Nothing Left to Lose (HIATUS) escrita por The Stolen Girl


Capítulo 10
I'll be fine




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Há dois dias me sinto vazia. Queria ser aquele tipo de pessoa que não se abala por qualquer motivo. Mas não sou.

Meu peito doeu quando Sky se apresentou. Como se esse único nome pudesse fazer vir à tona todo um passado que ainda não foi totalmente esquecido. Nem quando Nicolas me abandonou me senti tão mal. Depois, veio saudade. Queria ter visto Edward. Mas agora não posso mais, porque sempre que olhar aquele lindo rostinho, me lembrarei de tudo aquilo que não preciso lembrar.

Como alguém que fez tão mal a tantas pessoas pode ter trazido ao mundo algo tão maravilhoso? As coisas não se encaixam. A pureza e a inocência daquela criança em nada combinam com o pai.

Chorei por Sky mais uma vez. Por tudo que ela perdeu, e também pelo que ela ganhou. Duvido que, qualquer um que olhe para ela, veja qualquer resquício de mágoa, rancor ou tristeza. Ela parece leve, independente, talvez um pouco cansada, mas feliz. Como ela consegue isso?

Eu, que não passei nem metade do que ela passou, ainda não consegui. Queria, antes de sair correndo, ter dito pra ela que sinto muito, e que a admiro. A admiro por conseguir o que não sou capaz.

Chas me ligou pouco tempo depois que sai de lá. Eu disse que estava tudo bem, que conversaríamos depois. Mas não estava nada bem. Queria voltar naquela casa, abraçar Eddie e o proteger. Proteger do passado. De sua história. Do pai. Do mundo.

Assim que saiu do trabalho, ele veio aqui em casa.

“-O que houve, Charlie? Por que saiu daquele jeito?”

Ele estava preocupado comigo. Chas já sabia de tanta coisa a respeito dessa situação, que não vi motivos para esconder isso dele. Contei que Edward é filho de Nicolas. Tive que explicar como sabia disso, então ele soube do nosso encontro. Pareceu aborrecido.

De repente, algo me veio à cabeça. Parei de pensar em Chas, e me toquei. Teria que trabalhar para ela. A veria na livraria.

Com o telefone nas mãos, liguei para Chas. Ele atendeu e, antes que pudesse dizer algo, falei:

–Diga para Sky que não irei mais trabalhar na livraria. Agradeça, mas diga que consegui algo mais perto, sei lá. Invente algo, por favor.

–O que? Se demitindo antes de começar? Olha, isso não é motivo para largar esse emprego. Pode ser que vocês nem se encontrem lá. Você não pode deixar essa história controlar toda sua vida, Charlie.

Sabia que ele estava certo. Por mais que quisesse negar.

–Não sei... Não sei se consigo – senti minha voz embargada, e meus olhos cheios de lágrimas.

–Só não vai conseguir se não quiser, Charlie. Acredito em você.

Nunca ninguém jamais havia dito que acreditava em mim. Nenhum voto de confiança. Mas ele acredita.

–Vou passar aí, me espere.

E então desligou.

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Chas chegou, e assim que entrou, me olhando, eu o abracei. Difícil explicar como ele se tornou para mim uma espécie de porto seguro, de esconderijo. Ele me segurou firmemente, passando a mão em meus cabelos.

O soltei, e nos sentamos de frente um pro outro em minha cama. Me sinto fragilizada e exposta.

–Você não pode deixar isso te influenciar. Chega de ser refém do passado. Você merece mais.

Peguei sua mão. Posso merecer mais, mas não a ele. Ele é demais pra mim.

–Obrigada por estar aqui, e por me dizer essas coisas.

Todos os obrigadas do mundo não seriam suficientes para oferecer a Chas, porque, mesmo que eu não precise, ele está lá. E quando preciso, ele é o único que vem até mim sem nem pensar.

