Nothing Left to Lose (HIATUS) escrita por The Stolen Girl


Capítulo 8
O perdão não é tão simples quanto pensa


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem, postei um capítulo repetido, mas aqui está o certo. Boa leitura.



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Você sempre pensa que, quando está tudo indo bem, tem algo errado. Que nada na vida pode ser assim tão simples. Que é só uma questão de tempo para tudo desmoronar de uma vez só. Eu também penso assim. Só que estou começando a acreditar que talvez, apenas talvez, possa ser diferente. Que pode ser que seja minha vez de ser um pouco feliz, recompensando os últimos anos. Talvez (e apenas talvez, reforçando), Chas possa representar essa fase boa da minha vida.

Depois do incidente no cinema, saímos outras vezes, e consegui me divertir bastante. Me senti como uma garota normal de 20 anos, que sai com um amigo para descontrair um pouco. E eu amei ser uma pessoa normal novamente. Disse a ele que não queria parar, que queria ter essa sensação mais vezes. Então ele se comprometeu em me levar pra sair ao menos nos fins de semana. Hoje vamos a uma casa noturna, será a noite do rock. Estou esperando Chas nesse exato momento.

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–Aqui não tem pessoas demais? - pergunto, observando a multidão de corpos dançantes.

–Se você quer ser uma pessoa normal, tem que se acostumar com o resto dos seres humanos. Sabe, eles também existem. - Chas responde num tom de deboche. - Talvez você queira beber algo, posso ir buscar?

Apenas assinto com a cabeça. Uma música que não conheço está tocando, e ela é legal. Muita gente está dançando, bebendo e rindo. Sendo felizes.

Chas volta com nossas bebidas, a qual bebo rapidamente, sem ao menos perguntar o que é. Sinto minha garganta arder, mas é algo bom, então peço outra. Canto a plenos pulmões músicas consagradas de bandas que eu amo. Chas olha pra mim e sorri, e eu o acho o cara mais lindo do mundo naquele momento. Lembro de que quem me trouxe aqui, quem está me ajudando, quem me deixa chorar, sorrir e gritar é ele. E que, se não fosse ele, eu estaria em casa agora, relembrando o passado, fumando ou até me derramando em lágrimas. E que, apesar de eu ainda não enxergar uma luz, a escuridão já diminuiu. E que o responsável por tudo isso é um cara lindo, atencioso e sentimental. Um cara que está aqui, na minha frente, cantando comigo, sorrindo pelo fato de perceber que sim, estou feliz. E que esse mesmo cara está a pequenos dois passos de mim. Tão alcançável que parece até mentira. Tão real e humano que parece sonho. E que eu seria a garota mais estúpida, burra e idiota se não fizesse nada agora. Então, se estou realmente tentando mudar, que eu deixe esse rótulo de sofredora para trás, ao menos agora.

Com tudo isso em mente, transponho a distância que nos separa, olho em seus olhos, sorrio da forma mais sincera que posso, digo obrigada e o beijo. É algo leve e totalmente diferente dos outros beijos que já haviam ocorrido entre nós. A atmosfera é livre, alegre. De repente não há o sofrimento de antes, a luta constante, tanto minha quanto dele. O que há é aquilo: dois jovens normais, fazendo algo absolutamente comum - demonstrando o que sentem um pelo outro.

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Estou no mercado. Depois de acordar tarde e passar horas fazendo nada, percebi que era quase noite e que não havia absolutamente nada comestível em casa. Ou eu fazia compras ou comia meus desenhos. Como gosto muito deles, resolvi vir até aqui.

Estou a fim de comida de gente, então compro arroz, peito de frango, milho e creme de leite para fazer strogonoff. Além disso, coloco café, bolachas, pães e chocolate no carrinho. Por fim, decido levar suco e mussarela também.

Sigo até o caixa e pago minhas compras, as quais levo na mão, dentro de sacolinhas. Por sorte, há um pequeno mercado não muito longe de casa, por isso vim a pé. O mercado é o segundo estabelecimento depois da esquina, e quando estou prestes a virá-la, escuto uma voz masculina:

–Ei, Charlie! Espere!

Uma sensação de reconhecimento percorre meu corpo e imediatamente sei quem disse isso. Meu corpo e mente recusam-se a liberar qualquer movimento, então paro no meio da calçada, imóvel. Suas mãos calorosas tocam meu ombro descoberto, e é algo reconfortante e aterrorizante ao mesmo tempo. Seus dedos continuam macios, sua voz aveludada e sua pele quente. Tenho receio de me virar, mas penso que pode ser coisa da minha cabeça, que eu devo estar enganada, e que preciso confirmar isso. Então giro lentamente, encontrando o mesmo sorriso. Os mesmos olhos azuis nos quais eu costumava me afogar.

