Paternidade

IX

❄

Em geral, Sarada não se incomodava de ficar na presença de estranhos. Embora preferisse, obviamente, o colo da mãe ou do pai, havia sido acostumada a receber paparicos dos avós maternos, de Naruto, Ino, Kakashi, Tsunade desde que abrira os olhinhos para o mundo.

Sasuke jamais vocalizara o ciúme que sentia ao ver sua pequena aninhada nos braços de outros que não os dele ou de Sakura, tentara se conter, afinal não era justo monopolizar a atenção da filha durante vinte e quatro horas por dia em sete dias da semana.

Ah, mas ele definitivamente não gostava de toda aquela adulação exagerada. As enfermeiras no hospital em que sua esposa trabalhava adoravam beliscar as bochechas rosadas da menina e praticamente sufocavam-na de atenção.

Sarada resistia, por outro lado. Apesar de pequena, era geniosa e se irritava facilmente; Sasuke ainda tinha dificuldade em atribuir esse aspecto da personalidade da menina a ele próprio ou à esposa estourada cuja fama pelo temperamento volátil a precedia.

Com quase seis meses, Sarada já era considerada um geniozinho em miniatura e babão. Vocalizava guturalmente aquelas sílabas ininteligíveis que os bebês geralmente ecoavam depois de ouvi-las dos próprios pais no cotidiano. Sentava sozinha e tinha equilíbrio suficiente para fazê-lo sem apoio já. Adorava seus brinquedinhos e detestava quando os afastavam dela.

E apesar de se socializar bem para uma criaturazinha que já tinha uma autossuficiência incrível para decidir vários aspectos da própria rotina como o horário de comer e dormir, havia uma única criança de quem a menina se recusava a ficar perto: Boruto.

Eles descobriram esse fato curioso quando, num dos tradicionais jantares de sexta-feira que reuniam as famílias Uchiha e Uzumaki, Sarada fizera um verdadeiro escândalo quando as mamães de primeira viagem colocaram os dois bebês para dividir o cercadinho apenas por alguns minutos enquanto o jantar recebia seus toques finais.

Foi Sasuke quem socorreu a menina, que cessou o choro tão logo se viu no conforto dos braços do papai — e longe do menino, a causa inexplicável do alvoroço.

— É capricho — Sakura murmurou mais tarde, quando os dois estavam a sós no quarto do casal, mas Sasuke desdenhou do comentário da esposa ao lhe mostrar os dentes.

— Ele deve tê-la assustado. Sarada não choraria daquela forma por qualquer motivo bobo.

Sakura riu do argumento do marido, o que o desagradou de tal modo que ele lhe virou as costas, carrancudo.

— Parece que nem conhece a própria filha... Ora, vamos, Sasuke-kun! — ela apelou com um timbre que não escondia o divertimento que sentia com aquele tipo de situação. — Boruto é um doce de menino! Um pouco levado, talvez — ergueu as sobrancelhas de modo sugestivo, lembrando-se das peraltices do pai do menino. — Mas eu tenho certeza que a Sarada só está implicando com ele.

— Implicando — Sasuke ecoou a palavra da mulher e a descartou com um muxoxo.

Quando ela encostou-se às suas costas, cobrindo-o com seu calor delicado, Sasuke inconscientemente relaxou. Sakura roçou os lábios no seu pescoço com carinho e sussurrou ao pé do seu ouvido, os dedos distraidamente afagavam seu braço:

— Só pense comigo: Sarada tem muito de você, e Boruto herdou muito do Naruto-baka. Nossa pequena só está implicando com o menino como você e o Naruto se bicavam até alguns anos atrás.

— Ainda não estou completamente convencido — ele murmurou e Sakura riu delicadamente, chacoalhando a ambos.

— Boruto não tem nem um ano, Sasuke-kun! O que ele, em nome dos deuses, poderia fazer de ruim com a nossa Sarada?!

Sasuke mordeu a parte interna de sua bochecha para não ter de respondê-la. Sabia que Sakura riria novamente se lhe dissesse o que realmente estava sentindo. Ora, o que Boruto poderia fazer com a sua menininha?! Que pergunta!

Ele era um menino para início de conversa e, para deixar a situação ainda mais crítica, já se mostrava um mini-dobe em potencial. Mas Sasuke já havia se decidido: protegeria sua princesinha daquele moleque, a qualquer hora e em qualquer momento.

Aliás, corrigindo: ele a protegeria de todos os moleques e mini-dobes do mundo.