Nothing Left to Lose (HIATUS) escrita por The Stolen Girl


Capítulo 1
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem *-*



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Talvez tenha sido a diferença de idade. Ele me dizia que eram só dez anos, mas pra mim parecia muito mais. Não gostávamos de fazer as mesmas coisas, nunca concordávamos em praticamente tudo, ele sempre vencia uma briga, porque tinha argumentos muito melhores, apesar de egoístas. E mesmo depois de todo esse tempo, eu não consigo, não posso me esquecer de nós. E é claro que eu faria tudo de novo, como a grande imbecil que eu sou. Pra mim todo o sofrimento, as discussões, os dias sem se falar, tudo isso seria recompensado pelas noites e passeios juntos. E sim, eu com certeza faria tudo de novo. Mas ele não. Ele diria que nós não nascemos pra dar certo, que nós dois juntos era perda de tempo, que ficaríamos melhor longe um do outro. E eu vejo isso também. Vejo que eu e ele nunca daríamos certo mesmo. Mas, como eu já disse, faria tudo de novo.
Naquela época, quando nos conhecemos, eu só estava procurando um amigo pra me apoiar. Ele chegou, como se nada quisesse, e meu plano de amizade foi pelos ares. Ele tinha esse poder, de acabar com o planejamento do outro num piscar de olhos, porque os planos dele eram os únicos que importavam. Eu também quis. Ele queria, eu sabia. Então aconteceu.
As tardes ouvindo rock, as noites fumando (ele tinha a mania de me ensinar maus hábitos), meu coração acelerado. Pra ele foram só mais alguns dias e noites em vão. “Foi legal, mas não dá mais”, foi o que ele me disse. E eu, ao invés de dizer “pois é, não ia mesmo funcionar”, e deixá-lo ir embora, me humilhei, implorei pra que ficasse, que não me deixasse, que vivesse do meu lado pra sempre. Fui patética, de verdade.
E toda vez que eu me lembrava daquele dia, quando ele foi embora, eu me sentia perdida. Pensava em tudo que poderíamos de feito, ter sido juntos. E eu tentei com afinco esquecer de vez, mas não podia! Ele ainda era algo vivo em mim. Em cada canto de mim, eu o sentia. Podia lembrar-me de um dia específico, de uma aventura nossa. Como quando o vento frio me bagunça os cabelos e toca meu pescoço nu. Daí eu volto no tempo, naquele dia em que ele me levou pra sair pela primeira vez.
Flashback on
O sol estava forte, o vento mais ainda. No banco do carona, tudo que eu queria era que aquele momento não acabasse nunca. Indo pra algum lugar desconhecido, porque ele tinha essa mania de sair de carro, sem rumo. E quis que eu fosse com ele nesse dia.
A música alta, meus cabelos uma zona, voando pra todos os lados. Ele sorria, e que sorriso. Daqueles capazes de te colocar em transe, daqueles que te levam a fazer as maiores loucuras da sua vida. Então ele me olhava, e eu gargalhava de prazer, louca, extasiada pelo momento. Pra ele não foi nada demais, eu sei. Mais um passeio de carro, e eu, mais uma garota.
Então ele freou bruscamente, encostando o carro. Com a música ainda alta e o vento ainda a açoitar minha face, ele veio e me beijou. Nosso primeiro contato físico. Feroz, sem sentimentos, claro, mas maravilhoso. Ele tinha esse dom, o de beijar como ninguém. Sua mão encontrou minha nuca, acariciou meus cabelos pretos. E de repente não existia mais nada pra mim. Já estava completamente perdida. Um caminho sem volta.
Flashback off
Um momento do dia a dia me traz as lembranças que eu queria poder esquecer. Qualquer coisa é motivo pra relembrar, pra me magoar novamente. E quando eu me desesperava, chorando rios, gritando pra quem quisesse ouvir, que ele era um covarde, idiota, egoísta e outras coisas mais.