Ele apenas sorriu, e disse:

–Vou dizer a Sky que você estava mal e não pôde ir ontem nem hoje. Ela vai entender.

Fiquei sem entender. Pensei e então me lembrei.

–Meu Deus, ontem era meu primeiro dia!

Ele riu, e disse:

–Sim, sua irresponsável. – dando um tapinha em minha testa.

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Dou mais um passo e a porta automática se abre. O cheiro de livros novos me invade, e eu entro no local. Não há nenhum cliente, pois acabou de abrir. Respiro fundo e pergunto para uma moça que mexia em um computador, que reconheci como a gerente.

–Bom dia, sou a nova funcionária, Charlie.

–Bom dia. Seja bem vinda, Charlie! – ela sorriu abertamente, e estendeu a mão, que eu apertei. –Venha comigo, vou pegar seu uniforme. – e seguiu andando, comigo atrás dela. – Na verdade, é só uma camiseta e seu crachá. Use as calças de sua preferência.

Ela abriu uma pequena sala, acendeu a luz e pegou uma camiseta, dentro de um saquinho.

–Vá até o banheiro e experimente. Vou providenciar a impressão de seu crachá.

Ela saiu, sem me dizer onde era o banheiro. Vi uma porta ao lado, e a abri. Por sorte, era o banheiro. Me troquei e sai. A camiseta serviu, e a gerente, que se chama Isis, já estava me esperando. Ela me entregou o crachá, que pendurei no pescoço.

–Agora vou te ensinar a usar nosso sistema de buscas.

Ela me explicou tudo pacientemente, e quando finalmente aprendi, ela disse:

–Espero que tenha um bom dia de trabalho. Peço que suba até a sala da Sky um momento, ela deseja te ver.

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Lá no fundo ainda tinha esperanças de que pudesse começar a trabalhar sem ter de vê-la. Mas quando Isis me pediu para subir, tive que me conformar. Estava me sentindo desconfortável, afinal, havia saído correndo da casa de Sky, sem mais nem menos. Provavelmente, ela tocaria no assunto.

Bati na porta e ela, lá de dentro, pediu que eu entrasse. A sala, assim como sua casa, era muito clara, limpa e organizada. Sky parecia uma criança atrás da mesa, mas uma criança que sabe o que está fazendo.

–Olá, Charlie. Está gostando daqui?

–Ah, sim. Parece ser um ótimo lugar.

–Sente-se, por favor. – ela disse, sorrindo.

Me sentei, um tanto tensa.

–Eu só queria te dar boas vindas, e dizer que, se precisar de algo, pode me procurar. Não estou sempre aqui, mas não é difícil me encontrar. Sinta-se à vontade para me ligar, se necessário.

–Muito obrigada, vou me lembrar disso.

–E agora, antes que você vá, queria te dizer que Eddie disse seu nome, quando viu Chas naquele dia, como se estivesse te procurando. Ele gosta de você, Charlie. Passe lá pra ver ele, quando puder.

Meu coração apertou. Também gosto de Eddie. E estou sentindo falta das visitas que fazia para ele.

–Tudo bem, eu irei ainda essa semana.

Sorri e me levantei, pensando que seria difícil me concentrar na venda de livros quando meus pensamentos não param um segundo.

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Foi um dia tranquilo. Consegui realizar algumas vendas, e aprendi totalmente a usar o sistema de buscas. Já estava quase decorando os setores da loja, e não precisei procurar muito para encontrar o que precisava. Ao fim do meu expediente, comprei materiais para desenho e um livro, e fui embora.

Cheguei em casa um pouco cansada, por ter de ficar em pé a tarde toda. Assim que me deitei, o celular tocou.

–Oi, Chas.

–Oi. E então, como foi seu primeiro dia? Espero que não tenha saído correndo – ele provocou, com sua voz que, ao telefone, mais ainda que pessoalmente, parecia aveludada.

–Na verdade eu sai, sim. E derrubei duas estantes no caminho.

Ele fez silêncio. Achei que talvez pudesse ter acreditado.