–Quanto tempo, não? - ele pergunta como se fôssemos amigos de infância que seguiram rumos diferentes e que estão se reencontrando. - Eu sei que você deve estar surpresa, mas queria muito conversar com você. Preciso me redimir.

Minha boca se abre lentamente, mas o que sai é um dolorido suspiro. Quero me esconder. Fingir que sou um avestruz e enterrar minha cabeça no chão. Quero sair correndo, pra bem longe.

–Acontece que é tarde pra isso. - digo, com a voz mais fraca e patética. Ao menos, eu disse. Achei que não seria capaz. Que eu, ao invés de querer fugir, iria querer tocá-lo de novo. Mas não. Talvez eu esteja realmente mais forte.

–Por favor. Eu preciso. Escuta o que eu tenho pra dizer, e depois eu sumo. Prometo.

–Tudo bem. - sigo adiante, em direção a padaria da próxima rua - Vamos sair daqui.

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–Saiba que estou aqui não porque você precisa me dizer algo, mas porque preciso ouvir.

–Me perdoa. - ele diz, suplicante.

–Diz logo o que tem pra dizer. Não quero ouvir seus lamentos, só fale logo, Nicolas.

–Quando eu te abandonei, fui horrível. Disse coisas horrendas. Eu...

–Você me humilhou. - digo com a voz embargada, uma lagrima já correndo em minha face. Vejo que ele levanta a mão, com o intuito de enxugá-la, mas devo ter olhado com tanta repulsa, que ele desistiu. - Você arruinou os últimos anos da minha vida. Você quase me matou.

Sei que estou sendo idiota demonstrando tudo o que sinto, deixando-o saber o poder que tem sobre mim. Quantas vezes, quantas versões diferentes para esse reencontro eu já não havia ilustrado em minha mente? E em todos, assim como está sendo agora, eu dizia coisas que me deixavam no papel de abandonada, eternamente marcada por ele.

– Eu não entendia nada, Charlie. Podia ser mais velho, parecer mais maduro. Mas não era. Eu era um moleque.

–E acha que amadureceu só por causa de alguns anos? Ninguém muda assim. Ninguém que é insensível e egocêntrico como você acaba com essas características de uma hora pra outra.

–Mudei totalmente, Charlie. Pode parecer mentira, mas não é. Sei que eu era grosso, queria tudo do meu jeito, mas não ia te abandonar. Nunca tive essa intenção. Você me fazia feliz.

Solto a risada mais irônica e rancorosa de toda a minha vida, e a mulher que lanchava no balcão me encarou.

–Isso é tão hilário. Então é essa sua justificativa? Se for, já pode sumir. Já pode até morrer se quiser.

–Eu te deixei porque, por pior que eu fosse, teria que cumprir obrigações a partir daquele momento. Teria que assumir meu erro, pela primeira vez.

–Erro? Que diabos de erro é esse? - pergunto, cansada daquilo.

–Edward. Ele foi meu erro.Tenho um filho, Charlie. Agora vejo que ele não é algo ruim, só a forma como veio. - ele respira fundo - Eu cometi um crime. Se lembra da garota do parque? Eu a violentei. Um dia, quando você estava em casa, me esperando, e eu desmarquei, foi para ir encontrá-la. Ela tinha algo a me dizer. No dia seguinte, te mandei embora.

Agarro minhas compras e levanto, horrorizada. "Eu a violentei". Sinto nojo de mim mesma, de cada parte do meu corpo que Nicolas já tocou, com as mesmas mãos que tocaram e assediaram aquela garota de voz inocente, que estava com ele no parque. Dou um pequeno passo para trás, e ele segura meu pulso.

–Tira essa mão de mim! - grito. Não há ninguém além da atendente, que olha pra nós confusa.

–Charlie, não vou te fazer mal. Por favor, me deixa terminar.

–Me solta, agora! - ele solta. - Você a estuprou.

–Sim. - diz ele de cabeça baixa, parecendo constrangido.

–Você a estuprou, depois ela apareceu esperando um filho seu, esse tal de Edward, e ai você me mandou pro inferno por isso? Não, não pode ser. Não faz o mínimo sentido.