Nesses momentos só o que eu pensava era “não tenho nada valioso a perder mesmo”. E cometia as maiores atrocidades comigo mesma. Cortes profundos, cicatrizes que estariam ali, como uma espécie de aviso: não se aproxime de mim, sou problemática. Eu sei que é assim que as pessoas me veem. Como alguém que não consegue se controlar, que seria capaz de inúmeras loucuras só porque terminou um namoro, ou porque matou uma formiga. Mas não é assim.
Eu espero há anos alguém que não me olhe por esse ângulo. Alguém que entenda. E eu continuo tendo nada a perder. Continuo perdida, sozinha, triste, lembrando o que deveria estar morto e enterrado. Revivendo momentos distantes, que só trazem a tona meu pior lado.
Ele dizia que eu era imoral. Mas ele me levava à imoralidade. Ele quem despertava tudo aquilo em mim. Será que ainda tenho salvação?
Plaaftt
Todos meus papéis caem no chão, me trazendo de volta a realidade e interrompendo mais um de meus momentos nostálgicos. Todos meus relatórios e arquivos de trabalho. E no chão também estou eu. Patética. Nem olha pra frente e tromba com qualquer um.
–Mal educado, idiota! – exclamei ao vento, porque o ser humano que me fez cair só saiu andando, como se nada tivesse acontecido.
Sem ânimo pra levantar, fico sentada, observando os carros passarem voando pela avenida. Então uma mão estende-se na minha frente. Eu a seguro. Ali, sendo educado e ajudando uma garota deprimente, vestida como se estivesse indo a um velório, um rapaz de cara fechada, expressão séria, mas brilho nos olhos. Cabelos negros caem-lhe no rosto, e percebo o quão pálido é aquele garoto.
–Obrigada. – respondo quase sussurrando. Interagir com outras pessoas não é meu forte.
Em resposta ele só assente com a cabeça e começa a catar meus papéis. Depois de tudo recolhido, pego as pastas de suas mãos, agradeço novamente e sigo andando. Ele vem logo atrás. Paro de andar, esperando que ele desconfie de que não, eu não gosto de ser seguida. Então ele segue andando, me ultrapassando. Anda vagarosamente, mas agora a minha frente.
Percebo que na verdade ele não presta atenção nas pessoas nos bares e muito menos nos carros que passam. Seu olhar distante encara o nada. O céu infinito. Amarro o cabelo num coque caído. Nada elegante para chegar ao trabalho, mas minhas roupas também não são, então não importa.
Chegando ao prédio do meu serviço, penso que o rapaz vai seguir andando, mas ele sobe as escadas e para na minha ala de trabalho. “Advocacia Macedo” Sinceramente, só trabalho aqui pra pagar meu aluguel. Não sou advogada, se é o que está pensando. Sou secretária de um dos associados. Destranco a porta, com o rapaz ao meu lado. Entro e me acomodo em minha mesa. Ele fica de pé, esperando que eu o atenda.
–Aahn, pode vir... Senhor. – é tão estranho chamar alguém que aparenta ter minha própria idade de senhor.
–O Dr. Júlio já chegou? – ele pergunta, ainda sério. Sua voz é grossa e extremamente calma.
–Não. Pode esperar se quiser, ele deve estar a caminho.
Ele não diz mais nada, apenas se senta na cadeira para os clientes e espera. Não se mexe, não olha pros lados, não lê uma revista. Só me encara.
Devo dizer que Dr. Júlio tem poucos clientes, e que eu passo a maior parte do tempo sem responsabilidades. Então, tenho alguns objetos pessoais guardados embaixo da mesa, para passar o tempo. Pego minha nécessaire e tiro de lá um esmalte preto. Começo a pintar minhas unhas da mão. Blá, blá, eu sei que estou na frente de um cliente, mas dane-se. Júlio não se pode dar ao luxo de me demitir, ninguém mais o suportaria.
O rapaz levanta uma sobrancelha e esboça um leve, quase imperceptível, sorriso. Quando eu olho pra ele, o sorriso some na hora. De repente me lembro que quando temos algum cliente, devo fazer algumas perguntas.
–Tem horário marcado?
–Não.
