Paternidade

V

❄

— Ah, olha só para ela, Sasuke! — exclamou um Naruto sorridente, o rosto pressionado contra o vidro da maternidade. — Tão pequena e emburradinha, tinha a quem puxar, realmente.

Sasuke ignorou o último comentário (desnecessário) do melhor amigo e manteve o foco do olhar no bebê que ressonava imperturbável do outro lado do vidro, enrolado em uma manta cor-de-rosa. As mãozinhas estavam cerradas e o rostinho mimoso encrespava-se vez ou outra quando ela tencionava despertar em resposta ao menor ruído — mas isso nunca acontecia.

— Boruto e a Sarada serão melhores amigos, não é? E frequentarão a Academia juntos e, quem sabe, serão colocados na mesma equipe um dia — devaneava o candidato a futuro Hokage com um sorriso que só fazia aumentar.

Sasuke o fitou quando ouviu o melhor amigo soltar um risinho abafado.

— Talvez eles até mesmo impliquem um com o outro como nós fazíamos quando crianças... Especialmente se a Sarada-chan tiver a sua personalidade.

— Humpf, talvez — concordou Sasuke com um aceno, mas então acrescentou com um sorriso torto: — Mas ela é geniosa como a Sakura e demanda toda a atenção quando quer algo.

De súbito, Naruto enrugou a testa.

— Nah, mas esses traços são mesmo seus, Sasuke.

Em resposta, ele franziu o cenho e enviou um olhar de reprovação para o amigo, que o ignorou deliberadamente. Sasuke meneou a cabeça em discordância e voltou a apoiar as costas doloridas na parede; estava há quase dois dias inteiros no hospital, desde que chegara amparando Sakura, que entrara em trabalho de parto inopinadamente, e desde então não havia voltado para casa nem mesmo para tomar um banho.

Relutava em deixar a família, e ver Sarada, sua primogênita, dormindo tão despreocupadamente a poucos metros de si só tornava tudo ainda mais real. Ele realmente era pai.

Hinata estava no quarto com Sakura, com um Boruto impaciente e resmungão a tiracolo. Sasuke não queria se intrometer porque sabia que elas provavelmente o excluiriam da conversa, discutindo todo detalhe exclusivamente feminino — e incompreensível para ele — sobre a maternidade.

— Sabe — Naruto demandou sua atenção outra vez; o tom de voz mais baixo, mais grave —, às vezes eu nem consigo acreditar que agora sou um homem casado e pai de família. Todos os dias eu acordo e vejo os rostos deles, sinto seu amor e...

— Eu sei como se sente — Sasuke o interrompeu calmamente, o semblante composto, os olhos cheios de adoração vidrados na filha, na inocência que emanava da sua compleição angelical.

— Eu me sinto tão feliz que às vezes acho que vou acordar sozinho na minha cama, com você ainda longe de casa e a Sakura-chan sofrendo em silêncio com a sua ausência...

Quando os olhos claros de Naruto desviaram-se para o seu rosto, cheios de uma ternura genuína, um afeto fraternal tão sincero, Sasuke se sentiu imensamente grato pelo amigo, seu irmão de consideração.

Por Naruto jamais ter desistido dele, por Naruto tê-lo impedido de seguir o caminho da escuridão, por tê-lo feito enxergar o que verdadeiramente valia a pena antes que fosse tarde demais.

— Eu estou muito feliz por tudo o que nós dois conquistamos, Sasuke — ele afirmou com o seu típico sorriso confiante e inabalável. — Por nós dois termos encontrado o amor outra vez.

Eu sei, ele disse apenas para si mesmo, no silêncio reconfortante dos seus próprios pensamentos. Eu sei, Naruto.