–Ok, agora me diga como realmente foi seu primeiro dia.

–Normal. Estou gostando de lá, é bem melhor que o escritório.

Imaginei se Júlio teria encontrado uma nova secretária.

–Por falar nisso, o resultado do DNA saiu. A audiência foi marcada, e em breve vou poder parar de me preocupar com essa história. Na verdade, acho que não me preocupo mais.

Fiquei feliz por ele, e me lembrei que só nos aproximamos por causa dessa mesma história.

–Que ótima notícia!

–É...

De repente, não tinha mais o que dizer. Suspiramos dos lados opostos da linha e eu, deitada, me peguei pensando no último dia em que nos beijamos. Parecia que anos haviam se passado.

–Não quer fazer algo? – ele perguntou.

–Quero que venha aqui.

–Ok, em meia hora chego.

Então desligou.

Sorri porque, ao menor pedido meu, ele se propôs a deixar o que estava fazendo para vir me ver. Sorri porque sabia que, a partir de agora, teria Chas para me apoiar.

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Enquanto o espero, minha mente não para. Estou confusa. Nós nunca conversamos sobre as coisas que aconteceram entre nós. Em alguns dias, é como se nada tivesse realmente acontecido. De fato, faz algum tempo que nossa relação não passa da amizade, e eu não tenho coragem para perguntar a Chas sobre isso. É como se as coisas só mudassem quando estamos sofrendo, precisando de alguém que nos acolha. É como se fôssemos um para o outro algum tipo de remédio, utilizado apenas na hora da dor. Não que eu esteja reclamando. Nunca tocamos no assunto, e eu não sei se quero que um dia cheguemos a conversar. Tenho medo de que as coisas mudem, talvez para pior, se falarmos sobre, e que nossa relação jamais volte ao normal.

E eu não quero, não posso, perder Chas. Não é apenas segurança e comodidade, é algo que tenho dificuldades de colocar em palavras. Um sentimento que me preenche, que ocupa os lugares antes vazios. Sinto medo apenas em pensar que, se ele se for, serei vazia novamente. Um abismo em forma de mulher.

Ele bate na porta, apenas para sinalizar que está entrando. A deixei destrancada.

–Oi, Charlie... Como você está? – ele pergunta, sentando-se em minha cama. Parece feliz, sorrindo desse jeito. Instintivamente, sorrio ao olhar para ele.

–Digamos que bem. Pensei que seria pior.

–Eu disse que você ia conseguir.

–É, eu sei.

E então nos calamos, deixando o silêncio preencher o ambiente. Poderíamos falar sobre amenidades. Poderíamos sair, ouvir música, comer. Mas não fazemos nada.

Ele então se deita do lado esquerdo de minha cama, e fecha os olhos. Sua serenidade, que eu nem sequer sonhava em ver nos primeiros dias, quando nos conhecemos, parecia transbordar de seu corpo e ir se espalhando por meu quarto, minhas roupas e até eu mesma.

Caminhei até a cama e me deitei ao seu lado, de barriga para cima, assim como ele. Mesmo sem abrir os olhos, ele alcança minha mão com a sua, e a segura, entrelaçando nossos dedos.

Ouço um suspiro, que penso ser meu, mas que pode não ser. É quase como se eu não estivesse ali. Não sei o que passou a acontecer quando estou com ele, mas as coisas boas que sinto me levam pra outros lugares, lugares melhores.

–Charlie.

–Chas.

Dizemos, e eu espero que ele continue. Mas ele não o faz, ao menos não imediatamente. Depois de alguns minutos, finalmente diz, ainda de olhos fechados e segurando minha mão:

–Acho que eu gosto mesmo de você.


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Notas finais do capítulo

Ps*: o título do capítulo é um trecho de uma música e signfica "Eu vou ficar bem"
Gostaram do capítulo? Desculpem a demora, mas ando meio bloqueada nas ideias.
Beijos :*



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