Tarde de chuva escrita por SundaeCaramelo


Capítulo 1
Capítulo único




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Eram cinco horas de uma tarde de domingo. Eu tinha acabado de assistir ao meu filme de drama preferido e estava chorando abraçada ao ursinho de pelúcia que minha avó havia me dado quando eu tinha sete anos, pensando no que faria para acabar com aquele tédio (depois que eu parasse de chorar pelo morte da personagem principal).
Era o último dia de férias. E eu queria muito aproveitá-lo. Eu queria sair. Mas com quem? Meus pais estavam visitando minha avó, minha irmã mais velha estudando em Nova York, uma das minhas duas melhores amigas estava viajando e a outra tinha que ajudar a cuidar do irmãozinho de dois anos.
Eu, definitivamente, não estava disposta a assistir outro filme dramático, ou a tocar violão, ou passar trotes telefônicos ( essas eram exatamente as coisas que eu vinha fazendo desde que aquela semana deprimente de fim de férias havia chegado).
E por isso, eu decidi: Me levantei da cama, peguei o celular dentro da minha bolsa favorita e cliquei na lista de contatos. Não era possível que as minhas amizades fossem tão limitadas assim.
Mas eram. Uma eu não falava há quase três anos, outra era muito chata, outra morava longe...
Já estava quase desistindo de encontrar alguém, quando a tela parou de rolar no último contato da minha lista telefônica:Pedro . Na mesma hora, eu rosto se iluminou. Ele era meu melhor amigo! E não nos víamos desde o fim das aulas!
Cliquei na sua foto na mesma hora, e ele me atendeu prontamente, quase cinco minutos depois, mas tudo bem.
- Alô?
- Pedro! É a Alice! - praticamente gritei de felicidade por ele ter me atendido.
- Alice! Oi, quanto tempo! E aí? - ele perguntou, mais animado.
- Um tédio só. Podemos nos encontrar na livraria na esquina da minha rua daqui a uma meia hora?
- Por mim tudo bem.
- Então ok.
- OK. - ele disse, e desligamos.
Na mesma hora, corri para o banho. Coloquei uma calça jeans simples e uma camiseta de uma banda que eu adorava. Prendi o cabelo em um coque, peguei uma bolsa azul escuro e desci para a portaria.
Eu estava tão animada por finalmente poder ver o Pedro de novo que quase derrubei o vaso de flores que ficava na portaria e levei uma tremenda bronca do porteiro por isso, mas nem me importei.
Fui correndo para a livraria e assim que entrei, comecei a procura-lo por lá. Então eu finalmente o vi. Ele estava olhando um livro de capa amarela, quase no fundo da loja.
- Oi! - eu disse, chegando de surpresa e agarrando o livro de suas mãos.
- Oi Alice! - respondeu ele, me abraçando. Quando acabou o abraço, notei que ele estava um pouco estranho. Não sei, apenas... diferente. Talvez mais bonito. Mais... não sei.
- Então, já achou aquele livro que você queria comprar? - Pedro perguntou, olhando nos meus olhos, o que me fez corar.
- Ah, não, na verdade não... - respondi. O livro que eu queria comprar tinha sido uma indicação da minha prima, que, casualmente era vizinha dele. Por causa dela que nossa amizade tinha começado. Eu ainda lembrava de quando aquele menino magricelo com o cabelo na cara tinha salvado a minha boneca, quando o valentão do prédio a pegou.
Lembrava também do quanto a chata da minha prima ficou me zoando depois desse dia, dizendo que esse menino era o meu príncipe encantado. Até parece! O Pedro, príncipe encantado ? Ai, é cada coisa que criança inventa. Se bem que ele não era tão feio assim...
Passamos um tempão na livraria. O tal livro que minha prima havia me recomendado já estava esgotado, mas eu acabei gostando de dois livros fofos que encontrei numa estante perto do caixa.
Um falava sobre um amor impossível e outra sobre uma menina que se apaixonava pelo melhor amigo.
Pedro também comprou outros dois livros, além do de capa amarela que ele estava folheando quando cheguei.
No caixa, a atendente disse que achava que nós éramos um belo casal literário. Eu demorei um tempo para explicar que éramos só amigos e nada mais. E eu fiz tudo sozinha, porque o Pedro ficou muito tímido.
Quando saímos, um vento frio balançou meus cabelos e eu cruzei os braços ao redor do corpo para tentar me aquecer. A idiota aqui tinha esquecido de levar um casaco.
- Frio? - adivinhou Pedro. Assenti e ele me emprestou seu casaco. Achei fofo de sua parte e apenas agradeci.
