Uchiha, minimamente detalhada com o símbolo que fora do clã mais renomado em seu auge. Sakura, engoliu em seco, enquanto seus olhos ardiam com o flash de imagens que lhe vinha em mente. Sua boca seca, quase a impedindo de perguntar o que tanto lhe intrigava.

— Por quê? — questionou quase num sussurro. Fechou os olhos, lentamente, deixando uma lágrima escorrer por sua bochecha, pingando em seu colo. — Por que está me dando isso... Sasuke-Kun? — Virou-se para olhá-lo nos olhos após fazer a pergunta.

Encararam-se silenciosos por longos minutos. O céu de inverno presenciava aquela cena, moldurando as sementes que foram plantadas há anos, e que somente agora seriam colhidas.

— Quero que tome conta disso, pra mim. — disse simplesmente, fazendo com que Sakura franzisse o cenho confusa. — Preciso te contar algo... Eu deveria ter contado algum tempo atrás... É sobre o meu clã.

Sakura assustou-se pelo rumo em que a conversa tomara, todavia, assentiu, permitindo que o moreno prosseguisse.

— Eu passei muito tempo acreditando que meu irmão havia sido o culpado pelas minhas desgraças. Acreditei que o meu destino era ser um vingador, que eu, e somente eu, pudesse vingar a minha família. — deu uma pausa brevemente. — E em busca de poder, eu abandonei tudo... Eu rumei para a escuridão, isolado de qualquer sentimento que pudesse me prejudicar e disposto a cortar qualquer laço com os mais próximos. Acabei me perdendo nesse caminho... — sua voz foi se tornando um sussurro a medida em que falava, enquanto sua mão estava em punho.

Sakura, percebendo a reação do moreno, tocou-lhe a mão, fazendo com que ele desvia-se os olhos, do chão, para os seus. Podia ver seu próprio reflexão através da escuridão daquele olhar...

— Não precisa de me contar isso. — disse com os olhos lacrimejados. Sorriu fracamente em seguida.

— Eu preciso disso. — ele disse firme, afastando a mão dela da sua. — Eu preciso que saiba de tudo...

— Não. Sasuke-Kun, não precisa de lembrar dessas coisas. O que passou, passou, podemos esquecer isso e-

— Você continua tão irritante. — disse ele, fazendo-a estagnasse momentaneamente. A boca levemente aberta, enquanto as íris trêmulas diante das palavras que ouvira segundos antes.

Sakura, por uma fração de segundos, lembrou-se de cada vez em que ouvira aquelas palavras. Cada vez com um significado diferente, em uma ocasião distinta. E dali adiante as palavras do moreno foram as únicas ouvidas durante alguns minutos. Ele contou-lhe desde que havia pensado que Itachi assassinara todo o clã, até o propósito por trás das ações de seu tão querido irmão. E a cada palavra pronunciada por si, Sakura se debrulhava em lágrimas.

Ao final de toda a história, Sasuke ergueu o braço, tocando-lhe a testa com a mão direita, exatamente como fizera dois anos atrás.

— Dessa vez não haverá uma próxima vez. — disse, sentindo que as palavras de seu próprio irmão foram usadas, porém, com significados opostos.

Itachi, lhe dissera essa última frase como uma despedida, enquanto que ele disse para que Sakura entendesse que não haveria mais partidas. Que dali para frente estariam juntos, unidos, e que era somente ali que ele pertencia e queria ficar.

Sem esperar por quaisquer palavras de Sakura, ele levantou-se, se afastando uns metros dela e encarando o luar. Seus cabelos, agora na altura dos ombros, chacoalhavam-se com o vento fraco. A imagem era perfeita, aos olhos de Sakura, que vislumbrava a cena. Levantou-se, ainda fascinada com o que seus olhos viam, e caminhou até próxima ao moreno, entregando-lhe o colar e virando-se de costas para ele. — Coloque em mim. — pediu. Esperou até que sentiu as mãos do moreno tocar-lhe os ombros. Tombou, levemente, a cabeça para o lado, facilitando para que Sasuke juntasse as duas pontas do colar.

— Pronto. — Sakura se virou para ele.

— Arigato, Sasuke-Kun. — Sasuke apenas a encarou, seus lábios levemente repuxados para cima.

Sakura, se apoiou nas pontas dos pés, aproximando seus rostos e roçando seus lábios aos dele. Ambos fecharam os olhos diante do toque íntimo. Apenas um roçar de lábios, onde tanto Sasuke, quanto Sakura podiam sentir suas respirações mesclarem. O coração da kunoichi em disparada, tão acelerado que poderia jurar que o moreno escutara cada batimento cardíaco seu.

Entreabriu a boca, respirando o mesmo ar quente que saia dos lábios de Sasuke, sentindo um leve frio na barriga. Ambos permaneceram com as mãos baixas, somente seus rostos aproximaram-se na quietude da noite.

Ainda de olhos fechados, afastaram-se. Sakura ruborizada e, incrivelmente, Sasuke também. Sorriram uma para o outro, um sorriso espontâneo, algo que nunca antes fizeram, enquanto seus olhos denunciavam os sentimentos que nutriam dentro de si.

Na vida todos temos propósitos distintos. Nascemos para completar uma missão divina e seja qual ela for, somente nos despedimos após a concretização desse ato.

Assim como qualquer ser desse mundo, com Sasuke e Sakura não foi diferente. Ambos tiveram seus propósitos na terra. Cada um provido de suas ações, que num futuro poderia acarretar em diferentes essências.

Ainda assim, ambos trilharam seus propósitos até o fim, designados a sorrir, chorar, sofrer, prosperar... Imparcialmente do que lhes foi cobrado, viveram colocando seus propósitos acima de quaisquer coisas, e isso os guiou exatamente para onde estão. Porque assim como qualquer pessoa, eles tiveram seus destinos traçados assim que lhes foi postos no mundo:

Sasuke com o propósito de amar, e Sakura com o de perdoar.

E assim, complementaram um ao outro, minimamente, até o último dia de suas vidas.

E finalmente o falcão repousou nos galhos da cerejeira.

Ele que aqui chegará, que voltará
E levará um sonho, levará realidade
Coração de um homem imenso
Que não sabe se encontrará
Aquela coragem, aquela aventura.

Ele que aqui chegará e que ficará
Ele, longo o caminho talvez encontrará
Olhos que como os seus

Pedem por felicidade
Procurando a vida.
Vida, vidas e esperança
E sonho, sonho, sonhos e esperanças
Paz, paz, paz e esperança
Olhos que como os seus

Pedem por felicidade
Procurando a vida.
Vida, vidas e esperança
E sonho, sonho, sonhos e esperanças
Paz, paz, paz e esperança
Ele que aqui chegará, que voltará.