–Me deixa terminar, que você vai entender. - ele espera para ver se eu ficarei ou não, e quando vê que continuo ali, prossegue - Não era meu primeiro encontro com ela. Eu estava estressado naquele dia, querendo me satisfazer de algum modo. Estava cansado de ser bonzinho e paciente. Fui o maior idiota. Eu a obriguei. Num motel de segunda. Ela chorou. E eu apenas continuei. Eu não era um homem ruim. Sabia disso. Mas só pensei nisso depois que fui embora e larguei ela lá, aos prantos, com uma ameaça. Ai comecei a reconhecer o quão nojento e cruel eu fui. Prometi pra mim mesmo que nunca mais faria aquilo com ninguém. Que eu iria recomeçar, me punindo a vida toda pelo que fiz, mas seguindo em frente. Então me envolvi com você. Eu sei que fui horrível pra você também, mas estava endurecido por dentro. Não conseguia ser carinhoso ou um cara legal. Só queria preencher minha mente com novos momentos.

"Ela me ligou, e eu fiquei surpreso que ela tivesse coragem de pedir pra se encontrar comigo. Não teria ido se ela não tivesse soado tão desesperada. Quando cheguei ela disse que estava grávida, que seus pais sabiam de tudo, tudo mesmo. Filha de pais tradicionais, conservadores, influentes, que não queriam escândalo. Eles não iriam me denunciar, mas eu teria que assumir o menino. E também deveria ficar com a filha deles. Ela me confidenciou que não queria ser sequer tocada por mim, que estava sendo obrigada a tudo aquilo, e que por ela, criaria a criança sozinha. Mas ela era menor de idade. E estava cumprindo a vontade dos pais.

Eu não queria ser preso. E confesso que não pensei se iria te machucar, te fazer sofrer, só cheguei, te disse coisas terríveis, e te risquei da minha vida. Meu filho nasceu, eu percebi que é maravilhoso ser pai. Mas Sky se cansou de mim. Sua mãe morreu, ela me tratava como um estranho, então achou melhor me mandar embora. Eu deveria sim continuar fazendo meu papel de pai, mas ela disse não ser obrigada a olhar meu rosto e se lembrar daquela noite. Então arrumei minha própria casa, cuidei do Edward, tive outras companheiras, mas nada demais.

Então te vi naquela lanchonete. Com a mesma beleza, mas com um semblante diferente. Você parecia triste. Percebi que foi embora assim que cheguei, e fiquei me perguntando o motivo daquele olhar magoado ao me ver. Não queria acreditar que, por causa daquilo, tirei sua felicidade. Não sabia se iria resolver, mas resolvi te procurar. Mandei uma mensagem e obtive resposta, mas não tive coragem pra dizer mais nada, até alguns dias atrás. Pode parecer que quem precisa de algo em relação a mim é você, mas não. Quem precisa sou eu. Do seu perdão."

Estou muito estupefata com toda essa história. Enojada, horrorizada. O que mais me perturba é que Nicolas contou tudo de uma forma tão sincera e arrependida. Estava falando a verdade, por mais cruel que fosse, mas como ele espera que eu o perdoe?

–Você sabe que o último dos perdões que você precisa no momento é o meu. Por acaso a mãe do seu filho já fez isso? A vida dela sim foi arruinada por você, não a minha. Aliás, não diz mais nada. Você é horrível. Me diz, por que aparecer agora? Justo agora que minha vida ta melhorando, que eu estava começando a te esquecer. Por que você não desaparece? Que diferença faz se eu te perdoo ou não? Você nem se lembrava de mim até me ver aquele dia na lanchonete.

–Aí que você se engana. Não houve um dia sequer em que eu não me lembrasse do seu rosto gritando meu nome, me pedindo pra ficar. Todos os dias eu me martirizei por ter te abandonado daquela forma.

–Então por que não foi melhor enquanto estávamos juntos? Você me usava. Não sentia nada por mim, enquanto eu te amei.

–Eu mudei, Charlie. Não soube valorizar seus sentimentos, era um canalha, só queria diversão. Mas percebi que aquilo tudo não valia nada. Que eu não valia nada. Então mudei, ou ao menos tentei...

–Ótimo, realmente maravilhoso. Mas isso não muda nada pra mim, okay? Quer meu perdão? Então te perdoo. Agora vai embora.

Então comecei a andar.

–Sei que não está sendo sincera, mas ainda vai conseguir, Charlie. Porque você sempre foi melhor que eu. - ele diz suas últimas palavras, que caem sob mim como uma brisa suave, capaz de confortar, mas de gelar também.


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