- Vamos comer alguma coisa antes de voltar para casa? Abriu uma lanchonete nova na rua do meu tio.
- Ok. - respondi, e atravessamos correndo a rua, de mãos dadas.
Ouvimos barulhos de trovões. Oh-oh. Ia começar a chover. E eu, para aumentar a minha idiotice, também não tinha guarda chuva! Mas o que eu podia fazer se quando saí estava um Sol de rachar? Eu não tenho culpa desse tempo bipolar!
Antes que atravessássemos a rua, de fato, começou a chover. A chuva começou fraquinha, mas em vinte minutos eu já estava completamente encharcada. Morrendo de frio, a rua do tio do Pedro não chegava nunca o coque tinha começado a desmanchar, o lápis de olho que eu tinha passado estava começando a derreter. E o problema maior, era que muita gente que estudava na nossa escola morava ali perto, então, se algum maluco decidisse sair no meio daquela tempestade, com certeza me veria, toda horrorosa daquele jeito.
Quando comecei a espirrar, o Pedro se preocupou e ficamos esperando a chuva passar debaixo do toldo de uma loja que já estava fechada.
- Ai, se eu soubesse que teria que passar por esse perrengue teria ficado em casa mesmo, comendo brigadeiro. - desabafei, fazendo Pedro rir.
- Ah, não é tão ruim assim. A chuva já deve passar, estamos no Rio de Janeiro né? Chuvas tropicais como essa são bastante comuns. - ele disse, balançando o cabelo molhado.
- É, acho que são...- respondi, sem prestar muita atenção no que estava dizendo. Eu estava olhando para a rua, observando os movimentos das pessoas. Havia uma mendiga dormindo no banco debaixo de uma árvore na praça em frente, um vendedor de pipoca fechando o carrinho, um homem entrando apressado dentro de um táxi e uma mulher loira passando, carregando um guarda- chuva ( confesso que senti uma invejinha dela). Vi também uma velhinha na janela de um prédio, observando a cena. Acenei para ela e ela acenou de volta e sorriu.
Voltei a olhar para Pedro. É, ele realmente diferente. Ou eu é que estava. Ah, sei lá, só sei que por algum motivo estranho eu estava gostando da visão daquele menino encharcado, com uns óculos fundo de garrafa, sorrindo ao ver uma criança usando uma capa de chuva brincar com um cachorro vira -lata, na porta de uma loja de doces, onde uma mendiga lia tranquilamente um livro, encostada na parede. Livros. Papel. Chuva.
- Pedro, os livros! - me desesperei. Ai Meu Deus, eu tinha gastado metade da minha mesada neles!
- Estão na minha bolsa, dentro de um saco plástico que eu encontrei, intactos. - ele riu do meu desespero.
- Ufa! - tive que exclamar, e ele riu de novo. Depois, se aproximou e pegou a minha mão. E por algum motivo, eu não quis solta-la. Então ele me perguntou:
- Ansiosa para amanhã?
- Muito! Nem acredito que vamos para o último ano! - respondi.
- Eu também não. - ele concordou. - Dizem que é no último ano em que muitas coisas acontecem.
- Coisas? - perguntei confusa.
- É. E... bom... há algo que eu... eu preciso te dizer uma coisa.
AI MEU DEUS!
- Diga então. - quase explodi de curiosidade.
- Eu... gosto de você. - respondeu ele, tímido, olhando para o chão. Eu não sabia nem o que responder. Será que eu gostava dele também? É, talvez essa fosse a única explicação para o fato de ter o achado mais bonito naquele dia, ou para o fato de ter pensado nele quando minha vizinha me chamou para assistir Amizade Colorida, na semana passada, o fato de eu ter gostado quando ele me chamou para dançar na festa de quinze anos da Olívia, prima dele e principalmente toda aquela alegria que vê-lo sempre me causava.

- Pedro, sabe de uma coisa? - perguntei, com um sorriso travesso.

- O que? - ele perguntou de volta, olhando de novo para mim.

- Eu também.

Então ele sorriu. E para a minha surpresa, aquele garoto tímido que eu gostava tanto, me puxou para perto de si e... me beijou. Foi um beijo rápido, de uns dois segundos no máximo. Quando acabou, ele me encarou, morrendo de vergonha da "loucura" e se afastou. Mas eu o puxei de volta. E aí, quem beijou fui eu.

E terminamos a última tarde de férias assim, entre beijos e sorrisos na chuva, que aliás, parou pouco depois daquele segundo beijo e deu lugar a um belíssimo arco-íris.

E a partir daquele dia, os dias chuvosos, que antes para mim eram tão chatos e tediosos, passaram a ser não tão ruins assim...


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Eu achei que ficou fofinha, mas a opnião é de vcs! Bjs de caramelo ;)