–Então vai ter que voltar outra... Quer dizer, ele vai te atender. – ele teria sim que marcar um horário, mas imaginei que não se pode desperdiçar um cliente assim. Não teríamos mais ninguém mesmo. – Preciso que preencha essa ficha.
Ele preencheu o formulário rapidamente e me entregou. Chas Rowinski. Então Chas é o nome dele. Passo os olhos pela ficha e digo:
–Esqueceu de preencher seu endereço.
–Não esqueci não. – Como assim? Ele não tem um endereço? Tudo bem.
A porta se abre e um homem gordo e carrancudo de terno entra. Passa direto por nós, abre a porta de sua sala e desaparece lá dentro. Entro também e digo:
–Tem um cliente aí. Vou mandar ele entrar.
–Não.
–Como assim não? Olha, vou mandá-lo entrar. – saio da sala antes de qualquer discussão. O homem já não tem clientes fixos, e quando um vem aqui por livre e espontânea vontade ele não quer atendê-lo?
–Pode entrar, Sr. Rowinski. – o rapaz levanta-se e entra na sala, deixando a porta entreaberta. Durante o atendimento, continuo a pintar minhas unhas, mas escuto fragmentos da conversa. Algo sobre herança, divisão de bens e coisas do tipo. Nada interessante. Então, Dr. Júlio exclama:
–Sabe que eu preciso disso mais do que você, Chas! Eu não vou aturar ter que ir ao tribunal com meu próprio filho teimoso! – eu ouvi filho? Eles são pai e filho? Meu Deus.
Chas se levanta, ainda calmo e sereno, e volta para recepção. Não me aguento e pergunto:
–Ele é seu pai?
–Quer dizer que agora secretárias escutam a conversa do patrão com seus clientes?
–Estúpido. – disse e não me arrependo. Não tenho culpa se ele é filho daquele velho idiota. Ele solta uma risadinha de escárnio e começa a andar pra lá e pra cá.
–Dr. Júlio, eu vou sair. Tchau. – largo todas as minhas coisas ali mesmo e saio.
Impressionante como eu consigo aturar trabalhar ali. Não sou nada exemplar, admito, mas meu patrão também não é nem um pouco simpático.
Ando na calçada até o fim da rua e me sento num banco de algum estabelecimento. Não me entenda mal, só estou esfriando a cabeça. Quando penso que terei sossego, Chas chega, senta e diz:
–Podemos conversar?
–Agora você quer conversar com a secretária intrometida? – não resisti.
–Desculpe, eu estava com raiva.
–O que você quer? – não sei por que, mas ele desperta minha grosseria.
–Queria te fazer algumas perguntas sobre o Júlio.
–Quer dizer seu pai?
–É. – responde ele, um tanto mal humorado e nada satisfeito em admitir que é filho do meu patrão.
–Pode falar.
–Você trabalha com ele há muito tempo?
–Uns três anos. Por quê? – me pergunto como o aguento há três anos.
–Ele mora aonde?
–Por quê? – pergunto novamente, já impaciente.
–Onde ele mora? – insistiu ele.
–Por quê? Só vou responder suas perguntas, se você responder as minhas.
–Será que você poderia facilitar as coisas pra mim? Eu só...
–Não, não posso facilitar nada. Por que quer saber essas coisas? – o interrompi.
–Porque preciso de algumas informações. Olha, existe um processo de divisão de bens, que ele se recusa a aceitar. Essas perguntas são importantes pra me ajudar. – ele explicou, dando-se por vencido.
–E por que eu deveria ajudá-lo?
–Porque se você não me ajudar, vai estar ajudando ele. – ok, isso meio que me convenceu. Não gosto de ajudar estranhos, mas ajudar um patrão que nunca aumentou meu salário é demais pra mim.
–Tá bem. Vou responder suas perguntas, mas não agora. Me liga a noite, ok? Tenho que voltar pro escritório. – joguei um papel com meu telefone em cima dele, dei as costas e saí andando.
–Mas...
–Se quer minha ajuda, vai ter que me dar algumas explicações. Mais tarde conversamos, Chas Rowinski. – e segui para mais um entediante dia de trabalho.


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Notas finais do capítulo

Heey, você que leu! Deixe um comentário u.u



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